Confirmado! “Melancias” são indigestas para golpistas e melhoram a democracia

O presidente da República, Jair Bolsonaro  ao lado dos comandantes das Forças (da esq. para dir.), general Freire Gomes, almirante Almir Garnier e brigadeiro Carlos Baptista Júnior. Garnier teria sido o único a concordar com golpe

Bolsonaro nomeou “comandantes melancias” e se deu mal

Eliane Cantanhêde
Estadão

Além de deliciosa, suculenta e refrescante, a ciência política acaba de descobrir outras propriedades da melancia: indigesta para candidatos a ditadores, é capaz de impedir golpes de Estado e faz bem à democracia. Acusados de “melancias” pelos golpistas, oficiais de altas patentes não cederam às “ordens”, pressões e constrangimentos do então comandante-em-chefe das Forças Armadas e, assim, frustraram a decretação de estado de defesa e anulação da posse do presidente legitimamente eleito.

Se a melancia é verde por fora e vermelha por dentro, nenhum dos oficiais legalistas é e nem seria “vermelho” ou comunista. Isso não é só ridículo, é mais uma farsa, uma fake news grosseira para manipular mentes e corações vazios e suscetíveis a mitos, messias, salvadores da Pátria. Aqueles oficiais foram apenas o que 100% de militares deveriam ser: legalistas, batendo continência à Constituição e aos poderes constituídos.

COMEÇOU ANTES – O foco da Polícia Federal, sob coordenação do ministro do STF Alexandre de Moraes, é na fase aguda do atentado à democracia, quando foram redigidas e discutidas as minutas do golpe e do pronunciamento em que o então presidente Jair Bolsonaro anunciaria o estado de defesa, o fechamento do TSE, a prisão de Moraes e a anulação das eleições e da posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O golpe, porém, começou muito antes.

Nunca é demais, nem será, lembrar que Bolsonaro demitiu o ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva, e os comandantes do Exército, general Edson Pujol, da Aeronáutica, brigadeiro Bermudez, e da Marinha, almirante Ilques Barbosa, que fizeram um risco no chão: daqui, não passaremos.

Ou seja, não seriam usados para aventuras delirantes de um presidente golpista. Assim emergiram na Defesa os generais Walter Braga Netto e Paulo Sérgio Nogueira. Para quê? Para fazer o jogo sujo. Hoje, estão ambos no fundo do poço, ao lado do general Augusto Heleno e do almirante Almir Garnier – o único comandante a aderir e colocar tropas à disposição do golpe.

MILITARES DE VERDADE – As investigações da PF entraram na sua fase final com os depoimentos dos ex-comandantes do Exército, general Freire Gomes, e da FAB, brigadeiro Baptista Junior, que confirmaram o papel decisivo do então presidente da República no golpe e estão a anos luz de serem esquerdistas, comunistas ou qualquer bobagem assim.

Muito menos “cagões”, como o general foi chamado por Braga Netto, um dos expoentes do golpe bolsonarista, que se alinhava a tipos como Ailton Barros, expulso do Exército, para jogar blogueiros suspeitos contra os “quatro estrelas” antigolpe.

Esse ataque de Braga Neto rompe com a velha cultura de camaradagem da caserna e serviu como carta branca para que Freire Gomes e Baptista Junior, sem constrangimentos, contassem o que sabiam, em detalhes, aos delegados da PF.

TROFÉU A BRAGA NETTO – Na sexta-feira, dia em que as íntegras dos depoimentos foram liberadas, os legalistas do Exército comemoraram, irônicos: Moraes e a PF deveriam dar um troféu ao Braga Netto…

O cronograma das investigações foi discutido entre o ministro Moraes e os delegados responsáveis na PF antes da divulgação dos depoimentos e está assim: nesta semana, será concluído o inquérito dos atestados falsos de vacina; em abril ou maio, o da tentativa de embolsar e vender joias que seriam do Estado no exterior e, por fim, o fecho de ouro, o do golpe de Estado, tramado e liderado por Jair Bolsonaro, que embola os mesmos personagens e cenários. A previsão é até o final de julho, antes do semestre eleitoral, mas depende ainda de detalhes que não são apenas detalhes.

Um deles é a lenta e trabalhosa perícia em celulares, computadores e laptops dos investigados, para preencher lacunas, confirmar ou corrigir dias, locais e nomes e, eventualmente, acrescentar novas informações e participantes do golpe.

OUTROS NÚCLEOS – Há, ainda, outros núcleos dos quais pouco se fala, mas é importantíssimo apurar: o das polícias e dos CACs, onde havia golpistas infiltrados para legalizar armas. Essa linha de investigação segue a agenda de Bolsonaro no poder, consumida em motociatas, reuniões nas Forças Armadas, festinhas nas PMs dos Estados e armamento da população civil, via CACs.

