Agora é aguardar os reflexos concretos do pronunciamento de Milei

Milei terá que colocar suas promessas extravagantes em prática

Pedro do Coutto

O presidente eleito da Argentina, Javier Milei, confirmou os seus projetos de governo para a primeira fase de seu mandato que começa em dezembro. Temos que aguardar os reflexos políticos, econômicos e sociais de seus compromissos que vão ter que percorrer a incerteza dos apoios no legislativo argentino e na opinião pública nacional e internacional diante de medidas de impacto, como o processo de dolarização que anuncia para os próximos 18 a 24 meses. No O Globo, a matéria é de Janaína Figueiredo. Na Folha de S. Paulo, de Júlia Barbon. No Estado de S. Paulo, de Carolina Marins.  

O tema da dolarização é extremamente complexo, conforme foi bem comentado na noite de segunda-feira no programa Em Pauta, da GloboNews. Na expectativa de subida da moeda americana, pois a argentina não tem estoque de dólares disponível para o projeto, a tendência do mercado pode ser a de aquisição de dólares para formar um estoque capaz de se opor ao processo inflacionário que, aliás, se encontra em curso no país.

EXTRAVAGÂNCIA – O fim do Banco Central é antes de mais nada uma extravagância, contrariando uma tendência universal no campo da política monetária. O que substituirá o BC argentino? Não se sabe. Pode ser que nada. Então terão que ser avaliados os efeitos da inexistência de um órgão de tal importância, adotado pela imensa maioria, ou quase totalidade, das nações desenvolvidas.

Os serviços médicos e empresas públicas estão numa lista de privatizações. Pode ser que os serviços médicos e o setor de educação sejam excluídos diante de reações populares. Mas, a privatização anunciada inclui a empresa estatal de petróleo, “o que puder ser privatizado”, na expressão do presidente eleito, e inclusive a televisão estatal, incluindo, assim, o setor de comunicação.

IMPACTO – Não será fácil o curso das medidas. Elas possuem um impacto muito forte, trazendo o risco de abalar a própria solidez do governo. Na parte de política externa verificou-se uma agressão desnecessária ao Brasil. Milei convidou Bolsonaro para a sua posse e não convidou Lula da Silva, a quem ataca sem sentido algum. Não tocou ainda no caso da China, mas a atmosfera de seu primeiro pronunciamento público está marcada pelas nuvens de dúvida quanto ao êxito e falta de visibilidade quanto ao rumo.

As primeiras escalações para a sua equipe, em casos específicos, causaram surpresa. Por isso, temos que aguardar a reação política interna, os reflexos externos e a identificação dos limites da viabilidade. Serão, como se identifica, dias difíceis em matéria de convivência política e social. Na economia espera-se a consequência do vendaval.

PETROBRAS –  Na política brasileira, reportagem de Malu Gaspar e Ana Flávia Pilar, O Globo, focaliza o movimento iniciado pelo ministro Rui Costa, chefe da Casa Civil de Lula, para a substituição de Jean Paul Prates na Presidência da Petrobras.

A substituição poderá levar Marcus Cavalcante,  da Bahia, ao cargo importante na esfera do ministro Alexandre Silveira. Entretanto, existem problemas, acentua a matéria, no estatuto da Petrobras.

INDICAÇÃO – A demora do presidente Lula em formalizar as indicações para procurador-geral da República e para preencher a vaga no STF aberta com a aposentadoria de Rosa Weber, causa o aumento das pressões dos vários setores interessados e motivados pelas duas nomeações. Mariana Muniz e Sérgio Roxo, O Globo, focalizam o tema.

De fato, a demora abre uma perspectiva de incerteza e dúvida, dando margem às manifestações que não ocorreriam se o presidente da República tivesse decidido rapidamente as questões. Quanto mais demora, maiores são as pressões.

17 thoughts on “Agora é aguardar os reflexos concretos do pronunciamento de Milei

  1. Como sempre excelente artigo de Pedro do Coutto.
    Não é privilégio do Brasil, a maioria do eleitores ser totalmente alienado político, o que os leva a não votar com a razão votam com a emoção.
    Milei soube explorar bem esses incautos. Em sua campanha agia como animador de programa tipo macacos de auditório, só não botava o bumbum de fora para aparecer porque ia pegar mal. Campanha medíocre para um povo medíocre.

    Milei nunca teve um cargo de executivo, como prefeito ou governado, tem apenas 2 anos como deputado, isto é, um inexperiente e despreparado para governar uma nação.
    Com as ideias malucas dele não creio que ficará um ano no poder.
    Tem uma coisa de boa na eleição de Milei, vai desmoralizar de vez a extrema direita na Argentina, assim como Bolsonaro fez no Brasil.
    Alegria de eleitor da extrema direita dura pouco

    Bolsonaro está feliz com a vitória do Milei, como costuma pegar carona dos feitos dos outros, está gozando com vitória dele.

  2. Existe uma má vontade em relação ao Milei, até as fotografias exploram um ângulo negativo (herança de Stalin que tirou Trotsky da foto).
    Torcer para tudo dar errado, para o governo se dar mal, é coisa de cérebros apequenados por fundamentalismo pernicioso.
    Estou percebendo que daqui por diante
    tudo quer partir daquele governo vai ser satanizado.
    Tem gente que aplaude o terrorismo se isso vier a seu favor, não importa a mortandade, os meios justificam os fins desde que que seja em nome da causa.

  3. Se Milei é inexperiente ou não, pouco importa. O que importa é que o governo atual da Argentina é BEM EXPERIENTE em roubar, como o nosso, e de destruir completamente a economia do país. Ah, nisso eles são experts!!!!!! Faça-me o favor!

  4. Milei fala muito, promete muito, mas, esconde do povo argentino, quais são seus objetivos, sua verdadeira estratégia, para mudar radicalmente a Economia e reduzir o tamanho do Estado, tornando- o, mais vulnerável do que já é.

    Um Estado fraco, pressupõe, um governante com pouquíssimas balas na agulha, para mudar as condições econômicas e sociais e pagar aos credores a dívida externa e os empréstimos e seus juros, ao FMI.

    Se Milei não dá pistas como fazê-lo, é porque não sabe como implementar as promessas de campanha.
    No entanto, seus principais auxiliares, e remonto a declaração da vice presidente, uma semana antes do segundo turno, quando disse: para resolver os graves problemas da Argentina só através de uma tirania. Bem, está claro, que ela flerta com um Golpe de Estado, com Milei no Poder.
    Essa é a estratégia tentada por Trump na América e por Bolsonaro no Brasil. O Receituário é o mesmo.

    Milei venceu, mas, não obteve maioria no Parlamento. Seu Partido, chamado de Libertário, alcançou 17% das cadeiras parlamentares. Juntando os votos do Partido da terceira colocada e do ex- presidente Maurício Macri, não conseguirá ultrapassar o número de cadeiras no Parlamento do Peronismo e dos Partidos de Esquerda.

    Líderes messiânicos, costumam ter dificuldades de entender o papel de um Chefe de Estado na Democracia. Se elegem pelas regras do sistema democrático, mas o que querem mesmo é o Poder Ditatorial. Para isso, querem um Judiciário e um Legislativo aos seus pés. Assim está sendo, em quase todos os países:
    Trump nos EUA,
    Binjamim Netaniyau em Israel,
    Erdogan na Turquia,
    Bolsonaro no Brasil,
    Maduro na Venezuela,
    Ortega na Nicarágua,
    Putin na Rússia,
    Vitor Orban na Hungria.

    Vislumbramos, o começo do fim, da morte da Democracia. Uma nova Era, destruidora da Interdependência dos Três Poderes. O Espírito das Leis, de Montesquieu, vem sendo derrubado palmo a palmo, por mentes confusas, trogloditas e ditatoriais, que entendem a Liberdade, como forma de fazer o que eles querem sem nenhuma oposição.

    Vamos ver, se serão capazes de melhorar a vida do povo. Se não conseguirem, o povo que elegeu se voltará contra eles. Tem sido assim. O tempo trabalha contra as Ditaduras.

    • Excelente, porque verdadeiro o comentário de Roberto Nascimento.
      Milei gritava liberdade, liberdade. Que liberdade é essa que ele se refere?
      Está igual a Bolsonaro que vive citando um capítulo da Bíblia: “conhecereis a verdade e ela te libertará”, Quem tentou, supostamente, por enquanto, dar um golpe tem moral para falar em liberdade?

      • Nelio Jacob, sua leitura do termo Liberdade, usado por Bolsonaro e imitado por Milei na campanha da mentira na Argentina, é simplesmente perfeita.

        Eles falam em Liberdade para eles tramarem Golpes de Estado e assumirem o Poder Supremo, governando por Decretos e Atos Institucionais, sem o controle constitucional do Legislativo e do Judiciário.

        Que liberdade é essa, quando o tirano golpista, no controle total do Estado e sua máquina de guerra, pode prender, torturar, cassar, matar e exilar?
        Chamam isso de Liberdade?

        Bem, aqui foi tentado e graças a Deus, ao Supremo Tribunal Federal e aos militares legalistas do Exército, escapamos de mais um governo autoritário.

        O cenário golpista será tentado na Argentina. Os sinais são claríssimos e cito a declaração da senhora Vitória, eleita vice presidente na chapa de Milei: ” Só uma tirania será capaz de salvar a Argentina”.

        Nossos vizinhos hermanos, podem colocar suas barbas de molho, porque essa turma eleita, não veio para brincar. Se não conseguirem dolarizar a Economia, nem privatizar a Saúde, a Educação, além de todas as empresas estatais, eles vão partir para um Golpe de Estado, muito mais letal do que a Ditadura Argentina sob o comando do general Rafael Videla.

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