Governo não deve ser entregue a um CEO porque país não é empresa

Tecnologia e Educação | PPTJoão Pereira Coutinho
Folha

Quem precisa de políticos? Não seria melhor ter um CEO dirigindo o país? Alguém com espírito analítico e prático, em busca do bem comum? A pergunta é frequente entre as almas desiludidas com a fauna política. Mas agora há um “filósofo” disposto a defender esse tipo de regime. O nome é Curtis Yarvin e, segundo o New York Times, é influente no movimento Maga e no Vale do Silício.

Fácil entender por quê. A democracia não serve, diz ele em entrevista ao jornal. É demasiado lenta com seus freios e contrapesos. Melhor entregar o governo a um rei-ditador-CEO (ele vai mudando os nomes) capaz de atuar sem esses obstáculos. Donald Trump, logicamente, é esse rei-ditador-CEO, espera Yarvin.

LENTIDÃO SALVADORA – Não vale a pena perder tempo com coisas óbvias. A lentidão da democracia não é um defeito de fábrica. É uma salvaguarda necessária para evitar, precisamente, a emergência de um rei absoluto. Os tais Pais Fundadores dos Estados Unidos sabiam o que faziam.

Além disso, a afirmação de Yarvin de que os reis, no passado, conseguiram construir a civilização de forma pacífica deve ser novidade para os historiadores das Cruzadas, da Guerra dos Cem Anos, da Guerra das Rosas, da Guerra dos 30 Anos, da Guerra Civil Inglesa et cetera.

Curtis Yarvin delira. Mas, apenas como hipótese, vamos levar a sério o delírio: por que não entregar o governo a um CEO?

AMEAÇA À LIBERDADE – A resposta é mais simples do que parece: porque um país não é uma empresa. A ambição de confundir os dois é uma ameaça direta à liberdade dos indivíduos.

Foi Michael Oakeshott (1901-1990) quem, há precisamente 50 anos, lidou com essa confusão no seu “On Human Conduct” (1975). Raros foram os livros que tiveram uma tão grande influência na minha cabeça. Existem dois tipos ideais de associação humana, lembrava ele. Existe a “associação de empreendimento” (“enterprise association”,no original) e a associação civil.

A primeira não descreve apenas uma empresa. Pode ser uma universidade, um sindicato, um clube —no fundo, o que define a associação de empreendimento é o fato de procurar um fim determinado— o lucro, o conhecimento, melhores salários, vitórias esportivas etc. Todos os membros da associação de empreendimento contribuem para esse fim.

QUESTÃO DE LIBERDADE – A associação civil é outra coisa: um tipo de associação onde os membros, respeitando regras e leis gerais, procuram os seus próprios fins. Idealmente, o Estado democrático deveria ser uma associação civil, não uma associação de empreendimento, defende Oakeshott. E por quê?

Por uma questão de liberdade. Numa associação de empreendimento, a liberdade dos indivíduos está sempre preservada porque eles podem entrar e sair da empresa, da universidade ou do clube. Ou seja, não são prisioneiros dela.

Mas como sair da condição civil? Como sair da sociedade política organizada? Romantismos à parte, não é possível.

ENTRAR OU SAIR – Na associação civil, a minha liberdade só pode ser preservada se essa associação não se transformar numa associação de empreendimento. Precisamente porque eu não escolhi entrar e não posso escolher sair.

Dito de outra forma, eu só serei livre se o governo não transformar a sociedade numa empresa onde todos têm de se submeter ao mesmo fim, quer queiram, quer não.

Na sua cabeça pueril, Yarvin argumenta: as melhores coisas da vida foram feitas por empresas. Basta olhar ao redor para os objetos do cotidiano. Como duvidar da excelência e da benevolência de um governante-CEO? Mais uma vez, o “filósofo” delira.

IMPERFEIÇÃO – O progresso material é valioso e insubstituível, ninguém nega. Mas esse progresso também é feito de erros, fracassos e abusos porque nem todos os empresários correspondem à imagem platônica que Yarvin tem deles.

De resto, “as melhores coisas da vida” não se resumem à evidência material. Só uma criança, fascinada pelos seus brinquedos, seria capaz de acreditar no contrário.

Agora que Donald Trump inaugura o seu segundo mandato com um poder quase absoluto, a esperança derradeira é que ele não tente transformar os Estados Unidos numa empresa, submetendo os americanos (e não só) a um único fim.

QUE SEJA LENTA – Para que essa esperança se cumpra, é bom que a democracia liberal funcione. Que seja lenta. Que seja pausada. Que os freios e contrapesos da Constituição funcionem.

Que a descentralização administrativa que tanto encantou Tocqueville —a teia de governos estaduais, locais, regionais, distritais— possa atrasar ou suspender os piores caprichos do novo César.

E, claro, que o novo César seja mais inteligente do que a corte de “filósofos” que o rodeia.

Trump implode multilateralismo e instaura um salve-se-quem-puder 

Infografía | Así es como Trump tiene a México entre la espada y la pared •  Nuestra Revista • Forbes México

Trump procura destruir as instituições internacionais

Eliane Cantanhêde
Estadão

Com sua postura imperial e a determinação de usar o poder dos EUA para impor suas vontades, crenças e certezas pessoais, Donald Trump está criando fissuras drásticas não apenas na sociedade americana, mas também nos organismos internacionais e as alianças regionais.

O multilateralismo, que também favoreceu os países do porte do Brasil, está em desuso, com suas instituições fracas, desacreditadas, cada vez mais inoperantes. O mundo não é mais o mesmo. Prevalece a Lei da Selva, o que equivale a dizer: salve-se quem puder!

Ao recorrer ao seu poder de veto e impedir o cessar-fogo em Gaza com um único voto, os EUA, ainda na era Biden, mostraram ao mundo o quanto a antes poderosa ONU se tornou irrelevante, inclusive diante das duas guerras da década, Gaza e Ucrânia.

TUDO PIORANDO – Com Trump, o que já estava ruim só piora e se soma ao crescente anseio de hegemonia da China, ao voluntarismo da Rússia, ao descaso de Israel com a comunidade internacional, ao tudo ou nada do Oriente Médio e ao declínio da Alemanha, maior economia da Europa.

A diplomacia tem de se reinventar ou, ao menos, se ajustar aos movimentos do mundo, aos novos líderes e ao imenso impacto das redes sociais nos países e no planeta. Se a ONU está ladeira abaixo, vai levando junto toda sua estrutura.

Trump, que fala até em anexar o Canadá (!), já retirou os EUA da OMS (Saúde) e ameaça inclusive os aliados americanos de taxações, não dá a menor bola para as regras da OMC (Comércio), que já vinha tropeçando em campo.

ÓRGÃOS MUNDIAIS – O desmonte dos organismos internacionais decanta para os regionais, inclusive, claro, os da nossa região. A Celac (América Latina e Caribe), por falta de consenso e por estar perdida, não consegue sequer se reunir para discutir uma questão comum a todos os países, a da deportação de “milhões e milhões” nos EUA.

A OEA (Américas, incluindo EUA) há muito não se entende em questões até razoavelmente simples. E qual será o futuro do Mercosul, com o trumpista Javier Milei ameaçando retirar a Argentina do bloco e criar muros nas fronteiras?

Voltando ao primeiro parágrafo: é a Lei da Selva, o salve-se quem puder. O que significa que a diplomacia é cada vez menos exercitada em bloco e em torno de amplos consensos e se transformando num difícil e desgastante desafio bilateral. As articulações de Brasil, Colômbia e México não funcionaram nem para o indescritível Nicolás Maduro, da Venezuela, como poderiam dar em algo contra o mais indescritível ainda Donald Trump?

NOVA DIPLOMACIA – Há uma diferença de escala: bastou uma cara feia e duas ameaças e Trump reduziu a valentia do colombiano Gustavo Petro a pó.

A “nova diplomacia”, portanto, tem de pisar em ovos, medir ainda mais as palavras e os gestos, mirar os alvos certos e identificar com clareza os riscos. Enfrentar Maduro já foi um vexame. Enfrentar Trump seria devastador. Mas simplesmente jogar a toalha, fechar olhos, ouvidos e bocas para absurdos e ataques também não dá.

Há que calibrar ações, reações e riscos e usar a velha técnica do “olho a olho”, “homem a homem”. É assim que o Brasil está recuando da articulação com Colômbia e México e privilegiando a negociação direta com Washington. Vem daí a criação de um grupo de trabalho bilateral para acertar os ponteiros nas deportações.

ITAMARATY DE VOLTA – Para sorte do Brasil, a megalomania de Celso Amorim e a política externa petista e inconsequente parecem ter ficado para trás, no primeiro ano do terceiro mandato, soterradas por erros crassos com a Venezuela, Rússia, China, guerras, manifestações fora de tempo e lugar do próprio presidente Lula. A partir de 2024, o time que está em campo é o profissional, é o Itamaraty.

O resultado é visível. Lula está às voltas com graves problemas e uma avalanche de críticas na economia, na relação com estatais, na comunicação, nas negociações com um Congresso hostil, num custoso equilíbrio com as Forças Armadas em ano de julgamento do golpe e vai por aí afora.

A política externa, porém, saiu da mira, está fora da lista de crises e da mira da oposição. Pensando bem, bom para o Itamaraty, bom para Lula que, cá pra nós, já tem muita guerra doméstica para se ocupar.

Crescente abandono da Amazônia é um tremendo erro geopolítico do Brasil

Conheça As Belezas Naturais Da Amazônia | Descubra Turismo

A Amazônia tornou-se a região mais cobiçada do planeta

Denis Lerrer Rosenfield
Estadão

Nas relações internacionais, geopoliticamente falando, embora isso se aplique às relações diplomáticas e comerciais, não há lei no sentido estrito, pela ausência de um poder coercitivo. Há, sim, regras de conduta aceitas de comum acordo por Estados para dirimir os seus conflitos, sem que esses não derivem para a violência.

Tratados e mesmo instituições internacionais dependem, para sua execução e operacionalidade, do arbítrio dos Estados signatários, sobretudo os de maior força econômica e militar.

IMPOR SANÇÕES – Em caso de descumprimento de algum acordo, um Estado determinado pode impor sanções econômicas, a exemplo das sanções americanas e europeias ao Irã e à Rússia. Pode eventualmente recorrer ao confronto militar direto ou indireto.

O uso de expressões do tipo “desrespeito ao Direito Internacional” significa tão só que um acordo não foi honrado ou expressa uma guerra de outro tipo, a midiática, visando a atingir a opinião pública, ao enfraquecimento da vontade do Estado beligerante.

Argumentos morais são, também, instrumentalizados politicamente. Exemplo: a retirada americana do Vietnã. Claro que seria desejável que os conflitos pudessem ser resolvidos diplomaticamente, mas não é isso que a História mostra.

ALMAS BONDOSAS – Há uma excelente formulação de Carl von Clausewitz: “Em assuntos tão perigosos como a guerra, os erros creditados às almas bondosas são precisamente a pior das coisas”.

Já entramos em uma era de guerra, algumas explícitas, como na invasão da Ucrânia pela Rússia ou na tentativa do Irã em destruir o Estado de Israel por intermédio de seus satélites: Hezbollah, Hamas, governo de Bashar al-Assad na Síria, milícias xiitas do Iraque e os houthis, do Iêmen.

Reconhecimentos internacionais pela Organização das Nações Unidas (ONU), de décadas, foram simplesmente desrespeitados. Valeu estrategicamente apenas o emprego da força, resultando na resistência da Ucrânia, atualmente com perda expressiva de seu território, e na vitória de Israel sobre os satélites iranianos. A Turquia avança também na Síria, dado o seu apoio aos jihadistas que derrotaram a ditadura de Assad.

AMEAÇAS DE TRUMP – Nesse novo cenário, torna-se necessário pôr em perspectiva as declarações do presidente Donald Trump a respeito da Groenlândia e do Canal do Panamá. Estão essas declarações sendo consideradas como “bravatas”, com a cobertura de esquerda procurando ridicularizar o novo presidente. Contudo, sob a ótica geopolítica, elas devem ser levadas a sério.

A Rússia sempre teve um interesse no Ártico por sua navegação, agora mais possível pelas mudanças de temperatura da Terra, e com mais razão ainda por seus minerais, petróleo, etc. A China, embora com maior cautela, seguirá muito provavelmente na mesma direção.

E a Groenlândia é a maior ilha do mundo, com superfície de 2,18 milhões de quilômetros quadrados. Trata-se de uma terra praticamente virgem, a ser explorada, com uma população de 58 mil habitantes. O argumento de que exigem o direito à autodeterminação é geopoliticamente irrelevante. É menos do que um bairro de uma cidade média brasileira.

SEM CONDIÇÕES – A Dinamarca, que detém a soberania dessa ilha, tem, por sua vez, um pouco mais de 5,8 milhões de habitantes, menos do que a cidade de São Paulo. Não tem nenhuma condição de enfrentar os EUA ou qualquer outra potência que procure ocupar esse território.

 No futuro, certamente terá de fazer algum tipo de compromisso. Trump, por enquanto, fala de compra, da mesma maneira que o Alasca foi comprado da Rússia. Enviou essa mensagem em um mundo especialmente conturbado.

A ameaça ao Panamá, reafirmada em seu discurso de posse, deve-se à rivalidade com a China, que avança comercialmente, sem ostentar o uso militar nessa região, apesar de fazê-lo em sua intenção de invadir Taiwan.

PAZ E FORÇA – Os chineses têm demonstrado uma extrema habilidade em fazer “business”, algo estranho para “comunistas”! Em todo caso, o recado de Trump foi claro: há limites ao avanço desse novo comércio. O recurso militar americano sempre está à mão. Seu lema: paz pelo uso da força!

O Brasil deveria olhar atentamente para o processo em curso, pois poderá ser atingido. Dados o caráter não belicista de nosso país e as fronteiras estáveis com nossos vizinhos latino-americanos, a força militar não é uma preocupação central. Deveria sê-lo!

Ora, o País tem todo o território amazônico sob sua soberania, com uma presença fraca do Estado. E se dá principalmente pelas Forças Armadas, embora de uma forma insuficiente.

AMAZÔNIA COBIÇADA – Os Estados amazônicos estão cada vez mais submetidos ao contrabando de armas, narcotráfico, desmatamento ilegal e garimpo. E isso tratando-se da maior reserva ambiental do planeta!

A cobiça internacional encontra-se presente em várias frentes. Poderia ser essa região objeto igualmente de uma invasão militar ou de atos de enfraquecimento da soberania nacional.

Urge que o Brasil se volte para essa questão, seja por maior presença militar, seja impondo a lei, seja por medidas ambientais, seja combatendo as várias formas de criminalidade aí reinantes. Se não o fizer, o problema se tornará geopolítico.

Lula não terá apoio dos evangélicos em 2026, diz Marcos Pereira

Base de Lula é gelatinosa e não faremos parte' | Política | Valor Econômico

Republicanos apoiam nome de centro, diz Marcos Pereira

Augusto Tenório
Metrópoles

Presidente nacional do Republicanos, partido ligado a lideranças evangélicas, Marcos Pereira afirmou que Lula tem uma “desconexão” histórica com esse segmento e que não conseguirá amarrar os conservadores para um projeto de reeleição em 2026. Em entrevista à coluna, o chefe da sigla descartou que uma promessa de indicação ao Supremo Tribunal Federal (STF) ou o oferecimento de ministérios mudará esse cenário.

“É algo histórico. Eu vi uma pesquisa recente, feita pelo mercado, que mostra 79% de voto dos evangélicos em Lula na eleição de 2002. Essa desconexão do presidente Lula e da esquerda com o setor evangélico é causada pelas pautas progressistas. Quando o eleitor evangélico votou em Lula, não se sabia, penso eu, que esse partido e a esquerda teriam uma postura ativista nas pautas de costumes”, disse Marcos Pereira.

NOME PARA STF – Como mostrou a coluna, uma ala do PT defende que Lula assuma o compromisso de indicar um nome evangélico ao Supremo Tribunal Federal (STF) caso consiga um novo mandato.

A ideia foi defendida pelo vice-presidente da sigla, que citou Pereira como uma possibilidade de indicação. O comandante do Republicanos afirmou que um acordo do tipo ajudaria no diálogo com o setor, mas dificilmente seria suficiente para significar um embarque de fato no governo.

“Não sei se amarra, mas ajuda. Toda sinalização que o governo puder fazer ao segmento é importante. Ajuda pela relevância que o STF tomou nos últimos anos, com o empoderamento da Corte. É uma sinalização muito positiva que o presidente poderia fazer”, disse Pereira.

FORMAR ALIANÇA – Ele seguiu a mesma linha ao ser questionado se um maior espaço na Esplanada colaboraria para formar uma aliança com lideranças conservadoras e evangélicas.

“Acho que com os conservadores ele não vai conseguir, é muito difícil. Mas acho que reformas são positivas para reoxigenar. O único problema de uma reforma é este timing, penso que deve ocorrer após o carnaval. Quem assumir um ministério e for disputar em 2026, ficará apenas um ano como ministro. Não se consegue fazer muito, a burocracia é muito grande”, comentou Pereira.

Apesar das discordâncias, seu partido integra a base do governo no Congresso e comanda o Ministério de Portos e Aeroportos, com Silvio Costa Filho. E agora está na expectativa de ampliação de indicações na reforma ministerial.

UNIÃO EM 2026 – Apesar dessa convívio com Lula e o PT, o deputado Marcos Pereira afirmou que espera uma união dos pré-candidatos conservadores contra o petista em 2026.

