Entenda por que católicos e evangélicos se uniram para defender Frei Gilson

Fé nas madrugadas: como é uma live de Frei Gilson, líder católico que atrai  milhões de fiéis em quaresma digital | Política | G1

Frei Gilson faz lives de madrugada que atraem os fieis

Karina Ferreira
Estadão

Nos últimos dias, o líder católico conservador frei Gilson virou objeto de mais uma “batalha” na internet entre bolsonaristas e governistas. Enquanto lideranças da direita categorizam publicações críticas ao frade como uma ação anticristã de esquerdistas, apoiadores do governo Lula dizem que o sacerdote e cantor quer fazer os fiéis cultuarem o ex-presidente Jair Bolsonaro em vez de Cristo.

Por motivos estratégicos ou religiosos, evangélicos e católicos se uniram para defender o frade, que acumula milhões de seguidores nas redes sociais. Para especialistas ouvidos pelo Estadão, o que aglutina os dois grupos na defesa de frei Gilson não é a figura em si, mas a pauta conservadora que ele prega.

DIZ BOLSONARO – O ex-presidente Jair Bolsonaro fez publicações no dia 9 sobre o sacerdote. Em uma delas, disse que católico “se apresenta como um fenômeno em oração, juntando milhões pela palavra do Criador” e por isso “vem sendo atacado pela esquerda”.

A campanha contra o religioso começou no dia anterior à postagem de Bolsonaro, que amplificou o embate nas redes. Um grupo no Telegram ligado à militância de Lula emitiu um “alerta geral” a seus membros afirmando que o objetivo do padre é o de “promover a extrema direita e pedir votos no bolsonarismo”.

As acusações são baseadas em recortes de vídeos com falas conservadoras de Gilson e pelo fato de ele ser um dos quatro religiosos citados pela Polícia Federal (PF) nas investigações sobre golpe de Estado.

ORAÇÃO AO GOLPE – Segundo o inquérito, o frade não participou da trama golpista, mas recebeu o rascunho de uma “espécie de oração ao golpe” do padre José Eduardo de Oliveira e Silva, via WhatsApp, que pedia que católicos e evangélicos incluíssem em suas orações os nomes do então ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, e de outros 16 generais para receberem de Deus “coragem para salvar o Brasil”.

A deputada federal Tabata Amaral (PSB-SP), católica praticante, publicou um vídeo nesta quinta-feira, 12, defendendo o frade. Tabata afirma que admira o sacerdote, que escuta suas músicas enquanto faz tarefas de casa e que não concorda com a afirmação do religioso, que prega que “a mulher deve ser auxiliar do homem”, mas que isso não apaga as boas atitudes dele.

“Acho que temos que acalmar um pouco os ânimos. Se tem uma coisa que não concordo, é que uma discordância específica, por mais grave que ela seja, seja usada para se apagar e deslegitimar toda a trajetória e todo o bem que a pessoa faz”, disse.

ALIANÇA CONSERVADORA – Segundo Vinicius do Valle, doutor e mestre em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (USP) e diretor do Observatório Evangélico, o principal motivo que faz tanto católicos quanto evangélicos saírem em defesa do frade é o objeto da discussão.

O discurso sobre a mulher como “auxiliar” do homem, por exemplo, se assemelha ao de pastores em cultos evangélicos, diz o cientista político.

“Existe uma aliança entre evangélicos conservadores, que são a maioria dos evangélicos, e católicos conservadores em torno de uma certa agenda que envolve aspectos da disputa moral na sociedade, como, por exemplo, essa questão da desigualdade entre os gêneros, a questão da moralidade em torno do direito da mulher sobre seu próprio corpo, temas como aborto, entre outros”, explicou.

PÚBLICO MAIS AMPLO – A cientista política e diretora do Instituto de Estudos da Religião (Iser) Ana Carolina Evangelista avalia que frei Gilson não aglutina necessariamente católicos e evangélicos, mas sim um público mais amplo, cuja agenda política é conservadora.

“Pela agenda política e a forma como a política tem disputado essas figuras que têm identidade religiosa ou que têm papel num campo religioso, e o conteúdo da fala e das pregações dessas personalidades religiosas, a gente leva esse conteúdo para a política”, disse.

Evangélico, o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG), saiu em defesa de frei Gilson ainda no dia 9 e publicou um vídeo prestando solidariedade aos católicos. “Começaram diversos ataques. Para quem é cristão, isso é algo natural, ser atacado por seguir a Cristo. Óbvio que por ele ser católico e eu ser evangélico temos nossas divergências teológicas. Mas conheci pessoalmente, é uma pessoa extraordinária”, disse.

JANONES IRONIZA – Já o deputado federal André Janones (Avante-MG), apesar de evangélico, se posicionou considerando que em termos de estratégia política, os ataques da militância governista contra o frade são equivocados. “Não basta ser rejeitado pelos evangélicos, vamos fazer uma cruzada contra os católicos também, aí a gente se elege só com os votos dos ateus em um país em que quase 80% da população é católica ou evangélica. Que tal?”, escreveu o parlamentar, em tom irônico.

O senador Magno Malta (PL-ES), pastor evangélico, também saiu em defesa do religioso, afirmando que os ataques são “um episódio grotesco contra aqueles que defendem a verdade e a vida”. “Frei Gilson, estamos do seu lado, defendendo as mesmas bandeiras e pautas”, disse.

Nesta terça-feira, 11, o deputado federal Paulo Bilynskyj (PL-SP) propôs um projeto de lei para criminalizar ataques contra religiosos em redes sociais, em resposta aos episódios envolvendo o sacerdote católico.

Trump vai devolver patriotas fujonas ao Brasil, mas acolheria Bolsonaro

Trump não aliviará tarifas sobre fentanil, diz secretário dos EUA | CNN  Brasil

Trump vai deportar três condenadas pelo 8 de janeiro

Leonardo Sakamoto
do UOL

Acreditando que teriam vida fácil sob a gestão Donald Trump, três condenadas pelos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023 e uma ré com mandado de prisão entraram ilegalmente nos Estados Unidos, três delas após o início do novo governo. Presas pela imigração, agora esperam para ser deportadas, segundo reportagem de Eduardo Militão, do UOL.

Se isso acontecer, a massa de apoiadores de Jair que acredita nele deveria aprender a lição de que vem sendo usada por alguém que pensa primeiro em si, depois nele mesmo, daí em sua família e só então em aliados, amigos, parceiros e em seus seguidores. Em suma, Jair acima de tudo, Deus acima de todos.

EM COPACABANA – Neste domingo (16), no ato na praia de Copacabana, ele usou os apoiadores presos ou processados pelos atos golpistas para justificar a aprovação de um projeto de lei de anistia que o beneficia. Se o PL excluísse a possibilidade de líderes da conspiração serem perdoados, ele teria tirado o dia de sol para andar de jet-ski.

O ex-presidente, denunciado por tentativa de golpe de Estado, certamente conseguiria autorização para um asilo político em Orlando, transformando as cercanias da Disney na sede da resistência bolsonarista no exterior — mesmo com o passaporte retido pelo STF ou mesmo um pedido de extradição enviado por Brasília.

Se Washington DC não atende o pedido brasileiro para deportar Allan dos Santos, que também é foragido da Justiça, imagine se fará isso com Jair. Menos por amor à pessoa, mais pela possibilidade de fustigar Alexandre de Moraes e Lula ou mandar mensagens como: plataformas digitais dos EUA podem fazer o que quiserem em qualquer lugar ou aceitem a nossa ideologia ou pereçam.

CONTAGEM REGRESSIVA – Bolsonaro também afirmou no ato que não sairá do Brasil. Mas a robusta denúncia da Procuradoria-Geral da República contra ele e mais 33 pessoas por tentativa de golpe de Estado, abolição violenta do Estado democrático de direito, organização criminosa, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado, apresentada ao Supremo Tribunal Federal, abre sim a contagem regressiva para a sua prisão ou fuga.

