Lula acerta em dar entrevista coletiva, mas não tinha o que mostrar

Lula durante entrevista coletiva no Palácio do Planalto

Lula obedece ao marqueteiro e dá entrevista coletiva

Vera Magalhães
O Globo

Um Lula bem disposto, com fala escorreita, propositalmente simpático com os jornalistas e aparentando ter consciência de que precisa dar uma volta por cima em seu governo concedeu uma rara entrevista nesta quinta-feira. Prometeu que esses eventos serão mais frequentes, mas falta a ele ter o que mostrar em termos de realizações e a nós, da imprensa, fazer o dever de casa para aproveitar a oportunidade de estar diante do presidente da República para um questionamento mais incisivo, que reflita a complexidade do momento político, econômico e internacional.

A coletiva foi boa para Lula. Ponto para Sidônio Palmeira, que conseguiu, em duas semanas, convencer o petista a falar com a imprensa.

LEVE DEMAIS – Espertamente, demonstrando que ainda mantém um tanto da boa forma de uma raposa política que é, o presidente começou se desdobrando em gracinhas para os jornalistas e fazendo menção à sua recente cirurgia, e terminou agradecendo as perguntas e dizendo que os editores ficariam bravos. Foi, portanto, mais leve do que ele esperava –e do que o momento pedia.

Lula, foi, sim, questionado sobre os principais assuntos. Mas o modelo que não permite réplicas quando o presidente circula a pergunta impediu que ele fosse mais “apertado”.

Ainda assim, é positivo que a mudança na Secom traga logo nas primeiras semanas uma abertura maior para a exposição de Lula diante da imprensa. O modelo pode ser aperfeiçoado a cada oportunidade, inclusive com maior preparação prévia por parte de nós, da imprensa.

SEM ARGUMENTOS – O maior problema para o presidente é que o que ele tem para mostrar de positivo do terceiro mandato se restringe a 2023: do combate ao golpismo à baixa do preço da picanha, que ele mesmo reconheceu que subiu um ano depois, todas as vitórias, inclusive no Congresso, foram na largada do governo.

Mais: para além da disposição de Lula de dizer que vai dialogar e voltar a percorrer o país, nada sobressaiu como plano de voo para os dois últimos anos, que ele mesmo classificou como os mais importantes.

Só a defesa da democracia e uma espécie de uma ameaça velada de que, sem ele, o Brasil estará entregue à direira autoritária, mas isso não enche barriga nem garante popularidade a quem precisa dela e já fez bem mais nas ocasiões anteriores em que ocupou o Planalto.

FALTA DINHEIRO – A volta de Donald Trump ao poder, depois do Capitólio e com tudo que explicitou ao longo da campanha que pretendia fazer caso eleito, é um alerta para o quanto o eleitor pode relativizar a defesa da democracia quando sente — corretamente ou não — que algo lhe falta no bolso ou, de forma mais difusa, no ambiente social e cultural em que está inserido.

O ponto mais complicado da entrevista foi justamente no começo, quando Lula foi questionado sobre a decisão do Banco Central, na primeira reunião sob o comando de Gabriel Galípolo, ter aumentado a taxa básica de juros em 1 ponto percentual e, ainda assim, isso não ter ensejado críticas de sua parte como as feitas nos tempos de Roberto Campos Neto.

JUROS ALTOS – Lula poderia ter aproveitado para exercitar o que ele mesmo disse na entrevista que pretende fazer: reconhecer quando erra.

Neste caso, para dizer que demorou, mas compreendeu que a autoridade monetária é autônoma e que seu principal mandato é levar a inflação para a meta. Mas não: ele preferiu adotar uma postura paternalista e condescendente em relação a Galípolo, desnecessariamente dizer que “fala” coisas para seu indicado ao BC e que tem confiança de que no futuro a instituição vai baixar os juros.

Não ajuda a construir a credibilidade que, também de forma correta, reconheceu na coletiva de que precisa aumentar.

Trump cortou mais de US$ 1 milhão de organizações sociais no Brasil

Prefeituras: pagamentos de mensalidades para ong de prefeitos é questionada  | Vigilantes da Gestão

Charge do Adorno (Adorno@vetorial.net)

Jamil Chade
do UOL

O governo de Donald Trump cancelou mais de US$ 1 milhão em repasses para entidades da sociedade civil brasileira, impactando dezenas de programas no setor de equidade racial. Algumas organizações avaliam a necessidade de demissões.

Além disso, organizações que repassam fundos para ONGs no Brasil, como a USAID, vão parar de ceder fundos, abrindo a possibilidade de que entidades de direitos humanos no país sejam fechadas.

REAVALIAÇÃO – As decisões estão tendo como base a Ordem Executiva do governo Trump que, em seu primeiro dia de governo, anunciou a suspensão de repasses de ajuda internacional durante 90 dias. Nesse período, os programas seriam reavaliados.

As entidades que estão sofrendo cortes optaram por não divulgar os programas específicos que estão sendo afetados e nem seus nomes, temendo uma retaliação ainda mais drástica com a divulgação dos cortes.

O UOL apurou, porém, que muitas estão relacionadas com temas indígenas na região amazônica e Norte do país.

ÍNDIOS E QUILOMBOLAS – Uma das preocupações se refere ao corte de recursos a projetos que envolvem bolsistas indígenas e quilombolas jovens. Eles recebem esse dinheiro mensalmente e investem em suas comunidades.

A avaliação é de que os cortes podem afetar a preservação de saberes tradicionais, o empoderamento econômico destas comunidades e, assim, abrir espaço para o avanço do agronegócio.

No combate ao racismo, também foram afetados programas reiniciados com o Brasil no governo de Joe Biden em temas de educação, acesso à justiça, cultura e memória e saúde. O corte também afeta quilombolas na região Norte e Nordeste do país.

COP 30 – Segundo as entidades brasileiras, os repasses para a agenda climática estão sendo cancelados, impactando na participação da sociedade civil na COP 30, em Belém no final do ano.

Projetos ainda de defesa das mulheres, pessoas negras, juventude e população LGBTI+ foram alertados já de suspensão de pagamentos.

Projetos de fortalecimento das organizações da sociedade civil estão sendo cortados, impactando no fortalecimento da democracia. Projetos de liberdade e associação religiosa tampouco serão renovados pelo governo Trump.

SEM REPASSE – De acordo com as entidades, a ordem executiva impede que qualquer organização que recebia financiamento do Departamento de Estado norte-americano possa utilizar os recursos recebidos a partir do dia 24 de janeiro e, mais especificamente, que venha a receber qualquer dinheiro.

No caso brasileiro, grande parte do financiamento dessas organizações vem do exterior, e a participação da sociedade civil no fortalecimento da democracia tem previsão constitucional.

As entidades querem, agora, chamar a atenção para que o governo brasileiro se prepare para as consequências do enfraquecimento da participação da sociedade civil na construção da democracia. Para eles, esse corte ameaça os avanços promovidos por esses atores na pauta de direitos humanos.

###
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Todos sabem que o Brasil, especialmente a Amazônia, é o paraíso das ONGs e OSs fajutas, criadas para faturar recursos públicos e privados, nacionais e estrangeiros. Esse US$ 1 milhão não significa quase nada. Trump diz que será feita uma avaliação, que considero necessária e oportuna. Aliás, quem deveria fazer essa avaliação é o governo brasileiro, mas quem se interessa? (C.N.)