Aliás, os depoimentos liberados pelo STF na sexta-feira trazem à luz novos envolvidos, que logo serão ouvidos pela PF. O general Eduardo Pazzuelo, que não foi só o pior ministro da Saúde da história, e civis como a deputada Carla Zambelli, já chamada de “vivandeira de quartel” (como o ex-presidente Castello Branco chamava civis que atiçavam os militares para golpes), o ex-advogado-geral da União, Bruno Bianco (que, a favor dele, foi um dos que atestou a segurança das urnas eletrônicas) e o jurista Ives Gandra, um dos maiores do País, apontado como uma espécie de conselheiro para as minutas discutidas por Bolsonaro com os comandantes militares.

PODE SER CONDENADO – Bolsonaro sabe que está indefensável e, além de inelegível até 2030, pode ser condenado por tentativa de golpe, atentado violento contra o Estado Democrático de Direito e organização criminosa, o que pode chegar a 30 anos de prisão e de suspensão de direitos políticos. Assim, usa e abusa do que lhe resta: multidões. Isso pode incendiar o País.

E Lula? Acerta ao ficar calado e também ao se informar. Na sexta-feira, participava de eventos oficiais no Rio Grande do Sul, com o diretor geral da PF, Andrei Passos Rodrigues.

Dirão que conversaram sobre “amenidades”. Acredite quem quiser.

11 thoughts on “Confirmado! “Melancias” são indigestas para golpistas e melhoram a democracia

    • Eliane começou cedo no jornalismo. No auge do regime militar já exercia a profissão. É uma história de vida profissional a ser respeitada. Quando separa militares brasileiros de “melancias” fala com propriedade de quem conviveu de perto com o periodo em que esses foram a elite da sociedade brasileira.
      Se nossos militares fossem “melancias”, os desdobramentos da intentona de 1935 teriam mudado o rumo do país e o 31 de março de 1964 não estaria nos livros.
      Infelizmente, e muito provavelmente por ojeriza a Bolsonaro e tudo que este poderia representar, numa retomada dos tempos do autoritarismo, lhe resta tentar amenizar as justas críticas ao lulopetismo e seus malefícios.

  1. Gostaria de perguntar a essa idiota, se ser democrático é apoiar ditaduras tais como, Venezuela, Cuba, Nicarágua. Ser democrata e chamar o Gaddafi de irmãos, um cara que mandou explodir um avião. Sabemos das limitações dos esquerdistas, mas essa supera as expectativas

  2. Este país não precisa de “melancias”

    Precisa de Homens, de Moral, de Liderança.

    Pelo Brasil e por nenhum partidarismo ou sectarismo.

  3. Essa palavra “golpe” está na boca de muita gente. Sua insistência tem ligação direta com a criação de narrativa. E narrativas são estratégias usadas o tempo todo para garantir a repetição à exaustão de determinado termo e procura incessante para atingir objetivos escusos. Por que não se usa a verdade. Simples: a verdade para certos grupos não servem aos seus propósitos. Acuse-os daquilo que você faz. Essa é a velha e depauperada esquerda, que está totalmente desfocada e desatualizada no mundo global, onde Inteligência Artificial assusta seus dirigentes e inovação e tecnologia são palavrões.

    Quando um jornalista digita: “O foco da Polícia Federal, sob coordenação do ministro do STF Alexandre de Moraes, é na fase aguda do atentado à democracia, quando foram redigidas e discutidas as minutas do golpe (…)”, temos que maculou sua redação que, ansiosa pela condenação de ator político desafeto, comete sandices por não trilhar – de verdade – a busca pela informação escorreita, consoante o juramento de sua formação acadêmica.

    A Polícia Federal não pode estar sob coordenação do ministro Alexandre de Moraes. E existe uma única hipótese aqui e todos sabem de qual se trata. A PF é Instituição de Estado, onde nem mesmo o presidente manda. Seus agentes possuem autonomia funcional atrelada ao devido processo legal. Alguém se esqueceu que Bolsonaro nem mesmo pode indicar em certa ocasião seu diretor-geral, alegando-se que, inclusive, estaria ferindo o princípio da impessoalidade ao indicar um amigo. Aliás, fato esse que parece irrelevante em tempos de hodiernos.

    Voltemos então: quem instaura inquérito e faz persecução penal tem nome e quem julga, também. Ambos não se confundem. É assim num Estado Democrático de Direito.
    Parece-me também que de modo equivocado alguns jornalistas se esquecem a titularidade da ação penal e nem de soslaio olham para o Ministério Público. Nem se fale em inquérito policial, pois aqui todos no país observam que estão longe do arcabouço policial e instaurados de ofício pelo judiciário em flagrante afronta ao ordenamento jurídico.

    • E Bolsonaro era acusado pela esquerda farisaica de interferir na PF.
      E a Eliane? Será mais uma sequelada psicológica dos terríveis abusos e torturas nos tenebrosos porões da ditadura?
      Ou será meramente mais uma adepta dos ensinamentos do Mario Lago onde até um ladrão de galinha ao sair da cadeia discursar pra meio mundo que foi barbaramente torturado nos tais porões?
      A previsibilidade da esquerda me deixa meio desacorçoado, fica enjoativo.

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