As 272 páginas trazem um amplo conjunto de evidências, descrevendo e individualizando condutas de um crime complexo que contou com várias etapas e núcleos. Frisa que a tentativa de golpe não se resume aos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023, mas começa quando Bolsonaro inicia seus ataques ao sistema eleitoral brasileiro.

 A PGR coloca o ex-presidente como principal beneficiário do golpe, que visaria à sua manutenção no poder após ter perdido a eleição.

TENTARÁ FUGIR? – Diante disso, e por mais que o ex-presidente diga que não, a pergunta voltou a ser feita em círculos políticos e jurídicos: se uma condenação estiver iminente, ele tentará fugir para os Estados Unidos de Trump ou vai encarar de frente a prisão como fez Lula, aceitando cumprir a pena enquanto tenta reverter uma decisão?

Histórico, ele tem. Diante da apreensão de seu passaporte em 8 de fevereiro do ano passado, em meio a uma operação da Polícia Federal sobre a tentativa de golpe de Estado, o ex-presidente se refugiou na Embaixada da Hungria, governada pela extrema direita de Viktor Orbán, entre 12 e 14 de fevereiro. Muitos viram o episódio como uma espécie de test drive de fuga.

Além disso, Bolsonaro fugiu do país, em 30 de dezembro de 2022, antes mesmo de terminar o seu mandato. Diz que foi para não passar a faixa presidencial, mas o plano golpista, que, segundo a denúncia, envolveu de minuta de golpe até esquema para matar Lula, Alckmin e Alexandre de Moraes, revela que ele tinha razão para temer ficar no Brasil e ser preso.

SERÁ PRESO? – Se ele não conseguir aprovar uma lei de anistia no Congresso e se o STF não declarar essa lei inconstitucional, ele será preso. Daí, vira um ativo para a extrema direita, um mártir e contará que um de seus filhos ou Tarcísio de Freitas vença a eleição em 2026 para articular um perdão.

O repórter Eduardo Militão confirmou as informações sobre as brasileiras presas com autoridades norte-americanas, que afirmaram que “aguardam a expulsão para seus países de origem”. Elas fazem parte do grupo de bolsonaristas que deixou o Brasil no primeiro semestre do ano passado indo para a Argentina, mas após a Justiça do país vizinho indicar que as deportaria a pedido do STF, tomaram rumo norte.

Uma decepção com Javier Milei seguida de outra com Donald Trump. Caso, enfim, percebam que foram engabeladas pelo próprio Bolsonaro em um exercício de autocrítica, podem pedir música no Fantástico.

Malafaia rebate críticas ao ato de Bolsonaro: “Esquerda não bota a metade”

Confira imagens do ato pela anistia em Copacabana

A foto não mente e mostra que havia bastante público

Letícia Casado
do UOL

O pastor Silas Malafaia rebateu as críticas de governistas sobre o tamanho do evento em apoio a Jair Bolsonaro (PL) neste domingo no Rio. “Só digo uma coisa: desafio a esquerda a botar a metade. Só isso. Bota a metade, já que estão dizendo que está vazio. Manda botar a metade”, disse Malafaia à coluna.

Ele foi um dos organizadores da manifestação de apoio a Bolsonaro e em favor da anistia aos envolvidos no 8 de janeiro de 2023.

PETISTA IRONIZA – Para o deputado petista Zeca Dirceu (PR) o ato foi “fraco” e “infinitamente menor que os outros; uma prova da decadência do Bolsonaro e do quanto que o tema da anistia é impopular”.

O tamanho do público no evento deste domingo é incerto e diferentes metodologias mostram discrepâncias no número de participantes, além de indicativos que apontam que o ato foi menor que outros convocados por Bolsonaro.

Ainda assim, a manifestação contou com mais gente do que no 1º de Maio de 2024 com a participação do presidente Lula (PT): o ato das centrais sindicais no Dia do Trabalho em São Paulo reuniu menos de 2 mil pessoas.

DIVERGÊNCIAS – Segundo dados do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento) em parceria com a ONG More in Common, o ato de Bolsonaro reuniu cerca de 18,3 mil em Copacabana — pouco mais da metade dos quase 33 mil manifestantes que foram a outro ato de Bolsonaro no mesmo local em abril de 2024.

Já o Datafolha projetou cerca de 30 mil pessoas na manifestação.

Por fim, a Polícia Militar do Rio, governado pelo aliado Cláudio Castro (PL), divulgou que havia 400 mil pessoas no local, mas não explicou como chegou a esse número.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Essa falsa polêmica é uma bobagem. Pelas fotos aéreas, dava para ver que tinha muita gente participando e vestindo amarelo, verde ou azul. E o pastor aproveitou para ridicularizar Lula, que está fugindo das ruas. São coisas da política, como diz Pedro do Coutto. (C.N.)

A esperança de buscar o ideal da vida, na visão poética de Raul de Leôni

Raul de LeoniPaulo Peres
Poemas & Canções

O advogado e poeta Raul de Leôni (1895-1926), nascido em Petrópolis (RJ), expressa no soneto “ Legenda dos Dias” o cotidiano de cada um atrás do ideal da vida, no qual a eterna esperança possa estar no dia seguinte.

LEGENDA DOS DIAS
Raul de Leôni

O Homem desperta e sai cada alvorada
Para o acaso das cousas… e, à saída,
Leva uma crença vaga, indefinida,
De achar o Ideal nalguma encruzilhada…
As horas morrem sobre as horas… Nada!

E ao poente, o Homem, com a sombra recolhida,
Volta, pensando: “Se o Ideal da Vida
Não veio hoje, virá na outra jornada…
Ontem, hoje, amanhã, depois, e, assim,
Mais ele avança, mais distante é o fim,
Mais se afasta o horizonte pela esfera;

E a Vida passa… efêmera e vazia:
Um adiamento eterno que se espera,
Numa eterna esperança que se adia…

Entendam por que a miopia e a estupidez de Trump são a semente do caos

Imagem colorida do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump -- Metrópoles

Trump erra tanto que desequilibra as bolsas de valores 

Mario Sabino
Metrópoles

Depois de 50 dias frenéticos, como avaliar o governo de Donald Trump? Sejamos sucintos, abordando os dois pontos que mais interessam ao mundo neste momento. O primeiro ponto é o da guerra na Ucrânia. Você deve estar entre confuso e otimista sobre a possibilidade de paz rápida e duradoura, em nome da qual Donald Trump humilhou Volodymyr Zelensky, tomando o agredido como agressor, para deleite de Vladimir Putin.

Esclareça-se: não haverá paz duradoura na Ucrânia, nos termos pretendidos pelo presidente americano, que tem pressa em enfiar a rendição absoluta goela abaixo dos ucranianos.

O ex-presidente francês François Hollande deu uma entrevista bastante didática ao Corriere della Sera sobre a cena a que assistimos. Ele conhece Vladimir Putin muito bem: ao lado de Angela Merkel, então chanceler da Alemanha, foi um dos artífices do Tratado de Minsk, assinado em setembro de 2014, que previa o fim das hostilidades russas no leste da Ucrânia, depois da ocupação da Crimeia — tratado que foi rasgado por Vladimir Putin, porque é da natureza dos tiranos rasgar tratados.

ESTRATÉGIA SUJA – François Hollande disse ao jornal italiano: “Sei que, nos próximos dias, Putin vai tentar aumentar a vantagem que tem no campo de batalha. Jogará com o tempo e intensificará a sua ofensiva, enquanto dará a entender a Donald Trump, por meio de contato telefônico e depois, talvez, em um encontro, que se poderá começar uma negociação para um cessar-fogo”.

E François Hollande prosseguiu: “Para Putin, o tempo é o valor fundamental. Ele vai dilatá-lo ao máximo, até obter a correlação de força militar mais favorável. E se, depois de um acordo de paz sem garantias de segurança, abandonarmos a Ucrânia, ele vai esperar o melhor momento para atacá-la de novo. É assim porque há uma assimetria entre o que somos, líderes com mandato de democracias, e o que ele é, um autocrata. O autocrata tem a vida diante de si. Nós somos precários, estamos de passagem, e ele sabe disso”.