Lula deixou de ser o presidente para se tornar mais um meme na internet

O presidente Lula afirmou que há várias razões para o preço do alimento ter disparado, entre elas é a de que o povo está podendo comprar mais e os supermercados estão aumentando

Lula gravou mensagem na horta do Torto

J.R. Guzzo
Estadão

Lula, pela impressão que dá em quase tudo aquilo que faz hoje em dia, deixou de ser o presidente da República e passou a ser um meme. Essa parece ser a sua principal ocupação, após dois anos de governo: fornecer material para piadinhas e ditos espirituosos na internet. Não dá para ser diferente, vendo o jeito como ele se comporta em público.

Em sua última revelação, achou uma boa ideia (ou acharam por ele) aparecer num vídeo fantasiado de “campesino” para tentar convencer as pessoas de que é um governante que tem “o pé na roça” e, como tal, conhece melhor que ninguém o caminho para acabar com a alta nos preços dos alimentos.

PAPEL RIDÍCULO – Acabou, como sempre, fazendo apenas o papel de um homem ridículo. Nessa operação do seu novo serviço de propaganda, filmada no que descrevem como “a horta do Palácio”, com camisa, chapéu e óculos de urbanoide que acaba de sair do shopping, Lula disse basicamente o seguinte: vai fazer “reuniões” com “atacadistas” e resolver o problema.

E o que ele vai dizer nessas reuniões – uma coisa só que seja? Que propostas vai fazer? E, mais que tudo, porque não fez o raio das “reuniões” antes? É puro Lula, o “negociador”. Só faltou a abóbora.

É evidente que esse tipo de coisa só pode mesmo acabar em piada nas redes sociais. Não adianta, aí, a Advocacia-Geral da União, a PGR e o serviço de publicidade do governo no noticiário mandarem a Polícia Federal atrás de quem fez os memes que “atacam medidas públicas”.

MENOS LARANJA – O que se vai fazer com um governo em que o ministro da Casa Civil, depois de anunciar e logo “desanunciar” um “tabelamento” de preços da comida, diz que a população deve comprar menos laranja, que anda muito cara, para vencer a inflação?

O que o ministro sugere que o povo chupe no lugar da laranja? Ele poderia indicar alguma fruta mais barata? E se o governo fornecesse brioches para substituir as laranjas – será que não poderia ser uma solução, como as “reuniões” que Lula quer fazer?

O fato é que nem Lula e nem ninguém em todo o seu governo tem a mais remota ideia do que fazer a respeito da alta dos alimentos. Não sabem absolutamente nada, também, a respeito de como lidar com a inflação em geral, ou com o aumento no preço dos combustíveis, ou qualquer coisa.

SEM PROJETO – Lula, na verdade, nunca teve um plano para a economia brasileira. Só consegue tratar disso, ou de qualquer outro assunto, por uma ótica: “Eu vou ser mais esperto do que eles – e inventar uma pirueta aí para enganar de novo todos esses bocós de mola”.

Em fidelidade a essa estratégia, não anunciou quem seria o ministro da Economia até o dia da sua posse – assim ficava todo mundo pendurado nele. Passou dois anoS jogando a culpa de tudo em cima do presidente do Banco Central. Colocou na chefia do IBGE um fabricante de estatísticas que se tornou uma bomba à espera da explosão. “Política econômica”, para Lula, é isso.

O presidente nunca teve, sequer, a preocupação de formar um governo – só pensou, com a sua “equipe de transição” de 900 “especialistas”, em nomear gente para encher as vagas de marajá que criou no governo.

FÁBRICA DE MINISTROS – Inventou ministérios como nenhum outro chefe de governo da História do Brasil – ministério do índio, da mulher, dos negros, da criatividade, da reforma agrária e por aí vai. Somando todos os nomeados, mais os seus aspones, não se junta competência para cuidar de um único dogão.

O governo Lula não consegue aprender nada. Continua falando em “abrasileirar” o preço da gasolina; o consumidor logo vai ver, na bomba, se há bala para sustentar essa miragem.

Continua achando que quem causou a calamidade das mudanças do pix foram as “fake news”, não a medida estúpida que eles próprios tomaram. Continua com a ideia fixa de que a prioridade absoluta do Brasil é brigar com os Estados Unidos – e ganhar a briga com a ajuda da China, que vai largar tudo para ficar com Lula. É por aí.

Nova posse de Alcolumbre devia ser feita na Papuda ou na Usina de Lixo

Alcolumbre sonha (?) em continuar presidente do Senado, alterando a  Constituição - Flávio Chaves

Charge do Genildo (extrapauta.com.br)

Vicente Limongi Netto 

Festa pela eleição do roliço Davi Alcolumbre, como novo presidente do Senado Federal. A chamada Câmara Alta nunca esteve tão bem representada. O eclético e limpo Alcolumbre tem orgulho de servir a dois patrões, Lula e Bolsonaro. Tudo pelo diálogo democrático.

Resta saber onde será a cerimônia de posse de Alcolumbre – se na aprazível Papuda ou na Usina de Lixo de Brasília.

SUGESTÕES – O próprio Alcolumbre gostou muito das sugestões que recebeu do alto escalão do presidente que deixa o cargo, o macabro Rodrigo Pacheco. A dúvida é comovente.

Como Alcolumbre é bem recebido por onde anda, os moradores da Papuda podem sugerir que o falante senador desfrute de boa temporada por lá. Com toda mordomia. Até direito a pijama listrado. Sem faltar diversos celulares, para poder conversar com Lula e Bolsonaro sobre as escolhas dos novos membros da Mesa Diretora e futuros presidentes das comissões técnicas.

Auxiliares mais pragmáticos do senador pelo Amapá preferem que a memorável posse seja na Usina de Lixo. Ambiente igualmente aromático e modernoso, com bons fluidos, igual à confortável Papuda. Alcolumbre se sentiria em casa. 

Novos pedidos de impeachment são contra Moraes (seis) e Toffoli (um)

PGR recorre de decisão de Toffoli que coloca Moraes como assistente de  acusação

Moraes e Toffoli, os preferidos na lista de impeachment

Gustavo Zucchi
Metrópoles

Às vésperas de trocar seu presidente, o Senado registrou, em janeiro, sete novos pedidos de impeachment contra dois ministros do STF: Alexandre de Moraes e Dias Toffoli. Os pedidos, protocolados ao longo de 2024, só agora foram inseridos no sistema da Casa Legislativa. Ao todo, são seis pedidos de impeachment contra Moraes e um contra Toffoli.

Um dos pedidos foi protocolado em agosto de 2024 pelo deputado Bibo Nunes (PL-RS). Na peça, o parlamentar argumenta que Moraes agiu de forma irregular no caso em que alegou ter sido agredido em aeroporto de Roma.

POR CIDADÃOS – Os outros pedidos foram todos protocolados por cidadãos sem mandato. Os referentes a Moraes se concentram em polêmicas envolvendo o ministro, como a multa imposta ao PL por questionar as eleições de 2022.

Já o pedido contra Toffoli foi apresentado em novembro, protocolado por uma diretora comercial. A mulher alega que o ministro obstruiu de forma irregular, no STF, a votação de um agravo sobre intimação de cidadãos.

O pedido de Fiorelo Ruviaro contra Alexandre de Moraes alega que o ministro, então presidente do TSE, deu posse ao presidente Lula após as eleições de 2022 enquanto grande parte da população questionava o resultado eleitoral.

OUTRAS PETIÇÕES – Outro pedido, de Elena Yatiyo Tanaka, questiona a legalidade da multa aplicada por Moraes ao PL, após o partido colocar em dúvida o resultado das urnas.

As petições de Aurino Barbosa da Silva e Jovi Vieira Barboza também questionam a multa aplicada ao PL de R$ 22 milhões.

Resumo: Texto igual às petições 2 e 3/2025, questionando a multa aplicada ao PL por colocar em dúvida o resultado eleitoral em 2022.

TOFFOLI, TAMBÉM – Já o pedido de Sérgio Augusto Pereira de Borja elenca uma série de pedidos de impeachment já protocolados contra o ministro e alega crimes contra a liberdade de expressão apontados por relatório de comissão do Congresso dos EUA.

Por fim, Andréa Silva Santana Rocha aponta que o ministro Dias Toffoli estaria, como relator, obstruindo a votação em plenário de Agravo Interno em Mandado de Injunção sobre a criação de norma a ser utilizada no âmbito das autarquias federais.

###
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Essa norma constitucional sobre pedidos de impeachment de ministros do Supremo é do tipo vacina que não pegou. Os magistrados estão acima do bem e do mal, são considerados reis da cocada preta, digo, da toga preta. (C.N.)

Principal obra de Lula é a autodemolição de sua credibilidade

0

Não vai ser fácil para Lula recuperar sua credibilidade

30Dora Kramer
Folha

Pesquisas de opinião habitualmente trazem notícias boas e ruins quando se trata da avaliação de governos. A mais recente do instituto Quaest, no entanto, só carrega dissabores para a administração e para a pessoa de Luiz Inácio da Silva (PT).

A tendência de queda na visão positiva e o aumento da negativa vinha se desenhando há algum tempo com certo equilíbrio entre as duas correntes. Agora o levantamento mostra a ultrapassagem dos que desaprovam em relação aos que aprovam tanto as ações governamentais quanto as atitudes de Lula.

ERRO DO PIX – Uma curva perigosa, para lá de preocupante se aliada a outros recortes da pesquisa. Houve queda de apoio no grupo de eleitores mais fiéis —nordestinos, mulheres e os mais pobres—, a constatação majoritária de que o governo errou no episódio do Pix, percepção clara dos efeitos da inflação e a violência posta no topo das preocupações do público.

O cenário adverso não é surpresa para os ocupantes do Palácio do Planalto e cercanias da Esplanada. Os dados explicam o afã de Lula em promover uma virada de chave, um recomeço. O chamado segundo tempo do mandato, contudo, começou mal, com claras demonstrações de atordoamento. Nada melhor ocorre ao presidente que convocar “quantas reuniões forem necessárias” para baixar os preços dos alimentos.

MAIS ERROS – Um ministro (Rui Costa) comete o ato falho de falar em “intervenções”, outro (Fernando Haddad) apela à impropriedade de atribuir o exercício crítico da oposição a ataques ao Estado democrático. Enquanto isso, circulam versões afobadas sobre soluções adjetivas para problemas substantivos.

Ao suspender a venda da ilusão de que o país vai de bem a melhor e passar a apregoar mudanças, o governo reconhece a situação hostil. Acerta na problemática, mas erra na solucionática quando aposta todas as fichas na forma de se comunicar em detrimento do conteúdo a ser comunicado.

Alguma maquiagem pode até melhorar a popularidade de Lula, mas não há cosmético que dê jeito na difícil recuperação da credibilidade perdida numa obra de autodemolição.

O vento que lava tudo, até o vento, na poesia criativa de Carlos Nejar

Livro Crônicas de um Imortal ou Invento para não Chorar Carlos Nejar -  Livros de Ciências Humanas e Sociais - Magazine Luiza

Carlos Nejar, grande poeta gaúcho

Paulo Peres
Poemas & Canções

O crítico literário, tradutor, ficcionista e poeta gaúcho Luís Carlos Verzoni Nejar, membro da Academia Brasileira de Letras, viu o vento lavar as pedras, as noites e as águas no poema “Pedra-Vento’, inclusive, o vento lavou até o vento, mas ficaram as palavras.

PEDRA-VENTO
Carlos Nejar

O vento lavou as pedras,
mas ficaram as palavras.

O vento lavou as pedras
com sabor de madrugada.

O vento lavou as noites,
mas ficaram as estrelas.

O vento lavou a noite
com água límpida e mansa.
Mas não lavou a salsugem.

O vento lavou as águas,
mas não lavou a inocência
que amadurece nas águas.

O vento lavou o vento.

Quem ouve Trump pode até pensar que os Estados Unidos estão decadentes

Operação Brother Sam: o papel dos Estados Unidos no golpe de 64 - Issuu

Charge reproduzida do Arquivo Google

Mario Sabino
Metrópoles

Quem ouve Donald Trump dizer que, com ele, terá início uma nova Idade de Ouro dos Estados Unidos, é levado a pensar que o país experimenta a decadência. Que os Estados Unidos perderam a posição de maior potência mundial, sufocado por inimigos e aliados traiçoeiros que só exploram as divisões da sociedade americana.

Falso. A superioridade dos Estados Unidos é acachapante em todos os domínios, a Idade de Ouro prometida por Donald Trump começou faz tempo.

FATO OBJETIVOS – Michael Beckley, professor da Tuft University, compilou os dados na revista Foreign Affairs para escrever um artigo interessantíssimo sobre como as divisões no país explicam a sua grandeza. Tentarei voltar a ele nos próximos dias. Por ora, fiquemos nos fatos objetivos.

Os Estados Unidos são responsáveis, hoje, por 26% do Produto Interno Bruto (PIB) do mundo. Recuperaram a mesma porcentagem do início dos anos 1990, quando a União Soviética chegou ao fim, a China estava longe de ser uma super potência econômica e os americanos reinavam sem nenhuma sombra adversária.

á 15 anos, a economia dos Estados Unidos equivalia à economia da União Europeia. Hoje, tem o dobro do tamanho. Se você toma o Sul Global como referência, excluindo a China, ela é 30% maior do que a de todos os países emergentes da Ásia, América do Sul e África juntos.

ALTA IMIGRAÇÃO – Os dados sobre renda mostram por que os Estados Unidos atraem tantos imigrantes. Nos últimos 30 anos, os americanos mais pobres tiveram um aumento de renda de 74%, bem acima da média nacional de 55%.

De 2019 para cá, os salários dos operários do país aumentaram 10 vezes mais do que os das categorias mais bem pagas.

A dívida total dos Estados Unidos é um problema, não resta dúvida. A soma da dívida pública com a privada atinge 255% do PIB. Mas, na China, ela é de 300%, e os chineses não têm o dólar para financiá-la.

DÓLAR HEGEMÔMICO – O dólar, que representa 60% das reservas monetárias de todos os países do mundo, como era há 30 anos, realiza 90% das transações comerciais e 70% das operações financeiras.

Há quase 50 anos, os Estados Unidos eram os maiores importadores de energia do planeta. Hoje, são autossuficientes. Produzem mais petróleo e gás do que a Arábia Saudita e a Rússia.

