
Para o ministro, ficar sem notícias já é uma boa notícia
Carlos Andreazza
Estadão
No news, good news. Essa parece ser a primeira diretriz – a meta urgente – do Plano Sidônio de Comunicação. Parem de falar – o objetivo inicial. O marqueteiro em busca de uma semana de paz. Seria baita “entrega”. Paz aqui entendida como o feito que adviria de os palacianos passarem um punhado de dias sem ter de reagir a crises forjadas pelos próprios palacianos.
Ajudaria também se a turma do governo popular fosse às ruas e observasse as estratégias do povo ante a corrosão do salário – que o Planalto descobriu na semana passada. O palácio se pouparia de sugerir que as gentes mudassem de fruta – abandonassem a laranja – quando faz tempo estão chupando limão.
MUNDO REAL – E que não nos esqueçamos: a sucessão de crises de confiança – as pessoas não acreditam no governo e o governo não acredita nas propostas do governo – ocorre com camadas a menos de complexidade, enquanto em recesso vão Legislativo e Judiciário, aberto o Orçamento de 2025 e por resolver qual será o leito para continuidade do orçamento secreto. O mundo real ainda virá.
Sem o mundo real ainda, nesse contexto que deveria ser de (mais) tranquilidade, o governo joga cascas de bananas sob seus passos, pisa gostosamente e expõe o caos de sua realidade. A realidade: sem notícias, boa notícia. Fama é coisa muito séria.
Na defensiva, Lula 3 por ora se satisfaz em não produzir notícias; em não gerar notícias ruins – com o perdão da redundância.
LÓGICA DA NOTÍCIA – Na sexta, o cítrico Rui Costa afirmou que o governo trabalharia – ainda sem qualquer prazo para materialização – com a ideia de reduzir tarifas de importação de alguns alimentos como forma de baixar o preço da comida. A medida teria impacto pouco.
A notícia relevante estando no que se negaria: a Casa Civil nos garantiu que não haverá congelamento de preços, subsídios ou supermercados estatais. Ufa! Má fama é um caso sério. Transtorna a lógica da notícia.
Fernando Haddad, por exemplo, correu no fim de semana para apregoar que não havia previsão de novas medidas de contenção de gastos. O que seria notícia ruim – o país precisa cortar despesas de verdade – virou boa notícia. Melhor evitar as expectativas – que seriam frustradas.
DEIXAR QUIETO – Se for para soltar novo pacotinho fiscal, convém deixar quieto. O dólar tem baixado…
Sem novidades, boa novidade. O encadeamento da desconfiança fala por si: surgiu a especulação sobre novas providências na frente fiscal, os que financiam a dívida pública viram e pensaram “lá vamos nós de novo”, e então o desmentido oficial. Ufa!
O caso do governo que acalma o mercado negando planejar ações de austeridade fiscal. Credibilidade é isso. O caso do governo ao qual resta torcer – pela grande safra de grãos e para que o Trump da campanha tenha ficado na campanha. Fé é isso.