Restará à Ucrânia, bem como aos outros países que estão na mira de Vladimir Putin, esperar que o pouco tempo garantido por uma paz mambembe seja suficiente para que a Europa, sem um aliado confiável nos Estados Unidos, seja capaz de falar grosso militarmente com a Rússia, quase uma ilusão nos próximos anos.

GUERRA COMERCIAL – O segundo ponto dos 50 dias de Donald Trump é o da economia. Não tente encontrar sentido na guerra comercial que o presidente americano move contra países amigos. Não há sentido nenhum, a não ser que o objetivo insanamente calculado de Donald Trump seja o de destruir a economia mundial.

O conservador americano Bret Stephens, uma exceção de bom senso entre os articulistas do New York Times, tem de ser admirado pela sua capacidade de síntese. Ele foi preciso.

DISSE STEPHENS – “Nenhum presidente americano foi tão incompetente em colocar na prática as próprias ideias. É um conclusão a que parecem ter chegado os mercados acionários, que despencaram depois do golpe triplo de Trump: primeiro, as ameaças de tarifas contra os nosso principais parceiros comerciais, com o consequente aumento de preços; segundo, a repetida concessão de adiamentos de algumas dessas tarifas, com a criação de um cenário imprevisível; por último, a sua admissão implícita que os Estados Unidos poderiam entrar em recessão neste ano, um preço que ele está disposto a pagar para fazer o que chama de uma ‘grande coisa’.”

E Bret Stephens completou: “Um presidente caprichoso, errático e irresponsável está pronto a colocar em risco tanto a economia americana quanto a economia global apenas para sustentar o próprio ponto de vista ideológico. Os críticos de Trump são sempre rápidos para ver o lado sinistro das suas ações e declarações. Um perigo ainda maior pode ser o aspecto caótico da sua gestão política. A democracia pode morrer na opacidade. Pode morrer no despotismo. Com Trump, pode morrer pela estupidez.”

Não há o que acrescentar ao que foi dito por François Hollande e Bret Stephens. A miopia histórica e a estupidez ideológica de Donald Trump formam a semente do caos. 

Para manter chance de se reeleger, Lula deve radicalizar sua agenda

Lula internado: presidente está acordado e conversando após procedimento,  dizem médicos - BBC News Brasil

Lula se surpreende com a reprovação de seu governo

Marcus André Melo
Folha

A forte queda na popularidade presidencial e na avaliação do governo Lula tem gerado controvérsias. Além do próprio presidente, muitos analistas culpam a inflação de alimentos como a principal causa. Tema que domina a agenda pública no momento. Quando a culpa é atribuída pelo primeiro mandatário da nação à “atravessadores”, significa que já atravessou o rubicão e arrisca radicalizar sua agenda.

Os analistas Felipe Nunes e Thomas Traumann identificaram fatores conjunturais e estruturais da queda da aprovação presidencial. Dentre os primeiros, a inflação de alimentos devido a questões climáticas, valorização do dólar, entre outros. Entre os fatores estruturais, um governo cuja única agenda é “refazer o que deu certo nos mandatos Lula 1 e 2, e que só entrega o que já é conhecido”, e “não gera a gratidão consequente do voto econômico”.

ATAQUE AOS JUROS – Mas o paradoxo principal permanece sem explicação por que, a despeito dos índices favoráveis — no emprego, rendimentos, IPCA—, a popularidade despenca?

Sim, aqui a inflação de alimentos é variável central, mas o céu não é de brigadeiro. O que está ausente das análises é a taxa de juros. Ao encarecer brutalmente o crédito, ela é fonte de insatisfação de consumidores de baixa e média renda, além de impactar um contingente inédito de famílias endividadas.

Não é à toa que o ataque político por parte do presidente contra o Bacen começou antes mesmo da posse. A terceirização da culpa era a antecipação dos efeitos da expansão de gastos da ordem de R$ 150 bilhões ainda na transição de governo.

TUDO AO CONTRÁRIO – A estratégia perseguida malogrou junto à população que se buscava atingir: os segmentos de baixa renda. O encarecimento do crédito não é percebido como ação do Bacen (ente desconhecido da população).

E tiveram efeito em sentido contrário ao perseguido, por gerar ampla incerteza econômica e minar a credibilidade do governo. A expansão fiscal criou emprego e renda no curto prazo mas acelerou o recrudescimento da inflação.

Outro fator ausente das análises são as eleições municipais de outubro. O péssimo desempenho do PT —que elegeu apenas 252 prefeituras ante 517 do PL— aponta, na realidade, para uma “descalcificação” política. A distribuição de investimentos locais pelo centrão garantiu sua hegemonia. Entretanto o mais importante é que o pleito teve efeito multiplicativo sobre a percepção da vulnerabilidade política de Lula —o grande ausente das eleições— e do PT.

ESCOLHA ERRADA – A ausência do presidente na política doméstica foi uma escolha estratégica pela qual o presidente buscava ser protagonista na agenda internacional, na agenda do clima e do combate a pobreza, ao mesmo tempo que delegava a política doméstica a um grupo de ex-governadores. A estratégia naufragou. O contexto eleitoral potencializou a percepção de malogro. Questões de saúde e idade se somam aqui.

Na faixa etária do eleitorado entre 25 e 34 anos ocorreu a maior queda percentual (39%!) na aprovação do governo, que caiu 9 pontos percentuais (de 23 para 14) (Datafolha). O governo é aprovado apenas por 1 em cada 7 respondentes. Percentuais um pouco menores (36%) estão nas faixas de 35 a 44, e 16 a 24. Estas faixas concentram 58% da população.

A última cartada de Lula para contrarrestar este quadro pode ser a radicalização da agenda.

Veto de Lula impede redução de R$ 12 bilhões por ano no custo da energia

Coprel | A Coprel Geração investe em PCHs para um futuro mais verde.

Minis e pequenas hidrelétricas, uma solução ecológica

Stéfanie Rigamonti
Folha

O veto do presidente Lula a um jabuti do projeto de lei das eólicas offshore que prevê a contratação de 8 GW (gigawatts) de energia de térmicas e pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) impede que o consumidor se beneficie com uma redução de R$ 12 bilhões por ano no custo da energia.

É o que mostra um estudo da Thymos, uma das mais conceituadas consultorias de energia do país. O levntamento foi encomendado pela Abragel (Associação Brasileira das Geradoras de Energia Limpa).

R$ 311 BILHÕES – “Os ganhos previstos ao longo dos 25 anos somam R$ 311 bilhões”, disse João Carlos de Oliveira Melo, sócio da Thymus.

Segundo ele, esse ganho ocorre porque o projeto permite a troca de 2 GW – de um total de 4,9 GW – gerados por PCHs e por mini-hidrelétricas, com capacidade de geração de até 50 MW (megawatts) cada. “Haveria um novo parque de usinas a ser construído, gerando cerca de 200 mil empregos.”

O presidente Lula gostaria de ter mais PCHs, mas não concorda com a construção de térmicas, que geram energia muito mais cara, especialmente em períodos de seca. Como o artigo da lei juntava ambas, não foi possível vetar somente uma das geradoras. A expectativa é que o veto seja derrubado pelo Congresso.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
É inacreditável que o Brasil até hoje não tenha adotado uma política permanente para construção de mini-hidrelétricas, que o BNDES queria financiar quando era presidido pelo grande economista Carlos Lessa, que faz muita falta a esse país. (C.N.)

