Conheça as provas de corrupção que Toffoli anulou no “Setor de Propinas” da Odebrecht

O ministro do STF Dias Toffoli invalidou provas do acordo de delação da Odebrecht em decisão no dia 06 de setembro

Toffoli aparece na lista de propinas como “Amigo do Amigo”

André Shalders
Estadão

Nove horas da manhã. Você liga o computador e se conecta à Internet por meio de uma espécie de VPN – uma rede privada virtual – a um computador remoto, hospedado em um data center em Estocolmo, na Suécia. É como usar um computador normal, exceto pelo fato de que todos os arquivos e registros estão armazenados no país nórdico. Nada fica no Brasil: mesmo que alguém leve o seu computador embora, nenhuma informação poderia ser acessada.

Uma vez conectado, você então faz login no sistema de gestão empresarial (conhecido pela sigla em inglês ERP). A versão “normal” deste sistema é usada pelos outros funcionários da empreiteira Odebrecht para atividades mundanas, como pagar fornecedores, emitir ordens de serviço etc.

CODINOMES – Mas não para você: como executivo do Departamento de Operações Estruturadas, você usa o sistema para lançar pagamentos atrelados a codinomes. Cada um deles representa um dos políticos mais importantes da República. “Operações estruturadas” foi o eufemismo criado pela gigante da engenharia civil para referir-se ao pagamento de propinas a políticos de todos os pontos do espectro ideológico, da direita à esquerda.

Ao registrar um pagamento de propina, você se certifica de informar também o local, seu nome como responsável pela negociação e o “centro de custo” – que pode ser uma obra de engenharia, um evento ou até um órgão público. Os pagamentos podem ser tanto em reais quanto em dólares ou euros. Tanto as contas de destino quanto de origem podem estar no Brasil ou fora do país.

Antes de ir embora, uma última tarefa: você deve organizar a entrega de uma mala de dinheiro vivo a um assessor parlamentar em um quarto de hotel. Todas as informações – contato de quem vai receber, hora, local, etc. também estão registradas no sistema.

TOFFOLI INVALIDOU -Os sistemas informatizados acima são, respectivamente, o Drousys (a “VPN”) e o MyWebDay B (o sistema ERP). Ao todo, o acervo de provas soma pouco mais de 53,08 terabytes de dados – suficiente para lotar 11.293 DVDs comuns. Empilhados sem as capas, os DVDs formariam uma coluna de 13,5 metros de altura, o equivalente a um prédio de quatro andares. Por segurança, Drousys e MyWebDay B mantinham as mesmas informações em dois servidores distintos: um na Suíça, e o outro na Suécia.

Atualmente há duas cópias deste material no Brasil, ambas mantidas em salas-cofre. Uma delas fica em Brasília, na Secretaria de Perícia, Pesquisa e Análise (SPPEA) da Procuradoria-Geral da República (PGR). A outra está em Curitiba (PR), na sede da Polícia Federal, no bairro de Santa Cândida – mesmo local onde o presidente Lula (PT) ficou preso de abril de 2018 a novembro de 2019.

Investigadores que trabalharam com o material explicam que o sistema “normal” usado pelos empregados da Odebrecht também era chamado de MyWebDay. É por isso que o sistema de contabilidade de propinas ficou conhecido pela alcunha “MyWebDay B”.

REGISTROS DETALHADOS – O sistema era “usado pelos executivos da empresa para fazer a programação dos pagamentos”, explica um investigador que trabalhou com o material, sob condição de anonimato.

Combinando os dois sistemas, os operadores do setor de propinas da Odebrecht mantinham registros detalhados sobre os pagamentos. Os desembolsos podiam ser organizados por executivo responsável, por obra ou até pelo recebedor.

Em alguns casos há registro até mesmo da senha ajustada para o pagamento do dinheiro: numa das planilhas, estas eram “Pincel”, “Marreco”, “Petisco”, “Tilápia” e “Pimentão”, entre outras. Cada pagamento recebia também um código, que permitia que o mesmo desembolso fosse encontrado em várias planilhas. Assim como os políticos, as contas bancárias usadas pela Odebrecht também tinham apelidos. “Kaiser”, “Amizade” e “Bambi” são alguns deles, visíveis no laudo pericial da PF.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
– Ao determinar a anulação das provas dos sistemas Drousys e MyWebDay B, o ministro Dias Toffoli usou como argumento a suposta ausência de um acordo formal de cooperação internacional com as autoridades suíças por parte do MPF – acordo que, no entanto, aconteceu. E estava apagando provas contra ele mesmo. Na relação, Lula era o “Amigo” de Emílio Odebrecht e Toffoli aparecia como “Amigo do Amigo”. Vejam a que nível descemos. (C.N.)

8 thoughts on “Conheça as provas de corrupção que Toffoli anulou no “Setor de Propinas” da Odebrecht

  1. Do jeito que estamos regredindo, logo só valerá como provas documentos datilografados em máquina de escrever e gravações em video-cassetes.

    Essa privatização do Estado está nos levando para o fundo do poço. Embora ache que o Mecanismo já está esgotando o poder inebriante do “circenses.

    O Governo, órgão central, está totalmente paralisadio, não percebendo que o divercionismo tem prazo de validade, assim como os anestésico.

    Que tal corroem atrás do deficit previsto pro ano que vem, que alardearem ser zero?

    https://g1.globo.com/economia/noticia/2023/09/03/governo-precisara-de-r-168-bilhoes-a-mais-em-2024-para-fechar-as-contas-especialistas-veem-otimismo-e-meta-distante.ghtml

    Vamos trabalhar, gente!

  2. Explicação está errada. O sistema MyWebDay teve as chaves físicas de acesso destruídas e por isso houve a impossibilidade de acesso. aos arquivos contidos no mesmo. Esses arquivos é que continham os comprovantes de pagamentos aos personagens. O sistema MyWebDay B, assim chamado porque continha alguns fragmentos do arquivo original, MyebDay.

    A invalidação dos documentos não foi devida a falta de comprovação de acordo de cooperação internacional formal e sim pela não comprovação de integridade dos arquivos, principalmente o sistema MyWebDay.

  3. “Um laudo complementar feito por um perito contratado pelos advogados do petista concluiu justamente que não há comprovação de que os documentos recebidos pelo MPF vieram diretamente de servidores da Odebrecht na Suíça”.

    Um perito contratado por mim produzirá um laudo assegurando que descendo de extraterrestres e não tenho parentesco nenhum com macacos, pois meu sangue é O-.

    Cada uma … Pull the other one !

    Daqui a pouco virão os Egg Lickers do “Justifica dor” (Schossland).

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