Na tecnologia, a capacidade americana não tem paralelo. Metade do lucro mundial do setor é gerada por empresas tecnológicas dos Estados Unidos. As chinesas respondem por 6%.

Uma notícia boa! Arrecadação federal chega a R$ 2,65 trilhões em 2024

A alta representa 9,62% em relação ao mesmo período em 2023

Pedro do Coutto

O governo tem motivos para se alegrar com o resultado da arrecadação no exercício de 2024 que fechou o ano em R$ 2,709 trilhões, conforme informou nesta semana a Receita Federal. É o maior valor registrado na série histórica, iniciada em 1995. Descontada a inflação, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o arrecadado ficou em R$ 2,653 trilhões, o que representa um crescimento real de 9,6% em 2024, na comparação com o ano anterior.

Segundo a Receita, o aumento decorreu principalmente da expansão da atividade econômica que afetou positivamente a arrecadação e da melhora no recolhimento do PIS/Cofins em razão do retorno da tributação incidente sobre os combustíveis, entre outros fatores. Em entrevista coletiva para apresentar os dados, o secretário especial da Receita Federal, Robinson Barreirinhas, destacou o aumento na atividade econômica entre os fatores para o resultado.

RESULTADOS IMPORTANTES – “Os grandes números refletem os resultados importantes da política econômica nos últimos anos, da reativação da economia que vimos no ano passado e que resulta nesse resultado espetacular. Tivemos a reativação de setores inteiros da economia que, com esse aquecimento, voltaram a recolher valores relevantes de tributos. A mínima histórica do desemprego no Brasil, o grande aumento da massa salarial, que têm papel importantíssimo na arrecadação de 2024”, disse o secretário.

Também contribuíram para a arrecadação recorde o crescimento da arrecadação do Imposto de Renda sobre a tributação de fundos e o desempenho do Imposto de Importação e do IPI vinculado à importação, em razão do aumento das alíquotas médias desses tributos. No ano passado, os principais indicadores apontaram para um bom desempenho macroeconômico do setor produtivo. A produção industrial cresceu 3,22%; a venda de bens, 3,97%; e a venda de serviços, 2,9%. O valor em dólar das importações teve resultado positivo de 8,65% e o crescimento da massa salarial ficou em 11,78%.

PREOCUPAÇÃO – Por outro lado, o governo agora está preocupado com o pedido de Márcio Pochmann para deixar a Presidência do IBGE. Atrás da saída de Pochmann há um rastro de problema em torno da inflação. Existe a impressão de que a questão se reveste de algum problema relacionado à verdade sobre. Não se acha outro fator além deste para que repentinamente um técnico que preside o Instituto deixe o seu posto em um momento em que o superávit das contas públicas se afirma. Portanto, deve ser um motivo de insatisfação para o governo, não tendo cabimento a saída.

Mas a política é cheia de imprevistos e de arestas que surgem em todos os momentos. A saída de Pochmann foi anunciada pelo jornalista Elio Gaspari em seu artigo de ontem publicado no O Globo e na Folha de S. Paulo. Além disso, é um sinal de alarme no convés do governo que terá que resolver o problema de forma concreta e sem tentar fugir da realidade e iludir a opinião pública.

Claro que com a inflação uns perdem e outros ganham. Agora, por exemplo, o dólar baixou. Mas, não é garantia de que ele não suba novamente. Afinal de contas, se todos perdessem com as oscilações do câmbio, essas alterações já teriam acabado. Como não, é porque interessa a alguns setores da economia.

Governo tem mais poder que a oposição, mas não sabe o que fazer… 

Sidônio vai se virar para reverter queda de popularidade

Dora Kramer
Folha

Posse de chefe da comunicação oficial com a presença do presidente da República e o ministério em peso não é algo habitual, muito menos trivial. Muitos ministros não tiveram a mesma deferência ao assumir seus cargos.

Claríssimo o recado de Lula na sinalização de que Sidônio Palmeira está autorizado a dar as cartas à equipe toda. Foi só um detalhe, mas não fugiu às imagens da cerimônia o semblante sisudo da normalmente sorridente Janja da Silva.

EFEITO PIX – O tamanho da importância foi logo abalroado pela enormidade da derrota do governo na área, logo na largada com a trapalhada do Pix.

O cancelamento da normativa da Receita Federal sobre o monitoramento da ferramenta nas transações acima de R$ 5.000 piorou a coisa do ponto de vista político, mas não havia outro jeito a não ser estancar a sangria da qual o governo viu-se vítima de si próprio. Reconheceu a incapacidade de reagir.

No discurso de posse, Sidônio Palmeira apontou como o principal entrave à falta do devido reconhecimento das boas ações do governo por parte da população: as mentiras difundidas pela “extrema direita” nas redes sociais.

CORTINA DE FUMAÇA – Segundo ele, esse pessoal manipula os fatos, cria uma “cortina de fumaça” que impede a correta e real percepção das eficientes ações governamentais.

Sidônio Palmeira se propõe a dissipar essa névoa e alerta que a tarefa deve ser compartilhada por toda a Esplanada no entendimento das novas demandas da sociedade.

Espera aí, mas a culpa não era dos radicais, não está tudo bem, bastando que se combata a desinformação para ficar melhor? Não parece que seja bem assim.

HÁ ALGO MAIS – Nas entrelinhas, nas quais citou de raspão a necessidade de se aliar política e gestão eficientes, o novo ministro passou a mensagem de que há algo mais a ser vencido além da batalha da comunicação.

É verdade, como ele disse para exemplificar, que os pais “precisam saber que há vacina no posto para seus filhos”. Ocorre, porém, que ficam sabendo também do aumento de 400% nos casos de dengue e da confusa atuação da Saúde na epidemia.

Pais e filhos tampouco percebem, porque não há uma disposição de enfrentar o tema da segurança pública à altura da ameaça do crime organizado à soberania nacional. Não foge, no entanto, à percepção das famílias a alta da inflação dos alimentos.

CRISE DE CONFIANÇA – O governo dá pouca atenção a isso ao não reconhecer sua participação na crise de confiança no equilíbrio das contas e põe peso maior em secas e enchentes. Maquiagem da verdade é grave na oposição, mas não rende grandes danos.

Quando parte de governos o bem solapado é a credibilidade que bate direto na popularidade. É este o fator que desconcerta o Palácio do Planalto e o faz despertar com atraso de dois anos para o fato de estar perdendo no debate público. As pesquisas de opinião dizem isso.

Levantamentos de sete institutos —Datafolha, Poder Data, Ipec, Quaest, CNT/MDA, Paraná e Atlas/Intel— mostram contínua perda de aprovação e constante aumento de desaprovação do governo e do desempenho do presidente Lula, das primeiras às mais recentes consultas.

REVERTER ISSO – Da inversão dessa curva depende o sucesso do PT em 2026. E não se trata só da disputa pela Presidência, com reeleição ou não. Há as eleições de governadores, senadores e deputados. Tarefa difícil à luz do desempenho da esquerda em 2024.

Já que atribui o panorama adverso às invencionices de internet, Lula poderia ter-se dado conta antes, pois não são exatamente uma novidade.

Além disso, o governo detém maior poder e mais instrumentos e visibilidade frente à oposição para emplacar a chamada narrativa que por ora não tem soado convincente.

