Um poema bem-humorado sobre o balanço contábil do famoso Rio Capibaribe

GASTÃO DE HOLANDA - CEPE Editora

Gastão de Holanda, um poeta de bem com a vida

Paulo Peres
Poemas & Canções

O designer gráfico, editor, professor, advogado, jornalista, contista e poeta pernambucano Gastão de Holanda (1919-1997) revela num poema que o Rio Capibaribe possui uma rede bancária para a sua clientela das margens, tanto que o rio dá com o braço da maré e tira com o murro da cheia.

A REDE BANCÁRIA LÍQUIDA
Gastão de Holanda

O rio tem uma rede bancária
para atender aos flagelados,
sua clientela das margens.
Há um capital chamado pró-giro
feito de redemoinhos e febre amarela.
O rio tem um balanço exigível
pedindo a execução dos marginais
e há sempre passivo, lucro não há.

Perdas? Sim, essas são ganhas, fatais.
As mercadorias em consignação desfilam
no leito rancoroso, como um
gerente de conta-corrente
que o banco do rio credita ao mar
e não ao devedoso cliente.

O rio empresta a prazos e juros altos
pois quem nele pesca uma tainha
tem que lhe endossar uma cesta de camorins.
Se a fome recorrer ao mangue
a pena é mil alqueires de caranguejos
cevados na lama da baixa-mar.

O rio dá com o braço de maré
e tira com o murro da cheia
que com ela traz o mar de meirinho.

2 thoughts on “Um poema bem-humorado sobre o balanço contábil do famoso Rio Capibaribe

  1. 1) Meu conterrâneo Gastão, bom poeta cidadão…

    2) Licença … Estrofes duplas
    Antonio Carlos Rocha

    “Olho nu
    olho-a nua

    sem óculos
    com ósculos

    sem lente
    bem quente

    sente, tente
    vidente

    vi que lhe faltava
    um dente

    na frente
    ô gente

    e a poesia continua
    infinitamente”

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