Prisão de líder dos protestos anti-Israel é a terceira versão de um filme antigo

Liberdade para ! | Revista Movimento

Mahmoud Khalil tem o green card, mas será deportado

Demétrio Magnoli
Folha

A prisão e ameaça de deportação de Mahmoud Khalil, um dos líderes dos protestos anti-Israel na Universidade Columbia, indica que Trump pretende produzir a terceira versão de um filme antigo. O “Pânico Vermelho” original desenrolou-se no rastro da Grande Guerra, sob o impacto da Revolução Russa e da radicalização do movimento trabalhista nos EUA. A versão seguinte foi o macarthismo, na primeira década da Guerra Fria. O filme serve para ampliar o poder estatal e acossar as liberdades públicas.

As manifestações estudantis anti-Israel de 2024 desempenharam papel instrumental no triunfo eleitoral de Trump. Na sua maioria, os participantes reagiam com horror aos bombardeios indiscriminados israelenses na Faixa de Gaza.

APOIO AO HAMAS – Suas lideranças, porém, ergueram bandeiras que ecoam a estratégia do Hamas. “Palestina livre do rio até o mar”, o lema perene, e imagens celebratórias dos atentados de 7 de outubro, descritos como “os palestinos voltando para casa”, somaram-se a atos pervasivos de intimidação contra estudantes e professores judeus.

O Partido Democrata foi visto como sócio do linguajar antissemita pois sua ala esquerda saudou os protestos universitários.

Segundo as vagas acusações do governo, Khalil teria conduzido atividades “alinhadas com o Hamas, uma organização designada como terrorista”. O “Pânico Vermelho, parte 3”, mira crimes de palavra, ignorando a Primeira Emenda da Constituição dos EUA.

DIFERENTE DO BRASIL – Os EUA não são o Brasil. Por aqui, um juiz do STF navega, com amparo de seus pares, em faixas cinzentas da lei para suprimir perfis de redes sociais acusados de “discursos de ódio”, “discursos antidemocráticos” ou “desinformação”.

Por lá, a Primeira Emenda assegura uma liberdade de expressão limitada apenas pelo chamado direito ao exercício da violência. Os lemas e imagens antissemitas utilizados na Colúmbia são abomináveis, mas estão cobertos pelo manto constitucional. Khalil não cometeu crime nenhum.

Tudo indica que, ao ordenar a prisão, o governo desconhecia o estatuto de Khalil, um palestino detentor de residência permanente (green card). Mesmo assim, Trump insiste na deportação:

DIZ TRUMP – “Prenderemos e deportaremos de nosso país esses simpatizantes do terrorismo —para nunca retornarem novamente!”. Enquanto isso, seu secretário de Estado, Marco Rubio, brandia uma interpretação extrema da Lei de Imigração e Nacionalidade pela qual Khalil seria deportável por ameaçar os “interesses de segurança nacional” dos EUA.

“É a primeira prisão de muitas a virem”, proclamou Trump. Na versão original do “Pânico Vermelho”, o jovem J. Edgar Hoover conduziu as deportações de centenas de ativistas do movimento operário que eram imigrantes com residência permanente.

Mais tarde, em 1952, já como diretor do FBI durante o macarthismo, Hoover obteve da Corte Suprema a autorização de deportação de três imigrantes residentes que tinham se filiado ao minúsculo Partido Comunista dos EUA.

SERVE DE ALERTA – A conexão entre xenofobia e perseguição ideológica não é novidade. O caso de Khalil foi desenhado para servir de alerta aos 13 milhões de detentores do green card, além de 1,5 milhão de professores e estudantes estrangeiros com vistos válidos: Trump ignora a Primeira Emenda.

“Pânico Vermelho, parte 3”, como seus predecessores, é um filme de propaganda —mas, no fim, o que está em jogo é a substância da democracia.

De Pedro II a Moraes, o esforço que o País faz para andar para trás

Musk dá um drible em Moraes e X volta a funcionar no Brasil - portal waffle

Moraes acha o celular um risco, mas Musk não concorda

J.R. Guzzo
Estadão

Talvez tenha sido uma sorte, para todos nós, que quando inventaram o telefone dom Pedro II era o imperador do Brasil. Como se conta na História, as mentes mais civilizadas da época achavam que a invenção de Graham Bell era uma geringonça sem utilidade para nada – mas Dom Pedro nunca esteve de acordo com essa avaliação, e trouxe para o Brasil, no ato, o que viria a ser uma das maiores conquistas tecnológicas da humanidade. Imaginem se, em vez dele, o imperador fosse o ministro Alexandre de Moraes. Não haveria telefone até hoje no Brasil.

De lá para cá, em matéria de tecnologia, o Brasil se especializou em correr no pelotão de trás – ali entre o médio e baixo Terceiro Mundo, sem infâmia e sem louvor. Salvo uma e outra coisa, como determinados tipos de avião e de motores elétricos, o resto do mundo nunca se interessou em comprar nada do que o Brasil chegou a produzir nos últimos séculos.

MUITOS MORAES – Nosso problema, hoje, é o grande esforço nacional em prol de andar para trás. Temos poucos Pedros II. Temos muitos Alexandres de Moraes.

O telefone foi descartado como uma bobagem – mas pelo menos ninguém achava que era perigoso. Não contavam, na época, com a astúcia do ministro Moraes. Se estivesse ativo 150 anos atrás, teria percebido o que ninguém, a começar por dom Pedro II, percebeu. O que parecia uma inocente invenção de professor Pardal acabaria se transformando, no futuro, numa ameaça fatal à democracia.

O problema, pelo que se deduz do que o ministro fala o tempo todo em seus sermões, não seria exatamente o telefone. Seria, como sempre, o ser humano e o seu vício incurável de utilizar os frutos do progresso para fins não previstos pelas autoridades – digamos, gente como Moraes.

NÃO PODE… – Quer dizer que agora, com essa tal de comunicação à distância, qualquer um vai poder falar o que bem entende, para quem quiser, onde estiver? Não pode.

Pior: a operação disso tudo estaria a cargo de empresas estrangeiras, já pensaram? A qualquer minuto do dia elas poderiam usar o seu controle sobre a rede telefônica para interferir na soberania nacional – e isso aqui não é casa da Maria Joana. Imaginem, então com os celulares, as redes sociais e os novos equipamentos da Starlink de Elon Musk, que não dependem das antenas de Moraes para manter as pessoas falando entre si.

Não é um caso de progresso, acha o ministro; é um caso de polícia. Comunicação tem de ser monopólio do “Estado”, como imprimir dinheiro e expedir passaporte. Pessoas que “não entendem” a liberdade de expressão não podem continuar mexendo com rede social; isso é hoje, junto com Musk, a maior ameaça para a democracia. Moraes fica doente com essas coisas. 

Cada vez mais acirrada, a polarização está travando a agenda do Congresso

2 Xadrez 02 01 2024

Charge reproduzida do Hoje.com

Caio Junqueira
CNN Brasil

Já se vai mais de um mês da troca do comando do Congresso Nacional sem que se veja nenhum resultado concreto positivo. O orçamento de 2025 ainda não foi votado. Comissões permanentes não foram instaladas. A agenda econômica parou.

E o único projeto aprovado foi um que dribla o Supremo Tribunal Federal na regulamentação das emendas, adiando ainda mais um ponto final neste assunto.

ACIRRAMENTO – Se algo andou, foi o acirramento interno da disputa política entre petistas e bolsonaristas, agravando ainda mais o quadro de paralisia em Brasília.

O cenário é ajudado por um governo nas cordas, sem cacife político e popularidade para reverter este quadro. E por um Judiciário focado em prender quanto antes a principal liderança da oposição no país.

É cada um por si e todos contra todos. E cada vez mais distantes da vida real da população.

“Por que afastar Bolsonaro das urnas? É medo de perder?”, questiona Tarcísio

Ato pelos presos e condenados no 8 de Janeiro: Tarcísio subiu tom em discurso pró-anistia

Tarcísio subiu o tom e deixou Bolsonaro emocionado

Heitor Mazzoco e Gabriel de Sousa
Estadão

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), subiu o tom durante manifestação bolsonarista no Rio de Janeiro, neste domingo, 16, e questionou o motivo de a Justiça brasileira tornar o ex-presidente inelegível. “Qual razão para afastar Jair Messias Bolsonaro das urnas? É medo de perder eleição, porque sabem que vão perder?”.

Tarcísio também falou da anistia de presos e condenados pelo 8 de Janeiro “A gente está aqui para pedir, lutar e mostrar que todos estamos juntos para exigir anistia daqueles inocentes que receberam penas desarrazoadas (…) Quero ver quem vai ter coragem de se opor (ao projeto da anistia)”, afirmou o chefe do Poder Executivo paulista, ao lado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

INELEGÍVEL – Hoje, Bolsonaro só poderia voltar a disputar eleição presidencial em 2034. Isso porque, em junho de 2023, a o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) condenou Bolsonaro por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação, pela reunião com embaixadores em que ele atacou o sistema eleitoral do País, sem apresentar nenhuma prova.

Em outubro do mesmo ano, foi condenado mais uma vez, por abuso de poder político durante o feriado do 7 de Setembro em 2022, por usar a data para fazer campanha eleitoral, segundo o entendimento dos magistrados.

Bolsonaro diz que ‘por enquanto, é candidato’, elogia Tarcísio, mas afirma ter mais experiência.

LIBERDADE – Tarcísio também afirmou que a liberdade no País está em risco. De acordo com ele, “a liberdade é uma árvore que dá fruto e no dia que essa árvore morrer, os frutos vão embora. Vai embora o investimento, vai embora a segurança jurídica, vai embora a prosperidade e vai embora a própria democracia”.

Mais cedo, o líder do PL, Sostenes Cavalcante, afirmou que pedirá urgência na tramitação da proposta que perdoa os crimes pelos quais os presos e condenados pelo 8 de Janeiro respondem no Supremo Tribunal Federal (STF).

“Estou assumindo compromisso com vocês. Nesta semana, na reunião de colégio de líderes, vamos dar entrada com 92 deputados do PL e de outros partidos, para podermos pedir urgência do projeto da anistia para entrar na pauta na semana que vem”, afirmou.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Comprem pipocas, porque haverá momentos de grande emoção. Se for colocada em pauta, a anistia será rapidamente aprovada. (C.N.)

Em ato em Copacabana, Bolsonaro pede anistia para os condenados do 8/1

Bolsonaro faz ato em Copacabana por anistia a envolvidos no 8/1 | Metrópoles

Realmente, o número de manifestantes foi impressionante

Deu no g1

Apoiadores de Jair Bolsonaro participaram de um ato em Copacabana, Zona Sul do Rio, na manhã deste domingo (16), convocado pelo ex-presidente. A manifestação pediu a anistia dos envolvidos nos ataques de 8 de janeiro em Brasília, o maior ataque às instituições da República desde que o Brasil voltou a ser uma democracia.

Além do ex-presidente, participaram do ato o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, o de São Paulo, Tarcísio Freitas, o de Santa Catarina , Jorginho Mello, e o de Mato Grosso, Mauro Mendes.

OUTROS PARTICIPANTES – Também marcaram presença os senadores Flávio Bolsonaro e Magno Malta, o presidente do Partido Liberal (PL), Valdemar Costa Neto, a vice-presidente do PL, Priscila Costa, o deputado federal Nicolas Ferreira, o pastor Silas Malafaia, coordenador do evento, entre outros.

Veja imagens do ato de Bolsonaro em Copacabana, no Rio

Bolsonaro pediu que Congresso aprove anistia

Por volta das 11h30, o ex-presidente Bolsonaro começou a discursar e pediu anistia para os presos pelos atos golpistas, criticou a gestão do presidente Lula, fazendo comparações com o seu governo.

“Eu jamais esperava um dia estar lutando por anistia de pessoas de bem, de pessoas que não cometeram nenhum ato de maldade, que não tinham intenção, e nem poder pra fazer aquilo que estão sendo acusados”, disse o ex-presidente. Ele mencionou o nome de algumas das mulheres condenadas e questionou os crimes imputados a elas. “Quem foi a liderança dessas pessoas? Não tiveram. Foram atraídas para uma armadilha.”

GOVERNADOR APOIA – Em discurso, o governador Cláudio Castro afirmou que “esse governo que tá aí tem usado pessoas inocentes presas como forma de deixar militância unida”. Ele se voltou aos manifestantes e perguntou quem era do Rio de Janeiro e quem tinha ido de graça até ali.

“Presidente, esse povo veio de graça para pedir anistia já. O Rio de Janeiro clama ao Brasil: “Anistia, anistia!”

A manifestação interdita o trecho da Avenida Atlântica entre as ruas Barão de Ipanema e Xavier da Silveira. O protesto acontece uma semana antes de o Supremo Tribunal Federal julgar denúncia da Procuradoria-Geral da República que pode tornar Bolsonaro réu.

BOTAR PRESSÃO – O ato é visto como uma tentativa de pressionar o Congresso para que o projeto de anistia seja aprovado na Câmara e no Senado. No carro de som, os manifestantes também pediram a saída do presidente Lula e a volta de Jair Bolsonaro ao poder. O ex-presidente foi condenado em 2 processos na justiça eleitoral e está inelegível até 2030.

Os manifestantes vestiam, em sua maioria, camisas amarelas e exibiam cartazes pedindo Anistia para os envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro.

Até o momento, 481 pessoas foram condenadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por envolvimento no ato. Dessas, 255 tiveram suas ações classificadas como graves. Apenas oito dos investigados foram absolvidos.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
As imagens das TVs mostraram que Bolsonaro conseguiu reunir um número enorme de pessoas com camisas amarelas. Realmente impressionante. Mas o Supremo não se deixa influenciar pelo povo. Como dizia a ministra da Fazenda, Zelia Cardoso de Melo, no governo Collor, o povo é só mais um detalhe. (C. N.)

O comovente lamento do sertanejo, na visão de Gil e Dominguinhos

Tenho Sede” and “Lamento Sertanejo” – Lyrical Brazil

Dominguinhos e Gil, dois mestres da MPB

Paulo Peres
Poemas & Canções

O político, escritor, cantor e compositor baiano Gilberto Passos Gil Moreira, conhecido como Gilberto Gil, e seu parceiro Dominguinhos (José Domingos de Morais 1941-2013) fizeram a letra de “Lamento Sertanejo”, inspirada na vida de tantos que partem do interior do país à procura de oportunidades melhores e, ao chegarem na cidade grande, deparam-se com uma realidade bem diferente daquela conhecida em suas vidas. A música foi gravada por Gilberto Gil no LP Refazenda, em 1975, pela Warner.

LAMENTO SERTANEJO
Dominguinhos e Gilberto Gil

Por ser de lá
Do sertão, lá do cerrado
Lá do interior do mato
Da caatinga e do roçado

Eu quase não saio
Eu quase não tenho amigo
Eu quase que não consigo
Ficar na cidade
Sem viver contrariado

Por ser de lá
Na certa, por isso mesmo
Não gosto de cama mole
Não sei comer sem torresmo

Eu quase não falo
Eu quase não sei de nada
Sou como rês desgarrada
Nessa multidão, boiada
caminhando a esmo

Bolsonaro quer apoio do partido Republicanos, que prefere adiar a anistia

Base de Lula é gelatinosa e não faremos parte' | Política | Valor Econômico

Marcos Pereira avisa que não é hora de votar a anistia

Bela Megale
O Globo

No périplo de Jair Bolsonaro junto a presidentes de partidos para aprovar o projeto da anistia aos envolvidos no 8 de janeiro, falta apenas o encontro com o presidente do Republicanos, deputado Marcos Pereira (SP).

Há a possibilidade de que a agenda entre ambos ocorra na semana que vem, mas Marcos Pereira já sinalizou a aliados sua posição sobre o tema, a qual não deve agradar Bolsonaro.

APÓS OS JULGAMENTOS – O presidente do Republicanos tem afirmado que, como jurista, avalia que a anistia não pode ser aprovada antes que todas as ações sobre os atos golpistas do 8 de janeiro sejam analisadas e finalizadas.

Até porque isso abre espaço para que partidos contrários à anistia judicializem a medida no Supremo Tribunal Federal (STF), que acabará decidindo sobre o destino final dos condenados pelos ataques aos prédios dos Três Poderes.

Marcos Pereira tem ponderado, no entanto, que considera as penas, que chegam a 17 anos de prisão, elevadas demais.

LÍDER CONFIANTE – O líder da legenda na Câmara, Sóstenes Cavalcante (RJ), diz já ter votos suficientes para aprovar a anistia e que espera só o posicionamento do Republicanos.

Os deputados do partido, porém, ainda não debateram o tema. Como informou o colunista Lauro Jardim, são necessários 257 votos.

Pelas contas dos bolsonaristas, com o apoio do Republicanos “o sim” à anistia teria cerca de 290 votos.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
– Desculpem a intromissão, mas a matéria tem alguns erros. Como se trata de projeto de lei, a anistia é muito fácil ser aprovada. Para abrir a votação, é preciso haver quórum de maioria absoluta (metade mais um), ou seja, 257 presentes. O presidente da Câmara então pode abrir a votação, e o projeto é tido como aprovado se conseguir apoio da maioria simples, ou seja, apenas 129 votos. É por isso que avaliamos aqui na Tribuna da Imprensa que a anistia está mais do que aprovada. Inclusive, o novo presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB) é a favor. Quanto a Sóstenes Cavalcante, autor do projeto, ele é líder do PL e não do Republicanos. (C.N.)

Simone Tebet admite que a crise vai detonar a economia em 2027

Em 2027, seja quem for o próximo presidente, não governa com esse arcabouço  fiscal, diz Tebet | Exame

Por que só agora Simone Tebet resolveu dizer a verdade?

Carlos Andreazza
Estadão

Como se observadora externa chegada de repente ao Brasil, Simone Tebet, ministra do Planejamento, disse que o próximo presidente não conseguirá governar o país com o arcabouço fiscal de Haddad. É uma admissão. Foi em entrevista à Globonews. Está correta.

Ninguém que quisesse controlar – para valer – o ritmo do endividamento brasileiro teria sucesso, se balizado por regra natimorta. Lula nunca quis, daí por que o presunto do morto muito louco boiaria animado até aqui. Quem embarcou na conversa da solidez do bicho navegou em (ou deu navegação a) uma canoa explicitamente furada.

APENAS FACHADA – O arcabouço fiscal, inviável desde a largada, serviria de fachada para a livre derrama da PEC da Transição – marco fundador do governo inflacionário. Poderia ser PEC da Gastança, mãe do voo de galinha de nossa economia a partir de 2023, protegida-minimizada pela propaganda de uma regra fiscal garantidora incondicional do disparar das despesas.

Simone Tebet confessa que o governo empurra a bomba para depois da eleição: “Chegou o momento em que, em 27, seja quem for o próximo presidente da República, não governa com esse arcabouço fiscal, com essas regras fiscais, sem gerar inflação, dívida e detonar a economia”.

Uau! É confissão de que o puxadinho nomeado arcabouço fiscal – que ela classificava como “equilibrado” – consiste em fantasia para que a galinha do voo engane por águia até 2026.

É BOM EXPLICAR – “Chegou o momento” – isso pega o cronista. “Chegou o momento.” Por quê? (Havia quanto chegara?) Qual a causa para o efeito? A ação deliberada do governo, pai do alimento caro. O governo, gastador irresponsável, que investiu nos artifícios das expansões fiscais e parafiscais e da inundação de créditos estatais – e que ora dobra a aposta nos estímulos ao consumo.

Pega demais o cronista também a advertência de que será impossível governar assim, “com essas regras fiscais”, “sem gerar inflação” – uma projeção (um alerta!) de risco para o futuro. É o que se chama de delay.

O governo plantador inflacionário que colhe inflação já – e que não para de semeá-la – nos alarmando sobre a inflação do porvir a partir da desqualificação da regra fiscal que ele próprio criara. Uau!

NOVA CHANCE – Tem mais: “Então, nós temos uma janela de oportunidade que não é agora. É em novembro e dezembro de 2026. Seja o presidente Lula o candidato e reeleito, seja outro candidato eleito, de fazer o fiscal, cortar gastos, cortar o supérfluo, fazer uma política num arcabouço mais vigoroso, que não mate o paciente, obviamente.”

O que tem matado o paciente é a inflação, de cujo espalhamento o governo é patrono. Na janela de oportunidade de 2022, Lula optou por desfazer do fiscal e ir de PEC da Transição, a ser rebatida pelo advento publicitário desse mesmo arcabouço fiscal que a ministra considera débil, ou menos vigoroso. A conta – o discurso – não fecha.

Despreparados, os líderes da União Europeia se tornaram ameaça global

How Macron became the face of Western Europe’s submission

Macron finge que mandará tropas francesas à Ucrânia

Timofey Bordachev
Jornal ‘Vzglyad’ 

Os políticos da Europa Ocidental há muito tempo abordam a governança com uma estratégia de evasão – sempre buscando a saída mais fácil enquanto adiam decisões reais. Embora isso costumava ser um problema apenas para a própria região, hoje, a indecisão está ameaçando a estabilidade global.

O cenário político atual da Europa deve ser compreendido no contexto das mudanças dramáticas que estão ocorrendo nos Estados Unidos. As elites políticas do continente não estão se esforçando por autonomia estratégica, nem estão se preparando para um confronto direto com seu maior estado, a Rússia. Sua principal preocupação é manter o poder. Na busca por esse objetivo, a história mostrou que as elites farão grandes esforços.

É O EPICENTRO – Recentemente, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, destacou que, nos últimos 500 anos, a Europa tem sido o epicentro de conflitos globais ou seu instigador. Hoje, seu potencial militar independente está esgotado – tanto econômica quanto socialmente.

Para reconstruir, a Europa precisaria de anos de militarização agressiva, o que empobreceria seus cidadãos. Embora os estados da UE possam não estar se preparando para um confronto militar direto com a Rússia, seu envolvimento na Ucrânia e sua dependência de uma estratégia fracassada podem aumentar as tensões de forma imprevisível.

Muitos políticos da Europa Ocidental apostaram suas carreiras na sobrevivência do regime de Kiev, tornando-os dispostos a tomar medidas extremas para justificar suas decisões passadas. Esse egoísmo político coletivo agora está se manifestando como uma incapacidade de reconhecer erros ou alterar o curso.

ERROS POLÍTICOS – Essa dinâmica agora é evidente na formulação de políticas da UE. O bloco efetivamente abandonou seu instinto de autopreservação. A Ucrânia é a prova de que até mesmo grandes estados podem adotar políticas externas autodestrutivas. Isso representa perigos não apenas para a Europa, mas para o mundo todo.

A disfunção burocrática da União Europeia não pode ser ignorada. Por mais de 15 anos, os principais cargos da UE foram atribuídos com base em dois critérios: incompetência e corrupção. O motivo é simples – após a crise financeira de 2009-2013, os estados da UE perderam o interesse em fortalecer o bloco.

Consequentemente, Bruxelas não busca mais políticos independentes com visão estratégica. Os dias de estadistas como Jacques Delors ou mesmo Romano Prodi – que pelo menos entendiam a importância de relações pragmáticas com a Rússia – já se foram há muito tempo.

USO POLÍTICO – Mas a incompetência não impede a ambição. A alemã Ursula von der Leyen e estoniana Kaja Kallas exemplificam isso – líderes que, não encontrando caminhos para avanço na carreira em casa, agora buscam esculpir seu legado por meio do conflito com a Rússia. Como não têm poder real dentro da UE, eles se agarram à crise da Ucrânia para justificar suas posições.

Grande parte da retórica sobre o rearmamento europeu é pouco mais do que postura. Os apelos de Bruxelas por militarização são projetados para gerar atenção da mídia em vez de produzir resultados tangíveis.