Sinto vergonha alheia ao ouvir que Donald Trump seria o demônio

A charge faz referência à posse do presidente nos Estados Unidos

Charge de Peter Brookes (Arquivo Google)

Luiz Felipe Pondé
Folha

Assistir à reação infantil de grande parte da inteligência pública à vitória e posse de Donald Trump é uma humilhação. Sinto vergonha alheia. Trump é o grande demônio. Trump é a reencarnação de Darth Vader. Elon Musk é neonazista. Vivemos o apocalipse. Oh, céus, oh, azar! Parecem personagens de antigos desenhos animados que amaldiçoavam o mundo por terem perdido uma corrida para um coelho com pernas longas.

O que teria acontecido para essa classe intelectual ter virado café com leite? Professores ruins e gurus? Má alimentação na primeira infância? Apanhou muito dos pais? Ou foi mimada demais em casa e na escola? Depois de virar adulta, continuou a acreditar em bicho papão?

SENSO COMUM – Não ocorreu a nenhum desses intelectuais se perguntar, por exemplo, o que Trump quis dizer no seu discurso, cheio de hipérboles e blábláblá como todo discurso de político, com “revolução do senso comum”?

Não ocorreu a nenhum desses gênios do bem se perguntar, afinal de contas, qual a razão de a maioria dos americanos ter dado a vitória a ele e ao seu partido? Um conjunto de razões, sem dúvida, entre elas, os costumes, estúpido! Ou seriam todos membros do lado sombrio da força?

Estariam de saco cheio do Partido Democrata que se transformou numa agremiação de riquinhos das elites letradas americanas e, por isso mesmo, alienado da realidade do senso comum para quem só existe homem e mulher no mundo e bandido bom é bandido na cadeia?

ESTRAGO CULTURAL – Para a maioria, o mundo sempre foi um palco em que a contingência assola todos a cada dia e não tem tempo para os delírios que, infelizmente, destruíram a inteligência acadêmica americana que vive no seu chiqueirinho?

Como disse um comediante americano recentemente, o Partido Republicano, depois do estrago cultural causado pela agremiação citada aqui, acabaria por ter de decidir que nos Estados Unidos um mais um são dois, e não 2,5 ou 1,5, na dependência da raça ou gênero de quem fizesse a conta.

Nem mesmo a matemática está a salvo depois da devastação que essa cultura da esquerda Nutella tem causado no mundo das ciências humanas.

IDEIAS ABSURDAS – Na teologia, uma hora dessas dirão que Cristo era gênero fluído e Madalena uma mulher trans. Como você pensa que o senso comum cristão reagiria a uma “teologia progressista” como essa? Você não precisa ser supremacista, fascista, nazista ou comedor de criancinhas —no sentido antigo da expressão— para achar uma ideia dessa um abuso.

Para quem quer entender o que se passa no mundo hoje, em vez de ficar nesse “mimimi” de fascismo, neonazismo, Darth Vader, o retorno, como crianças mimadas que não ganharam do Papai Noel o “presidente do mundo” que queriam, o primeiro passo é prestar atenção nessa aparente revolta do senso comum. Isso pode ser um caminho.

Se aqui no Brasil a esquerda abusar demais dessas bobagens que transformaram as ciências humanas num lixo, uma revolta como essa poderá ocorrer.

CULTURA HERDADA – O que a esquerda americana quer fazer é criar um “novo” senso comum. O problema é que o senso comum não é algo que a engenharia social, paradigma da esquerda, consegue fazer acontecer. Valeria a pena estudar mais, talvez.

O filólogo irlandês E. R. Dodds (1893-1979), especialista na religião grega antiga, fazia uso de um conceito que fora cunhado por seu professor Gilbert Murray (1866-1957), também especialista em língua e história da religião grega antiga, que se chama “conglomerado cultural herdado”.

O senso comum é parte desse conglomerado herdado. O processo de constituição de um fenômeno histórico dessa monta se dá ao longo de muito tempo. Nada linear, planejado, ou racional, um conglomerado herdado se constitui a partir de fontes e experiências psicológicas, sociais, políticas, econômicas ou religiosas acumuladas, que comportam, inclusive, componentes no seu corpus que entram em frontal contradição uns com os outros.

NÃO EXISTE MODELO – Isso significa que não há “modelo” de engenharia social que “compreenda” a totalidade interna ao conglomerado. Formam-se camadas que se superpõem ao longo dos séculos, desenhando um relevo que não responde a projeto específico nenhum.

A aposta da esquerda tem sido usar os meios de comunicação e a educação para destruir esse senso comum e criar o seu que todos, “democraticamente”, deverão aplaudir. A modernidade é uma “tentativa” de ruptura radical, que, aliás, não vai nada bem como projeto iluminista —eurocêntrico?— diante de um tempo geológico que lhe escapa.

Não há critério objetivo de bem e mal num conglomerado herdado —nem no senso comum, parte do conglomerado. Aliás, é ele quem cria a sensação ilusória de que exista uma moral no mundo.

Confiança e legitimidade são as verdadeiras crises do governo Lula

Janja reclama que está incomodada, mas quando Lula vai ouvi-la? | Blogs |  CNN Brasil

Janja explica a Lula que assim não dá mais para levar

Carlos Andreazza
Estadão

O governo Lula recuou – decisão nada técnica – porque sem meios de lidar com uma crise que, para muito além dos problemas de comunicação, tem fundamento na desconfiança. Porção gigantesca da sociedade não acredita no governo, sobretudo quando a matéria sugere-projeta o tema impostos. É uma crise de confiança.

Isso tem origem – carregando a memória popular – no episódio “taxa das blusinhas”. Mudou-se a tributação para importações miúdas. Em vez de se explicar as razões tributárias da mudança e justificar suas implicações no bolso das gentes, botou-se o bloco oficial na rua para defender que o consumidor não pagaria mais pelos produtos. O consumidor passou a pagar mais pelos produtos.

TOMAR DINHEIRO – Crise também de identidade. Lula não conhece mais as pessoas; não lhes consegue tomar o pulso. E as pessoas, cujos interesses o presidente desconhece, estão convictas de que o governo se move para lhes tomar o dinheiro.

As pessoas não estão erradas. Sabem que o Pix não será taxado. (Ainda.) Sabem que a CPMF (ainda) não voltou. Não estão sendo enganadas pela exploração política – legítima – do caso pela oposição. (Ainda não é crime.)

Entenderam que se trataria de acirramento de controle sobre suas movimentações financeiras e – subsidiadas pela história – estão convencidas de que esse monitoramento resultaria na imposição de imposto de renda sobre a economia informal.

É A INTENÇÃO – As pessoas estão certas. Essa é a intenção, que o governo sonega. O governo não derrubou a instrução normativa da Receita Federal porque distorcida-minada pela indústria fascista das fake news.

Derrubou a norma porque sentiu o peso da impopularidade encarnada na certeza popular de que o cerco expandido do Fisco – que parece ter metas – jogaria imposto no lombo do trabalhador que vende almoço para poder jantar, esse sonegador.

A certeza popular está certa. O governo que reage acusando mentiras recuou porque é ele – o governo – o entendido como enganador.

SEM LEGITIMIDADE – É uma crise de legitimidade. Rejeita-se a natureza do governo Lula. Questão estrutural. Rejeita-se o esquema materializado no arcabouço (natimorto) fiscal.

O governo – que se jacta de sucessivos recordes de arrecadação – é percebido como catador voraz de moedas, raspador de qualquer resto de dinheiro esquecido. Gasta muito e mal. Endivida-se. Não consegue equilibrar as contas. Donde se lança com tudo para cavar receitas. Também – e especialmente – sobre os mais pobres. Governo injusto.

A sociedade despreza essa estratégia covarde. A do governo que, incapaz de se articular e fazer carga para cortar a farra de benefícios fiscais aos ricaços, aponta o seu apetite sobre o ganho curto do ferrado.

BC de Galípolo esquece Lula e eleva os juros a 13,25% ao ano

Juros

Charge do J.Bosco (O Liberal)

Nathalia Garcia
Folha

O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central cumpriu o plano traçado em dezembro e elevou nesta quarta-feira (29) a taxa básica de juros (Selic) em um ponto percentual, de 12,25% para 13,25% ao ano. Essa foi a primeira reunião sob o comando de Gabriel Galípolo – nome de confiança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A decisão foi unânime entre todos os membros do colegiado.

No comunicado, o comitê reafirmou a sinalização de que pretende fazer mais uma alta da mesma intensidade na próxima reunião, em março, citando a “continuidade do cenário adverso para a convergência da inflação”. No entanto, evitou se comprometer com qualquer ritmo de ajuste em maio.

POLÍTICA DE CONTRAÇÃO

O Copom também voltou a defender a necessidade de uma política de juros mais contracionista, ou seja, uma atuação que ajude a frear a força da atividade econômica de forma a controlar o avanço da inflação.

Entre os fatores, citou a piora adicional das expectativas de inflação, a elevação de suas próprias projeções, a força da atividade econômica e as pressões inflacionárias vindas do mercado de trabalho.

A decisão veio em linha com a expectativa consensual do mercado financeiro. Levantamento feito pela Bloomberg mostrou que a elevação da Selic em um ponto percentual era a projeção unânime entre 33 economistas consultados.

ALTAS SEGUIDAS – A Selic está agora no mesmo patamar observado entre agosto e setembro de 2023. Mas, na época, a taxa básica seguia em trajetória de queda. Após quatro altas consecutivas, os juros já acumulam elevação de 2,75 pontos percentuais.

O atual ciclo de alta de juros teve início em setembro do ano passado, na reta final da gestão de Roberto Campos Neto no BC. No ponto de partida, a taxa básica estava em 10,5% ao ano. A primeira elevação foi gradual, de 0,25 ponto percentual. No encontro de novembro, o comitê acelerou o passo pela primeira vez, com um aumento de 0,5 ponto.

O Copom, então, optou por um movimento mais agressivo em dezembro e deu um choque de juros. Além de subir a Selic em um ponto percentual, prometeu mais duas altas da mesma intensidade nas reuniões seguintes, em janeiro e março. Agora, concretizou a primeira parte da estratégia.

PIORA ADICIONAL – O choque de juros reflete um cenário de piora adicional das expectativas de inflação. O risco fiscal seguiu no radar dos economistas e a incerteza no cenário externo, com a volta de Donald Trump ao poder nos Estados Unidos, deixou o câmbio volátil.

Sobre a questão fiscal, o colegiado do BC foi um pouco mais breve do que no comunicado da reunião anterior. Dessa vez, repetiu que segue acompanhando “com atenção” os impactos sobre a política monetária e os ativos financeiros.

“A percepção dos agentes econômicos sobre o regime fiscal e a sustentabilidade da dívida segue impactando, de forma relevante, os preços de ativos e as expectativas dos agentes”, disse.

###
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Vivemos em clima de irresponsabilidade total. O presidente não se incomoda com o fato de o Brasil ser o país que mais paga dívida pública. É também o que cobra os mais elevados juros nos cartões de crédito e que paga os mais altos juros reais, descontada a inflação. Tem alguma coisa estranha nisso. Ah, Carlos Lessa, que falta você nos faz… E ninguém comenta esse desvio na conduta da economia. É como se não existissem economistas no país. (C.N.)

“Lula hoje perderia reeleição e Haddad é muito fraco”, avalia Kassab

Kassab afirma que Lula perderia se eleição fosse hoje, e chama Haddad de  'fraco' - Portal 98 FM Natal

Kassab elogia Tarcísio, que não disputará a Presidência

Gustavo Uribe
da CNN

O presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, disse nesta quarta-feira (29) que vê o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, com dificuldades de se “impor no governo”. Segundo ele, ter um ministro “fraco” no comando da equipe econômica é um indicativo negativo para o governo.

“Hoje, o que a gente vê é uma dificuldade do ministro Haddad de comandar. Ele prioriza convicções, projetos, que não acabam se tornando realidade porque ele não consegue se impor no governo. Um ministro da Fazenda fraco sempre é um péssimo indicativo”, disse em evento com investidores em São Paulo.

MINISTROS FORTES – Na conversa, Kassab mencionou ministros anteriores, como Antonio Palocci, Henrique Meirelles e Paulo Guedes. “Eu acredito no sucesso da economia quando você tem ministros da economia fortes”, declarou.

A CNN procurou a assessoria de Haddad sobre as declarações de Kassab e aguarda resposta.

No evento, Kassab foi questionado sobre as perspectivas para as eleições presidenciais de 2026. Segundo ele, a possibilidade de reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) “hoje não é fácil”. Apesar disso, não descartou uma “reviravolta” que fortaleça o chefe do Executivo até a campanha eleitoral.

REVIRAVOLTA – “O Lula, como eu disse, acho que se fosse hoje perderia a eleição, mas sempre é um candidato forte. Tem muita experiência, pode haver uma reviravolta no seu governo”, afirmou.

Kassab mencionou a última pesquisa Genial/Quaest, que mostrou queda na popularidade do governo petista. De acordo com ele, o fato de o apoio ao PT ter caído no Nordeste – tradicionalmente um reduto petista – é um “indicativo muito grande de que o PT, se fosse hoje, entraria na campanha, não na condição de favorito, [mas] na condição de derrotado”.

Segundo Kassab, para vencer as eleições, um candidato à Presidência precisará necessariamente do apoio de partidos de centro. “

APOIO DO CENTRO – Eu acho muito difícil ganhar a eleição de presidente quem não tiver com o centro. Seja um candidato de esquerda, seja de direita ou do próprio centro”, disse.

Atual secretário de Governo e Relações Institucionais do estado de São Paulo, Kassab afirmou que o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) seria o nome mais forte da oposição para a disputa à Presidência.

Ele indicou, no entanto, que Tarcísio não deve se candidatar para presidente e ainda prefere buscar a reeleição ao governo do estado.

###
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG –
Por sua extraordinária esperteza política, Kassab e tornou uma espécie de Oráculo de Delfos nos tempos modernos. Criou um partido para chamar de seu e está sempre no poder. Não apoia nenhum candidato na campanha, fica estrategicamente em cima do muro, e depois participa do governo apoiando quem ganha a eleição. É um velho malandro de cabelos pintados que analisa contextos como ninguém. Por isso, o PSD é o partido que mais cresce no país. (C.N.)

