Ajuda humanitária para Gaza vai criar um campo lotado de refugiados famintos

Caminhões com ajuda humanitária de ONGs egípcias para palestinos aguardam a reabertura da passagem de Rafah, no lado egípcio, para entrar em Gaza

Caminhões com ajuda humanitária ainda estão aguardando

Vinicius Torres Freire
Folha

Um grande caminhão-pipa pode carregar 20 mil litros d’água. Em uma situação de “emergência humanitária”, um mínimo do mínimo de água tratada por pessoa seria de 7,5 litros por dia, segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde) — para beber e comer, basicamente.

Dada a população de Gaza, estimada em 2,23 milhões, seriam necessárias 835 viagens de caminhões-pipa, por dia, para que as pessoas tivessem ao menos aquela ração mínima de água para situações de catástrofe — guerra, terremoto, furacão etc.

AJUDA HUMANITÁRIA – Essa aritmética rudimentar do horror serve para ilustrar um comentário sobre a possibilidade de que caminhões de ajuda humanitária ora no Egito entrem em Gaza, por permissão de Israel.

A tripa de terra sitiada tira quase toda sua água de poços e de dessalinização, parados porque a única usina elétrica do território parou, por falta de diesel industrial (que vinha de Israel); o fornecimento da empresa de água de Israel obviamente parou também.

Tira-se água de poços por gambiarras. Segundo a agência da ONU para refugiados palestinos (UNRWA), a água nos mercados (estocada) é “muito limitada” e vários abrigos da UNRWA estão a seco. A agência da ONU diz que, nesta quarta-feira (18), abrigava 513.507 pessoas, um quarto da população de Gaza.

DIZ ISRAEL – O governo de Israel disse em nota desta quarta-feira que “não vai impedir assistência humanitária do Egito, desde que seja apenas comida, água e remédios para a população civil que vive no sul da Faixa de Gaza [ou foge para lá] e desde que esses suprimentos não cheguem ao Hamas”.

A nota dizia ainda que não vai permitir ajuda de Israel para Gaza enquanto os reféns [do Hamas e da Jihad Islâmica] não forem libertados. Essa concessão se deve ao fato de os Estados Unidos estarem dando “vasto e vital apoio ao esforço de guerra [de Israel]” e porque Joe Biden pediu, se lê no comunicado.

De acordo com vídeos, relatos locais, de agências de notícias e do Crescente Vermelho, haveria de 170 a 200 caminhões prontos para levar comida, remédio e água por meio da passagem de Rafah, que fica nos 12,7 km da fronteira de Gaza com o Egito, a única que não é controlada por Israel. Os pátios dessa passagem, que é uma espécie de alfândega e centro de triagem de migração, têm disso sido bombardeados, assim como as avenidas que dão acesso ao local.

TESTE DE BIDEN – De início, 20 caminhões do Egito entrariam em Gaza, um “teste”, disse Biden a jornalistas. Talvez cheguem lá na sexta-feira (20), em viagens supervisionadas pela ONU.

Segundo o governo do Egito, é preciso consertar as instalações e ruas da passagem. Se funcionar, estrangeiros também presos em Gaza poderiam sair para o Sinai, segundo o ministro egípcio do Exterior, Sameh Shoukry, disse à TV Al Arabiya (de uma empresa de mídia saudita).

Para quem está no desespero ou mesmo à beira da morte, é algum alívio. Não está claro se Gaza vai receber combustível, que talvez sirva para religar algum gerador e tirar água de poços. Gaza não tem eletricidade além da fornecida por geradores de hospitais e serviços públicos, ainda assim intermitente.

SOLTAR OS REFÉNS – Não haverá “ajuda” que saia de Israel, diz o governo de Netanyahu enquanto Hamas e Jihad Islâmica não soltarem os reféns que capturaram durante os massacres em Israel, recorde-se. Não vai acontecer, é uma aposta quase certa.

Logo, o bloqueio, o sítio, vai durar muito tempo. Logo, será preciso que os palestinos fujam para o sul de Gaza, em massa. Logo, será preciso que outros países forneçam ajuda em escala industrial, se é que a logística permite tamanho fluxo.

De qualquer modo, pode ser um meio de facilitar a invasão da parte norte de Gaza. Quem quiser ajuda vai precisar viver em um campo de refugiados hiperlotado, ainda à míngua.

General dos EUA vê ‘intenções malignas’ de China, Rússia, Irã e Hezbollah no Brasil

General Laura Richaason se preocupa também com Amazônia

Marcelo Godoy
Estadão

A general Laura Richardson é conhecida pela franqueza com que expõe o pensamento e as preocupações do Comando Sul das Forças Armadas dos Estados Unidos. Em mais uma entrevista, desta vez, para a Fundação para a Defesa da Democracia, um instituto criado após o 11 de setembro de 2001, ela aproximou as ameaças dos competidores estratégicos dos EUA – China, Rússia e Irã – à representada pelo Hezbollah à segurança do Ocidente

. O evento aconteceu no dia 11, em meio à semana em que Israel foi atacado pelos terroristas do Hamas. A general Richardson mencionou duas vezes o Brasil ao tratar das “intenções malignas” dos adversários.

HEZBOLLAH SE MEXE – “As atividades do Hezbollah (na América Latina) obviamente são uma preocupação”, afirmou a general. Hezbollah na América do Sul é quase sempre sinônimo da Tríplice Fronteira, entre Argentina, Paraguai e Brasil.

A citação ao grupo libanês aconteceu logo após ela listar movimentos da China e da Rússia na região, como a viagem de Serguei Lavrov, ministro das relações exteriores da Rússia, por Nicarágua, Venezuela e Cuba, em abril. “Mas, depois (Lavrov), também (foi) pelo Brasil para reuniões; e o presidente iraniano veio ao hemisfério, em junho”, lembrou Richardson.

Em seguida, mencionou as passagens de navios de guerra do Irã e da Rússia na América do Sul para assinalar as “intenções malignas” dos competidores dos EUA na região.

RECEBIDOS NO RIO – “Navios de guerra iranianos, que estão fazendo um giro global, vieram para o hemisfério a partir do Pacífico e tentaram fazer escalas em inúmeras cidades, que foram negadas. E a fragata acabou recebida no Rio.”

A general, por fim, advertiu: “Estamos vendo uma tendência de aumento de ações na região também por parte de nossos concorrentes estratégicos e, novamente, é muito preocupante, porque acho que a região está insegura e instável e nós podemos fazer melhor neste momento vulnerável para mantermos fora concorrentes estratégicos, que têm intenções malignas”.

As falas da general seriam apenas mais uma forma de atrair atenção – e recursos – para seu comando? É possível. Ou seria uma reedição do eixo do mal?

ALGO DE NOVO? – Analistas do Centro de Estudos Estratégicos do Exército, como o coronel da reserva Paulo Roberto da Silva Gomes Filho, lembram que essas ameaças já estavam presentes na Estratégia de Segurança Nacional dos EUA, publicada em outubro de 2022. Mas o que existiria de novo?

“O espírito que parece é que os americanos dormiram por 20 anos nos desertos do Afeganistão e do Iraque e não viram que estava surgindo uma série de competidores a eles, como a China e a Rússia”, afirmou Sandro Teixeira Moita, professor do programa de pós-graduação em Ciências Militares da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (Eceme).

Até haver o ataque do Hamas, China e Rússia – nessa ordem – eram apresentadas como as mais perigosas ameaças à segurança dos EUA. Para o coronel Paulo Filho, a nova estratégia nacional de defesa dos Estados Unidos aprofundou a alteração de foco ocorrida no governo de Donald Trump, a qual listou China, Rússia, Irã e Coreia do Norte como as maiores “ameaças”.

HOUVE MUDANÇAS – “A novidade se detém no fato de que, até então, o terrorismo figurava, nos documentos oficiais dos EUA, como principal ameaça à segurança do país.”

Ainda para Paulo Filho, a inclusão do Irã nos Brics conferiu ao grupo uma dimensão geopolítica que estava ausente: “Os Estados Unidos consideram esta ação desfavorável aos seus interesses”.

