
Ala “mais radical” do grupo incluía Michelle e Eduardo Bolsonaro
Pedro do Coutto
O tenente-coronel Mauro Cid disse em seu primeiro depoimento no processo de delação premiada à Polícia Federal, em agosto de 2023, que a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e o deputado Eduardo Bolsonaro tinham envolvimento com a suposta tentativa de golpe de Estado. Segundo ele, a mulher e o filho do ex-presidente Jair Bolsonaro eram a ala “mais radical” na articulação da ação antidemocrática.
Segundo a íntegra da delação de Cid, Michelle e Eduardo teriam incentivado o ex-presidente a tomar medidas extremas após a vitória nas urnas do presidente Lula da Silva. No entanto, no relatório final da Polícia Federal, concluído em novembro de 2024, a alegação não é referida, além da ex-primeira-dama não ter o nome citado e o deputado apenas ser mencionado tangencialmente. Ainda de acordo com Cid, Michelle e Eduardo teriam alegado a Jair que ele tinha o apoio popular e dos CACs.
“ALA RADICAL” – Além dos familiares, Cid disse que a “ala radical” era composta também pelo deputado Filipe Martins, o ex-chefe da Secretaria Geral da Presidência Onyx Lorenzoni, o ex-ministro do Turismo Gilson Machado, o general Mário Fernandes, e os senadores Jorge Seif e Magno Malta. Destes, apenas Martins Fernandes foi formalmente indiciado pela PF. À época, Michelle e Eduardo teriam negado envolvimento em alguma articulação de golpe. A defesa da ex-primeira-dama disse que as acusações são “absurdas e sem fundamento” e Eduardo classificou a delação de Cid como “delírio” e “ficção”.
Segundo o texto, Mauro Cid disse que o ex-presidente se encontrava com três grupos distintos depois que perdeu a disputa para Lula da Silva. Eram os “conservadores”, que teriam uma linha bem política. A intenção desses indivíduos era transformar Bolsonaro em um “grande líder da oposição”. Alguns dos integrantes seriam o senador Flávio Bolsonaro e Bruno Bianco, ex-advogado-geral da União.
“MODERADOS “ – Tinham também os “moderados” que diriam concordar com “as injustiças” do Brasil, mas não eram a favor de uma intervenção radical. “Entendiam que nada poderia ser feito diante do resultado das eleições, qualquer coisa em outro sentido seria um golpe armado”, afirma o texto.
Participantes incluiriam o general Júlio César de Arruda, militar e então comandante do Exército, além do general Paulo Sérgio Nogueira, então Ministro da Defesa. POr fim, existia ainda os “radicais”, em que parte seria a favor de ir atrás de uma suposta fraude nas urnas. Outra parcela “era a favor de um braço armado”. Estavam inclusos o presidente do PL, Valdemar da Costa Neto, e o general Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde.
DEFENSORES – “É muito grave saber que Michele e Eduardo Bolsonaro estavam entre os maiores defensores do golpe armado contra a posse de Lula”, postou a presidenta do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann em sua rede social. “Eram e ainda são as pessoas mais próximas do inelegível e seus maiores porta-vozes na política. Fica cada vez mais insustentável a conversa mole de que ele não tinha nada a ver com a trama contra a democracia, que previa até o assassinato de Lula, Alckmin e Alexandre de Moraes. A hora da verdade está chegando”, assinalou Gleisi.
Complicações graves à vista para os envolvidos diante da trama golpista que envolve a participação do próprio ex-presidente da República. A situação política do país revela que a delação de Mauro Cid não pode ser um lance isolado. O projeto vem à tona com suas faces expostas e verdadeiras, deixando principalmente mais claras as ações de Bolsonaro.