Sem falar sobre o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), inelegível até 2030, o presidente do Republicanos citou os governadores Ronaldo Caiado (União-GO), Ratinho Jr. (PSD-PR) e Romeu Zema (Novo-MG) como possibilidades.

“Eu acho que esse campo está aberto. Só espero, e seria muito bom, que todo ele tivesse unido em torno de um só nome. Se houver divisão, acho que fica mais difícil uma eleição neste campo contra uma reeleição de Lula”, afirmou Pereira.

Deportação em massa dará prejuízo de US$ 1 trilhão aos Estados Unidos

Comentários irresponsáveis de Trump sobre a Groenlândia podem transformar  os EUA em piada mundial - Estadão

Trump é irresponsável e não sabe o custo da deportação

Jamil Chade
do UOL

Se o medo ronda os imigrantes nos EUA, a perspectiva de uma deportação em massa por parte de Donald Trump leva empresas e o comércio a avaliar o impacto de ficar sem a mão de obra barata que, hoje, garante parte importante da economia americana.

Num país onde um quarto das faxineiras não têm documentos, a repercussão da ofensiva e dos anúncios de que a prisão de Guantánamo pode ser usada para alojar imigrantes já afetam as atividades de restaurantes, hotéis e centenas de negócios pelo país.

HÁ VAGAS – 75% dos eleitores dos EUA admitiram, em outubro, que os imigrantes indocumentados fazem trabalhos que os cidadãos americanos não estão dispostos a desempenhar, segundo um relatório da Pew Research.

Em alguns estados, o déficit de mão de obra é motivo já de crise, antes mesmo da operação de Trump. Em Nebraska, por exemplo, para cada cem empregos, há apenas 39 trabalhadores, de acordo com a Câmara de Comércio dos EUA. A imigração, portanto, é uma das saídas diárias para as empresas da região.

Mas um levantamento realizado pela American Immigration Council concluiu que se a promessa do republicano for implementada, ela conduziria a um abalo na economia dos EUA, com a contração do PIB e uma perda de quase US$ 1 trilhão, o equivalente à metade do PIB brasileiro.

IMPACTO PROFUNDO ´- O impacto seria mais profundo que a quebra do Lehman Brothers, em 2008, e que quase levou a economia mundial ao colapso. Entre 4,2% e 6,8% do PIB americano poderiam ser perdidos.

Com os recursos usados para a operação sem precedentes prometida pelo presidente, o estudo estima que poderiam ser construídas 40,4 mil novas escolas ou 2,9 milhões de casas. Também haveria recursos para pagar a universidade de mais de cinco milhões de pessoas.

Para realizar a deportação de 13 milhões de imigrantes de uma só vez, o governo teria de gastar cerca de US$ 315 bilhões.

FAÇA AS CONTAS –  Isso inclui: US$ 89,3 bilhões para realizar prisões suficientes; US$ 167,8 bilhões para deter imigrantes em massa; US$ 34,1 bilhões em processamento legal; US$ 24,1 bilhões em remoções.

De forma mais realista, porém, a deportação em massa teria de ocorrer ao longo de vários anos. Um dos cenários seria o de conduzir a deportação de um milhão de imigrantes por ano, o que custaria US$ 88 bilhões anuais, incluindo a construção de campos de detenção.

“Seriam necessários mais de dez anos e a construção de centenas a milhares de novas instalações de detenção para prender, deter, processar e remover todos os 13,3 milhões de imigrantes visados —mesmo supondo que 20% dessa população sairia voluntariamente durante qualquer esforço de deportação em massa de vários anos”, diz o estudo.

QUASE 1 TRILHÃO – O custo total em 10,6 anos seria de US$ 967,9 bilhões. E outro obstáculo se refere à organização da operação.

“Para realizar mais de 13 milhões de prisões em um curto período, seriam necessários entre 220.000 e 409.000 novos funcionários do governo e agentes da lei, o que seria praticamente impossível, considerando os desafios atuais de contratação em todos os órgãos de aplicação da lei”, alertou.

“Até mesmo a realização de um milhão de prisões em liberdade por ano exigiria que o ICE contratasse mais de 30.000 novos agentes e funcionários policiais, tornando-o instantaneamente o maior órgão policial do governo federal”, indicou o levantamento.

SEM EMPREGADOS – Entre empresários e donos de lojas, o temor é já o de ficar sem mão de obra. Em 2022, quase 90% dos imigrantes sem documentos estavam em idade de trabalhar, em comparação com 61,3% da população nascida nos EUA com idade entre 16 e 64 anos.

“A perda desses imigrantes indocumentados em idade ativa pioraria os graves desafios da força de trabalho com os quais muitos setores já vêm lutando nos últimos anos”, disse o estudo.

Segundo o levantamento, a deportação em massa prejudicaria vários setores importantes dos EUA que dependem muito de trabalhadores sem documentos.

MAIS AFETADOS – “Os setores de construção e agricultura perderiam pelo menos um em cada oito trabalhadores, enquanto no setor de hospitalidade, cerca de um em cada 14 trabalhadores seria deportado devido ao seu status de indocumentado”, afirma.

A deportação em massa removeria mais de 30% dos trabalhadores dos principais setores de construção, como os responsáveis pelo gesso, telhados e pintores; quase 28% dos niveladores e classificadores de produtos agrícolas.

SEM DOCUMENTOS – No setor de serviços, o mesmo estudo indica que um quarto de todas as faxineiras não tem documentos. E o impacto também seria sentido na arrecadação de impostos por parte do governo americano.

Entre os deportados estariam um milhão de pequenos empresários imigrantes sem documentos, que geraram US$ 27,1 bilhões em renda total de negócios em 2022.

“A perda de 157.800 empreendedores imigrantes sem documentos em empresas de bairro levaria a interrupções nos serviços que se tornaram parte integrante da vida comunitária e proporcionam empregos locais para os americanos”, diz o documento.

PREVIDÊNCIA – Juntos, esses migrantes empreendedores contribuem com US$ 22,6 bilhões para a Previdência Social e US$ 5,7 bilhões para o Medicare, a rede pública de saúde dos EUA.

“A deportação em massa privaria os governos federal, estadual e municipal de bilhões em contribuições fiscais locais de famílias sem documentos. Somente em 2022, as famílias de imigrantes sem documentos pagaram US$ 46,8 bilhões em impostos federais e US$ 29,3 bilhões em impostos estaduais e municipais”, explicou o estudo.

Além da reforma ministerial, e preciso arrumar o governo, diz Lira

Presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira

Lira comandou a Câmara durante quatro anos seguidos

Gabriel Sabóia e Victoria Abel
O Globo

Prestes a deixara a cadeira após quatro anos no comando, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), afirma que o governo precisa de uma “arrumação de baixo para cima” e que só a reforma ministerial não será suficiente. Cotado para o Ministério da Agricultura, ele argumenta que “falta sintonia” e existe “desequilíbrio” na composição do primeiro escalão, com representantes do Senado ocupando um espaço maior que os da Câmara.

O governo Lula registrou reprovação maior que a aprovação pela primeira vez. A que isso se deve?
O governo foi eleito com uma pauta social muito forte. Isso tem custos, mas tem que ter responsabilidade fiscal. Não é fácil equilibrar. Quando parte da população que votou no governo e outra parte que votou contra começam a caminhar para o mesmo lado (para a insatisfação), é lógico que baixa a popularidade. Não é com uma varinha de condão que vai resolver. Eu tenho a impressão de que o governo vai ter que arrumar do primeiro andar para a cobertura. Não adianta mudar só a cobertura.

O que isso significa?
O primeiro andar é a economia, emprego, inflação. É o sentimento popular, se há alguma coisa melhorando a vida. Depois (no segundo andar) tem a credibilidade política. O governo está com deficit, com dificuldades no Parlamento, na relação institucional. É preciso solucionar.

A dificuldade se resolve com mudança na articulação?
É fato que é necessária uma reforma ministerial. As nomeações originais da Esplanada foram feitas no calor da PEC da Transição. Ainda acho que o Senado ficou mais prestigiado que a Câmara e, no final, a Câmara votou mais fácil com o governo do que o Senado. Existem partidos que estão menos representados e dão mais votos. O governo deve ajustar isso, se entender que é a maneira de conseguir apoios. Deve haver arrumação de baixo para cima. Só em cima, não salvará, não resolverá. O Lula é um animal político muito experiente, mas não pode estar na linha de batalha. Tem que ter gente brigando.

Na articulação política?
Sim, em todos os aspectos. Há um desencontro do governo com o próprio governo, entre áreas do governo. Não há uma sintonia. Mas, é o momento agora de tentar fazer, olhando para todos os aspectos, inclusive econômicos.

Como viu as declarações do presidente do PSD, Gilberto Kassab, com críticas ao governo? Disse que Haddad era “fraco”.
Não posso emitir um juízo de valor. São falas dele.

Aceitaria um convite para ocupar uma vaga na Esplanada?
Eu não falo sobre conjecturas. O “se” não existe. Nunca tive conversas com Lula sobre ministério, nem com nenhum membro do governo. Não tenho respostas para algo que nunca foi conversado. Minha obrigação é deixar a presidência com a cabeça erguida, com a sensação de dever cumprido.

O senhor se incomodaria em prestar contas ao PT ou a Rui Costa, caso virasse ministro?
Não tenho nenhum problema com ninguém. Tenho amigos do PT ao PL.

Acredita que o momento pode fazer com que alguns partidos evitem entrar no governo?
Alguns partidos podem fazer essa opção, sim.

O senhor defende o apoio do PP à reeleição de Lula?
Hoje temos Lula e Bolsonaro como únicos candidatos da esquerda e da direita, é assim que vejo. Bolsonaro está tão inelegível quanto Lula esteve preso em 2018. A nossa Constituição traz brechas para isso. A decisão de apoiar um ou outro precisa ser muito amadurecida. Hoje, o PP não tem essa decisão clara de que iremos para cá ou para lá.

Os últimos anos foram marcados pelo acirramento do embate entre Congresso e Judiciário. Como solucionar o impasse das emendas?
Sempre defendemos a transparência e sempre defenderei as emendas. Elas têm uma função social importante. Para obras estruturantes, de saúde, saneamento e para o povo. Coisas que nenhum ministro tem condições de enxergar. As desvirtuações disso são caso de polícia, não de política. Tudo o que foi votado no final do ano foi feito seguindo orientação do poder Executivo. Mas, essa discussão vai perdurar por algum tempo, porque estamos falando de disputa de poder.

Qual é a solução?
Existem palavras fáceis de serem usadas depois de algum tempo. Hoje, fala-se em “rastreabilidade”. Sempre se soube de onde vinha a emenda. Na obra, o prefeito, o deputado, sempre falaram com orgulho da realização para aquele lugar. É claro que tudo está documentado. Mas, se quiserem transformar todas as emendas em individuais, podemos fazer, e cada emenda terá um único dono. Não podemos criminalizar a indicação parlamentar.

Na saideira de Lira, Cunha abençoa Hugo Motta na direção da Câmara

Eduardo Cunha foi atração na festa de Arthur Lira

Raquel Landim e Carla Araújo
do UOL

Era quase meia-noite quando Eduardo Cunha chegou à residência oficial da Câmara dos Deputados nesta sexta-feira (1). Bastante magro e vestindo uma calça jeans e uma camisa quadriculada, ele foi recebido com abraços e risadas pelo atual presidente da casa, Arthur Lira (PP), e por outra estrela da noite: Hugo Motta (Republicanos).

“Ele aprendeu muito, conviveu com todo mundo”, disse Cunha ao UOL ao ser questionado sobre o que espera de Motta como presidente da casa que ele presidiu entre 2015 e 2016 antes de renunciar ao cargo acusado de corrupção.

PLACAR ALTO – Cunha não quis arriscar quantos votos Motta terá neste sábado, mas assim como todos os parlamentares da festa apostava em um placar alto.

Com uma coalizão que vai do PT ao PL, Motta é considerado um pupilo político de Cunha, o algoz do impeachment de Dilma Rousseff. O jovem deputado presidiu a CPI da Petrobras, que ajudou a desgastar a presidente.

Hoje Motta tem a confiança do PT, que o considerou uma opção mais palatável do que Elmar Nascimento (União Brasil), o preferido de Lira.

FESTA DE ARROMBA – Na noite de ontem, também estavam na festa de despedida de Lira, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, o deputado Zeca Dirceu, e o deputado Lindenberg Farias, entre outras figuras importantes do partido do presidente Lula.

O próprio Motta só chegou no jantar, que começou às 20 horas, quando já se aproximava das 23 horas. Alguns diziam que era para não roubar os holofotes de Lira.

Várias apostas de placar circulavam entre os presentes e alguns chegavam a dizer que Motta pode ter 490 votos – mais do que os 464 alcançados por Lira.

CLIMA DE ARTICULAÇÃO – Lira não se queixava e comentava com um grupo de deputados que Motta pode mesmo bater seu recorde, já que, quando ele foi eleito dois anos atrás, alguns petistas ainda estavam receosos. Hoje o clima ruim com o PT já passou.

Cunha concorda que o placar vai ser amplo e diz que a eleição da Câmara não é um pleito “normal”, mas de “articulação”.

Questionado sobre como deve ser a relação de Motta com Lula, o autor do impeachment de Dilma diz que vai ser “boa”. “Quem vem do consenso, não consegue ir para o conflito”. Cunha foi do conflito, Motta, provavelmente, vai ser do consenso.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOGNada mudou, sem mudará. Reina a esculhambação em Brasília, onde corruptos de carteira assinada, como Eduardo Cunha, são festejadas publicamente. “Que país é esse?”, perguntou Francelino Pereira, no regime militar. E até hoje ninguém soube responder. (C.N.)

Lula está trilhando uma rota fiscal insustentável e atraindo a crise

“Lula 3” título da charge. O desenho mostra Lula ao volante do Rolls Royce presidencial. No banco de trás, há um grande pacote. Do lado de fora, na frente do carro, aparecem empurrando o veículo os ministros Simone Tebet, do Planejamento, e Fernando Haddad, da Fazenda. Uma seta apontada para Lula tem o texto “Equipe econômica”. Uma seta apontada para Tebete Fernando Haddad indica “Equipe de contenção de danos”. Todos estão à beira de um abismo e os ministros seguram o Rolls Royce presidencial com Lula dentro.

Charge do Cláudio Oliveira (Folha)

William Waack
Estadão

Desde sempre historiadores tentaram resumir em poucas palavras o fenômeno de decisões políticas (e/ou militares) que levaram a grandes desastres, embora claramente previsíveis. Duas obras de enorme sucesso foram “A Marcha da Insensatez”, de Barbara Tuchman (de Tróia ao Vietnã), e “Os Sonâmbulos”, de Christopher Clark (como a Europa “tropeçou” para dentro da Primeira Guerra Mundial).

Não há nada de sonâmbulo na marcha de Lula no caminho da insensatez fiscal, que arrisca provocar uma crise política justamente quando seria menos desejável – isto é, num cenário eleitoral. Ao contrário, o presidente não transmite em privado ou em público qualquer sinal de que entenda a questão fiscal como insustentável.

FALSAS AVALIAÇÕES – A principal assessoria econômica do Ministério da Fazenda produz avaliações do seguinte teor: “Nós estamos no caminho certo da consolidação, uma consolidação fiscal feita com baixíssimo desemprego, crescimento econômico, distribuição de renda e combate à pobreza. Sempre foi nosso objetivo: conduzir uma política econômica capaz de consolidar as contas públicas ao mesmo tempo que promove o crescimento e a distribuição de renda”.

É prosseguindo nessa trilha que o governo bateu um recorde histórico na terça feira, quando passou a pagar IPCA + 7,94% para remunerar papéis de dívida de curto prazo.

Com números dessa ordem, não espanta que agentes de mercado (sim, esses vilões) considerem que a atual situação política impeça Lula de adotar medidas capazes sequer de estabilizar a dívida pública, quanto mais reverter sua trajetória de crescimento.

COMBINAÇÃO PERIGOSA – Por “situação política” leia-se a cabeça de Lula e o que faz do “Zeitgeist” (espírito de uma época) ou “vibe” ou como se queira chamar o momento político e sua direção.

A combinação de descrédito quanto às políticas do governo e o enorme tsunami representado por Trump (do comércio à geopolítica, passando pela guerra cultural) são componentes bastante visíveis de uma realidade política extraordinariamente difícil e desafiadora para qualquer governante.

Realidade tornada ainda mais grave quando tudo é visto sob a perspectiva do marketing, uma ferramenta política capaz de produzir resultados apenas localizados, e da qual agora tudo se espera. Nesse sentido, Lula piorou a tarefa de seu chefe de propaganda política. O que tem a oferecer é mais do mesmo (gasto é vida) e promessas pontuais de “intervenção” para mitigar inflação de preços de alimentos, e seu devastador efeito na popularidade de qualquer governo.

O que o Supremo tanto esconde nos seus sinistros processos sigilosos? 

Fotos: O mensalão em charges - 19/09/2013 - UOL Notícias

Charge do J.Bosco (O Liberal)

André Marsiglia
Poder360

Dos abusos corriqueiros dos inquéritos sigilosos, em trâmite no STF desde 2019, destacam-se os vazamentos seletivos de informações à imprensa e o tribunal não permitir às partes e à defesa acesso à íntegra dos autos. À imprensa entregam o que é das partes, às partes, quase nada entregam.

Para não dizer que as ilegais ocorrências se dão em 100% das vezes, pode-se dizer que foram noticiadas em casos como de Filipe Martins, Daniel Silveira e, mais recentemente, no impedimento de acesso aos autos da defesa do general Braga Netto e no vazamento da delação de Mauro Cid.

“AMIGO DO AMIGO” – Eu mesmo passei por idêntica situação, tendo sido o primeiro advogado a atuar no inquérito das fake news, defendendo uma revista chamada Crusoé, que publicou à época uma reportagem cujo título era “O amigo do amigo de meu pai”, e foi censurada.

Não sabendo que a restrição se tornaria um modus operandi do Supremo, recordo-me de ficar surpreso com a negativa de acesso aos autos, pois havia – e ainda há – a súmula vinculante de número 14 do STF, garantindo acesso aos autos às partes e aos advogados.

Como levar a sério uma súmula que nem o próprio tribunal que a fez a respeita? Além disso, quando a censura foi levantada, soube primeiro pela imprensa e, muito depois, por vias oficiais.

LIVRO SOBRE CENSURA – Todo esse calvário jurídico está detalhado em meu livro “Censura por toda parte: os bastidores jurídicos dos inquéritos das fake news”.

As alegações do STF e ministro Alexandre de Moraes são sempre as mesmas. Dizem que os advogados falseiam a verdade, que recebem o que importa a seus clientes e que isso é o bastante.

Não, não é o bastante. Não se constrói uma defesa com base em um conteúdo editado. Não há, dessa forma, paridade de armas, pois o advogado defenderá seu cliente com base em um arremedo, mas seu cliente será julgado com base na íntegra dos autos, que são de conhecimento do juiz. 

ACUSAÇÕES SECRETAS – No meu caso, cheguei a receber certa vez, por WhatsApp, mais do que entendiam ser a parte que me cabia do latifúndio inquisitorial dos inquéritos e, sem querer, acabei descobrindo que o STF, a pedido da Procuradoria-Geral da República, estava investigando até mesmo os leitores da revista.

Como fazer a defesa de acusações sem sentido, lançadas de surpresa no colo de advogados? 

O STF e seus ministros sabem muito bem que isso não está certo e, quanto mais tiram as investigações da vista das partes e dos advogados, mais fica no ar uma indigesta pergunta: o que tanto escondem?

ILEGALIDADE – E mais, será que mostram à imprensa a totalidade do que escondem das partes? Duvido muito.

Por que pararam de cumprir a importantíssima Súmula 14, que garante o acesso da defesa à íntegra dos autos?

O que há de tão secreto nas investigações e julgamentos da Corte, que sua revelação causaria ao país um mal maior do que soterrar o direito à ampla defesa de tantas pessoas, soterrando no final a própria democracia?

Troca de comando no Congresso vai aumentar instabilidade política

Charges – Página: 8 – PSDB – ES

Charge do Thiago Oliveira (Arquivo Google)

Caio Junqueira
CNN Brasil

A troca de comando no Congresso neste ano vai ampliar o cenário de instabilidade na política brasileira. Os futuros presidentes da Câmara e do Senado (Hugo Motta e Davi Alcolumbre) assumirão em um ambiente em que deputados e senadores têm certeza da existência de uma aliança política entre o Palácio do Planalto e o Supremo Tribunal Federal para enfraquecer o Congresso.

E pretendem, pelo menos, neutralizar esse movimento conjunto do Executivo e do Judiciário. O embate tem potencial para travar ainda mais a agenda econômica e afundar o país no que já parece ser um conflito sem fim entre poderes.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
A solução do problema é simples. De início, o Supremo tem de parar de legislar (deixando a tarefa para o Congresso) e de interpretar as leis de acordo com as necessidades de momento. Ao mesmo tempo, o Executivo tem de se empoderar e renegociar com o Congresso, de forma definitiva, a aprovação das emendas parlamentares em total condizente com a realidade orçamentária. O problema é que Lula só pensa em reeleição e não tem mais idade para aguentar o arrocho. Precisa lembrar que o mundo gira e a fila anda. Apenas isso. (C.N.)

PL recorrerá ao TSE contra a decisão que cassou Carla Zambelli

TRE-SP cassa diploma e torna inelegível deputada Carla Zambelli | Agência  Brasil

Carla Zambelli recebeu uma punição rigorosa demais

Manoela Carlucci
da CNN

O Partido Liberal, liderado por Valdemar Costa Neto, informou à CNN que acionará o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) contra a decisão que cassou o mandato da deputada Carla Zambelli (PL-SP) na última quinta-feira (30).

O Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP), responsável pela determinação, alega que a parlamentar cometeu uso indevido dos meios de comunicação e abuso de poder político, tornando a deputada inelegível por oito anos, contados a partir das eleições de 2022.

CABE RECURSO – Pelas redes sociais, Zambelli afirmou que a decisão “não tem efeitos imediatos” e que continuará “a lutar todos os dias de minha vida ao lado de vocês para que tenhamos a esperança de um Brasil próspero e digno para o povo brasileiro”.

O partido também publicou uma nota, expressando solidariedade à deputada federal. “Confiamos no trabalho e na trajetória da parlamentar, que sempre defendeu com coragem e dedicação os valores que representamos”, escreveram.

O voto decisivo para cassar o mandato aconteceu na quinta-feira (30), mas este é um processo que tramita desde 2022, quando a deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL), apresentou uma ação alegando que Zambelli teria divulgado informações falsas sobre o processo eleitoral daquele ano.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOGCarla Zambelli acreditou no que dizia abertamente o então presidente Jair Bolsonaro sobre fraude na eleição. Essa circunstância é importante e precisa ser levada em conta nos julgamentos do TSE e do Supremo. Acho que ela dificilmente será cassada por ter expressado opinião sobre outra parlamentar, do PSOL. (C.N.)

Falta de credibilidade faz o governo suspender sua “produção” de notícias

Sidônio pede a PT que forme 'corrente positiva' nas redes

Para o ministro, ficar sem notícias já é uma boa notícia

Carlos Andreazza
Estadão

No news, good news. Essa parece ser a primeira diretriz – a meta urgente – do Plano Sidônio de Comunicação. Parem de falar – o objetivo inicial. O marqueteiro em busca de uma semana de paz. Seria baita “entrega”. Paz aqui entendida como o feito que adviria de os palacianos passarem um punhado de dias sem ter de reagir a crises forjadas pelos próprios palacianos.

Ajudaria também se a turma do governo popular fosse às ruas e observasse as estratégias do povo ante a corrosão do salário – que o Planalto descobriu na semana passada. O palácio se pouparia de sugerir que as gentes mudassem de fruta – abandonassem a laranja – quando faz tempo estão chupando limão.

MUNDO REAL – E que não nos esqueçamos: a sucessão de crises de confiança – as pessoas não acreditam no governo e o governo não acredita nas propostas do governo – ocorre com camadas a menos de complexidade, enquanto em recesso vão Legislativo e Judiciário, aberto o Orçamento de 2025 e por resolver qual será o leito para continuidade do orçamento secreto. O mundo real ainda virá.

Sem o mundo real ainda, nesse contexto que deveria ser de (mais) tranquilidade, o governo joga cascas de bananas sob seus passos, pisa gostosamente e expõe o caos de sua realidade. A realidade: sem notícias, boa notícia. Fama é coisa muito séria.

Na defensiva, Lula 3 por ora se satisfaz em não produzir notícias; em não gerar notícias ruins – com o perdão da redundância.

LÓGICA DA NOTÍCIA – Na sexta, o cítrico Rui Costa afirmou que o governo trabalharia – ainda sem qualquer prazo para materialização – com a ideia de reduzir tarifas de importação de alguns alimentos como forma de baixar o preço da comida. A medida teria impacto pouco.

A notícia relevante estando no que se negaria: a Casa Civil nos garantiu que não haverá congelamento de preços, subsídios ou supermercados estatais. Ufa! Má fama é um caso sério. Transtorna a lógica da notícia.

Fernando Haddad, por exemplo, correu no fim de semana para apregoar que não havia previsão de novas medidas de contenção de gastos. O que seria notícia ruim – o país precisa cortar despesas de verdade – virou boa notícia. Melhor evitar as expectativas – que seriam frustradas.

DEIXAR QUIETO – Se for para soltar novo pacotinho fiscal, convém deixar quieto. O dólar tem baixado…

Sem novidades, boa novidade. O encadeamento da desconfiança fala por si: surgiu a especulação sobre novas providências na frente fiscal, os que financiam a dívida pública viram e pensaram “lá vamos nós de novo”, e então o desmentido oficial. Ufa!

O caso do governo que acalma o mercado negando planejar ações de austeridade fiscal. Credibilidade é isso. O caso do governo ao qual resta torcer – pela grande safra de grãos e para que o Trump da campanha tenha ficado na campanha. Fé é isso.

Difícil saber quem é pior para os EUA e a humanidade: Biden ou Trump?

Donald Trump e Joe Biden

Trump e Biden são dois políticos absolutamente péssimos

Janio de Freitas
Poder360

Ao tomar posse do mundo, como é sua visão do poder reconquistado e ampliado, Trump dedicou um discurso aos apoiadores, no qual incluiu esta frase: “As guerras começam e terminam no Salão Oval”, o gabinete dos presidentes norte-americanos. Às vezes termina em fuga vergonhosa, vista no Vietnã e no Afeganistão, por exemplo.

Ainda assim, compreendido o excesso retórico, a frase faz sentido, em especial para o pós-2ª Guerra Mundial, mas não só. Esse sentido dá à saída de Joe Biden o mérito de criar certo alívio para as atuais tensões internacionais.

NOVA GUERRA FRIA – Biden fez bem ao Brasil e mal ao mundo. Sua ameaça de sanções econômicas em represália a um golpe, reiterada por canais diplomáticos e militares, foi decisiva. Atemorizou os generais do golpismo e o próprio Bolsonaro. Com a China, por exemplo, Biden levou as relações a riscos de perda iminente de controle.

Na Questão Taiwan e nas provocações com manobras militares diante da China, um engano subalterno bastaria para trazer o apocalipse. Também com provocativas restrições a produtos chineses e à importação de componentes tecnológicos pela China, Biden recriou a Guerra Fria bem ao gosto de sua mentalidade de anos 1950/1960.

Se percebeu a diferença entre a brutalidade stalinoide e a sutileza chinesa, faltou inteligência à sua estratégia para o jogo refinado. A guerra na Ucrânia mudou o presente e as perspectivas mundiais. Biden empurrou a Ucrânia para entrar na Otan, a aliança militar EUA-Europa, e avançar o cerco à Rússia.

PUTIN QUERIA NEGOCIAR – Forçou grande parte da Europa a participar da guerra como fornecedora de material bélico. Exigiu políticas que trouxeram de volta à Europa o armamentismo deletério. E municiou a Ucrânia com armas e dólares, mesmo em sua última semana na Casa Branca. A suposição de que Biden quis a guerra é temerária, mas não absurda.

Os russos levaram semanas para um percurso de dois ou três dias, em direção à Ucrânia. E ainda estiveram inativos por dias diante da fronteira. Na linguagem das hostilidades, Putin mostrava esperar uma iniciativa de negociações. Não queria a Otan ao sul, queria um pedaço russófilo do ex-satélite soviético, mas a guerra não parecia lhe convir.

Biden se omitiu e negou apoio a quem quis agir. Duas frases suas, da época: – “Os Estados Unidos não permitirão que a Ucrânia perca essa guerra” – “Vamos ajudar a Ucrânia até que a Rússia não possa mais fazer uma guerra”.

GAZA ARRASADA – Ambas foram repetidas várias vezes no Brasil pelo secretário da Defesa de Biden, general Loyd Austin, inclusive em fala aos colegas secretários reunidos no Rio.

Resumo quantitativo da ONU para a hipotética trégua na outra guerra de Biden: “92% das construções de moradia em Gaza, totalizando 436 mil, estão destruídas, sendo 160 mil completamente e 276 mil parcialmente; 1,8 milhão de pessoas sem teto e sem os itens domésticos; 110,7 mil feridos, amputados, tetraplégicos; 47 mil mortos”.

Esses números foram produzidos por bombas e projéteis fornecidos por decisão de Biden ao Exército de Israel, com a finalidade que os totais da ONU refletem. Biden não é pior que Trump assim como Trump não é pior que Biden. Para a humanidade e a civilização, a diferença entre eles está na maneira de ser pior.

Servidores do Judiciário querem entrar na farra dos penduricalhos

Novo 'penduricalho' no MP é 'incentivo à incompetência', diz especialista em gestão pública | ASMETRO-SI

Charge reproduzida do Arquivo Google

Deu no Painel
Folha

Trabalhadores do Poder Judiciário divulgaram uma carta ao ministro Luís Roberto Barroso, presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), com queixas sobre o tratamento desigual recebido em demandas salariais, enquanto magistrados têm vantagens crescentes com os penduricalhos.

A entidade diz que tem buscado o diálogo sobre suas demandas, mas reclama que “a falta de respostas efetivas às principais reivindicações da categoria tem causado enorme insatisfação”.

COMPARAÇÃO – “Enquanto observamos a magistratura acumulando benefícios e verbas vultosas em sessões administrativas, os (as) servidores (as), que são o alicerce do Judiciário, enfrentam desafios crescentes, como sobrecarga de trabalho e a defasagem de direitos e benefícios essenciais”, diz a carta, assinada pela Federação Nacional dos Trabalhadores e das Trabalhadoras do Judiciário Federal e Ministério Público da União (Fenajufe).

O protesto dos servidores lista entre os pontos mais urgentes melhoria nas remunerações e redução das desigualdades salariais internas, pagamento do auxílio-saúde nos mesmos moldes do recebido pelos magistrados e indenização de transporte para analistas, entre outros.

Os servidores dizem ainda que, “diante da ausência de avanços significativos”, anunciam a organização de um calendário de atividades reivindicatórias a partir de 7 de fevereiro.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Os serventuários (como são chamados os servidores da Justiça) são organizadíssimos e muito unidos. Têm obtido importantes conquistas sociais, como auxílio-educação, auxilio-bebê etc. É claro que não podem ficar calados ao ver os juízes se enchendo de penduricalhos e deixando os trabalhadores fora da farra do boi. Parece que os magistrados querem levar esse país à ruína, porque tudo o que eles recebem, as outras classes trabalhadoras também têm direito, hipoteticamente. (C.N.)

O revolucionário samba “Opinião”, de Zé Kéti, virou protesto contra ditadura

Opinião » revista USINA

Zé Kéti e Nara Leão no show Opinião

Paulo Peres
Poemas & Canções

O cantor e compositor carioca Zé Kéti, nome artístico de José Flores de Jesus (1921-1999), compôs o samba “Opinião”, cuja letra possui um impacto forte, criado pelo relato  do dia-a-dia na favela.

Alguns historiadores afirmam que a data desta composição é anterior a 1964, porque fora composta em protesto ao governador Carlos Lacerda, do antigo Estado da Guanabara, o qual decidira acabar com as favelas, removendo os seus habitantes para a bairros afastados do centro e da Zona Sul.

Em 1964, Nara Leão e João do Vale participaram do Show Opinião, um dos primeiros gritos artísticos de protesto contra o regime militar. O samba “Opinião” inspirou os nomes de um jornal, de um teatro, do grupo que encenou a peça e do segundo LP de cantora, intitulado Opinião de Nara,lançado no final de 1964, pela Philips.

OPINIÃO
Zé Kéti

Podem me prender
Podem me bater
Podem, até deixar-me sem comer
Que eu não mudo de opinião
Daqui do morro
Eu não saio, não

Se não tem água
Eu furo um poço
Se não tem carne
Eu compro um osso
E ponho na sopa
E deixa andar

Fale de mim quem quiser falar
Aqui eu não pago aluguel
Se eu morrer amanhã, seu doutor
Estou pertinho do céu

Se Trump expulsar todos os imigrantes, os EUA podem param de funcionar

Caravana de migrantes avança para os Estados Unidos | Agência Brasil

Os imigrantes são uma importante forca de trabalho

Leonardo Sakamoto
do UOL

Os Estados Unidos, apesar de adotarem políticas para barrar a imigração não-autorizada e deportar migrantes, sabem que dependem dela para ajudar a regular seu custo da mão de obra. Até porque é cômodo deixar uma massa de pessoas ao largo dos direitos, mas com muitos deveres. Mais cômodo ainda é perseguir essa massa, tornando possível pagar ainda menos a ela.

A perseguição contra os migrantes cria um inimigo externo, fonte de todo o medo, que é útil para a estratégia de Donald Trump. Até porque ele não consegue resolver os problemas de saúde, habitação e inflação no curto prazo. Com isso, vai empoderando fascistas e neonazistas que se sentirão livres para caçar pessoas pelas ruas. Afinal, elas são consideradas “ilegais”.

Não todos os migrantes, claro. Loiros de olhos azuis podem até ser pegos, mas não serão o alvo prioritário.

OS MAIS POBRES – Trump vai dificultar – e muito – a vida da parte mais pobre dos migrantes justamente em um país que se tornou o que é por conta dessas pessoas. Mas, em algum momento, declarará “vitória” sem ter atingido o seu objetivo. Porque toda essa mão de obra é fundamental para garantir o American Way of Life.

Vamos por partes. Não existe “imigrante ilegal”. Pois não existem seres humanos ilegais. O que temos, por força das fronteiras, são pessoas que não possuem os documentos de entrada ou de trabalho exigidos por um país ou um bloco de países.

Ou que estão em situação de migratória considerada irregular. Essa distinção parece uma “fresta” conceitual, uma “frescura do politicamente correto”. Contudo, esconde um abismo.

A FORÇA DAS PALAVRAS – Às vezes, esquecemos que a escolha das palavras que usamos, consciente ou inconscientemente, não é aleatória. Diz muito sobre a forma como vemos o mundo e nos relacionamos com ele. Ou como fomos ensinados, formados ou doutrinados a legitimar situações como se fossem algo normal. Afinal, se o diabo está nos detalhes, o inferno são as entrelinhas da nossa fala.

Por exemplo, o que é “migrante” ou o “refugiado”? O forasteiro que vem de fora roubar nossos empregos e destruir nossa cultura? Ou aquele que deixa sua casa tentando uma vida melhor ou mesmo sobreviver por desalento ou esperança?

Na maior parte dos países, eles encorpam as favelas e bolsões de miséria das grandes cidades ou vivem em acampamentos rurais e alojamentos nas grandes cidades, cumprindo o papel da necessária mão de obra barata e informal que ajuda a manter o preço em baixa e os lucros em alta.

PILHANDO E POLUINDO – Corporações de países ricos ou em desenvolvimento superexploram territórios na periferia do mundo, pilhando e poluindo, ou seus governos promovem conflitos armados em nome de recursos naturais ou interesses geopolíticos.

Comunidades inteiras sofrem com isso e são obrigadas a deixar suas casas. Daí, vão bater às portas de países ricos ou em desenvolvimento, que não os recebem de braços abertos, apesar de serem cúmplices do sistema que os expulsou.

Quantos casos vocês não viram na imprensa de multinacionais que expulsaram comunidades na África, Ásia e América do Sul, com a ajuda do governo local, para a utilização do território, levando a um êxodo que foi bater às portas do próprio país de origem da empresa? Ou seja, levam chumbo em sua terra natal e na fronteira do país de destino.

NÃO HÁ CULPA – Em todo o mundo, culpamos os migrantes por roubar empregos, trazer violência, sobrecarregar os serviços públicos porque é mais fácil jogar a responsabilidade em quem não tem voz (apesar de darem braços para gerarem riqueza e pagarem impostos para o lugar em que vivem) do que criar mecanismos para trazê-los para o lado de dentro do muro que os separa da dignidade.

A mobilidade não deveria ser criminalizada. Afinal, se o capital não vê fronteiras, os trabalhadores também não deveriam morrer afogados ou à bala enquanto tentam ultrapassá-las.

Qualquer pessoa que estuda migração sabe que o fluxo de gente pobre e indocumentada tem sido fundamental para a economia do centro rico do mundo.

TAMBÉM NO BRASIL – No Brasil, não são muitos os que defendem o fechamento total de nossas fronteiras para refugiados e a expulsão sumária de migrantes sem documentos de permanência por aqui. Por outro lado, é crescente a quantidade daqueles que acreditam que eles roubam empregos e pioram a crise. Ou que caem no conto da notícia falsa que diz que o Brasil vai gastar bilhões com Bolsa Família para refugiados, tirando da boca dos nativos.

Pouco antes da sanção da nossa Lei de Migração, grupos de extrema direita realizaram microprotestos em cidades como São Paulo, usando os mesmos argumentos que reduzem migrantes pobres a ladrões e traficantes.

Diziam que o país se transformaria no caos com a mudança da lei, seguindo o que há de pior na narrativa nacionalista ultraconservadora, que tenta fazer com que a Europa e os Estados Unidos se tornem uma sucursal do inferno.

Globo festeja 60 anos da usurpação da TV Paulista por Roberto Marinho

Roberto Marinho comprou a TV Globo de São Paulo por 35 dólares. Com  documentação falsa. E o STJ confirmou a transação

Marinho teria “comprado” a TV Paulista por 35 dólares.

Afanasio Jazadji

A Rede Globo de Televisão, uma das maiores do planeta, está em festas, para comemorar 60 anos de existência e de inegável sucesso. Já o jornal “O Globo”, criado em 1925 por Irineu Marinho, pai de Roberto Marinho, e hoje administrado pelos três netos Roberto Irineu, João Roberto e José Roberto Marinho, está completando 100 anos.

Seu maior concorrente, no Rio de Janeiro, o conceituado “Jornal do Brasil”, não resistiu às crises econômico-financeiras e fechou suas portas há alguns anos.

ANTES DA GLOBO – O que o público não sabe é que a TV Globo do Rio, concessão obtida por Roberto Marinho, em 1957, na administração do então presidente Juscelino Kubitschek, iniciou suas atividades em abril de 1965, dois meses depois de o jornalista e empresário Roberto Marinho, com apoio da ditadura militar (1964-1985), ter se apossado do controle e da outorga da concessão da Rádio Televisão Paulista S/A.

Esse negócio nebuloso efetivou-se em decorrência da instalação de uma inexplicável Assembleia Geral Extraordinária, em 10 de fevereiro de 1965, presidida pelo empresário Victor Costa Júnior, que nem era acionista da empresa, e com a presença de apenas um acionista, seu empregado e titular de apenas duas ações de um total de de 30 mil, chamado Armando Piovesan.

ROBERTO MARINHO – Além deles dois, estava presente apenas Roberto Marinho, supostamente interessado em comprar a TV Paulista, mas que já tinha adquirido a emissora dois meses antes, por meio de um estranho contrato de gaveta, por valor equivalente a reles 35 dólares.

Para instalar o ato assemblear, ignorado pela maioria absoluta dos acionistas, a reunião teria ocorrido num prédio velho e sujo da Rua das Palmeiras, em São Paulo, e que em 1969 foi destruído por um incêndio, com autoria desconhecida e que rendeu a Roberto Marinho uma bela soma a título de lucros cessantes.

Em ata registrada na Junta Comercial de São Paulo, três anos depois, consta que teriam sido representados na AGE os acionistas controladores de 52% do capital social inicial, Hernani Junqueira Ortiz Monteiro, Manoel Vicente, Manoel Bento da Costa e Oswaldo Junqueira, por meio de procurações nunca exibidas, mesmo porque os dois primeiros já tinham falecido, quando houve a assembleia. E foi assim que Roberto Marinho tornou-se “dono” da TV Paulista.

Lula acerta em dar entrevista coletiva, mas não tinha o que mostrar

Lula durante entrevista coletiva no Palácio do Planalto

Lula obedece ao marqueteiro e dá entrevista coletiva

Vera Magalhães
O Globo

Um Lula bem disposto, com fala escorreita, propositalmente simpático com os jornalistas e aparentando ter consciência de que precisa dar uma volta por cima em seu governo concedeu uma rara entrevista nesta quinta-feira. Prometeu que esses eventos serão mais frequentes, mas falta a ele ter o que mostrar em termos de realizações e a nós, da imprensa, fazer o dever de casa para aproveitar a oportunidade de estar diante do presidente da República para um questionamento mais incisivo, que reflita a complexidade do momento político, econômico e internacional.

A coletiva foi boa para Lula. Ponto para Sidônio Palmeira, que conseguiu, em duas semanas, convencer o petista a falar com a imprensa.

LEVE DEMAIS – Espertamente, demonstrando que ainda mantém um tanto da boa forma de uma raposa política que é, o presidente começou se desdobrando em gracinhas para os jornalistas e fazendo menção à sua recente cirurgia, e terminou agradecendo as perguntas e dizendo que os editores ficariam bravos. Foi, portanto, mais leve do que ele esperava –e do que o momento pedia.

Lula, foi, sim, questionado sobre os principais assuntos. Mas o modelo que não permite réplicas quando o presidente circula a pergunta impediu que ele fosse mais “apertado”.

Ainda assim, é positivo que a mudança na Secom traga logo nas primeiras semanas uma abertura maior para a exposição de Lula diante da imprensa. O modelo pode ser aperfeiçoado a cada oportunidade, inclusive com maior preparação prévia por parte de nós, da imprensa.

SEM ARGUMENTOS – O maior problema para o presidente é que o que ele tem para mostrar de positivo do terceiro mandato se restringe a 2023: do combate ao golpismo à baixa do preço da picanha, que ele mesmo reconheceu que subiu um ano depois, todas as vitórias, inclusive no Congresso, foram na largada do governo.

Mais: para além da disposição de Lula de dizer que vai dialogar e voltar a percorrer o país, nada sobressaiu como plano de voo para os dois últimos anos, que ele mesmo classificou como os mais importantes.

Só a defesa da democracia e uma espécie de uma ameaça velada de que, sem ele, o Brasil estará entregue à direira autoritária, mas isso não enche barriga nem garante popularidade a quem precisa dela e já fez bem mais nas ocasiões anteriores em que ocupou o Planalto.

FALTA DINHEIRO – A volta de Donald Trump ao poder, depois do Capitólio e com tudo que explicitou ao longo da campanha que pretendia fazer caso eleito, é um alerta para o quanto o eleitor pode relativizar a defesa da democracia quando sente — corretamente ou não — que algo lhe falta no bolso ou, de forma mais difusa, no ambiente social e cultural em que está inserido.