Mas o Irã preocupa os americanos em razão do programa nuclear, das exportações de armas e do papel desestabilizador no Oriente Médio. “Os EUA começaram a expressar abertamente a sua apreensão, inclusive no domínio militar, como exemplificado pelas análises da general Richardson.”

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Com o ataque do Hamas, certamente a maior preocupação dos Estados Unidos já voltou a ser o terrorismo, neste mundo eternamente em guerra. (C.N.)

Oposição se acerta com Rodrigo Pacheco e suspende obstrução da pauta na Câmara

Grupo de parlamentares afirmou que ouviram de Pacheco que

Pacheco deu uma demonstração de força e de prestígio

Ândrea Malcher
Correio Braziliense

A oposição na Câmara anunciou, nesta quarta-feira (18/10), que está suspensa a obstrução à pauta, em protesto a uma suposta “invasão” do Supremo Tribunal Federal (STF) às atribuições do Congresso. A obstrução foi iniciada no fim de setembro.

O grupo, composto por deputados do PL e do Novo, além de pelo menos 22 frentes parlamentares, incluindo a numerosa bancada da agropecuária, afirmou que, em uma reunião com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), na noite de terça-feira, dia 17, ouviram dele que “as iniciativas que assegurem e preservem as prerrogativas constitucionais do parlamento terão curso e efetivamente serão pautadas e votadas para decisão soberana do Congresso”.

OBJETIVO ALCANÇADO – Na nota oficial, acrescentaram os deputados: “E considerando ainda que o objetivo da ‘obstrução’ promovida de forma suprapartidária por este conjunto de líderes sempre foi assegurar o respeito ao Congresso Nacional e, em especial, porque sempre defendemos que o diálogo deve ser o primeiro e principal instrumento entre os poderes”, afirmam os parlamentares que foi alcançado o maior objetivo – garantir que os projetos anti-Supremo entrem em pauta.

Os deputados teriam recebido de Pacheco a garantia de que, até o fim do ano, entram em pauta os textos das seguintes Propostas de Emenda à Constituição (PEC): a que criminaliza a posse e o porte de entorpecentes (45/2003), a que trata sobre pedidos de vistas e decisões monocráticas no STF (8/2021) e a que propõe fixar os mandatos de ministros do Supremo em oito anos (16/2019).

Além disso, serão pautados também o projeto de lei (PL) que estabelece um sistema de vendas de bens e objetos apreendidos por crimes de drogas (750/2022) e o projeto de decreto legislativo (PDL) que pede pela realização de um plebiscito que consulte a sociedade sobre uma possível legalização do aborto (343/2022).

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Pacheco deu uma demonstração de força, mas agora terá de se virar, porque quatro das cinco propostas ainda se encontram na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e nem todas possuem relator definido, como é o caso da PEC do mandato dos ministros, de autoria do senador Plínio Valério (PSDB-AM). (C.N.)

Nota do PT que atribui “genocídio” a Israel é indecência de indisfarçável antissemitismo

Gleisi Hoffmann, presidente do PT -- Metrópoles

Nota de Gleisi Hoffmann sequer cita o grupo Hamas

Mario Sabino
Metrópoles

A nota do PT atribuindo “genocídio” a Israel é uma indecência. Nela, a condenação às atrocidades cometidas pelo Hamas contra israelenses — atrocidades que foram a causa do atual conflito — é aspecto lateral, rápido, destinado apenas a dar aparência de que o partido tem visão equilibrada sobre o que está ocorrendo no Oriente Médio.

O PT iguala os atos terroristas perpetrados por uma organização islâmica criada para destruir Israel a atos de guerra de um estado nacional que busca defender-se do agressor.

NADA IMPORTA – Para o PT, o Hamas não é terrorista (palavra que inexiste na nota). Para o PT, é como se o Hamas não usasse civis como escudos humanos. Não queimasse e degolasse bebês israelenses e não utilizasse bebês palestinos como proteção contra bombardeios. Para o PT, Israel sequestrou civis (!), assim como o Hamas. Infere-se, pela nota do PT, que o Hamas luta pela coexistência de um estado palestino e um estado judeu.

O PT escamoteia a verdade quando diz que “historicamente mantém relações partidárias unicamente com a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), assim como com a Autoridade Nacional Palestina sediada em Ramallah”. É tomar o oficial pelo real. A realidade está expressa no entusiasmo do Hamas com a eleição de Lula.

As linhas auxiliares do PT na imprensa estão ainda mais livres, depois da nota, para dar curso ao seu indisfarçável antissemitismo.

COMPARAÇÕES FALSAS – Cometem a indignidade de comparar Benjamin Netanyahu a Adolf Hitler. De comparar Gaza a Auschwitz. De comparar um enclave que, por mais iníquas que sejam as suas condições, não é um campo de extermínio onde cadáveres vivos esperavam apenas se tornar cadáveres mortos.

Não há câmaras de gás em Gaza. Não há fornos crematórios em Gaza. Não é programa de nenhum partido israelense, mesmo o mais direitista, a eliminação física de todos os palestinos. É assombroso que se tenha de marcar essas diferenças.

As linhas auxiliares do PT na imprensa estão mais livres também para fazer circular as versões mentirosas do Hamas, como a de que foi Israel que, estupidamente, disparou um míssil contra um hospital em Gaza, matando centenas de civis — um hospital, aliás, que conta com subvenção do aliado americano.

CRUEL E CRETINO – O judeu dos antissemitas, além de cruel, é cretino. Para os antissemitas, os foguetes dos terroristas palestinos, muitos deles construídos com tubulações de água arrancadas da terra, não explodem no ar, nem perdem a direção, mesmo que haja provas disso.

Benjamin Netanyahu será punido pelos eleitores de Israel com o ostracismo. A desproporção da resposta militar de Israel será escrutinada e condenada na democracia israelense. A desproporção da resposta militar de Israel pode ser contida pela comunidade internacional.

A criação de um estado palestino que coexista com o judaico continuará a ser defendida por um grande número de eleitores israelenses que se contrapõem aos radicais da direita.

SERÃO ABSOLVIDOS – Os terroristas do Hamas, se não forem eliminados, serão absolvidos dos seus crimes pelas ditaduras da região. Os terroristas do Hamas, se não forem eliminados, continuarão a oprimir o seu próprio povo e a usá-lo como escudo. Os terroristas do Hamas, se não forem eliminados, permanecerão incontroláveis pela comunidade internacional. Os terroristas do Hamas, se não forem eliminados, inviabilizarão para sempre a constituição de um estado palestino.

As guerras, mesmo as mais justas, não são bonitas e descambam, em alguns momentos, para a vingança impura e simples. A vida de um palestino vale tanto quanto a de um israelense, sim. Mas a nota do PT é uma indecência.

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P.S. –
Os Estados Unidos vetaram, no Conselho de Segurança da ONU, a proposta de resolução apresentada pelo Brasil, porque ela não mencionava o direito de Israel à autodefesa. (C.N.)

Desvio de metralhadoras pesadas do Exército alimenta barbárie de nossa guerra particular

As metralhadoras foram roubadas do Arsenal do Exército

Marcos Augusto Gonçalves
Folha

Não sei se o leitor já teve a oportunidade de ver de perto uma metralhadora .50. A máquina impressiona menos pelo porte, de certa forma enxuto, apesar do peso de 34 quilos, mas pela visão do cinto de munição, com sua série de cartuchos de alto poder destrutivo.

A .50 é um armamento pesado de guerra, usado há décadas por exércitos mundo afora. Dispara mais de 500 tiros por minuto e serve para combates terrestres ou defesa antiaérea. Pode perfurar blindagens e abater helicópteros e outras aeronaves.

FORAM ROUBADAS – Há poucos dias, 13 dessas armas desapareceram de um quartel do Exército Brasileiro em Barueri, no estado de São Paulo. Também deu-se falta de um lote de oito outras metralhadoras, de calibre 7,62.

