Lula não entendeu nada. Acovardado, preferiu não lembrar o golpe de 1964

Em Brasília, Lula participa de solenidade com militares

Lula não entende que é importane sempre lembrar o passado 

Pedro Doria
O Globo

O golpe de 1964 não é passado. Não é um ponto distante na História, que olhamos com aquele enfado escolar com que se acompanham o Descobrimento ou os Bandeirantes. A ditadura que nasceu na madrugada daquele 2 de abril, quando um senador solitário tornou vaga a Presidência, está ainda viva e pulsando, hoje, no Brasil. Está nas ruas.

Não faz nem dois anos, quatro generais de Exército e um almirante de esquadra se sentiram confortáveis o suficiente para planejar um novo golpe militar. Fizeram isso enquanto milhares de brasileiros acampavam na frente dos quartéis pedindo assim: um golpe que impedisse o candidato eleito de assumir a Presidência. Pois aquele presidente, nosso atual presidente, inacreditavelmente decidiu que o governo não deve lembrar o golpe. Lula não entendeu nada.

EXEMPLOS PRÓXIMOS – No auge da crise econômica argentina, não se viu movimentação nas Forças Armadas do país. Os militares tampouco se mexeram quando o Chile encheu as ruas de gente em protestos violentos.

Não é por acidente. O general Jorge Rafael Videla morreu com diarreia, no vaso sanitário de sua cela, e não há general argentino que não saiba disso. Os chilenos viram o general Augusto Pinochet passar seus últimos anos fugindo de um mandado de prisão, humilhado, alquebrado numa cadeira de rodas.

Até os paraguaios se lembram do general Alfredo Stroessner com o asco que merece o pedófilo que foi. Nós escolhemos, ativamente, não lembrar. Vivemos hoje as consequências disso.

CAUDILHISMO REGIONAL – O histórico de intervenções militares não é só nosso — é regional. Ruy Barbosa passou a última década de vida alertando sobre o risco de o caudilhismo deles contaminar nosso país. E, por caudilhismo, entenda-se o que ele é: disputa política de chefes militares. Gente que anda com uniforme e lidera tropas.

Se no século XIX não eram exércitos regulares, no século XX se tornaram. A diferença é que nossos vizinhos todos se curaram do grande mal político que manchou a América do Sul. Nós é que não.

Alguns acham que a diferença foi a Justiça. Mas não é essa a diferença. O que argentinos e chilenos, nossos vizinhos mais comparáveis, fizeram foi um exercício ativo de lembrança. Esta é talvez a maior lição política do século XX: lembrar faz diferença. Aprendemos isso na forma como escolhemos lidar com o Holocausto.

LEMBRAR É PRECISO – Da Praça de Maio sempre com suas mães, hoje já bisavós, com o lenço branco. Do Museu da Memória e dos Direitos Humanos que toda criança chilena visita em Santiago. A lembrança do que foi a ditadura é um esforço cívico e um dever do Estado.

Todo 31 de março é a mesma coisa. Passamos semanas discutindo se os quartéis celebrarão a instauração da ditadura. Ainda hoje as Forças Armadas não tratam o que fizeram pelo que foi: um golpe de Estado. A ruptura da Constituição. A interrupção da democracia e a instauração de uma ditadura.

Se eles se sentem à vontade para tratar a violência que impuseram ao país como algo heroico, é porque o Estado brasileiro não tem posição oficial a respeito.

O ESTADO CONCORDA – Se um general pode subir ao microfone e elogiar um golpe, se ele pode discutir a interpretação da História, é porque o Estado concorda que há debate. As Forças Armadas são do Estado. E chegamos ao ponto em que o presidente da República, mesmo vítima de uma nova tentativa de golpe, escolhe não lembrar.

A escolha de não lembrar, a escolha de não tratar com clareza a coisa pelo nome, é o que faz acontecer de novo. Como aconteceu.

No domingo, o golpe fez 60 anos. Sua sombra continuará pendendo sobre nós enquanto o Estado brasileiro não disser com clareza o que é democracia, o que é ditadura e onde é o lugar do militar na política. (Fora dela.) Já vimos que não será o atual presidente.

10 thoughts on “Lula não entendeu nada. Acovardado, preferiu não lembrar o golpe de 1964

  1. Quem reclama já perdeu.
    Só lembramos vagamente das matanças e genocídios que a esquerda protagonizou no mundo.
    Mao, Stalin, Pol Pot e Fidel são os exemplos basilares da nossa história.
    Qual seria a punição devida que caberia aos que estavam envolvidos naquela luta armada, a punição seria na prisão, no escracho?
    Qual seria a punição devida aos descendentes do Czar Nicolau e sua família metralhados miseravelmente pelos bolcheviques?
    Qual seria a punição aos alemães que viveram na época do holocausto e ainda os remanescentes do holodomor, e as vítimas do Kmer Vermelho do Pol Pot?
    Não, nada disso importa, o que vale é trombetear sobre um conflito onde sua ideologia perdeu, não conseguiram impor um regime sindicalista.
    Se é para praticar o revisionismo que seja para ambos os lados, aqui e no resto mundo.
    O jornalista tem a opinião dele e eu tenho a minha baseada em fatos históricos.
    Loola nessa parada agiu no sentido de aplacar os ânimos, achei certo.

    • Loola não entende quando não quer.
      Ele também não aplaca ânimos. Afinal ele não esteve nem participou do evento, só se aproveitou sendo inclusive amigo do Romeu Tuma.
      Loola só atua em interesse próprio como único beneficiário.
      É da natureza dele, não ter caráter.

  2. Quer dizer então que, à despeito dos 39% impingem a usurpação de poder, como categórica vitória e estamos conversados?
    Bah!

  3. Um sujeito que nasceu em 1974 nada tem a falar dos militares. Mamãe, papai, titio, vovô e e a rede que o emprega falaram só sobre as coisas más, as boas são esquecidas. Deveria perceber que, quando era criança, a bandidagem era restrita aos vagabundos. Agora, ela está em qualquer lugar, em qualquer poder.

  4. O regime militar investiu num modelo desenvolvimentista marcado por empresas estatais e obras públicas gigantescas nas áreas de transporte, energia e estratégia militar, que buscavam a soberania do Brasil. Apelidadas de “obras faraônicas” pela imprensa da época, neste período foram construídas a rodovia Transamazônica (BR-230), as hidrelétricas de Tucuruí, Balbina e Itaipu (a maior do Brasil), a ponte Rio-Niterói, as usinas nucleares de Angra, a Ferrovia do Aço e o projeto de minério de ferro de Carajás e de celulose de Jari.

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