No entanto, a constante propaganda de guerra pode ter consequências reais. O público da UE está sendo condicionado a aceitar padrões de vida mais baixos e maiores gastos militares sob o pretexto de combater a “ameaça russa”. O fato de que essa narrativa está ganhando força entre os europeus comuns é um desenvolvimento preocupante.

DESEJOS CONFLITANTES – Os líderes da UE estão agora presos entre dois desejos conflitantes: manter seu modo de vida confortável enquanto terceirizam todas as responsabilidades de segurança para os EUA. Eles também nutrem esperanças de que, ao prolongar o conflito na Ucrânia, eles podem extrair concessões de Washington e reduzir a dependência dos EUA. Mas essa ideia é principalmente entretida por grandes países como Alemanha e França. A UE, como um bloco, carece de qualquer unidade real.

A contradição entre objetivos inatingíveis alimenta o espetáculo da formulação de políticas europeias incoerentes. Foi iniciada no ano passado pelas alegações bizarras de Emmanuel Macron de que a França estava preparada para enviar tropas para a Ucrânia.

Desde então, os políticos da Europa Ocidental têm produzido um fluxo constante de declarações contraditórias e absurdas, cada uma mais irrealista que a anterior. A política sobre a crise na Ucrânia se transformou em uma cacofonia de ruídos sem direção prática.

OPOSIÇÃO À PAZ – O único consenso claro da Europa Ocidental é a oposição a qualquer iniciativa de paz que possa estabilizar a Ucrânia. Mais e mais representantes da UE insistem abertamente que a guerra deve continuar indefinidamente. Ao mesmo tempo, os líderes dos principais estados da UE oscilam entre ameaças belicosas e admissões de que elas só aumentariam sob a cobertura americana.

A esquizofrenia política da Europa Ocidental não levanta mais sobrancelhas. Por décadas, seus líderes operaram no vácuo, despreocupados sobre como suas ações são percebidas no exterior.

Ao contrário dos EUA, que às vezes agem agressivamente para projetar força, os políticos europeus exibem uma patologia totalmente diferente – marcada pelo distanciamento e indiferença. Eles agem como loucos, alheios às reações externas. As elites da UE, assim como suas populações, entendem que escapar do controle americano é impossível. Muitos secretamente desejam que fosse diferente. E a nova abordagem de Donald Trump às relações transatlânticas provavelmente será muito mais dura do que qualquer coisa vista antes.

ERA PÓS-TRUMP – No entanto, as elites europeias se apegam à esperança de que, dentro de alguns anos, os democratas retornarão ao poder e restaurarão o status quo.

A estratégia do bloco, portanto, é simples: prolongar a situação atual pelo máximo de tempo possível. Isso ocorre porque os líderes europeus não têm ideia de como manter suas posições se a paz com a Rússia for restaurada. Nas últimas duas décadas, a Europa Ocidental falhou consistentemente em resolver qualquer um de seus problemas urgentes. A crise da Ucrânia é simplesmente a manifestação mais perigosa dessa disfunção de longa data.

Os políticos da UE continuam a se perguntar: Como podemos manobrar sem ter que tomar medidas reais? Essa abordagem passiva à governança não é mais apenas um problema para a Europa – ela está ativamente alimentando conflitos e colocando em risco a estabilidade global.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Excelente análise sob o ponto de vista da Rússia, enviada por José Guilherme Schossland. Foi publicada pela primeira vez pelo jornal moscovita ‘Vzglyad’, e depois traduzido e editado pela equipe da RT. (C.N.)

Carregado de significados, o parto não está livre da histeria ideológica


A ilustração de Ricardo Cammarota foi executada em técnica manual, com tinta guache pincel sobre papel. Na horizontal, proporção 13,9cm x 9,1cm, a imagem estilizada, apresenta uma cena marcada por uma figura humana central, uma mulher semi nua, sentada, com um peito a mostra, parcialmente reclinada, com uma das pernas dobradas. Um de seus braços apoiam nas costas de uma segunda figura que está sentada e inclinada a sua frente - que pode dar a interpretação de um parto caseiro, com personagens históricas. Há um grande vaso à direita da ilustração. As cores da ilustração: creme, marrom terra, marrom café, amarelo ouro, ocre e preto.

Ilustração de Ricardo Cammarota (Folha)

Luiz Felipe Pondé
Folha

O parto é um dos fenômenos mais carregado por modas contemporâneas. Parto em casa, na água, indígena, sem médico, “natural” que dura 30 horas sem anestesia, cesáreas para garantir as agendas da equipe e da mãe, enfim, um tópico significativo nas redes sociais.

Em si, trata-se de um processo fisiológico, que pode atingir efeito letal. Carregado de uma miríade de significados, seja da esfera de consumo, espiritual, religiosa e mesmo política, como no caso do revestimento do parto por pautas feministas ou conservadoras. Nem os bebês estão a salvo da histeria ideológica do século 21.

QUESTÃO ATÁVICA – O parto é uma experiência evidentemente pré-histórica, portanto, atávica. Tópico que recebe muita atenção por parte das estudiosas da pré-história, principalmente daquelas que se dedicam a entender a condição feminina naquele longo período, assim como também, daquelas que se dedicam aos estudos das raízes pré-históricas da religião.

Quando nos aproximamos da pré-história devemos ter em mente os “efeitos colaterais” dessa aproximação. A arqueóloga francesa Sophie A. de Baune se refere a esses efeitos como a personalidade do estudioso da pré-história. Personalidade epistemológica e não psicológica, claro.

Alguns desses traços são: ruína da percepção de tempo, isto é, superação da obsessão, principalmente moderna, de que os últimos cem anos são insuperáveis como marco temporal da espécie.

PÓ E CINZAS – Como é comum nesse ramo, os estudos dos nossos ancestrais de 10 mil ou 300 mil anos nos mostram que, no fundo, tudo é pó e cinzas. O Eclesiastes está certo. De nós, também restará nada. A pré-história nos ensina a pensar a partir dela e não a partir da modernidade, e assim, talvez, enxergar o Sapiens na longa duração do tempo.

Uma reverência para com a pré-história, para além de bem e mal, marca esses profissionais: nossos ancestrais nos legaram a vida, não temos certeza de que seremos capazes de fazê-lo, ou mesmo que desejemos fazê-lo. O século 21 é patologicamente narcísico e, por isso mesmo, estéril.

Nossos ancestrais do paleolítico superior — mais ou menos de 60 mil a 15 mil anos atrás — eram iguais a nós, o que nos autoriza a fazer uso do que De Baune se refere como “nossa humanidade comum”. Este argumento é comum entre os estudiosos da pré-história. Esse passo nos ajuda a analisar restos arqueológicos da época.

ROUBO DE MULHERES – No que se refere às mulheres, sabe-se que eram objeto de roubo por parte de bandos em que faltavam mulheres. Essa prática existiu até no Velho Oeste.

Sendo as mulheres as “reprodutoras”, sem elas não havia chance para o bando, assim, como também, pelo prazer sexual que elas davam e dão aos homens que as apreciam.

Claro, que tudo isso era, em muitos casos, envolvido por muita violência, como deixa claro outra arqueóloga francesa, Marylène Patou-Mathis, contra os homens assassinados e as mulheres sequestradas. Roubar mulheres sempre foi uma prática comum.

RISCO DE MORTE – “Casas de menstruação” é outro tópico na área. Provavelmente, a menstruação era marcada por significados de todos os tipos. “Esse ser que todo mês sangra e não morre”.

“Casas de parto” é outra referência. Locais com muitos restos ósseos de mulheres, bebês e fetos apontam para essa realidade.

O parto sempre foi mortal, aliás, cada um era um risco enorme em si mesmo, para a mulher e para o bebê. Causa de morte recorrente entre mulheres até ontem. Recobrir o parto com modinhas de comportamento é típico da nossa época mimada. O sexo sempre custou caro para a mulher. Por outro lado, a infertilidade feminina sempre foi vista como uma grande maldição, como vemos na Bíblia.