A descoberta do desfalque levou ao aquartelamento de centenas de militares. Atualmente 160 deles continuariam retidos naquela unidade, sob investigação. O comandante do Exército, general Tomás Paiva, já declarou não ter dúvidas quanto à colaboração interna no desfalque. Noticiou-se que as armas, necessitadas de reparos, já teriam sido oferecidas à facção criminosa Comando Vermelho, ao valor de R$ 180 mil cada.

Não é a primeira vez que armas de guerra são subtraídas e caem nas mãos do crime organizado. Entre 2015 e 2019, 54 delas foram desviadas das Forças Armadas, segundo a organização Sou da Paz. Metralhadoras .50 já foram utilizadas por quadrilhas em assaltos e outras investidas.

DINHEIRO DO CRIME – Tempos atrás setores influentes da chamada opinião pública manifestavam temores de que a utilização de militares das Forças Armadas em operações de combate ao narcotráfico poderia facilitar o contágio de servidores fardados, atraídos ou dobrados pelo dinheiro do crime.

Não se sabia, então, se episódios desse tipo já vinham ocorrendo. Hoje, não há mais dúvida. A couraça foi perfurada. A ponto de um militar da FAB ter sido preso na Espanha por traficar 37 quilos de cocaína quando viajava como parte da tripulação de apoio de Jair Bolsonaro, em 2019.

Esses casos evidenciam os progressos da infiltração de setores do Estado pelo crime organizado, uma realidade que não tem encontrado a devida resposta institucional e política.

PROMISCUIDADE – Nos diversos níveis governamentais, do federal ao municipal, do Legislativo ao Judiciário, passando pelo Executivo e pela área de segurança, facções e milícia têm conseguido plantar seus interesses por meios diversos – subornos, coação, oferta de vantagens, apoio eleitoral etc.

Faz pouco, não esqueçamos, milicianos desfrutavam de perigosa proximidade com o Palácio do Planalto.

Enquanto o mundo volta suas atenções para a guerra em Israel e mantém um olho no conflito da Ucrânia, continuamos por aqui com nossos intermináveis enfrentamentos armados envolvendo um leque de organizações criminosas e disputas por territórios.

BALAS PERDIDAS – Duas grandes operações estão neste momento em curso na Bahia e no Rio de Janeiro. Seguimos com nossa própria rotina de confrontos em que civis, crianças e adolescentes são mortos de maneira injustificável. O noticiário sobre as infames “balas perdidas” já se tornou banal. Nos bairros pobres, as assim conhecidas “comunidades”, a Constituição é uma peça ornamental. Invadem-se residências e pessoas espremidas entre o poder do crime e as incursões das Polícias Militares são espancadas e assassinadas em nome de políticas de segurança insustentáveis.

Enquanto assistimos aos louváveis esforços da diplomacia brasileira no exercício de sua vocação para o entendimento e a paz, em nossa guerra particular os exemplos de barbárie continuam a chocar. É preciso também pacificar o Brasil.

Juiz petista afastado da Lava Jato aceita acordo e se livra do processo disciplinar

Homem de terno e gravata sentado em frente a computador em sala de trabalho

O juiz Appio pensou (?) que conseguiria destruir Sérgio Moro

Catarina Scortecci
Folha

O juiz Eduardo Appio, afastado em maio da 13ª Vara Federal de Curitiba, deve assumir outra vara na Justiça Federal, após acordo definido em audiência nesta quarta-feira (18), no CNJ (Conselho Nacional de Justiça), em Brasília. A Vara de Curitiba é conhecida por abrigar casos da Lava Jato e responsável pelos processos remanescentes da operação que mirou a Petrobras.

Appio estava afastado na esteira de um processo disciplinar aberto contra ele na Corregedoria do TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região), a segunda instância da Justiça Federal.

AUDIÊNCIA DE MEDIAÇÃO – A decisão agora sobre o destino do juiz – possivelmente uma vara da área previdenciária — saiu de uma audiência de mediação realizada no início da noite desta quarta entre o juiz Appio e representantes do TRF-4. Com o acordo, o processo disciplinar não deve gerar punição.

A audiência foi proposta e conduzida pelo corregedor-nacional de Justiça, Luis Felipe Salomão, no bojo de um pedido de providências apresentado pela defesa de Appio.

O presidente do TRF-4, Fernando Quadros da Silva, e a corregedora regional do tribunal com sede em Porto Alegre, Vânia Hack de Almeida, estavam presentes na reunião, que durou mais de duas horas.

ANTILAVAJATISTA – Abertamente crítico dos métodos da Lava Jato deflagrada em 2014, Appio assumiu a titularidade da 13ª Vara Federal de Curitiba em fevereiro deste ano.

Em pouco mais de cem dias, Appio assinou decisões polêmicas, como a prisão do doleiro Alberto Youssef, que tem acordo de colaboração premiada vigente, e a anulação da condenação de 2017 do ex-governador do Rio de Janeiro Sergio Cabral. Os despachos foram derrubados na sequência por instâncias superiores.

Para justificar algumas de suas decisões, apontou parcialidade do ex-juiz Sergio Moro e da juíza Gabriela Hardt.

ENFIM, AFASTADO – Em maio, a Corte Especial Administrativa do TRF-4 abriu um procedimento preliminar contra ele e o afastou temporariamente de suas funções na vara. Em julho, esse procedimento gerou um processo disciplinar, instaurado por ordem do mesmo colegiado, e conduzido pela corregedoria do tribunal regional.

Em setembro, o corregedor-nacional de Justiça decidiu avocar o processo disciplinar para o CNJ. Na decisão, contudo, Salomão manteve o afastamento provisório do magistrado.

Appio se tornou alvo de um processo disciplinar porque é suspeito de ter feito uma ligação para o advogado João Eduardo Barreto Malucelli em abril, fingindo ser outra pessoa, e aparentemente tentando comprovar que falava com o filho do juiz federal Marcelo Malucelli, então relator da Lava Jato em segunda instância.

LIGAÇÃO GRAVADA – João Eduardo é sócio do hoje senador Sergio Moro (União Brasil-PR) em um escritório de advocacia e, na época do telefonema, Marcelo Malucelli e Appio tinham decisões judiciais conflitantes.

O advogado gravou a ligação, e um laudo da PF encomendado pela corregedoria do TRF-4 aponta que o áudio “corrobora fortemente a hipótese” de que se trata da voz de Appio. O juiz não admitiu ter feito a ligação, que foi interpretada pelo advogado como uma espécie de ameaça.

A reportagem apurou que, durante a audiência desta quarta, Appio admitiu conduta imprópria, mas não confirmou ter feito o telefonema que gerou o processo disciplinar. O CNJ e o TRF-4 não vão comentar o assunto.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
– A matéria está incompleta. Não diz que Appio é fanático petista e assinava suas decisões judiciais como “LUL22”. Também não cita que ele é filho de um ex-deputado que aparece como “Abelha”, na lista de propinas da internet. Tampouco menciona que o juiz deu salvo-conduto a um criminoso foragido na Espanha, o doleiro Tacla Duran, para que ele viesse ao Brasil acusar o ex-juiz Sérgio Moro. O foragido Duran já marcou data duas vezes, mas não teve coragem de vir. É uma pena. O doleiro poderia contar também as operações que beneficiaram o pai do juiz Abelha. (C.N.)

Bombardeio que destruiu hospital explode na consciência humana do universo

A autoria do ataque ao hospital ainda é um mistério

Pedro do Coutto

A bomba que explodiu num hospital de Gaza, matando centenas de pessoas em número que oscila entre duzentas e quinhentas, explodiu também na consciência humana mundial e seus estilhaços são tão nocivos que nenhuma facção em conflito no Oriente Médio assume a sua autoria.

O presidente Joe Biden chegou a Israel na manhã desta quarta-feira, mas a reunião que faria com líderes dos diversos países da região foi cancelada e seu contato ficou somente com o governo de Israel. A versão israelense sobre o ataque é a de que foi um míssil disparado contra Tel Aviv pelo Jihad que teve um erro na trajetória e detonou centenas de vidas.