Simone Tebet intervém no IBGE, suspende fundação e humilha Pochmann

Simone Tebet afirma que gastos sociais não são problema no orçamento |  Radioagência Nacional

Simone Tebet colocou Pochmann em seu devido lugar

Fernanda Trisotto e Daniela Amorim
(Broadcast)

O Ministério do Planejamento e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgaram nesta quarta-feira, 29, nota conjunta em que decidem, “em comum acordo”, suspender temporariamente a iniciativa da fundação privada IBGE+. O IBGE tem autonomia administrativa, mas é subordinado ao Planejamento, por isso receberá apoio, via lei orçamentária, para a formulação do Censo Agropecuário, Florestal e Aquícola.

Como o Estadão/Broadcast vem mostrando, há meses o IBGE vive uma crise interna provocada por inúmeras razões, incluindo a criação da fundação de direito privado IBGE+.

MANIFESTAÇÃO – Contra o que apelidaram de “IBGE paralelo” e o “autoritarismo” de seu criador, Marcio Pochmann, servidores do órgão realizaram uma manifestação na manhã desta quarta-feira, 29, em frente à sede do instituto, na região central do Rio de Janeiro (saiba mais abaixo).

A suspensão foi anunciada poucas horas depois de Pochmann ter dado entrevista defendendo a criação da fundação como fonte para financiar as pesquisas.

Na nota conjunta, o Ministério do Planejamento e o IBGE informam que resolveram “em comum acordo, suspender temporariamente a iniciativa da Fundação de Apoio à Inovação Científica e Tecnológica do IBGE (IBGE+), proposta apoiada pelo MPO, para o desenvolvimento institucional e a ampliação das fontes de recursos para o IBGE”, diz o texto.

MODELOS ALTERNATIVOS – Os órgãos afirmam que, diante desse desafio, estão sendo mapeados modelos alternativos que podem implicar em alterações legislativas, “o que requererá um diálogo franco e aberto com o Congresso Nacional”.

O Planejamento e IBGE esclareceram ainda que “qualquer decisão que oportunamente for tomada seguirá o debate no IBGE e com o Executivo e o Legislativo”.

Sobre o aperfeiçoamento institucional, a nota ressalta que o IBGE foi reconhecido como Instituição de Ciência e Tecnologia (ICT). Por isso, vai elaborar sua Política de Inovação, conforme determinação da Lei de Inovação para ICTs, com a instituição de um comitê próprio, composto por servidores de todas as diretorias e membros das superintendências.

###
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Em tradução simultânea, Pochmann foi desautorizado pela ministra Simone Tebet, que não participou da nomeação dele. Agora, tornou-se um presidente “pro tempore” – ou seja, por algum tempo, que não manda mais nada e precisa se demitir o mais rápido possível, cada ainda tenha alguma dignidade, ou vergonha na cara, como dizia o historiador Capistrano de Abreu. (C.N.)

Trump cria aliança ultraconservadora em ofensiva global contra aborto  

Trump oferece indenizações para que funcionários federais resistentes ao  trabalho presencial deixem serviço público nos EUA

Trump se mete em coisas demais, tudo ao mesmo tempo

Jamil Chade
do UOL

O governo de Donald Trump fará uma ofensiva diplomática para tentar impor políticas contrárias ao aborto em agências da ONU e outros organismos internacionais. Para isso, os EUA anunciam que vão retomar uma aliança ultraconservadora que tem como objetivo impedir qualquer avanço nas pautas de direitos sexuais e reprodutivos no âmbito mundial.

A aliança havia sido originalmente criada por Trump em 2020 e ficou conhecida como Consenso de Genebra. A derrota do republicano nas urnas, naquele momento, transferiu para o governo de Jair Bolsonaro a missão de liderar o processo, que passou a contar com cerca de 30 países.

NOVA REALIDADE – Mas a ausência americana e, depois, a derrota de Bolsonaro nas urnas, mudou a história do grupo. Joe Biden anunciou a ruptura com a aliança e Luiz Inácio Lula da Silva também seguiu no mesmo caminho.

O bloco passou a ser liderado pela Hungria, também governada pela extrema direita. Governos conhecidos por leis discriminatórias contra mulheres —como a Arábia Saudita e Bahrein— também faziam parte do bloco. Mas a aliança perdeu força e relevância no debate internacional.

Agora, numa carta obtida pelo UOL, a diplomacia americana informou às missões de governos na ONU que estava retomando sua adesão à aliança. Segundo o documento, o governo Trump quer “promover a saúde da mulher e as necessidades de mulheres, crianças e suas famílias em todos os estágios da vida”.

VAI MUDAR TUDO – A expectativa de diplomatas é de que, em resoluções e políticas criadas pela ONU e outros órgãos, o governo Trump pressionará por vetos ou mudanças substanciais no texto.

Trata-se da primeira medida concreta do governo americano na retomada de sua ofensiva contra o aborto. Documentos da ONU que lidem com esses temas serão rejeitados pelos EUA e recursos serão congelados para agências que promovam direitos reprodutivos.

No Brasil, a aliança havia sido uma das principais bandeiras do ministério liderado por Damares Alves e Ângela Gandra.

Governo não percebe a nova crise de credibilidade que vem do IBGE

Da colonização portuguesa ao contexto neoliberal atual - Jornal da Unicamp

Pochmann quer usar as estatísticas para favorecer Lula

Sergio Denicoli
Estadão

Há uma crise pronta e embalada para explodir nas redes sociais, arrancando mais um pedaço da credibilidade do governo, que anda em baixa. É a crise IBGE. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, que sempre foi uma espécie de guardião dos números que moldam o Brasil, está no meio de uma tempestade política, que se tornou evidente ainda no ano passado, quando foi anunciada a criação da Fundação IBGE+, pelo presidente do órgão, Márcio Pochmann.

A fundação tem como objetivo captar recursos da iniciativa privada para apoiar as atividades do Instituto. No entanto, essa iniciativa gerou preocupações entre servidores, que temem que o financiamento privado possa comprometer a autonomia e a credibilidade da instituição.

IBGE PARALELO – Eles, inclusive, passaram a chamar a fundação de IBGE paralelo e acusar o presidente de tomar medidas autoritárias, que poderiam comprometer o instituto.

Pochmann chegou a ser alvo de uma carta aberta dos servidores do IBGE, que expressaram preocupações com a falta de planejamento e diálogo, mediante medidas que consideram autoritárias.

Houve ainda pedidos de demissões de diretores, insatisfeitos com a forma de gestão do presidente. Essa situação tem sido explorada pela oposição, que não perdeu tempo em usar o episódio para buscar corroer, mais uma vez, a credibilidade do governo.

IPCA EM QUESTÃO – A narrativa mais recente das redes tem colocado em questão os dados do IPCA – o principal indicador de inflação no Brasil, que monitora o aumento ou a queda do custo de vida no País.

Como a inflação dos alimentos tem se tornado uma pedra no caminho do governo que vislumbra permanecer no poder, os dados do IBGE passaram a ser alvo de ampla contestação.

Os números que compõem a prévia da inflação e formulam o IPCA-15 foram anunciados nesta sexta-feira, mostrando uma desaceleração da alta de preços. Algo que já está envolvido em dúvidas e questionamentos, diante da percepção nítida nas redes de que os produtos alimentícios subiram muito mais do que o divulgado oficialmente.

CPI DO IBGE – Nas redes sociais, há perfis que já pedem, inclusive, a instauração de uma CPI do IBGE no Congresso Nacional.

