No encontro com Jinping, Lula e Janja confundiram a vida pública e a privada

Janja pede liberação de mais público na posse de Lula - 30/12/2022 - Poder  - Folha

Lula também não sabe separar vida pública e a privada

Demétrio Magnoli
Folha

O célebre jantar com Xi Jinping continua a assombrar Janja da Silva. As críticas, concentradas na primeira-dama, evidenciam duas inclinações paralelas do debate público brasileiro: a opção preferencial pela fofoca, especialmente quando o alvo é uma mulher, e o impulso diferencial de proteção do chefe de Estado, que seria vítima impotente de travessuras de seus familiares. No percurso, passa-se ao largo da política –e, no caso, da política de Estado.

De fato, a comédia chinesa abrange quatro erros. Janja cometeu o menor deles.

PRIMEIRO ERRO – A palavra de Lula precisa ser levada a sério, para o bem ou o mal. Segundo o presidente, foi ele, não sua esposa, que infiltrou o TikTok à mesa de refeições. Erro número um: o Brasil, nação soberana, tem os meios para regular as redes sociais e, portanto, deve abster-se de reclamar ações de outros países. Xi Jinping presenteou Lula com essa aula gratuita de relações internacionais.

Na versão de Lula, Janja teria seguido o rumo que ele indicou, descrevendo os pecados do TikTok. E o erro número dois é que o presidente fala pelo Brasil, pois dispõe de mandato popular, mas a primeira-dama não exerce representação.

“Não há protocolo que me faça calar”, exclamou ela, acendendo a tocha de um curioso feminismo amparado em atributos do marido.

PÚBLICO E PRIVADO – Nesse passo, revelou a ignorância típica dos ativistas: o “protocolo”, aqui, não é uma norma burocrática anacrônica, mas a fronteira que assinala a distinção entre o público (a soberania popular) e o privado (o laço de casamento).

Lula cometeu o terceiro erro, ao escandalizar-se com o vazamento dos diálogos. Na sua invectiva contra um sujeito oculto (Rui Costa?), o presidente definiu o evento como um “jantar privado”.

Na verdade, era um jantar de Estado –ou seja, um ato diplomático oficial. O normal, em países democráticos, é dar publicidade às conversas travadas em encontros dessa natureza, com exceção de temas de segurança nacional.

“ESPECIALISTA” – O erro mais grave foi obra de Lula. Segundo o presidente, Xi Jinping aceitou sua solicitação de enviar ao Brasil um “especialista” na regulação das redes sociais. A ditadura chinesa cerca as redes com a “Grande Muralha Digital”. S

eu alvo principal não são crimes de pedofilia ou pornografia, mas a palavra política dissonante. É como se Lula convidasse um especialista de Trump para contribuir com nossa política imigratória.

Numa tentativa heroica de consertar o erro capital, o chanceler Mauro Vieira emprega o recurso extremo de desmentir o presidente, jurando que “não há nenhum programa de visita de especialista chinês”.

CONTROLE DA MÍDIA – A comédia dos quatro erros não nasceu de um céu azul. Nos mandatos anteriores de Lula, o PT clamava pelo “controle social da mídia” —isto é, por algum tipo de censura da imprensa profissional.

Hoje, só militantes febris ainda cultivam a antiga obsessão, e o foco de quem manda voltou-se para as redes sociais. Sob o álibi da necessária regulação das redes, o governo sonha criminalizar a “desinformação” e o “discurso de ódio”, abstrações sujeitas à interpretação da autoridade estatal.

Diante de Xi Jinping, Janja teria afirmado que o algoritmo do TikTok favorece a direita. Crime digital? Não: trata-se da busca pelo “algoritmo certo”, capaz de favorecer a esquerda. Da Grécia clássica para cá, aprendemos que toda comédia contém uma tragédia.

###
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
A piada de confundir a vida pública com a privada é do Barão de Itararé, e não resisti em repeti-la, porque está acontecendo de novo. (C.N.)

4 thoughts on “No encontro com Jinping, Lula e Janja confundiram a vida pública e a privada

  1. Que tristeza, o próprio PR confessa que pediu a ajuda de uma ditadura brutal, para censurar as redes sociais do país, e a única declaração que vem das lideranças polítícas é o silêncio.

  2. Afirmar que “Lula também não sabe separar vida pública e a privada” creio estar em consenso entre os brasileiros. “Lula é muito mais esperto do que vocês pensam. O Lula não tem caráter, ele é um oportunista (…). O Lula tem uma vocação de caudilho”. A afirmação é do falecido sociólogo Chico de Oliveira, um dos fundadores do PT, em entrevista do programa Roda Viva da TV Cultura, datada de 2012.

    “Para o sociólogo, a diminuição da pobreza é uma exigência de um governo de esquerda, mas não foi o Lula que fez. “Essa condição de benefícios sociais vem desde José Sarney”. Sobre a atuação política de Lula durante a ditadura militar, afirmou que, anos 1970, Lula não liderava nada. Quem liderava as passeatas era “Ulysses Guimarães para garantir que a polícia não reprimisse as greves dos trabalhadores”, registrou matéria chancelada por Cesar Sanson, do Instituto Humanitas Unisinos, 2012, que se referiu à entrevista como “bombástica”.

    Curtinhas
    (alguma coisa parecida com tirinhas):

    PS.: PT indefere candidatura de trans a presidente nacional do partido. Dani Nunes e os apoiadores dizem que trata-se de uma “violência política de gênero e de raça”. PT diz que requisito não foi cumprido.

    Sei… Cadê os grupos GLBTQI A + 123456789 e todas as letras do alfabeto?

    PS. 02: A desembargadora Iris Helena Medeiros Nogueira assumiu a presidência do TJRS em abril de 2023 e recebeu nessa condição R$ 662.000. Isso foi publicado por Rosângela Medeiros no jornal Zero Hora graças à Lei de Acesso à Informação, mas sentença censurou a verdade.

    Pois a autoridade sentiu-se ofendida e pediu indenização de R$ 600 mil, tendo sido atendida pela juíza Karen Rick Danilevski Beroncello. (Deu no vídeo de You Tube do jornalista José Nêumanne Pinto)

    PS. 03: “Acho que [Moraes] deveria pedir desculpas”, disse Aldo Rebelo ao UOL. “Talvez, não quisesse fazer isso na hora, mas pode fazer depois”, completou.

    Aldo Rebelo, respeitado por correntes ideológicas, nacionalista, sabe que isso não acontecerá. Desculpas ou arrependimento eficaz, apenas para ficar nesses dois, são comportamentos em acelerada atrofia social.

    PS. 04: Judiciário brasileiro, após a “magnífica” ideia de audiência de custódia, poderá “legislar” (ou não) para implantar o “cantinho do pensamento”, seguido de “ajoelhe-se nos caroços de milho”. Registre-se e cumpra-se.

    Fonte:

    https://www.youtube.com/watch?v=_YBfYb9obVM

    https://www.metropoles.com/colunas/grande-angular/pt-indefere-candidatura-de-trans-a-presidente-nacional-do-partido

    https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2025/05/24/aldo-rebelo-diz-que-moraes-tentou-intimida-lo-espero-que-peca-desculpas.htm

Deixe um comentário para Jorge Conrado Conforte Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *