Os militares são golpistas? A esquerda é golpista? Depende das conveniências…

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Charge do Zé Dassilva (NSC Total)

Mario Sabino
Metrópoles

Depois da operação da PF desta semana, os petistas da imprensa, com o perdão da redundância, voltaram a disparar chumbo grosso contra os militares. Acusam as Forças Armadas de serem golpistas, embora nenhum golpe militar tenha sido tentado ou dado no país.

Havia generais dispostos a embarcar em uma aventura, como fica claro pelas provas que embasaram a operação da PF, mas eles não tiveram influência suficiente para colocar tanques nas ruas.

QUE IMPORTA? – Para a esquerda, as Forças Armadas, como um todo, são culpadas, inclusive porque os seus comandantes não deram voz de prisão a Jair Bolsonaro quando ele lhes apresentou a tal minuta do golpe.

O comandante do Exército se limitou a dizer que o então presidente poderia ser preso caso levasse aquilo adiante, enquanto o comandante da Aeronáutica ficou calado e o comandante da Marinha apoiou.

A explicação é que os comandantes, estou falando dos obedientes à Constituição, entenderam que o rascunho de um decreto para estabelecer o estado de sítio ainda não estava fora das atribuições presidenciais. Assim como não extrapolava a alçada presidencial fazer uma consulta aos militares sobre a possibilidade de determinar um regime excepcional previsto no texto constitucional, por mais alopradas que fossem as motivações de Jair Bolsonaro.

LEMBREMOS JANGO – Tratou-se de repetição histórica, digamos assim. João Goulart, defenestrado pela ditadura militar, também tentou decretar estado de sítio. Ele consultou os então ministros de Exército, Marinha e Aeronáutica, além do seu ministro da Justiça, e obteve sinal positivo para enviar um ofício ao Congresso Nacional, em 4 de outubro de 1963, no qual solicitava a decretação do regime excepcional por um prazo de trinta dias.

Para justificar o pedido, João Goulart escreveu que o país estava “ameaçado de grave comoção intestina, que põe em perigo as instituições democráticas e a ordem pública”. Ele voltaria atrás no pedido porque houve reações à esquerda e à direita, todos com medo de que o chamado dispositivo militar, uma vez acionado para garantir o estado de sítio, tomasse o poder.

Verdade seja dita, Leonel Brizola foi clarividente sobre o que ocorreria no ano seguinte. Disse que, se a esquerda não desse um golpe, levaria um golpe. Leonel Brizola era o Olavo de Carvalho da esquerda.

EXEMPLO DE DILMA – As Forças Armadas também não colocaram no xilindró os emissários de partidos de esquerda que consultaram o então comandante do Exército, o general Eduardo Villas Bôas, sobre a decretação do estado de defesa, nos dias que antecederam o impeachment da petista Dilma Rousseff.

A ideia foi rechaçada, da mesma forma que ocorreu com Jair Bolsonaro, mas prevaleceu a interpretação de que a simples consulta não configurava — ainda — golpismo.

Quanto às Forças Armadas, relendo o que já escrevi sobre elas, constato que já as defendi, já as exaltei e já as ataquei. Admiti até que os militares tinham o direito de participar da política, veja você como eu estava errado.

ÂNIMOS VARIADOS – O conjunto de artigos é dissonante, mas lembro, em meu favor, que os militares não formam um bloco monolítico — há de quase tudo dentro dos quartéis e os ânimos do generalato variam ao sabor das diversas situações. São brasileiros…

Em determinados momentos, as Forças Armadas baniram a democracia; em outros, elas garantiram a ordem constitucional; com Jair Bolsonaro, meteram os pés pelas mãos.

Os militares acharam que controlariam o capitão encrenqueiro, não conseguiram e foram arrastados para o centro de um tremenda confusão que tem como ingrediente adicional os dois pesos e as duas medidas da esquerda. Quando é ela a querer um regime excepcional, não é golpe, mas defesa da democracia. Não é diferente com a direita. Só um pouco: o cinismo é menor.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Sensacional o artigo de Mario Sabino. Em curtas linhas, conseguiu colocar ordem na discussão e clareou o debate, que está cada vez mais detestável. (C.N.)

12 thoughts on “Os militares são golpistas? A esquerda é golpista? Depende das conveniências…

  1. Quem vem aplicando constante e desassemelhado golpe?
    Ei-los, conforme:
    “[30/1 22:06] Sumiko Hanada: Matematicamente insustentável

    1 Presidente da República
    1 Vice-presidente da República
    1 Presidente Câmara federal
    1 Presidente Senado Federal
    11 ministros do STF
    81 Senadores
    513 Deputados federais
    27 Governadores
    27 Vice-Governadores
    27 Câmaras estaduais
    1.049 Deputados estaduais
    5.568 Prefeitos
    5.568 Vice-prefeitos
    5.568 Câmaras municipais
    57.931 Vereadores

    Total: 70.794 políticos (não estamos falando de nenhum partido de forma específica) + 11 do STF (“políticos” também).

    12.825 – Assessores parlamentares Câmara Federal (sem concurso)

    4.455 – Assessores parlamentares Senado (sem concurso)

    27.000 – Assessores parlamentares Câmaras Estaduais (sem concurso – estimado/por falta de transparência)

    600.000 – Assessores parlamentares Câmaras Municipais (sem concurso – estimado/por falta de transparência)

    Total Geral: 715.074 funcionários não concursados

    Gasto Total: acima de 128 BILHÕES por ano + 6 BILHÕES do FUNDO PARTIDÁRIO para 2023. Além disso, deve-se computar o rombo na previdência social com suas aposentadorias alienígenas.

