Tortura não é novidade na Terra Santa; o que há de novo é apenas a motivação

Palestinos percorrem os escombros na Faixa de Gaza

Demétrio Magnoli
Folha

Khirbet Khizeh, de S. Yizhar, a história ficcional da expulsão dos palestinos de seu povoado pelas forças do proto-Estado judeu, na guerra de 1948, foi publicado no ano seguinte. “Atirar – e, depois, chorar”: o remorso do narrador, um jovem soldado que cumpre a ordem de remoção dos habitantes, pertence ao mito nacional de Israel. Hoje, porém, sob um governo controlado por extremistas, Israel não chora mais: atira e, depois, tortura.

Tortura não é novidade na Terra Santa. Agentes israelenses torturam prisioneiros palestinos. Policiais da Autoridade Palestina torturam prisioneiros do Hamas e vice-versa, na Cisjordânia e em Gaza. O Hamas cometeu abusos sexuais contra reféns israelenses. A novidade, porém, está na motivação.

TORTURAS TERRÍVEIS – Uma investigação da CNN, baseada em fotos e depoimentos de funcionários israelenses anônimos, lançou luz sobre o centro de detenção estabelecido na base militar de Sde Teiman. É uma Guantánamo no deserto do Neguev.

Os prisioneiros, manietados em ambientes contaminados por fezes e ratos, impedidos de se locomover durante dias inteiros e proibidos de falar, sofrem abusos e sevícias intermitentes. Direito humanitário? Convenção da ONU contra Tortura? Nada disso existe naquele inferno.

A tese da bomba-relógio, um cenário que só aparece no cinema, forma a base lógica da prática estatal da tortura. Contudo, não funciona em Sde Teiman: no cárcere para supostos combatentes de campo, não há dirigentes do Hamas ou da Jihad Islâmica que possam guardar segredos sensíveis. Tortura-se, ali, por vingança.

O SOLDADO CHORA… – O soldado do romance de Yizhar cumpre ordens terríveis. Sua disciplina resignada sintetiza o conceito que fabricou Israel: um país seguro para judeus expulsos de suas pátrias originais por meio século de perseguições que culminaram no Holocausto.

A Nakba palestina emergiu de uma guerra, não de uma deliberação genocida. Se perdessem, os judeus é que seriam expulsos, conforme prometiam os líderes das forças árabes. Mas o soldado chora porque reconhece a humanidade de suas vítimas.

O escritor Amos Oz, autor do ensaio “Como curar um fanático”, inflexível defensor da solução de dois Estados, combateu nas guerras do Sinai, dos Seis Dias e do Yom Kippur. Ele captou o dilema moral inscrito no “atirar – e, depois, chorar”: “Fiz muitas coisas que lamento ter sido obrigado a fazer, mas nenhuma de que me envergonhe”. O antissemita de plantão (disfarçado ou não no manto conveniente do “antissionismo”) dirá que são lágrimas hipócritas – e, como sempre, estará errado.

CURRÍCULO ESCOLAR – Khirbet Khizeh entrou no currículo escolar oficial judeu em 1964, tornou-se best-seller e inspirou uma série de TV. Numa palestra a estudantes, ninguém menos que Moshe Dayan, ministro da Defesa na Guerra dos Seis Dias, recitou cada um dos nomes dos povoados palestinos destruídos e enterrados sob povoados israelenses.

A mais completa descrição da extinção da paisagem material e simbólica palestina e sua substituição pela paisagem israelense deve-se não a um árabe-palestino, mas a um judeu israelense: Sacred Landscape, de Meron Benvenisti, que foi vice-prefeito de Jerusalém.

As lágrimas, porém, secaram. As provas estão em Sde Teiman e na guerra de punição coletiva conduzida em Gaza, duas faces de uma mesma moeda, coisas que envergonhariam Oz, se ele estivesse vivo para contemplá-las.

ATIRAR E TORTURAR – Haverá, sempre, um propagandista disponível para racionalizar os massacres de civis e as torturas de prisioneiros, atribuindo-os ao trauma criado pela barbárie do 7 de outubro.

