Somente os julgamentos dos líderes do golpe dirão quem somos como nação

Golpistas invadem a praça dos Três Poderes e depredam o prédio do Palácio do Planalto, na imagem, do Congresso Nacional e do STF (Supremo Tribunal Federal), em Brasília

Punição dos líderes do golpe tem de ser mais ainda rigorosa

Demétrio Magnoli
Folha

Sabemos, hoje, que o golpe de verdade seria assestado em dezembro de 2022, não no 8 de janeiro de 2023. A trama foi virtualmente desvendada, por meio de provas documentais e testemunhais. O que o STF fará com os golpistas?

Compara-se, geralmente, o 8 de janeiro de Brasília com o 6 de janeiro de 2021 de Washington, o dia da invasão do Capitólio pelas hordas de Trump. As semelhanças saltam à vista de todos: um presidente autoritário contestando sua derrota eleitoral, a invasão dos edifícios-símbolos do poder democrático por uma turba de vândalos.

Contudo, há uma diferença crucial entre os dois eventos: no 6 de janeiro deles, Trump ainda ocupava a Casa Branca; no nosso 8 de janeiro, a presidência já havia sido transferida a Lula.

GOLPE FRACASSADO – Ninguém – nem mesmo Bolsonaro! – é tão estúpido a ponto de apostar suas fichas principais num golpe de Estado adiado para depois da entrega das chaves do Palácio. O 8 de janeiro foi uma tentativa derradeira, desesperada, de reativar os motores de uma tentativa golpista fracassada. Não por acaso, o líder da intentona assistiu ao evento da segurança prudente de uma mansão na Flórida.

“Tentativa de golpe com minuta é ridículo”, argumentou Mourão no Senado, procurando um caminho tortuoso para salvar seus companheiros de armas da responsabilização judicial. O vice enjeitado simula não saber que máfias são antros de desconfiança e traição.

Nelas, guardam-se provas incriminadoras contra comparsas, para efeitos de chantagem ou vingança. O núcleo golpista operou segundo padrões mafiosos. Deles, surgiram gravações de reuniões conspirativas e até, preservada, a tal “minuta do golpe”.

SEM MISTÉRIO – A delação de Mauro Cid e os depoimentos do general Gomes Freire e do brigadeiro Carlos de Almeida Baptista, motivados pelas ofensas do general Braga Netto contra o primeiro, uniram as pontas soltas. Inexiste, agora, mistério. A PF tem em mãos uma sólida acusação, que fará seu caminho até o STF.

O triunvirato do golpe abrange Bolsonaro, o chefe da gangue, o militar e ex-ministro da Defesa Braga Netto e o civil e ex-ministro da Justiça Anderson Torres. Meia dúzia de outras figuras, com ou sem farda, completam o núcleo subversivo. Qual será o destino deles?

Alexandre de Moraes escolheu um machete afiado para julgar os mais notórios entre os culpados inúteis do 8 de janeiro, a areia grossa do caminhão bolsonarista. O relator somou cinco crimes, inclusive dois que significam essencialmente a mesma coisa: tentativa de golpe de Estado e abolição violenta do Estado democrático de Direito.

RIGOR EXCESSIVO – Da interpretação legal implacável emergiram sentenças de até 17 anos de prisão. Não faltam juristas que enxergam excesso: justiça exemplar, um outro nome para o desvio político da justiça.

Mas, a partir desse precedente, o que fazer com os líderes do golpe de verdade, que não são feios, sujos e malvados, mas componentes da fina flor das elites militar e política? A regra universal da proporcionalidade solicita sentenciá-los a penas bem mais longas que as dos palermas sem sobrenome do 8 de janeiro, sonsos capazes de produzir fotos e vídeos de seus próprios atos de vandalismo.

Os julgamentos dos líderes do golpe dirão quem somos, como nação, ou ao menos iluminarão a natureza de nosso sistema judicial.

IGUAIS DIANTE DA LEI – Só sentenças duras – mais pesadas que as dos apenados do 8 de janeiro – obedecerão ao requisito inegociável da igualdade perante a lei.

A finalidade delas não será promover vingança ou exemplo, mas dissuasão: inflacionar o custo do planejamento da derrubada da ordem democrática até o patamar suficiente para prevenir aventuras futuras.

Os presidentes vindouros devem saber o preço de ultrapassar a fronteira da democracia. As Forças Armadas precisam aprender, de uma vez por todas, que servem, exclusivamente, às instituições civis. O STF não tem o direito de assar uma pizza.

8 thoughts on “Somente os julgamentos dos líderes do golpe dirão quem somos como nação

  1. Vou lavrar meu protesto:
    Já não se fazem mais intentonas como antigamente.

    A Intentona Comunista foi um levante armado organizado pelos comunistas, em 1935, para derrubar Getúlio Vargas do poder. Luís Carlos Prestes foi o líder do levante, contando com a ajuda de Olga Benário. A intentona foi derrotada pelas tropas federais.

    A Intentona de oito de janeiro foi um levante desarmado organizado pelos fascistas do Bolsonaro que contou com a ajuda da Michelle para derrubar o democrático Loola da Silva. Essa Intentona foi outa vez derrotada pelas tropas federais, sem nenhuma morte como a Intentona comunista de 35.

    A boa Intentona: No Rio de Janeiro

    3º Regimento após a ação da artilharia.
    No Rio de Janeiro, o movimento foi deflagrado, simultaneamente, no 3º Regimento de Infantaria, na Praia Vermelha; no 2º Regimento de Infantaria e no Batalhão de Comunicações, na Vila Militar; e na Escola de Aviação, no Campo dos Afonsos. Os amotinados, companheiros de véspera, teriam, de acordo com a versão legalista, ferido e matado indiscriminada e covardemente seus companheiros que dormiam -versão esta que até hoje gera margem a dúvidas, já que os quartéis do Rio estavam em prontidão após os levantamentos revolucionários no Norte do País, e em tais circunstâncias seria extremamente difícil encontrar oponentes inermes a serem massacrados de tal forma. Seja como for, a luta foi atroz e sem quartel, com os insurretos tentando expandir a rebelião a todo custo, esbarrando na mais férrea resistência das forças legalistas, e, finalmente, perdendo a luta. Fonte Wiki

    E a péssima Intentona? É essa que Alexandre tá metendo na cadeia, meteu e vai meter mais. Bolsonaro vai ser o fim dessa intentona.

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