ENFRENTAR O MAL – A arqueóloga britânica Chantal Conneller, especialista no final do paleolítico superior e mesolítico, diz que o parto era visto como um rito apotropaico. O que é isso? Apotropaico é um termo que significa um rito que funciona como um enfrentamento do mal, como uma tentativa de proteção contra o mal.

O parto, em sendo um risco de morte muito possível, pode ter sido associado a ritos de passagem. Conneller levanta a hipótese de que o parto dava a mulher outro status social, fazendo dela uma mãe e não mais uma “simples” mulher no grupo social. Para o bebê, obviamente, ele deixava de ser “um nada” para ser uma criança que viria a ser parte do grupo social, principalmente, se chegasse à idade adulta.

No caso de morte da mulher ou do bebê, ou de ambos, muito possivelmente, o recurso apotropaico teria falhado. No caso de falha, perdia-se uma chance de enfrentar as contínuas ameaças da contingência, quase sempre materializada no mal.

Para se reeleger, Lula impulsiona a inflação que ele alega combater

Charge do Kleber

William Waack
CNN Brasil

Lula editou medida provisória que vai injetar bilhões na economia via crédito consignado para trabalhadores da iniciativa privada. Um estímulo ao consumo, portanto.

Mesmo na própria equipe econômica do governo, registra-se certo grau de preocupação com incentivo à demanda no momento em que a inflação morde o bolso — e a popularidade do governo.

ELEVAR O CONSUMO – Ocorre que, na visão de Lula, a equipe econômica não entende nada de ganhar eleições. E Lula acha que só se ganha eleições com expansão fiscal — gastança, para usar uma palavra mais popular.

O presidente não concorda com a visão de que o desequilíbrio das contas públicas, causado por gastos sempre maiores que receitas, tenha algo a ver com inflação. Nem, portanto, com juros.

Pressionado por popularidade em baixa e foco nas eleições, só enxerga um caminho pela frente: o de encontrar programas que facilitem o consumo das famílias.

DOIS MOTIVOS – Não tem sido nada fácil por dois motivos. O primeiro é a armadilha fiscal criada pelo próprio Lula para si. Quanto mais ele esbraveja dentro dela, maior é a desconfiança dos agentes econômicos. O segundo motivo é de natureza política.

O Congresso fareja que Lula embarcou numa aposta de alto risco: a de um governo minoritário, sem ideias novas ou grandes planos, para buscar, custe o que custar, a popularidade perdida.

O custo já está mesmo sendo bem alto. Custo político. E para a economia.

Explicações sobre EUA e Europa não ajudam a entender o populismo aqui

Charge do Wilmar (tribunadainternet)

Charge do Wilmar (Arquivo Google)

Maria Hermínia Tavares
Folha

O que explica a ascensão do populismo de extrema direita nas democracias ocidentais? As respostas vão desde as que destacam dimensões socioeconômicas até a fatores culturais e morais. Mas todas parecem concordar que líderes e movimentos populistas exploram os sentimentos de abandono, humilhação e ressentimento antielite nutridos por pessoas e grupos perdedores nas mudanças trazidas pela globalização.

Eis por que os pobres brancos das regiões dos EUA onde o emprego evaporou quando as indústrias migraram para outros países são os mais fiéis eleitores de Donald Trump. O mesmo se dá na França, onde a Frente Nacional (FN) colhe os votos tanto dos operários de áreas economicamente decadentes como da pequena burguesia, uns e outros atemorizados pelos imigrantes de pele escura.

ALEMANHA ORIENTAL – Isso ocorre também na antiga Alemanha Oriental, onde robusta maioria crê que a reunificação do país teria sido imposta pelos ricos conterrâneos do oeste. Na antiga República Democrática Alemã (a RDA) vicejam as bases mais sólidas da extremista Alternativa para a Alemanha (AfD).

As desigualdades exploradas pela extrema direita não são apenas econômicas —de emprego e renda. Há diferenças educacionais, de cultura, estilos de vida e crenças que separam “o povo” das elites —conservadoras ou progressistas. Os “perdedores” não costumam chegar às universidades. Nos EUA, eles têm mais problemas de saúde; são mais propensos a se drogar; vivem menos que os mais escolarizados; têm menos amigos; e mal frequentam redes de convivência.

As explicações que parecem adequadas aos EUA e às democracias europeias não ajudam a entender o populismo de direita no Brasil: não dão conta de explicar a popularidade de Jair Bolsonaro. Precisamos de outras hipóteses e mais estudos sobre o que é original na experiência brasileira.

NÚCLEOS DUROS – Embora o ex-capitão golpista tenha colhido votos em diferentes estratos —o que era de esperar em um pleito majoritário—, o núcleo duro de seus adeptos é formado por homens; brancos; evangélicos; de renda média e alta; educação de nível médio; habitantes do Sul e Sudeste.

Nesse grupo, cerca de 90% declararam em 2018 a intenção de votar em Bolsonaro. Também era alta —ainda é— a simpatia pelo ex-presidente nos estados onde a agricultura de exportação movimenta a economia local.

Assim, os simpatizantes da extrema direita local não são deserdados da sorte, mas, antes, beneficiários —em maior ou menor grau— da bonança econômica da primeira década do século, puxada pelo boom das commodities e pelas políticas de inclusão.

É PRECISO ENTENDER – Aqui o discurso antielitista típico do populismo não parece se alimentar do ressentimento, do sentimento de perda e da expectativa de volta a um passado melhor.

Talvez esteja dando voz a outro tipo de experiência social e apele a uma noção de sociedade e de país baseada na crença no progresso como fruto do esforço individual; no desprezo pelas formas coletivas de ação; no moralismo em matéria de costumes; na rejeição ao setor público, tido como fonte de corrupção e desperdício.

Se assim for, não basta ridicularizar os líderes ou denunciar a demagogia de seus apelos. É preciso entender quem os segue.

Tarifas elevadas por Trump desfazem sonho de patriotismo de bolsonaristas

Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump

Trump eleva com prazer as tarifas que prejudicam o Brasil

Josias de Souza
do UOL

O patriotismo de Bolsonaro e seus devotos, já bem carcomido pela radioatividade do golpismo, passou a ser corroído também pela ferrugem trumpista. Formou-se na direita brasileira uma militância pró-Trump.

O silêncio diante das tarifas que o imperialista laranja impôs aos metais importados do Brasil submete os membros dessa tribo ao risco de atrair uma antiga maledicência do ensaísta inglês Samuel Johnson (1709-1784): “O patriotismo é o último refúgio do canalha”.

ELE E TRUMP – Carbono de Trump no Brasil, Bolsonaro fez da submissão um objetivo de vida. “Acredito que o Trump gostaria que eu fosse elegível”, declarou às vésperas da posse do ídolo. “Tenho certeza de que ele gostaria que eu viesse candidato” em 2026.

O deputado Eduardo Bolsonaro passou a dar mais expediente em Washington do que em Brasília. Já não tinha pátria. As tarifas de Trump o deixaram sem discurso.

Entre todos os silêncios, o mais constrangedor é o de Tarcísio de Freitas. Quando Trump venceu a eleição, o governador de São Paulo correu às redes sociais para celebrar: “Grande dia”, escreveu. Fez pose num vídeo com um boné da “América Grande de Novo”.

TINHA ESPERANÇAS… – Tarcísio informou o que esperava de Trump: “Uma economia mais forte, com menos impostos, uma outra visão acerca da América Latina, uma postura diferente em relação às disputas comerciais que podem virar oportunidades para nós se bem lidas e aproveitadas”.

Deu tudo errado. Trump promete ampliar o leque de tarifas a partir de abril. Mais de um terço das exportações brasileiras para os Estados Unidos saem de São Paulo.

Sabe-se que Tarcísio será candidato a alguma coisa em 2026. Falta definir o cargo. Caindo-lhe a ficha, perceberá em algum momento que precisará pedir votos no Brasil.