A tentativa de, por essa via, justificar as ações estatais israelenses, é historicamente falsa. O “atirar – e, depois, torturar” reflete a natureza do governo de Netanyahu e deita raízes na prolongada ocupação, que corrompe a alma do Estado judeu.

Os judeus israelenses precisam da paz em dois Estados tanto quanto os árabes palestinos.

7 thoughts on “Tortura não é novidade na Terra Santa; o que há de novo é apenas a motivação

  1. Outro vagabundo vagabundo, esse vagabundo não entende nada do povo escolhido. Pelo amor de Deus. Eu poderia explicar pra esse vagabundo. Mas dar uma preguiça danada. Vou só dar a pista. Deus chamou Abraão de Abraão nasceu Ismael filho da egípcia e Isaque o filho da promessa de Isaque nasceu Esau e Jaco de Jaco nasceram doze filhos doze doze que são as tribos do Estado de Israel. São eles Rubem Siemao Levi Judá Isacar Zebulom Benjamim Dã Naftali Gade Asser José. La de Ismael nasceram os árabes e dos doses filhos de jaco que lutou com Deus os israelitas. Vocês são tudo uns bandos de petralhas. Ah país vagabundo.

    • A Inglaterra criou o país hoje conhecido como Arábia Saudita da mesma forma que Israel foi criado pelos EUA. Ambos os países passaram a ser províncias da Europa / EUA. Essa história de povo escolhido já foi a muito tempo, a população de Israel é composta de várias raças incluindo árabe. Israel só existe por conta dos interesses dos EUA que sem sua ajuda não dura um mês.

      Uma ganha significativa de israelenses estão deixando o país pois ninguém quer viver em guerra. Uma parte significativa da população tem dupla nacionalidade e por conta das circunstâncias do momento, muitos estão regressando para o seu país de origem.

      Hoje tudo se faz para manter o jogo de interesse na região e controlar o petróleo. A única diferença que temos novos jogares, Irã é nova potência militar na região. Graças as burradas dos EUA em matar Saddam Hussein, abriu as portas para o Irã que está dominando a região e militarmente é o país mais forte do Oriente Médio.

  2. Há muito sangue derramado nessas regiões e em todos os lados, restando portanto terras contaminadas, que serão FUNDIDAS e purificadas para returada da escória e então tornar-se-ão dignas e habitáveis!

  3. Se colocarem Israel no meio da farofa a ventania esquerdista sempre vai querer varrê-lo do mapa.
    Israel é um pedaço de terra minúsculo em meio a nações de grandes extensões territoriais. E estas nações não dão asilo aos palestinos, por óbvio das intenções.
    Guerra é guerra e sua primeira vítima é a verdade, e a verdade nunca foi o ponto forte dos comunistas.

  4. A história ficcional fez vítimas, exacerbou os ânimos.
    Se eu fosse escrever uma história fictícia sobre a matança que os comunistas brindaram humanidade, hehehe, não seria fictícia.
    Quem matou mais gente, Netanyahu aos palestinos ou Stalin aos ucranianos, no Holodomor?
    Aviso aos devotos, desde que o homem saiu das cavernas que vivem se matando de todas as formas. Os que morrem hoje não são diferentes dos que morreram milhares de anos atrás em guerras permanentes.
    Por conceitos tribais ainda se mata gente na África.

  5. Senhores James Pimenta e Cláudio , hoje os USA , Inglaterra , França estimulam e financiam as constantes guerras no Oriente Médio , com vistas ao petróleo local , mas de nada adiantará acessá-lo se esses mesmos países , bloquearam sua exploração e escoamento para outros países via ” marítima e terrestres ” , devido suas constantes intromissões e ingerências em assuntos de outros países da região , que não rezam por suas cartilhas , nem se submetem aos seus interesses e muito menos ficam de quatro pra eles , criando mais inimigos desnecessários , e potenciais sabotadores das vias de escoamentos do petróleo local , sendo que os países acima mencionados , sabotaram sua própria aliada Alemanha , explodindo os ” gasodutos & oleodutos ” , construídos em consorcia com a Rússia , que abastecia toda a Europa , com baixo custo , antes de estimularem e financiarem a guerra Ucrânia & Rússia ” , e agora agora estão pagando um custo pelo petróleo , dalém mar .

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