Enquanto isso, seguindo o mesmo modelo que vigorou durante a recente crise do Pix, o governo segue inerte, esperando talvez um novo vídeo da oposição para tomar uma atitude, depois que a crise escalar.

A inércia, na política feita na era das redes, custa muito caro e causa danos que podem ser irreversíveis. Se o governo perder de vez a capacidade de dar esperança às pessoas, pode começar a se preparar para passar o bastão para seus opositores.

E Carlos Drummond de Andrade um dia descobriu que Deus é triste…

HIPÓTESE E se Deus é canhoto e criou... Carlos Drummond de Andrade - PensadorPaulo Peres
Poemas & Canções

O bacharel em Farmácia, funcionário público, escritor e poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), um dos mestres da poesia brasileira, no poema “Deus é Triste” expõe sua visão sobre a tristeza divina diante da realidade da vida na terra, com tanta desigualdade e miséria.

DEUS É TRISTE
Carlos Drummond de Andrade

Domingo descobri que Deus é triste
pela semana afora e além do tempo.

A solidão de Deus é incomparável.
Deus não está diante de Deus.
Está sempre em si mesmo e cobre tudo
tristinfinitamente.

A tristeza de Deus é como Deus: eterna.

Deus criou triste.
Outra fonte não tem a tristeza do homem.

Pochmann devia pedir logo para sair e deixar o IBGE em paz

homem branco de cabelo preto, camisa branca e paletó, segura os óculos com expressão compenetrada

Pochmann não tem a menor condição de ficar no IBGE

Elio Gaspari
O Globo

Com a credibilidade de Lula em baixa, o melhor que o economista Marcio Pochmann tem a fazer é sair da presidência do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Ele é um antigo quadro do PT e, em menos de dois anos, envenenou sua gestão com a proposta de criação de um IBGE +. Em tese, a novidade abriria uma janela para que o instituto firmasse parcerias com empresas privadas.

Quando interesses privados se misturam com a academia, coisas horríveis podem acontecer. Professores de Harvard e da London School of Economics meteram-se com o falecido ditador líbio Muammar Gaddafi. No Brasil, um braço da Fundação Getulio Vargas meteu-se com o então governador Sérgio Cabral.

IBGE PARALELO – Servidores e diretores do projeto de Pochmann batizaram-no de “IBGE Paralelo”. Ironia da vida: em 2007, quando o doutor presidiu o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada era acusado de cumprir a tarefa de “estatizar” o Ipea. (Em 2010, o instituto abriu um escritório na Caracas de Hugo Chávez.) Agora, acusam-no de querer privatizar o IBGE.

O estatuto da Fundação IBGE + tem trechos idênticos ao da malfadada similar da saúde do Rio. Até aí pode ter sido preguiça, mas prever que certas matérias exigiriam a aprovação de dois terços de um Conselho Curador de cinco membros foi uma demasia para um texto do IBGE. Dois terços de cinco dão 3,333.

Nas últimas semanas, duas diretoras do instituto pediram demissão, e 134 servidores (125 dos quais em cargos de chefia) assinaram uma carta condenando o IBGE + e o estilo de chefia de Pochmann. Na semana passada, demitiu-se o diretor-executivo da Fundação IBGE +.

ESTILO POCHMANN – É por causa do estilo que Pochmann deve pedir para sair. Ele assumiu em julho de 2023, e seu projeto de um IBGE + foi criticado em setembro de 2024. Em novembro, Pochmann pediu ao Ministério Público que apurasse supostas irregularidades e conflito de interesses de funcionários do órgão.

Seriam serviços privados de consultoria prestados a uma instituição parceira do instituto. Só Deus conhece os labirintos das consultorias, mas chamar o Ministério Público para investigar dois meses depois das críticas cheira a revide.

Pochmann é uma flor do jardim da Unicamp e um petista raiz. Disputou duas vezes a Prefeitura de Campinas e tentou se eleger deputado.

GOSTA DE DISSENSO – Quando sua gestão no Ipea gerou chuvas e trovoadas, ele se defendeu: “Tenho mais de duas décadas de atividade acadêmica. Sou polemista, gosto da polêmica”. “Não estou lá [no Ipea] para organizar o consenso, mas para organizar o dissenso.”

Desde que começou a crise no IBGE, a presidência do instituto fala por meio de notas, sempre altaneiras. Numa delas, acusou os críticos de moverem “uma campanha de desinformação”. Desinformação foi o doutor que estimulou, em outubro de 2020, ao dizer que o Pix do Banco Central era “mais um passo na via neocolonial”.

Pochmann parece ter perdido gosto pela polêmica e, se em algum momento quis organizar o dissenso, só conseguiu ampliá-lo.

Desaprovação de Lula supera aprovação e assusta o Planalto

Levantamento já capta efeitos da ‘crise do Pix’

Pedro do Coutto

A pesquisa do Instituto Quaest vem acender o sinal de alarme para o presidente Lula da Silva, pois pela primeira vez o índice dos que desaprovam o governo, 49%, é maior dos que aprovam, 47%. É a primeira vez na série histórica do levantamento que a avaliação negativa supera a opinião positiva. As porcentagens se encontram dentro da margem de erro, de um ponto percentual. O levantamento foi encomendado pela Genial Investimentos e entrevistou 4,5 mil pessoas presencialmente.

Na última pesquisa Genial/Quaest, realizada em dezembro do ano passado, a aprovação do trabalho de Lula estava em 52%, e a desaprovação, em 47%. Ou seja, enquanto a desaprovação subiu dois pontos, a aprovação do governo caiu cinco pontos. Em ambos os casos, os movimentos foram acima da margem de erro da pesquisa. O intervalo de confiança do levantamento é de 95%.

BOA INTENÇÃO – Apesar disso, o percentual dos eleitores que acredita que Lula é bem intencionado ainda supera o daqueles que acreditam que ele tem más intenções, por 47% a 46%. No entanto, 65% dizem que ele não tem conseguido fazer o que prometeu em campanha, e só 20% acham que tem conseguido.

A mesma conclusão é possível quando a pergunta é sobre a avaliação do governo – e não só do trabalho do presidente. De dezembro para cá, o percentual dos que avaliam o governo de forma negativa subiu de 31% para 37%, superando pela primeira vez a avaliação positiva. Esta caiu de 33% para 31%. Já os que avaliam o governo de forma “regular” eram 34% em dezembro, e agora são 28%.

O levantamento é o primeiro a captar os efeitos da crise do Pix sobre a avaliação do governo. Na semana passada, a oposição usou as redes sociais para acusar o governo de ampliar a coleta de informações de pagamentos via Pix para cobrar mais impostos. Um vídeo do deputado federal Nikolas Ferreira sobre o assunto ultrapassou a marca de 300 milhões de visualizações no Instagram.

IMPACTO – Na pesquisa Quaest, o impacto do assunto é perceptível, já que a “regulação do Pix” foi a notícia negativa mais citada, de longe, com 11% – a segunda colocada foi mencionada por 3%. São 66% os brasileiros que acham que o governo errou em sua atuação sobre o tema.

O governo tem que agir rapidamente para conter os números em queda, uma vez que o declínio pode estabelecer um processo de maior duração. É muito difícil inverter uma tendência dessa, mas é viável, bastando a execução de ações concretas, não ficando apenas nas palavras. É necessário que a opinião pública veja o empenho do governo e a execução das ideias.