Moraes esculhamba general: “Ou o senhor falseou na PF ou está falseando aqui”

Bolsonaro apresentou fundamentos para minuta golpista, diz Freire Gomes | Política | Valor Econômico

Freire Gomes disse que “não interpretou como conluio”

Gustavo Côrtes
Estadão

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), repreendeu o ex-comandante do Exército, general Marco Antônio Freire Gomes durante depoimento prestado nesta segunda-feira, 19, na sede da Corte.

O magistrado afirmou que o militar mudou a versão dada à Polícia Federal (PF) de que o ex-comandante da Marinha almirante Almir Garnier Santos teria concordado com o plano de golpe de Jair Bolsonaro.

NOVA VERSÃO – Em depoimento à Primeira Turma da Corte, questionado pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet, sobre a anuência de Garnier com o plano de impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, disse não ser possível saber se houve, de fato, adesão ao intento golpista.

“Eu estava focado na minha missão de lealdade, de ser franco com o presidente. Que eu me lembre, o que o ministro da Defesa (Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira) fez foi ficar calado. O almirante Garnier não me lembro de ele ter falado (a favor do golpe). Ele demonstrou apreço. Não interpretei como nenhum tipo de conluio”, disse.

Moraes interrompeu o interrogatório e solicitou ao ex-chefe do Exército que pensasse bem antes de responder, porque “testemunha não pode omitir o que sabe”.

MORAES PRESSIONA – “Se mentiu na polícia, tem que dizer que mentiu na polícia. A testemunha foi comandante do Exército, está preparado para situações de pressão”, disse o ministro do STF. “O senhor disse na polícia que Garnier se colocou à disposição do presidente. Ou o senhor falseou na polícia ou está falseando aqui”, completou.

Em depoimento à Polícia Federal, Freire Gomes relatou um encontro entre os comandantes das Forças Armadas e Bolsonaro em 7 de dezembro de 2022. Segundo as duas versões, Bolsonaro foi avisado de que Exército não iria aderir a golpe.

Na ocasião, o então presidente teria apresentado uma versão do documento com a decretação do Estado de Defesa e a criação da Comissão de Regularidade para “apurar a conformidade e a legalidade do processo eleitoral”.

AS  DUAS VERSÕES – Aos investigadores, na primeira versão, o ex-comandante do Exército disse: “Que acredita, pelo que se recorda, que o almirante Garnier teria se colocado à disposição do presidente da República”.

Nesta segunda-feira, após ser alertado por Moraes, Freire Gomes afirmou que “jamais mentiria”. “O que queria relatar é que eu me coloquei contrário ao assunto. O almirante Garnier tomou essa postura de ficar com o presidente. Eu não posso inferir o que ele queria dizer com ‘estar com o presidente’“, disse.

Durante o depoimento, Freire Gomes também confirmou que o plano de golpe apresentado a ele e aos outros comandantes das Forças Armadas continha plano de prisão de Moraes.

DEFESA E ACUSAÇÃO – Freire Gomes foi convocado tanto como testemunha de acusação quanto de defesa dos réus Jair Messias Bolsonaro, Mauro Cid, Almir Garnier dos Santos e Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira.

Além de Moraes, participaram por vídeo os outros ministros que integram a Primeira Turma do STF, Carmem Lucia, Cristiano Zanin e Luiz Fux. O único que esteve ausente foi Flavio Dino.

O ex-presidente Jair Bolsonaro, Walter Braga Netto e Augusto Heleno também acompanharam os depoimentos.

###
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
De manhã, avisamos aqui na Tribuna que seria um festival de mentiras. E não deu outra. De repente, tudo muda. Moraes não seria assassinado, mas apenas preso. E o ministro da Marinha aderiu ao golpe, mas não aderiu muito… Nesse jogo de narrativas, o país perde tempo e se dilacera, em busca de punir um golpe que foi planejado, mas ninguém teve coragem de executar. Esta é a verdade dos fatos. Moraes, porém, ainda acha que tentaram derrubar a Bastilha em pleno cerrado. (C.N.)

9 thoughts on “Moraes esculhamba general: “Ou o senhor falseou na PF ou está falseando aqui”

    • Carlos Vicente,
      É possível que sim,mas a minha pergunta e se o Poder Civil foi mesmo restabelecido e os militares estão cumprindo estritamente o seu papel constitucional.
      Há pouco tempo atrás,a atitude do ministro Alexandre de Moraes seria uma coisa impensável!
      Abraço,
      Werneck

      • A PGR denunciou Bolsonaro e mais 33 pessoas por golpe de Estado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e organização criminosa

        Golpe de Estado ? Como foi ?

        Abolição violenta de algo que não existe ?

        Organização criminosa ? Há uma pública e notória em Brasília, pior que o PCC (o ovo da serpente) ou o CV. Pelo menos, há petistas que pensam o mesmo.

        Boa noite, Garoto !

    • Não posso responder o que penso, amigo Carlos Vicente, porque na Ciência do Direito não há possibilidade de ser considerada qualquer opinião pessoal. O que existe é apenas a lei, redigida da maneira que todos possam entender.

      No caso do badalado golpe que não houve, em 2022, houve exaustivos preparativos e foram criadas quatro situações que poderiam justificar a tentativa de golpe prevista na legislação brasileira e de outros países democráticos, a saber:

      1) a falsa denúncia de fraude eleitoral; 2) o quebra-quebra na capital, após a diplomação de Lula, a 12 de dezembro; 3) a tentativa de explodir o caminhão-tanque no Aeroporto de Brasília, dia 24 de dezembro; e a invasão da Praça dos Três Poderes, a 8 de janeiro.

      Essas quatro situações “planejadas” para justificar o golpe fracassaram. Nenhuma delas significa “tentativa de golpe”, mas apenas ações destinadas a “justificar” e “provocar” uma possível tentativa de golpe, que não chegou a ser praticada.

      A tentativa de golpe só ocorre quando há sublevação armada, tenta-se assumir o poder pela força, como aconteceu na Intentona Comunista, em que houve mortes e deposição do governo do Rio Grande do Norte.

      O Direito funciona de forma diferente, é o contrário da Política, da Religião e do Futebol. Simplesmente o magistrado não pode ter opinião. O único caminho que ele tem de seguir é o irrestrito respeito à lei.

      Quando isso ocorre, é sinal que estamos numa democracia, na qual não podem existir leis injustas. Sempre que há “interpretação” e “desrespeito” às leis, como ocorreu na libertação e descondenação de Lula da Silva, é sinal de que não estamos em democracia plena, mas apenas em democracia relativa, na qual ainda posso escrever essas obviedades sem ser preso.

      Forte abraço,

      CN

  1. Moraes é vítima, acusador e juiz dos mesmos fatos.

    “Não vou permitir CIRCO no MEU tribunal”

    Nesse circo de um Judiciário que tem dono, os palhaços são os cidadãos contribuintes extorquidos a quem seu poder arbitrário é imposto.

Deixe um comentário para Carlos Vicente Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *