Brasil se livrou do golpe, mas seus articuladores ainda precisam ser responsabilizados

Nomes de 276 presos pelo vandalismo na praça dos três poderes -

Todos os que participaram do quebra-quebra serão julgados

Roberto Nascimento

É da maior importância a gravação de um pronunciamento do general Tomás Paiva aos oficiais do Comando Militar do Leste, poucos dias antes de assumir a função de comandante do Exército. Naquele ato, Paiva falou claramente que a tentativa de Bolsonaro cooptar as Forças Armadas, para intervirem no resultado do segundo turno das eleições, estava baseada numa fraude eleitoral inexistente, conforme foi constatado pela equipe de especialistas militares.

Esse processo de intervenção de chefes de Estado para se perpetuarem no poder é uma tendência mundial, conforme tese do cientista político Moisés Naim, editor-chefe da revista “Foreign Policy”, esboçada no seu mais recente livro, “The Revenge of Power” (A Vingança do Poder)”.

CRIMES NA RECEITA – A notícia mais recente revela que a Receita Federal quebrou ilegalmente os sigilos fiscais do empresário Paulo Marinho e do advogado Gustavo Bebiano, apoiadores de Bolsonaro na campanha de 2018 e no início do governo, e que depois se tornaram inimigos do clã.

Trata-se de uso criminoso das instituições do Estado, a serviço de um projeto de perpetuação no exercício do poder, que signifiva um projeto político sempre ameaçador, conforme descreve Naim em seu livro.

O uso desses artifícios pelos chefes de governo contra seus adversários, manobrando com truques rasteiros através de medidas autoritárias, destruindo órgãos de controle e nomeando capachos para servir aos interesses autocratas, é uma prática que se tornou o novo normal em diversos países, com governantes que utilizam esses estratagemas: Vladimir Putin, na Rússia, Recep Erdogan, na Turquia, Nicolas Maduro, na Venezuela, e Victor Urban, na Hungria.

BOLSONARO E TRUMP – Nos Estados Unidos e no Brasil, Donald Trump e Jair Bolsonaro não tiveram sucesso em suas estratégias visando a um golpe. Ambos foram rechaçados pelas forças legalistas.

Segundo o cientista político Moisés Naim, nascido na Venezuela, esses líderes autocratas e populistas de direita vendem esperança, fim da corrupção e um mar de rosas na forma de lucros e pleno emprego.

Mas, no fundo, trata-se apenas de tentativas de atingir a democracia, e o resultado é sempre o mesmo, com o predomínio de regimes ditatoriais, enfraquecimento dos poderes Legislativo e Judiciário.

APAGAR TUDO – Aqui no Brasil, querem passar a borracha no passado recente. Sob argumento de que os golpistas que vandalizaram a Praça dos Três Poderes são chefes de família e pessoas de bem, que estavam apenas manifestando o direito de discordar do Supremo, do Congresso e do Planalto, os bolsonaristas acham que todos deveriam ser libertados.

Da mesma forma, querem convencer a opinião pública de que os garimpeiros poluidores das áreas indígenas, fortemente armados e que estupravam as jovens yanomâmise, na verdade seriam apenas trabalhadores humildes que precisam de assistência do Estado.

Em síntese, este é o novo mote dos discursos que Bolsonaro vêm pronunciando em seu retiro nos EUA, defendendo a inocência dos vândalos da Praça dos Três Poderes, inclusive daquele personagem que tentou explodir uma bomba no aeroporto de Brasília, para gerar o caos e motivar o golpe. Mas isso não vai colar. Todos os que não participaram ativamente do quebra-quebra estão sendo libertados por Alexandre de Moras. Os outros todos têm de ser responsabilizados por seus atos.

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