PERPLEXIDADE – O mundo assiste perplexo ao acontecimento. Mais um da tragédia que começou no início de outubro com o ataque do Hamas a Israel e que não se sabe como e em que ponto será contido, pelo menos com um cessar fogo em nome da humanidade. Apelos, inclusive do Papa Francisco, não cessam. Mas o ódio predomina e impulsiona os assassinatos que se repetem.

O presidente Lula, empenhado em repatriar 28 brasileiros, não conseguiu ainda autorização do Egito para que eles possam cruzar a fronteira do Sul de Gaza, chegar à cidade de Rafah, e daí embarcar no avião da FAB que os espera no Cairo. Não se pode admitir mais um adiamento da manifestação, pois a cada 24 horas, mil pessoas, entre elas crianças, perdem a vida. Neste caso, os assassinos estão matando até o futuro.

A solução humanitária é urgentíssima. A esperança de repatriamento dos brasileiros que vivem a ansiedade na fronteira com o Egito continua sendo objeto da tentativa e do empenho do presidente Lula da Silva. Aguardemos que o amanhecer desta quinta-feira possa trazer algum avanço em favor da vida.

ALUGUÉIS – Nos últimos 12 meses, a alta dos aluguéis, principalmente no Rio e em São Paulo, superou por larga margem a inflação. Impressionante o reflexo no custo de vida. No O Globo, a reportagem é de Pollyanna Brêtas, Mayra Castro e Daniela Nogueira. Pesquisa da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FipeZap) com base nos anúncios de 25 cidades, indica que, no ano, os aluguéis já subiram 13,26% e, nos últimos 12 meses, a alta foi de 16,16%. Bem acima da inflação que está em torno de 5%.

O coordenador do Índice FipeZap, Alison Pablo de Oliveira, afirma que aumentou a demanda por imóveis residenciais para aluguel. Há necessidade de uma nova legislação, pois não há correspondência dos salários para tal aumento. O reflexo só poderá ser observado na redução até dos alimentos.

TSE julga duas ações contra Lula, apresentadas pela coligação que apoiou Bolsonaro

Visita de assessores, cobranças a ministros e caminhada cautelosa: como tem  sido a rotina de Lula no Alvorada

Lula só se preocupa agora com sua lenta recuperação

Daniel Gullino
O Globo

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) analisa nesta quinta-feira duas ações contra a campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições do ano passado. Lula e o vice-presidente Geraldo Alckmin são investigados por suposto abuso de poder econômico e uso indevido dos meios de comunicação.

As duas ações foram apresentadas pela coligação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). A Procuradoria-Geral Eleitoral (PGE) defendeu que os dois processos sejam rejeitados.

MENTIRAS PATROCINADAS – Em um dos casos, é questionado o fato da campanha de Lula ter patrocinado resultados em buscas no Google sobre termos negativos envolvendo o então candidato. Por exemplo, quando era pesquisado sobre “Lula condenação”, um anúncio exibia um texto afirmando que o petista foi “absolvido”.

Entretanto, a Procuradoria afirmou que o TSE já reconheceu a legalidade do impulsionamento realizado e não viu abuso.

No outro processo, a acusação é de que Lula teria utilizado uma entrevista coletiva, realizada no dia do primeiro turno, para se promover, no que seria “boca de urna”.

PEÇA DE PUBLICIDADE – A PGE considerou que a proibição de propaganda eleitoral no dia da eleição não abrange a concessão de entrevistas e alegou que não há “evidência de que os meios de comunicação tenham transformado a breve resposta do candidato investigado em desabrida peça de publicidade”.

Outras duas ações de investigação judicial eleitoral (aijes) contra a campanha de Lula ainda tramitam no TSE, sem previsão de serem julgadas. Esses processos envolvem suposto abuso em um ato de campanha, na atuação do deputado federal André Janones (Avante-MG).

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Ações sem chance de aprovação. O TSE e o Supremo têm funcionado como tribunais políticos, desde a libertação de Lula. Para condenar e cassar o deputado Deltan Dallagnol, por exemplo, o TSE mudou a própria jurisprudência adotada seis meses atrás e criou algo inexistente no Direito Universal – a presunção de culpa. (C.N.)

Lula criou armadilha para ele próprio ao se arvorar como “articulador” mundial

Charge do JCaesar | VEJA

Charge do JCaesar | VEJA

Eliane Cantanhêde
Estadão

O governo Lula armou uma armadilha para si próprio: colocar-se como o grande articulador de uma solução ao menos humanitária, emergencial, para a guerra em Israel. Se sair uma resolução consensual no Conselho de Segurança da ONU, será um sucesso estrondoso. E se não sair? A oposição está pronta para espalhar aos quatro ventos – e ao mundo – que foi o oposto: um estrondoso fracasso.

Na realidade, que vai além das versões políticas e diplomáticas, a presidência rotativa do Conselho de Segurança, por um único mês, não transforma o Brasil em grande negociador, em resolvedor geral dos problemas mundiais. Sua função é meramente de coordenador.

QUEM DÁ AS CARTAS? – É função importante? Sim, mas quem continua dando as cartas, tomando decisões e delimitando os termos das resoluções são as potências. As mesmas de sempre.

Os Estados Unidos, como sempre, estão na dianteira e não apenas ratificam sua aliança com Israel como também abrem intensas negociações com a Autoridade Palestina e os países árabes. A novidade é a investida diplomática da Rússia, que faz o mesmo, em sentido inverso: aliado da causa Palestina, Vladimir Putin falou nesta segunda-feira com o primeiro ministro israelense, Benjamin Netanyahu, depois de conversar com Irã, Egito, Síria e com Abbas, presidente palestino.

Logo, o Conselho replica a nova fase do conflito entre EUA e Rússia, tendo a guerra da Ucrânia como pano de fundo. O que projeta uma impossibilidade de acordo e de consenso ou, no mínimo, um pedido de adiamento, como nesta segunda-feira. Mas não é o fim do mundo.

DADO POSITIVO – O conselho sempre pode se autoconvocar amanhã ou depois, inclusive porque as negociações são frenéticas e há pelo menos um dado positivo: Israel já suspendeu por duas ou três vezes sua manifesta intenção de invadir Gaza por terra, ar e mar. Já é um ganho.

O chanceler Mauro Vieira presidiu a reunião de sexta-feira em Nova York, mas está em Brasília para atualizar, presencialmente, as informações com o presidente Lula, o grupo de risco formado no Itamaraty e o Senado. Só volta para os EUA na quarta. O embaixador do Brasil na ONU, Sérgio Danese, assume os trabalhos até lá.

Independentemente de qualquer desfecho das negociações no Conselho de Segurança, nunca, nestes dez meses de governo Lula, a comparação com o desastre da política externa de Jair Bolsonaro ficou tão evidente, tão estridente.

TORCER PELA VITÓRIA – Entre o Itamaraty do absurdo chanceler Ernesto Araújo e o azeitado e atuante de Mauro Vieira e entre o inacreditável presidente Bolsonaro, que tornou o Brasil um pária internacional, e um Lula que derrapa daqui e dali, mas conhece do riscado e tem credibilidade internacional, não há o que discutir.

Se o Conselho de Segurança der uma “estrondosa derrota” para o Brasil, como torce a oposição, ou uma “estrondosa vitória”, como sonha o governo, o fato é que a diplomacia brasileira tem agido corretamente nas negociações e exemplarmente no resgate de brasileiros, em parceria com a FAB.

E, no final das contas, uma derrota ou uma vitória não será do Brasil, mas do Oriente Médio e de um mundo tão conflagrado. É melhor sempre torcer pela vitória.

Nas lembranças do Canindé, Rachel de Queiroz questiona a religiosidade do povo

Gosto de palavras na cara. De frases que... Rachel de Queiroz - PensadorPaulo Peres
Poemas & Canções

A romancista, contista, tradutora, jornalista e poeta cearense Rachel de Queiroz, (1910-2003) no poema “São Francisco do Canindé”, lembra uma época vivida, com certa ironia, tendo em vista que era muito jovem, metida num ambiente religioso.

A poeta mantém um certo distanciamento, narrando impessoalmente, perpassando certa irreverência com muita sutileza. Sabe-se que acabou assumindo seu ateísmo, ou o agnosticismo.

Dizem que uma vez foi interrogada sobre religião e teria confessado mais ou menos nestes termos: “Deus não me deu toda esta fé”…

SÃO FRANCISCO DE CANINDÉ
Rachel de Queiroz

Ele estava lá no céu,
junto de Nosso Senhor…
Mas um dia lembrou-se de vir cá
pra dentro daquela igreja,
pra cima daquele altar…

Ficou tão vistoso e rico
todo cercado de luz,
todo cercado de flor!
Amostrando as mãos feridas,
as rosas presas num laço,
e o pé chagado de roxo
que é mode a gente beijar…

E milagre?
Hoje só sofre quem quer…
—Tem bouba no pé?
E esipra?
Um catarrão incansado
lhe cerra a arca do peito?
— Por que é que não promete
a são Francisco das Chagas,
tão bom e tão milagroso,
uma perna de cera?
ou o dinheiro do legume
que você apurou depois das águas?

Veja o quarto dos milagres,
dava para um rio de cera.
E na galeria de uma banda,
aquele cofre:
só de prata de paroara
chegou pra o santo enricar!…

“Meu irmão me dê uma esmola
pela luz que Deus lhe deu!
Que já tive pra morrer
são Francisco me valeu
porque eu prometi a ele
tudo o que tinha de meu…
E dei o que prometi,
ao depois vim esmolar.”

“Ah, meu irmão me socorra!
E queira Deus lhe livrar
de um dia lhe acontecer
fazer promessa e pagar…”

Nunca mais
que são Francisco quer voltar pró céu!…
Acha tão bom lá na igreja
no altar enfeitado!
Ou pelo tempo na festa
dar um passeio no andor!…
Tão bom no Canindé!…

Governo Lula é metamorfose ambulante da esquerda, da direita ou do Centrão?

Chargistas e cartunistas imaginam o novo governo - 01/11/2022 - Poder -  Folha

Charge do Galvão Bertazzi (Arquivo Google)

Celso Ming
Estadão

O governo Lula condenou, sim, a agressão a Israel, mas condenou de maneira envergonhada, na base do breque de mão puxado. Nem chegou a mencionar o Hamas como o movimento terrorista agressor. No passado, também não condenou as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). E hoje, sem disfarces, apoia governos ditatoriais, como os da Nicarágua, de Cuba e da Venezuela. Como também apoiou a indicação do Irã como novo integrante do Brics.

Mas esta não é prerrogativa apenas do governo Lula. As esquerdas tradicionais se mostram incapazes de fazer opção clara pela democracia quando está ameaçada ou quando sucumbe a ditaduras supostamente de esquerda. O PSOL, por exemplo, liderado pelo deputado federal Guilherme Boulos, também foi incapaz de condenar a ação terrorista do Hamas.

DOIS SEGMENTOS – As esquerdas convencionais do Brasil estão hoje divididas em dois segmentos de difícil conciliação. As mais tradicionais, de orientação socialista ou social-democrata, mantêm seu diagnóstico básico na luta de classes e estão engajadas contra as desigualdades, pela proteção dos trabalhadores e dos mais pobres.

O outro segmento optou pelas pautas tidas como identitárias, a favor da emancipação dos povos autóctones (indígenas), dos direitos reprodutivos e das mulheres, da população negra e da população LGBT+.

Esses dois segmentos mantêm no Brasil enormes dificuldades de diálogo com mais três setores – ambientalista, evangélico e agronegócio.

BANDEIRA NEOCOLONIALISTA – No caso dos ambientalistas, essas esquerdas continuam presas ao conceito de que a luta pela descarbonização e pela transição energética, que tem como objetivo a substituição dos combustíveis fósseis pelos limpos, é bandeira neocolonialista dos países ricos.

Os países desenvolvidos foram os que mais contribuíram para desflorestar, dizimar a fauna (como a dos bisões nos Estados Unidos), poluir os rios, despejar lixo nos oceanos e lançar gases poluentes na atmosfera, e agora condicionam o acesso a seus mercados ao cumprimento de metas irrealistas pelos países em desenvolvimento.

Um segundo segmento com que as esquerdas do Brasil têm grande dificuldade de lidar são os evangélicos, não só pelas pautas conservadoras em matéria de costumes que defendem, mas, também, pela sua pregação por uma nova ética do trabalho, baseada na atuação independente do trabalhador, desligada dos sindicatos, em que o indivíduo deve tratar de ser patrão de si mesmo.

AGRONEGÓCIO – O terceiro setor com que as esquerdas têm diálogo difícil é o do agronegócio, cuja grande expansão País afora vem produzindo uma mentalidade modernizadora em termos de acesso à tecnologia, mas que adota valores mais próximos do conservadorismo.

Assim como não sabem que tratamento dar à área de segurança pública, essas contradições das esquerdas acabam por criar distorções na formulação e na execução de políticas públicas quando compõem um governo como o do PT.

E há ainda a bancada da bala, que também não tem diálogo com as esquerdas.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Interessante matéria enviada pelo advogado e economista Celso Serra. Mostra que nada mudou e Lula tenta conduzir um governo altamente contraditório, que ninguém sabe dizer se é da esquerda, da direita ou do Centrão.
(C.N.)

Presidente da EBC é demitido por ter postado insulto a apoiadores de Israel

Presidente demitido da EBC diz que repostagem chamando apoiadores de Israel de idiotas causou constrangimento ao governo

Hélio Doyle foi demitido por ter dado um “palpite infeliz”

Renato Souza
Correio Braziliense

O presidente da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), jornalista Helio Doyle, foi demitido pelo governo federal nesta quarta-feira (18/10), após compartilhar um comentário publicado no X, antigo Twitter, em que chama de “idiota” quem apoia Israel.

A decisão foi tomada de maneira célere pelo governo para evitar a escalada de uma possível crise.

DIZ O TEXTO – “Não precisa ser sionista para apoiar Israel. Ser um idiota é o bastante”, diz o texto, inicialmente publicado pelo cartunista Carlos Latuff, e compartilhado por Doyle. De acordo com fontes consultadas pelo Correio Braziliense, junto ao governo, Jean Lima, atual diretor-geral, deve ficar no lugar de maneira interina.

Durante a gestão, Doyle foi criticado, nos bastidores, em razão da inexperiência em tocar projetos como a TV Brasil, uma emissora de televisão de caráter público que é transmitida para todo o país. No período, telejornais locais da emissora foram retirados do ar, reduzindo o espaço para jornalismo regional.

Procurado pelo Correio, Helio Doyle disse, em nota, que foi procurado pelo ministro Paulo Pimenta, da Secretaria de Comunicação Social, que manifestou “descontentamento” pelo episódio. Confira a íntegra da nota:

NOTA DO DEMITIDO – Eis a explicação do jornalista:

“O ministro Paulo Pimenta me manifestou hoje seu descontentamento por eu ter repostado, no X , postagem de terceiro acerca do conflito no Oriente Médio.

Disse-me que a referida repostagem e sua repercussão na imprensa criaram constrangimentos ao governo, que mantém posição de neutralidade no conflito, em busca da paz e da proteção aos cidadãos brasileiros.

Diante disso, pedi desculpas e comuniquei que deixo a presidência da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), agradecendo ao ministro Pimenta e ao presidente Lula pela confiança em mim depositada por todos esses meses.”

Desembargador corrupto deu golpe do plantonista e soltou chefão do tráfico

Bahia Já - Direito - CNJ AFASTA DESEMBARGADOR DA BAHIA Q DEU PRISÃO DOMICILIAR A TRAFICANTE

Um desembargador capaz de vender a própria alma

Elio Gaspari
Folha/O Globo

Com um voto cirúrgico do corregedor nacional de Justiça, ministro Luis Felipe Salomão, por unanimidade, o CNJ afastou de suas funções o desembargador baiano Luiz Fernando Lima. No dia 30 de setembro passado, ele determinou a transferência do bandido Dadá para um regime de prisão domiciliar. Dadá não era um bandido qualquer, e o afastamento do desembargador baiano torna-se um exemplo de rapidez e rigor.

