
Charge do Cazo (blogdoaftm.com.br)
Marcelo Copelli
É notório que o desenvolvimento tecnológico tem beneficiado enormemente a humanidade ao criar respostas inovadoras para problemas complexos, além de extinguir os mais variados tipos de barreiras em um mundo cada vez mais globalizado. Ao mesmo tempo, porém, tem lançado grandes desafios à democracia. Alguns, inclusive, ameaçadores, a exemplo da criação da “realidade” por inteligência artificial.
Recentemente, o Fórum Econômico Mundial produziu o Relatório de Riscos Globais 2024, publicado neste mês, divulgando que as desinformações produzidas por IA representam nada menos que o “maior risco global no curto prazo”. E isso é preocupante, pois em diversos países, neste ano, serão realizadas eleições, inclusive no Brasil. Via de regra, esses momentos de novas escolhas para Casas Legislativas e cargos representativos de grande responsabilidade acabam se tornando cenários de debates sobre políticas públicas, reafirmação de antigas promessas e análises .
DIREITO DE ESCOLHA – Ainda que nunca exista integral convergência de ideias, é justamente sobre o viés democrático que se exerce o direito da escolha, de forma igualitária entre os eleitores. Porém, quando esse poder de opção é afetado por uma enxurrada de notícias falsas que se alastram numa velocidade que torna difícil por muitos o indicativo da verdade ou das corretas opções existentes, as bases são atacadas por fissuras cada vez maiores que tornam o cenário instável, marcado pela confusão entre fatos e falsidades.
Hoje, com a tecnologia ao alcance de milhares de pessoas, diuturnamente, a desinformação atravessa obstáculos geográficos antes impensados, afetando diretamente o debate qualitativo e o próprio futuro das nações. De forma paralela, é preciso cautela para que nenhuma ação contra a desinformação soe como ataque à liberdade de expressão.
Mas antes de tudo, existe sempre o interesse público que não pode estar abaixo do mau uso do exercício dos direitos individuais. A liberdade de expressão não pode nunca ser usada para atentar o direito do outro, interferindo de forma intencional contra a democracia.