    35 Partidos registrados no TSE + 73 partidos em formação.

  2. Tem de ser devoto de São CarluxoBROXA para Elogiar um “artigo” de tão “alto” nível.

    O jornalista comparar Brizola a olavo do carilho, vamos e convenhamos: revela sua erudição de ameba.

    (olavo do carilho é o guru-mor da extrema-direita tupiniquim e dos criminosos narcomilicomilicianos.

    Dono da boca mais suja dos últimos tempos, é atribuída a ele a seguinte pérola:

    https://buzzfeed.com.br/post/o-brasil-amanheceu-preocupado-com-caetano-veloso

  3. Concordo, de qualquer lado vemos quem gosta de ditaduras sejam de esquerda e direita. Isso ocorre onde as instituições são fracas, sejam os políticos e a justica

  4. São argumentos muito importantes para que todos acordem nesse momento de avacalhação no país.
    A conclusão lamentável para a democracia é que estamos vivendo tempos tenebrosos. Seriam consoantes aos de ministérios da verdade de 1984?
    Se sim, bom recordar o livro 1984, por exemplo (e temos muitos outros), para não continuar chorando mais tarde, tendo em vista que os defensores da democracia já estão aos prantos diante de um ativismo político judicial impróprio, classe política abjeta e imprensa tradicional adotando comportamento amestrado desanimador.
    .
    São 4 os ministérios do best-seller 1984 de George Orwell:

    – O Ministério da Verdade, responsável por tudo o que é escrito, seguindo a lógica de que o partido é infalível e nunca erra;
    – Ministério da Paz, responsável pela guerra;
    – Ministério da Fartura, responsável pela economia;
    – Ministério do Amor, responsável pela espionagem e controle da população.

    Sem dúvida os ministérios estão em pleno funcionamento. E a imprensa amestrada, que também atende por imprensa porca, assiste a tudo sob euforia, risos e aplausos. São hienas famintas à espera de recompensas alimentares em forma de verbas públicas publicitárias.

  5. Os homens de esquerda estão longe de ser santos. E os de direita também. Todos têm suas vaidades. A diferença é que a vaidade do esquerdista apenas tem sentido dentro do projeto de poder de sua ideologia, que está associada ao partido. Um homem de esquerda, fora do projeto de poder ideológico, não é nada. Portanto, mesmo suas vaidades dependem do partido para sobreviverem. Por isso, quando alguma vaidade pessoal ameaça atrapalhar os planos maiores do partido, sufocá-la é muito fácil. Basta afastar o sujeito do grupo.
    As vaidades direitistas, de maneira diferente, são muito mais difíceis de serem sufocadas. Elas subsistem individualmente. Elas se manifestam no orgulho do projeto individual, da livre iniciativa, do amor próprio. Assim, o homem de direita não depende dos projetos partidários para se vangloriar pelos seus próprios feitos. Ele se basta e sobrevive mesmo só. Por isso, entre os direitistas as divergências são muito mais difíceis de serem contidas. Não há, claramente, uma ideologia que os norteie. Não há algo que indubitavelmente seja comum a todos; algo que os una.
    Na esquerda, há apenas uma moral: aquela que se refere ao projeto de poder de sua ideologia. Os pecados individuais apenas são considerados quando afetam, de alguma maneira, esse projeto. Houve tempos que os esquerdistas tinham uma moral rígida, que até se assemelhava a uma moral cristã. Mas essa moralidade existia enquanto se acreditava que tais atitudes atrapalhavam o perfeito desenvolvimento da militância. A pedra de toque do comportamento esquerdista sempre foi a ideologia. Por isso, nas esquerdas é possível conviver tranquilamente com corruptos, enganadores, falsários, fraudadores e assassinos. Claro, desde que tais crimes não sejam cometidos contra o partido ou contra a ideologia diretamente. Se forem a favor ou para facilitar o projeto de poder, os criminosos costumam ser inclusive honrados pela militância.

  6. Continua…

    Do lado dos direitistas não há uma regra de conduta única, nem um modelo uniforme de comportamento. Há direitistas conservadores, como direitistas liberais, como há cristãos e também ateus, por exemplo. Isso, aparentemente, seria uma vantagem para a direita, já que não haveria a necessidade de impor formas de conduta específicas, o que teorica entedaria mais liberdade de ação. Porém, o que acontece é exatamente o contrário. Por não haver um modelo de conduta, há diversos modelos.

  7. Existem dois tipos de mentiras. Uma delas é meramente humana e ocorre toda vez que alguém tenta esconder algo, principalmente um erro ou uma atitude condenável. A pessoa que lança mão deste tipo de mentira tem como objetivo proteger-se do julgamento alheio, da condenação, da cobrança, da perseguição ou mesmo quer evitar algum tipo de desconforto.
    Há, porém, um outro tipo de mentira que é muito mais perigosa e tem origem em algo bem além do mero interesse humano. É a mentira demoníaca. Por esta, não apenas a pessoa busca proteger-se, de alguma maneira, mas usa-a para alterar a própria realidade do mundo onde ela e todas as pessoas ao seu redor vivem.
    Enquanto na mentira meramente humana, a pessoa mente com consciência, sabendo que aquilo que diz é falso e é apenas uma tentativa de ludibriar o outro, na mentira demoníaca não apenas há a fraude, pura e simples, como o engano existencial, que é aquele que tenta não apenas esconder, mas alterar a própria realidade dos fatos.

    • “alterar a própria realidade dos fatos”: isso é chamado pelos progressistas de “narrativa”. Para os não progressistas, trata-se de fake news e seus algozes alegam que deve ser punida com rigor pela lei.

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