O ponto mais complicado da entrevista foi justamente no começo, quando Lula foi questionado sobre a decisão do Banco Central, na primeira reunião sob o comando de Gabriel Galípolo, ter aumentado a taxa básica de juros em 1 ponto percentual e, ainda assim, isso não ter ensejado críticas de sua parte como as feitas nos tempos de Roberto Campos Neto.

JUROS ALTOS – Lula poderia ter aproveitado para exercitar o que ele mesmo disse na entrevista que pretende fazer: reconhecer quando erra.

Neste caso, para dizer que demorou, mas compreendeu que a autoridade monetária é autônoma e que seu principal mandato é levar a inflação para a meta. Mas não: ele preferiu adotar uma postura paternalista e condescendente em relação a Galípolo, desnecessariamente dizer que “fala” coisas para seu indicado ao BC e que tem confiança de que no futuro a instituição vai baixar os juros.

Não ajuda a construir a credibilidade que, também de forma correta, reconheceu na coletiva de que precisa aumentar.

Trump cortou mais de US$ 1 milhão de organizações sociais no Brasil

Prefeituras: pagamentos de mensalidades para ong de prefeitos é questionada  | Vigilantes da Gestão

Charge do Adorno (Adorno@vetorial.net)

Jamil Chade
do UOL

O governo de Donald Trump cancelou mais de US$ 1 milhão em repasses para entidades da sociedade civil brasileira, impactando dezenas de programas no setor de equidade racial. Algumas organizações avaliam a necessidade de demissões.

Além disso, organizações que repassam fundos para ONGs no Brasil, como a USAID, vão parar de ceder fundos, abrindo a possibilidade de que entidades de direitos humanos no país sejam fechadas.

REAVALIAÇÃO – As decisões estão tendo como base a Ordem Executiva do governo Trump que, em seu primeiro dia de governo, anunciou a suspensão de repasses de ajuda internacional durante 90 dias. Nesse período, os programas seriam reavaliados.

As entidades que estão sofrendo cortes optaram por não divulgar os programas específicos que estão sendo afetados e nem seus nomes, temendo uma retaliação ainda mais drástica com a divulgação dos cortes.

O UOL apurou, porém, que muitas estão relacionadas com temas indígenas na região amazônica e Norte do país.

ÍNDIOS E QUILOMBOLAS – Uma das preocupações se refere ao corte de recursos a projetos que envolvem bolsistas indígenas e quilombolas jovens. Eles recebem esse dinheiro mensalmente e investem em suas comunidades.

A avaliação é de que os cortes podem afetar a preservação de saberes tradicionais, o empoderamento econômico destas comunidades e, assim, abrir espaço para o avanço do agronegócio.

No combate ao racismo, também foram afetados programas reiniciados com o Brasil no governo de Joe Biden em temas de educação, acesso à justiça, cultura e memória e saúde. O corte também afeta quilombolas na região Norte e Nordeste do país.

COP 30 – Segundo as entidades brasileiras, os repasses para a agenda climática estão sendo cancelados, impactando na participação da sociedade civil na COP 30, em Belém no final do ano.

Projetos ainda de defesa das mulheres, pessoas negras, juventude e população LGBTI+ foram alertados já de suspensão de pagamentos.

Projetos de fortalecimento das organizações da sociedade civil estão sendo cortados, impactando no fortalecimento da democracia. Projetos de liberdade e associação religiosa tampouco serão renovados pelo governo Trump.

SEM REPASSE – De acordo com as entidades, a ordem executiva impede que qualquer organização que recebia financiamento do Departamento de Estado norte-americano possa utilizar os recursos recebidos a partir do dia 24 de janeiro e, mais especificamente, que venha a receber qualquer dinheiro.

No caso brasileiro, grande parte do financiamento dessas organizações vem do exterior, e a participação da sociedade civil no fortalecimento da democracia tem previsão constitucional.

As entidades querem, agora, chamar a atenção para que o governo brasileiro se prepare para as consequências do enfraquecimento da participação da sociedade civil na construção da democracia. Para eles, esse corte ameaça os avanços promovidos por esses atores na pauta de direitos humanos.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Todos sabem que o Brasil, especialmente a Amazônia, é o paraíso das ONGs e OSs fajutas, criadas para faturar recursos públicos e privados, nacionais e estrangeiros. Esse US$ 1 milhão não significa quase nada. Trump diz que será feita uma avaliação, que considero necessária e oportuna. Aliás, quem deveria fazer essa avaliação é o governo brasileiro, mas quem se interessa? (C.N.)

Lula deixou de ser o presidente para se tornar mais um meme na internet

O presidente Lula afirmou que há várias razões para o preço do alimento ter disparado, entre elas é a de que o povo está podendo comprar mais e os supermercados estão aumentando

Lula gravou mensagem na horta do Torto

J.R. Guzzo
Estadão

Lula, pela impressão que dá em quase tudo aquilo que faz hoje em dia, deixou de ser o presidente da República e passou a ser um meme. Essa parece ser a sua principal ocupação, após dois anos de governo: fornecer material para piadinhas e ditos espirituosos na internet. Não dá para ser diferente, vendo o jeito como ele se comporta em público.

Em sua última revelação, achou uma boa ideia (ou acharam por ele) aparecer num vídeo fantasiado de “campesino” para tentar convencer as pessoas de que é um governante que tem “o pé na roça” e, como tal, conhece melhor que ninguém o caminho para acabar com a alta nos preços dos alimentos.

PAPEL RIDÍCULO – Acabou, como sempre, fazendo apenas o papel de um homem ridículo. Nessa operação do seu novo serviço de propaganda, filmada no que descrevem como “a horta do Palácio”, com camisa, chapéu e óculos de urbanoide que acaba de sair do shopping, Lula disse basicamente o seguinte: vai fazer “reuniões” com “atacadistas” e resolver o problema.

E o que ele vai dizer nessas reuniões – uma coisa só que seja? Que propostas vai fazer? E, mais que tudo, porque não fez o raio das “reuniões” antes? É puro Lula, o “negociador”. Só faltou a abóbora.

É evidente que esse tipo de coisa só pode mesmo acabar em piada nas redes sociais. Não adianta, aí, a Advocacia-Geral da União, a PGR e o serviço de publicidade do governo no noticiário mandarem a Polícia Federal atrás de quem fez os memes que “atacam medidas públicas”.

MENOS LARANJA – O que se vai fazer com um governo em que o ministro da Casa Civil, depois de anunciar e logo “desanunciar” um “tabelamento” de preços da comida, diz que a população deve comprar menos laranja, que anda muito cara, para vencer a inflação?

O que o ministro sugere que o povo chupe no lugar da laranja? Ele poderia indicar alguma fruta mais barata? E se o governo fornecesse brioches para substituir as laranjas – será que não poderia ser uma solução, como as “reuniões” que Lula quer fazer?

O fato é que nem Lula e nem ninguém em todo o seu governo tem a mais remota ideia do que fazer a respeito da alta dos alimentos. Não sabem absolutamente nada, também, a respeito de como lidar com a inflação em geral, ou com o aumento no preço dos combustíveis, ou qualquer coisa.

SEM PROJETO – Lula, na verdade, nunca teve um plano para a economia brasileira. Só consegue tratar disso, ou de qualquer outro assunto, por uma ótica: “Eu vou ser mais esperto do que eles – e inventar uma pirueta aí para enganar de novo todos esses bocós de mola”.

Em fidelidade a essa estratégia, não anunciou quem seria o ministro da Economia até o dia da sua posse – assim ficava todo mundo pendurado nele. Passou dois anoS jogando a culpa de tudo em cima do presidente do Banco Central. Colocou na chefia do IBGE um fabricante de estatísticas que se tornou uma bomba à espera da explosão. “Política econômica”, para Lula, é isso.

O presidente nunca teve, sequer, a preocupação de formar um governo – só pensou, com a sua “equipe de transição” de 900 “especialistas”, em nomear gente para encher as vagas de marajá que criou no governo.

FÁBRICA DE MINISTROS – Inventou ministérios como nenhum outro chefe de governo da História do Brasil – ministério do índio, da mulher, dos negros, da criatividade, da reforma agrária e por aí vai. Somando todos os nomeados, mais os seus aspones, não se junta competência para cuidar de um único dogão.

O governo Lula não consegue aprender nada. Continua falando em “abrasileirar” o preço da gasolina; o consumidor logo vai ver, na bomba, se há bala para sustentar essa miragem.

Continua achando que quem causou a calamidade das mudanças do pix foram as “fake news”, não a medida estúpida que eles próprios tomaram. Continua com a ideia fixa de que a prioridade absoluta do Brasil é brigar com os Estados Unidos – e ganhar a briga com a ajuda da China, que vai largar tudo para ficar com Lula. É por aí.