GOLPE DO PLANTONISTA – O CNJ feriu o velho golpe do recurso ao juiz plantonista, praticado há décadas em todas as instâncias do Judiciário. Ele funciona assim: espera-se o fim de semana (ou o recesso), leva-se o pedido ao sensível magistrado que assumiu o plantão e, bingo, resolve-se o problema.

No caso do bandido Ednaldo Freire Ferreira, o Dadá, o desembargador Luiz Fernando Lima seguiu a escrita, mas exagerou.

Dadá é um dos fundadores do Bonde do Maluco, o BDM, a maior facção criminosa da Bahia. Estava numa prisão de segurança máxima desde setembro. Tinha sido capturado pela Polícia Rodoviária Federal e cumpria pena de 15 anos, imposta em 2008.

ALTA VELOCIDADE – O desembargador-plantonista recebeu o pedido de conversão para o regime de prisão domiciliar às 20h42 do sábado, dia 30, e canetou a concessão do benefício na madrugada seguinte. Dadá deveria ir para casa para cuidar de um filho autista. Se essa criança existe, os negócios do Bonde do Maluco nunca permitiram a Dadá que cuidasse do filho.

Horas depois, outro magistrado cassou a medida. Era tarde, Dadá havia sido libertado e, como era de prever, não foi para casa. Escafedeu-se.

Em seu voto o corregedor Salomão lembrou: “O desembargador Luiz Fernando Lima recebeu o pedido somente algumas horas antes do início do expediente judiciário normal, situação que, por si só, já ensejaria uma análise minimamente cuidadosa acerca do caso. (…) Não houve mínima análise acerca do perfil e antecedentes do requerente”.

CHEFÃO DO CRIME – Em setembro, quando Dadá foi capturado, estava ao volante de um SW4 Diamond, avaliado em R$ 400 mil. Naquele mês, a guerra entre as quadrilhas baianas e a ação da polícia resultaram na morte de 70 pessoas, inclusive um agente da Polícia Federal.

Ao canetar a libertação de Dadá, o desembargador sabia o que estava fazendo. Num plantão anterior, tratando de um caso semelhante, com antecedentes diversos, Lima indeferiu o pedido, indicando que não se tratava de matéria para ser decidida por um plantonista.

O corregedor Salomão lembrou que, naquele caso, o Ministério Público havia recomendado a concessão da medida. O juiz severo de ontem virou um doce na madrugada em que soltou Dadá.

APOSENTADORIA – Afastado, o desembargador poderá se defender. Pelas suas contas, está próximo da aposentadoria, mas talvez possa responder a uma pergunta: “O senhor realmente achava que Dadá cumpriria as condições da prisão domiciliar?”

A unânime, rápida e severa decisão do CNJ talvez iniba a turma que recorre ao golpe do plantonista, até porque há a suspeita de que o crime organizado passou a aplicá-lo. Existem uns cinco casos em que deu certo.

No caso do desembargador baiano, funcionou para o bandido, mas custou ao magistrado.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Para os brasileiros, é um escárnio saber que um desembargador tão corrupto vai ficar impune. É uma afronta. O Brasil jamais será um país civilizado enquanto houver esse tipo de protecionismo a autoridades, um privilégio que nos transforma numa subnação, onde vive uma sub-raça. (C.N.)

“Balas de Estalo”, um excelente livro, que reúne belas crônicas de Machado de Assis

Livro: Balas de Estalo de Machado de Assis - Heloisa Helena Paiva de Luca | Estante Virtual

Livro reúne crônicas escritas com pseudônimo

José Carlos Werneck

O livro “Balas de Estalo” reúne interessantes crônicas de Machado de Assis. “Balas de Estalo” era o nome de uma coluna publicada pelo jornal Gazeta de Notícias, de 3 de abril de 1883 até 29 de dezembro de 1886. Vários escritores se revezavam na coluna, usando pseudônimos: Blick (Capistrano de Abreu), João Tesourinha (Francisco Ramos Paz), José do Egito (Valentim Magalhães), Lélio (Machado de Assis), Lulu Sênior (José Ferreira de Araújo, um dos fundadores do jornal), Público (Dermeval da Fonseca), e Zig-Zag (Henrique Chaves).

Em 25 de setembro de 1883, o jornal de escândalos “Corsário”, de Apulcro de Castro, revelou a identidade dos diversos colaboradores das Balas de Estalo.

SÉRIE DE CRÔNICAS – “Balas de Estalo” foi uma das mais prolíficas e duradouras séries de crônicas do jornalismo brasileiro no século XIX, publicada, quase que diariamente na Gazeta de Notícias, à época um dos periódicos de maior tiragem do Rio de Janeiro, num revezamento intenso de mais de uma dezena de narradores-personagens, resultando em várias centenas de textos ao longo de seus três anos de duração (1883-1886). Seus narradores acompanharam os principais assuntos do dia na década de 1880.

Segundo Ubiratan Machado, autor do Dicionário de Machado de Assis, “Balas de Estalo” “correspondem a um momento extremamente feliz da prosa machadiana, livre, solta, maliciosa, com alguma coisa da irreverência de um moleque de rua e a forma apurada de um clássico”.

Machado de Assis publicou 125 crônicas, de 2 de julho de 1883 até 22 de março de 1886. Além dessas, existe uma crônica de 15 de setembro de 1883 assinada coletivamente por José do Egito, Décio, Zig-Zag, Lélio, Publicola, Blick e João Tesourinha.

O PSEUDÔNIMO – Machado assinava-se como Lélio (“Lélio dos Anzóis Carapuça”, como revela na crônica de 17 de janeiro de 1885), que se refere a um personagem da Commedia dell’arte italiana, retomado por Molière.

Nestas crônicas, o escritor ironiza a política com suas sucessivas crises ministeriais (“Escrevo sem saber o que sai hoje dos debates da Câmara. Uns dizem que sai o projeto, outros que o Ministério, outros que nada” (14/4/1885); revela-se também um libertário (“… hasteemos audazmente a bandeira da liberdade” (30/11/1885); brinca com a astronomia e suas dimensões vertiginosas (“A astronomia é, com efeito, uma bebedeira de léguas. As léguas são as polegadas do espaço” – 22/8/1885); usa e abusa do nonsense como no “Diálogo dos Astros” entre Dom Sol e Mercúrio (20/6/1885).

E esbanja sabedoria (“o cinismo, que é a sinceridade dos patifes, pode contaminar uma consciência reta, pura e elevada, do mesmo modo que o bicho pode roer os mais sublimes livros do mundo” (14/3/1885).

PREVÊ A REPÚBLICA – Machado diz ser iminente “a revolução triunfante, o imperador embarcado, e as aclamações na rua – Viva a república!” (9/9/1884); mostra-se contrário à taquigrafia pois, “se todas as asneiras proferidas fossem registradas, o

mundo se tornaria um inferno” 15/7/1884[6]; aborda a inusitada venda de um tigre (“o tigre vende-se na rua do Hospício [atual rua Buenos Aires], como o chá preto e as cadeiras americanas” 26/4/1884); escreve uma crônica engraçada em que sua alma sai do corpo e comparece a uma sessão de espiritismo (“Desde que li em um artigo de um ilustre amigo meu, distinto médico, a lista das pessoas eminentes que na Europa acreditam no espiritismo, comecei a duvidar da minha dúvida” (5/10/1885).

É um livro muito agradável e de fácil leitura, como todas as obras do grande autor, e merece ser apreciado.

Tribunal enfrenta Marina Silva e libera a mineração de potássio na Amazônia 

Marina Silva culpa Bolsonaro por fumaça em Manaus

Marina Silva foi apanhada de surpresa e ainda não reagiu

Natália Portinari
Metrópoles

Um desembargador do Tribunal Regional Federal da 1ª Região derrubou uma decisão de primeira instância que havia suspendido uma licença prévia ambiental para exploração de potássio na Amazônia. A Justiça havia considerado antes que o projeto fica em uma terra indígena e, então, caberia ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) analisar o licenciamento.

O órgão federal, porém, negou que tenha competência para analisar o licenciamento, dando razão ao argumento de que o processo deve ser feito no âmbito estadual neste caso.

ENTENDIMENTO – Na liminar (decisão temporária) desta terça-feira (17/10) do desembargador Marcos Augusto de Sousa, o entendimento é de que não se trata de uma terra indígena demarcada e que, portanto, a competência é estadual.

O projeto, da Potássio do Brasil, é defendido pelo vice-presidente Geraldo Alckmin e pelo ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, que tiveram reuniões recentes com representantes da empresa.

No local em que a empresa quer abrir uma lavra de mineração, na região de Autazes (AM), há uma aldeia indígena do povo Mura.

O Ministério Público Federal (MPF) pediu recentemente que a Potássio do Brasil retire suas placas do local que deseja explorar, argumentando que há “constantes pressões da empresa para que o povo Mura deixe a região que ocupa há mais de século, buscando forçar a venda de seus territórios tradicionais, para que a mineradora possa explorar a área”.

A empresa nega a acusação e tem sustentado que o povo Mura apoia o projeto. Representantes da aldeia Soares, onde ficaria o empreendimento, por outro lado, disseram recentemente à repórter Elaíze Farias que o apoio dos indígenas não é unânime.

Em agosto, já em meio à disputa judicial, a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) publicou uma portaria criando um grupo técnico para delimitar a terra indígena do grupo Mura formalmente.

A licença ambiental definitiva ainda não foi cedida pelo Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas, órgão estadual.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Aleluia, irmão! Desta vez, Marina Silva vai à loucura. O Brasil importa 95% do potássio que utiliza na agricultura, nossa maior riqueza, mas o Ministério do Meio Ambiente é contra a exploração na Amazônia, embora os índios sejam a favor, porque querem sair da miséria. Apenas isso. A patricinha da floresta pode espernear à vontade, mas a licença está dada. Se quiser impedir, Marina terá de recorrer da decisão. (C.N.)

Lula tenta ser mediador, mas não aceita fazer qualquer contato com Netanyahu

Lula é o 5º líder do G20 mais procurado no Google

Sem falar com uma das partes, como Lula será mediador?

Marcela Rahal
Veja

O presidente tem conversado com vários países do Oriente Médio com o objetivo de tentar conquistar uma agenda humanitária no conflito entre Israel e Hamas. O Brasil, como presidente temporário do Conselho de Segurança da ONU, também tenta dialogar com os líderes do Oriente Médio.

Nesta terça-feira, Lula chegou a falar até com Irã, país visto como possível financiador do Hamas, e depois com a Turquia.

COM EGITO – O governo tenta negociar também com o Egito a liberação de brasileiros por Rafah, na fronteira com Gaza, mas essa questão ainda sofre um impasse pela insegurança. No último sábado, Lula também conversou o presidente da Autoridade Palestina Mahmoud Abbas.

A coluna apurou que o Brasil não vai entrar em contato direto com o primeiro-ministro de extrema direita, Benjamin Netanyahu, que está a frente do conflito contra o Hamas. Segundo fontes da chancelaria, não há interesse também em mandar interlocutor à Israel, nesse momento.

Integrantes do Itamaraty vêem com muitas ressaltas a contraofensiva que Israel tem feito à Gaza, com centenas de civis mortos. A avaliação é de que a posição israelense está desproporcional.

APOIO À PALESTINA – Historicamente, o PT sempre deu apoio a causa palestina, que reivindica o reconhecimento de um estado palestino. Além disso, o Itamaraty vê os atos recentes que foram praticados pelo Hamas como terroristas, mas que, em determinado momento, o braço político do movimento que se autodenomina como grupo de resistência teve uma causa justa. Por outro lado, Israel nega a existência dessa soberania na Faixa de Gaza.

Aparentemente, o Brasil tenta se colocar como uma país mediador, neutro, mas evita falar com o interlocutor direto de um dos lados do conflito.

Investigações do Exército indicam como militares roubaram 21 metralhadoras

Investigações do Exército apontam que um ou mais militares participaram de ação que levou ao desaparecimento de 21 armas de quartel.

Foram roubadas 21 dessas metralhadoras de grande porte

Monica Gugliano
Estadão

As investigações do Exército até agora já sinalizam para a hipótese de que foi um militar ou um grupo de militares de dentro do quartel que arquitetou o roubo de 21 metralhadoras. Por isso, a Força manteve o aquartelamento e não deixa a maior parte da tropa ninguém sair enquanto todas as investigações e possibilidades não foram esclarecidas. Oficiais disseram à coluna que a decisão de impedir a saída dos aproximadamente 480 militares – que estão incomunicáveis, sem celular e sem poder receber qualquer visita – foi tomada também para evitar qualquer tentativa de destruição de provas.

A cúpula acredita que está próximo o esclarecimento de como aconteceu o roubo e já liberou parte do militares que estavam aquartelados.

METRALHADORA PESADA – Não é a primeira vez que armas são furtadas de instalações militares. O que deixou os oficiais que falaram com a coluna estupefatos foi a quantidade e a dimensão das metralhadoras.

“Ninguém entra em um quartel e sai com uma .50 embaixo do braço”, comentou um desses oficiais. De acordo com a descrição das Forças Armadas, a .50 pesa 38,1 quilos, sem contar outros 20 quilos do tripé que acomoda o armamento no solo. Tem 1,75 metro de comprimento e pode atingir um alvo a mais de um quilômetro de distância. As dimensões fazem com que a arma não seja portátil.

O roubo aconteceu no Arsenal de Guerra de São Paulo que fica em Barueri, uma unidade que faz toda a manutenção de equipamentos militares, projetos de engenharia e reposição de peças.

EM REPAROS – As armas estavam lá para manutenção e são 13 metralhadoras de calibre .50 (antiaéreas) e oito de calibre 7,62. As armas, segundo a Força, estavam “inservíveis”— ou seja, sem utilidade no momento — e em fase de reparos.

Ao saber do desaparecimento o comandante do Exército, Tomás Paiva, determinou que fossem acionados todos os mecanismos possíveis para descobrir os autores do crime. Neste caso, o próprio Exército atua como Polícia Judiciária Militar, autorizada pelo juiz militar, e conduz o inquérito. Tão logo sejam descobertos os autores do roubo, o Exército prepara uma operação para recuperar o armamento. “Tudo será encontrado e recuperado”, afirmou esse oficial.

A Força terá que dar uma resposta no menor tempo possível, principalmente, num momento em que o Ministério da Justiça tem reforçado ações no combate ao crime organizado na Bahia e sobretudo no Rio de Janeiro.

MAIOR FISCALIZAÇÃO – A operação está sendo conduzida pelo secretário executivo da Pasta, Ricardo Capelli, e vai concentrar os esforços da Polícia Federal e da força Nacional na fiscalização de rodovias, portos e aeroportos justamente para coibir o tráfico de armas.

No Exército é dado como certo que as metralhadoras podem parar nas mãos de integrantes do narcotráfico e milicianos. Muitos militares vivem em comunidades e não é impossível que algum deles tenha sido ameaçado por membros do crime organizado e instado a praticar o roubo.

Mas o principal receio é com as características das armas, capazes de derrubar um helicóptero. No Rio, há uma semana em uma incursão da polícia nas comunidades da Maré, Vila Cruzeiro e Cidade de Deus dois helicópteros foram atingidos por disparos vindos das quadrilhas dos criminosos que disputam o domínio da região.

CASO DOS MÉDICOS – A ação tinha como objetivo prender membros do Comando Vermelho (CV) em resposta a execução de três médicos em um quiosque na Barra da Tijuca.

Os médicos, que participavam de um Congresso em um hotel de luxo em frente à praia, haviam atravessado à rua quando três indivíduos desceram de um carro e dispararam mais de 30 tiros contra eles. Três morreram na hora, na calçada. Um quarto médico que estava com eles, sobreviveu. Ao que tudo indica até agora, morreram por engano. Um deles seria parecido com um miliciano.

Os executores equivocados foram encontrados e mortos horas depois. Eles teriam sido julgados pela própria organização criminosa que fez uma reunião por videoconferência de dentro de uma penitenciária entre presos e comparsas que estavam do lado de fora.

NOTA DA REDAÇÃO DO BLOGComo já dissemos, não há mais militares intocáveis. Eles se contaminaram de tal forma no convívio com os políticos que hoje vendem as próprias armas do quartel. É o fim da picada. Um sinal do Apocalipse!

Israelenses e palestinos sofrem um processo de “desumanização” em caráter permanente

Imagem de um terrorista do Hamas levando um refém

Hélio Schwartsman
Folha

Dizer que israelenses e palestinos não se dão bem é um eufemismo. Seria mais correto afirmar que um lado considera o outro menos do que humano —perto de 40% menos, para os que gostam de precisão.

Sabe-se pelo menos desde a 2ª Guerra que a desumanização é um importante ingrediente psicológico de perseguições, conflitos e genocídios, mas foi só a partir da virada do milênio que cientistas começaram a investigar o fenômeno de forma mais sistemática. Um pesquisador prolífico na área é Nour Kteily, da Northwestern University (EUA).

PESQUISA LOCAL – Kteily e o neurocientista Emile Bruneau, morto precocemente em 2020, se debruçaram sobre as desavenças entre israelenses e palestinos.

Na sequência da guerra de Gaza de 2014, eles perguntaram a cada lado como via o outro. Já estava bem estabelecido que os grupos econômica e politicamente mais favorecidos tendiam a desumanizar os mais fracos, mas não havia muitos dados a respeito de como a parte desfavorecida via o lado dominante.

E o que eles descobriram é que os mais fracos não têm dificuldade para desumanizar os adversários. As taxas médias foram bem semelhantes. Os israelenses tiraram 39,8 pontos dos palestinos numa escala de “humanidade” que ia até 100; já os palestinos subtraíram 37,03 pontos dos israelenses.

IDEOLOGIA E DOMÍNIO – Várias características, como ideologia política e dominância, afetam os resultados, mas o fator mais relevante, como sabemos por causa de um outro trabalho de Kteily, é como cada lado percebe a desumanização que o outro lhe atribui.

Ele pediu a americanos que avaliassem a humanidade de muçulmanos. O desconto médio foi de dez pontos, mas o número explodia quando os sujeitos de pesquisa liam antes uma reportagem falsa sobre como os muçulmanos consideram os americanos subumanos. É a chamada desumanização recíproca.

É um achado lúgubre. Ele transforma o terrorismo numa arma quase infalível para acirrar ânimos e sabotar qualquer iniciativa de paz.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Excelente artigo de Hélio Schwartsman, que nos faz raciocinar sobre até que ponto a paixão religiosa e ideológica consegue transformar seres humanos em bestas feras, digamos assim. Essa guerra eterna no Oriente Médio é uma vergonha para a Humanidade. Se a ONU existisse e funcionasse, toda a região deveria estar sob rigoroso controle internacional, mas lá só há um pequeno contingente de boinas azuis. (C.N.)

PT cai em armadilha da extrema-direita no debate sobre guerra na Faixa de Gaza

REAÇÃO - Gleisi: presidente do PT diz que nunca se encontrou com o Hamas

Gleis: “Israel não tem moral para discutir direitos humanos”

José Casado
Veja

Em nota pública, nesta terça-feira (17/10), a direção do Partido dos Trabalhadores afirmou que Israel “realiza, neste exato momento, um genocídio contra a população de Gaza, por meio de um conjunto de crimes de guerra. Referia-se ao bombardeio de um hospital que matou centenas.

Em meio à massa de desinformação, já seria temerário atribuir-se a qualquer lado a culpa por esse ato de barbárie. Sem evidências sobre a origem do ataque selvagem e a 10.300 quilômetros de distância do local, é, no mínimo, imprudência.

EMBATE ESTRIDENTE – A direção do PT, aparentemente, resolveu cair na armadilha de um embate estridente com facções da extrema-direita sobre a guerra de Israel, que hoje é contra o Hamas, amanhã talvez seja contra o Hezbollah, e depois…

Incendiar o debate público sobre o conflito pode ser útil aos interessados na radicalização da política doméstica. Com certeza, é insensato à segurança de um país com grandes comunidades formadas a partir da imigração do Oriente Médio.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Não tem mais jeito. O PT já se lascou todo ao tomar partido numa guerra que não tem nenhum sentido. Um dia depois de divulgar uma resolução sobre a situação na Palestina, na qual condena o Estado de Israel por “realizar um genocídio contra a população de Gaza, por meio de um conjunto de crimes de guerra”, a Embaixada de Israel publicou uma nota oficial criticando a posição do partido. A presidente do PT replicou dizendo que Israel “não tem autoridade moral para falar em direitos humanos”. Na verdade, Israel é um paradoxo extremo. Tem o povo mais instruído e capaz, mas é dominado por uma maioria retrógrada e intolerante.(C.N.)

Após indiciado pela CPI, general Heleno diz confiar no “bom senso” do Judiciário

Em quatro anos, Heleno destruiu a imagem de uma vida

Bianka Vieira
Folha

O general Augusto Heleno, ex-ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), diz acreditar no “bom senso” do poder Judiciário, após ser indiciado no relatório final da CPI do 8 de janeiro.

Lido nesta terça-feira (17), o documento elaborado pela senadora Eliziane Gama (PSD-MA) acusa o militar de praticar os crimes de associação criminosa, abolição violenta do Estado democrático de Direito e golpe de Estado no âmbito dos ataques promovidos contra as sedes Três Poderes.

MANDOU MENSAGEM – Procurado pela coluna, Heleno afirmou, em um primeiro momento, que não gostaria de comentar o relatório da CPI por meio de ligação telefônica. Em seguida, encaminhou uma mensagem.

“Nada a comentar”, escreveu o general. “Acredito no bom senso e profissionalismo de muitos membros do nosso Poder Judiciário”, finalizou.

Sob o governo de Jair Bolsonaro (PL), o Judiciário, especialmente na figura do STF (Supremo Tribunal Federal), foi constantemente atacado. Nos atos golpistas ocorridos em Brasília, em janeiro deste ano, a sede da mais alta corte do país foi uma das mais depredadas.

NOVA POSTURA – Desde que passou a ser investigado pelo 8 de janeiro, o general Augusto Heleno tem suavizado suas críticas.

Em depoimento à CPI dos Atos Antidemocráticos da Câmara Legislativa do Distrito Federal, em junho deste ano, o general afirmou que falou “de maneira jocosa” quando sugeriu que precisava de “dois Lexotans [ansiolítico] na veia por dia” para evitar que Bolsonaro tomasse “uma atitude mais drástica” contra o STF.

No relatório apresentado nesta terça, a relatora da CPI, Eliziane Gama, afirma que Heleno foi uma figura de “imenso relevo” no governo Bolsonaro e um dos que mais influenciavam o então presidente da República com ideias golpistas.

DIZ A RELATORA – “Não há como escusar Augusto Heleno por sua responsabilidade direta nos atos do dia 8 de janeiro”, diz a senadora.

“Isso se dá, entre outras razões, pelo fato de que Augusto Heleno esteve presente em diversas reuniões, encontros e circunstâncias que evidenciaram o intuito golpista do então presidente”, afirmou em seu relatório à CPMI.

A parlamentar ainda acusa o general de ter tido acesso a minutas golpistas sem que tivesse se insurgido contra ações que buscavam viabilizar “a intentona autoritária de Jair Messias Bolsonaro”.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
O general Heleno era um dos oficiais mais respeitados. Quatro anos depois, sua imagem está deteriorada. E tudo indica que já não se fazem mais militares como antigamente. (C.N.)