Faixa de Gaza torna-se o Vietnã de Israel e faz Biden reajustar sua posição inicial

Reprodução/Facebook Benjamin Netanyahu - בנימין נתניהו

Biden deu apoio incondicional, mas acabou se arrependendo

Marcos Augusto Gonçalves
F
olha

Depois de uma entrada em cena valente, quando se apressou em declarar apoio incondicional a Netanyahu e a afastar a ideia de uma pausa humanitária no conflito em Gaza, o presidente norte-americano, Joe Biden, desceu uma oitava em seu garganteio.

A perspectiva da faixa se transformar num Vietnã para Netanyahu desenhou-se rapidamente nas divisões da opinião pública internacional, com a multiplicação de críticas aos riscos de uma reação desproporcional e indiscriminada após o ataque sórdido do Hamas.

MUITOS PROTESTOS – Vozes se levantaram não só no mundo islâmico, mas também no Ocidente. O relativo consenso em torno de Israel quebrou-se mesmo entre setores judeus, que sentiram a estupidez terrorista, mas não fecharam com a política fundamentalista e brutal representada por Netanyahu.

Os protestos, com perspectiva humanista e pacífica, logo apareceram nas ruas e nas redes sociais, em vários cantos do mundo, Europa, Estados Unidos ou América Latina. “Não em meu nome”, “Libertem os reféns”, “Cessar-fogo” são as hashtags divulgadas por judeus preocupados com um desastre em Gaza. Artistas de Hollywood, de diferentes etnias e religiões, também assinaram uma carta pedindo que a Casa Branca defendesse um cessar-fogo.

É difícil ver nessas manifestações simplesmente antissemitismo e apoio a terroristas. Como bem observou Glenn Greenwald em recente coluna, não é “fair” que críticas às políticas de Israel sejam automaticamente transformadas em defesa do Hamas e projeto de eliminação do país.

TIPO VIETNÃ – As movimentações em curso lembram alguma coisa do ambiente que cercou a Guerra do Vietnã, aquela que gerou o slogan “make love, not war”, levou John Lennon a escrever “Imagine” e condenou Mohammad Ali à prisão por recusar-se a se alistar para o combate.

Naquela época, quando não havia internet, a TV e parte significativa da imprensa ecoavam o nonsense de uma guerra entre a maior potência militar do planeta e guerrilheiros misturados a civis num pequeno país asiático.

Tudo em nome dos valores do mundo livre contra o avanço comunista. Os americanos se dividiram diante dos massacres, da falta de perspectiva de paz e dos corpos ensacados que retornavam à pátria.

BIDEN REFLUIU – Inicialmente disposto a ser mais realista que o rei e mostrar-se mais intrépido do que seus rivais republicanos no apoio à contra-ofensiva israelense, Biden sentiu a água subir nas relações diplomáticas, nas preocupações humanitárias internacionais e também no eleitorado americano e em seu próprio partido. Agiu para abrir a fronteira com o Egito e tentar moderar o ímpeto da resposta israelense.

Pesquisa Gallup que mede mensalmente a aprovação do mandatário americano mostrou queda em outubro. O presidente perdeu pontos entre americanos adultos e no Partido Democrata. Escreveu Megan Brenan, analista do instituto:

“A demonstração imediata e decisiva de Biden de apoio a Israel após os ataques do Hamas em 7 de outubro parece ter desanimado alguns membros do seu próprio partido, resultando na pior avaliação que os democratas fizeram do presidente desde que assumiu o cargo. O índice geral de aprovação de Biden também corresponde ao seu nível pessoal mais baixo”.

DOIS ESTADOS – O movimento da Casa Branca em direção às expectativas humanitárias e à retomada da proposta de solução de dois Estados – que é, aliás, a posição americana oficial – vão ao encontro de análises sobre novas configurações em gestação na política mundial.

Num artigo no The New York Times, o colunista Ross Douthat sugere que a guerra prenuncia alguma reformatação nas relações internacionais em face de questões como a emergência de uma “rua árabe” no mundo ocidental, a radicalização do progressismo, a resiliência de um sionismo cristão e a instabilidade das relações europeias com Israel.

O mais difícil é imaginar que tipo de arranjo surgirá adiante, na hipótese provável de Netanyahu atolar em seu Vietnã e ser expelido no próximo ciclo político.

8 thoughts on “Faixa de Gaza torna-se o Vietnã de Israel e faz Biden reajustar sua posição inicial

  1. Jornalismo de sofrência e vitimismo, a única caridade que fez foi “após o ataque sórdido do Hamas.
    Quanto maior a matança maior é o holofote. Claro que sou contra essas mortandades mas em algo isso se assemelha aos mendigos que exibem uma ferida monstruosa na perna para pedir esmola.
    Corrobora o que escrevi:
    ” Zelensky reclama que conflito no Oriente Médio ‘tira o foco’ da Ucrânia”.
    Concordo com a auto determinação dos povos, mas grupos terroristas não podem sujeitar, como fazem em Gaza, a população para agredir outras nações contando que uma retaliação pode ser instrumento de angariar simpatia a causa.

  2. O velho Joe é a prova viva dos democratas americanos, nunca tomam uma atitude definitiva, vão relativizando tudo até quase a corda arrebentar. Tome-se a guerra da Ucrânia por exemplo, a primeira coisa que o velho Joe fez foi oferecer ao Zelensky uma passagem de avião para um lugar seguro, o ucraniano só não mandou o velhote para aquele lugar por educação. Aí quando os democratas americanos sacaram que os russos tinham entrado em uma roubada, tendo que fugir para a Bielorússia resolveram dar armas para os ucranianos de defenderem da agressão. O velhote faz o mesmo agora, vai dar “todo apoio” à Israel, repetindo o mais do mesmo. O sonho do Netanyahu é o mesmo dos seus vizinhos, transformar seus países em repúblicas, ou ditaduras em teocracias, aí o sonho se completa, mas os democratas americanos ainda não sacaram isto, o vigarista do Trump sim.

  3. Entendo que essa guerra começou em 1947 na divisão do território da Palestina. Além de Israel ficar com a maior parte, estendeu seu território de norte a sul contornando toda a Faixa de Gaza e a Cisjordânia que ficaram ilhadas. Isso, na época foi muito conveniente para um futuro domínio geopolítico da região, mas era preciso tornar Israel forte belicamente e isso foi feito. Há também o interesse econômico, sabe-se que no mar da Faixa de Gaza tem gás e petróleo e com a destruição da Faixa de Gaza e a vitória na guerra, o espólio ficará para Israel e os EUA. Netanyahu poderá servir à Europa do gás do mar da Faixa de Gaza.

    Na guerra do Iraque, motivada por uma mentira o espólio do Iraque em especial o petróleo está em poder de empresas americanas.
    Essa é a triste realidade do mundo atual, a riqueza vale mais que a vida humana.

  4. Senhor Nélio Jacob , a tal guerra entre Rússia x Ucrânia , é produto da perca da venda para o mercado Europeu de ” gás x petróleo ” , pelos USA , para Rússia , devido aos altíssimos preços que os USA cobravam dos países Europeus , devido ao modal marítimo, enquanto que os Russos se associaram a Alemanha na construção de dutos , barateando os custos, daí os USA usarem a Ucrânia para boicotarem a consolidação desse empreendimento Russo x Alemão e demais países associados , sendo que a maior vítima são os próprios Europeus que caírem na esparrela de financiarem a guerra da Ucrânia contra a Rússia.

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