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Direita retoma fôlego com discurso de ‘tolerância zero’ após chacina no Rio

PL perde influência no Congresso e PT assume protagonismo, aponta estudo

Paulo Mendes Campos tinha momentos de uma poesia autodestrutiva

Não te espantes quando o mundo... Paulo Mendes Campos - PensadorPaulo Peres
Poemas& Canções

O jornalista, escritor e poeta mineiro Paulo Mendes Campos (1922-1991), no poema “Balada do Homem de Fora”,  divaga que o mundo foi feito para quem dele tire proveito.

BALADA DO HOMEM DE FORA
Paulo Mendes Campos

Na alma dos outros há
searas de poesia;
em mim poeiras de prosa,
humilhação, vilania.

O pensamento dos outros
ala-se em frases castiças;
o meu é boi atolado
em palavras movediças.

No gesto dos outros vai
a elegância do traço;
no gesto torto que faço
surge a ponta do palhaço.

O trato dos outros tem
desprendimento, altruísmo;
venho do ressentimento
para os brejos do egoísmo.

O amor de muitos floresce
em sentimento complexo;
mas o meu é desconexo
anacoluto: do sexo.

Na face dos outros vi
a sintaxe do cristal;
na amálgama dos espelhos
embrulhei o bem no mal.

A virtude contra o crime
é um cartaz luminoso
dos outros todos; mas eu
posso ser o criminoso.

Os outros brincam de roda
(carneirinho, carneirão);
são puros como a verdade;
mas eu minto como um cão.

Há quem leia Luluzinha,
há quem leia pergaminhos;
leio notícias reversas
nos jornais de meus vizinhos.

Os outros ficaram bravos
ao pôr de lado o brinquedo,
bravos, leais, sans reproche;
mas eu guardei o meu medo.

Encaminha a mente deles
uma repulsa moral;
na minha pulsa o High Life
do mais turvo Carnaval.

Todos foram tão bacanas
na quadra colegial;
só eu não fui (mea culpa)
nem bacana, nem legal.

O trem dos outros tem
um ar etéreo e eterno;
às vezes ando vestido
como um profeta do inferno.

Muitos voam pelas pautas
que se desfazem nos astros;
amei Vivaldi, Beethoven,
Bach, Debussy, mas de rastros.

Certos olhos são vitrais
onde dá a luz de Deus;
Deus me deu os meus e os teus
para a dor dar-te adeus.

Há tanto moço perfeito
like a nice boy (inglês);
eu falo mais palavrões
que meu avô português.

Os outros são teoremas
lindos de geometria;
eu me apronto para a noite
nos pentes da ventania.

Para quem foi feito o mundo?
Para aquele que o goze.
Como gozá-lo quem gira
no perigeu das neuroses?

Copiei com canivete
este grifo de Stendhal:
“Nunca tive consciência
nem sentimento moral”.

Faço meu Murilo Mendes
quanto à força de vontade:
“Sou firme que nem areia
em noite de tempestade”.

Há gente que não duvida
quando quer ir ao cinema;
duvido de minha dúvida
no meu bar em Ipanema.

Outros, felizes, não bebem,
não fumam; eu bebo, fumo,
faço, finjo, forço, fungo,
fuço na noite sem rumo.

Outros amam Paris, praias,
cataventos, livros, flores,
apartamentos – a vida;
eu nem amo meus amores.

Os outros podem jurar
que me conhecem demais;
quando acaso penso o mesmo,
o demônio diz: há mais…

A infância dos outros era
o céu no tanque da praça;
a minha não teve tanque,
nem céu, nem praça, nem graça.

Até na morte encontrei
a divergência da sorte:
a deles, flecha de luz,
a minha, faca sem corte.

O espaço deles é onde
circunda a casa o jardim;
mas o meu espaço é quando
um parafuso sem fim.

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Na engrenagem invisível do crime, a propina sustenta o poder do Comando Vermelho

O crime sobrevive ao se infiltrar nas brechas do poder

Pedro do Coutto

A recente reportagem de O Globo sobre o Comando Vermelho (CV) lança luz sobre um aspecto pouco discutido, porém decisivo, da atuação da facção: a profissionalização da corrupção. Segundo as investigações, dentro da estrutura da organização criminosa há até um “especialista em propinas” — alguém cuja função é administrar pagamentos a agentes públicos e negociar vantagens que mantenham o império do tráfico funcionando com mínima interferência do Estado.

Essa revelação, mais do que um detalhe, expõe a essência do crime organizado no Brasil: ele não sobrevive apenas à base da violência, mas sobretudo pela capacidade de corromper e se infiltrar nas brechas do poder.

ALIANÇA – O Comando Vermelho, nascido nas prisões cariocas durante a ditadura, evoluiu de uma aliança de detentos para uma máquina empresarial do crime, expandindo-se por diversos estados e até alcançando conexões internacionais.

O que antes era um grupo armado, hoje é uma rede que movimenta bilhões e controla territórios com a mesma eficiência de uma corporação. O tráfico de drogas e de armas continua sendo a espinha dorsal, mas o diferencial contemporâneo é a capacidade de operar financeiramente — lavar dinheiro, investir em empresas de fachada e comprar silêncio.

É a economia paralela do crime, sustentada por um mercado de propinas que vai desde o policial de base até setores mais sofisticados da máquina pública. O caso revelado no Complexo da Penha, onde um integrante da facção atua exclusivamente como articulador de propinas, é o retrato dessa engrenagem invisível. Ele não dispara armas, não negocia drogas — negocia impunidade.

FERRAMENTA ESTRATÉGICA – Essa função demonstra que a corrupção deixou de ser uma consequência eventual e se tornou uma ferramenta estratégica. A propina garante o fluxo de informações, o alívio em fiscalizações, a liberdade de circulação de drogas e armas. Em outras palavras, é o óleo que faz girar a máquina do crime.

O problema é que esse sistema corrompe não apenas as instituições, mas a própria ideia de Estado. Quando o crime consegue comprar tolerância ou inação, o poder público deixa de ser a instância legítima do território. Nas comunidades dominadas, o Comando Vermelho dita regras, impõe horários, regula conflitos e até presta “serviços” sociais — papel que deveria ser do Estado. O dinheiro da propina, nesse contexto, não é apenas um suborno: é uma forma de poder.

ESQUEMA – As investigações recentes mostram o tamanho da estrutura financeira envolvida. Em 2025, a polícia descobriu um esquema de lavagem de dinheiro do CV que movimentou cerca de R$ 6 bilhões em um ano, com notas mofadas e marcadas pelo cheiro de drogas.

Em outro caso, planilhas apreendidas indicavam um caixa de R$ 13,8 milhões em apenas um mês, usado para custear advogados, armas e operações. Tudo isso revela um modelo de negócio altamente sofisticado, que depende tanto da violência quanto da capacidade de corromper.

O Estado, por sua vez, continua refém de uma lógica reativa: operações policiais grandiosas, confrontos em favelas, prisões pontuais — sem atacar o núcleo do problema, que é o dinheiro. Enquanto a repressão se concentra no varejo do tráfico, a elite do crime aperfeiçoa seus mecanismos de lavagem e influência.

FRONTEIRA – O enfrentamento eficaz exigiria outro tipo de estratégia: investigação financeira, rastreamento de fluxos, transparência institucional e controle rigoroso sobre servidores e empresas que interagem com o poder público. O que está em jogo vai além da segurança. É uma disputa pelo controle simbólico e prático do Estado. A propina, nesse contexto, é o instrumento que dilui a fronteira entre legalidade e ilegalidade. Cada agente comprado, cada licitação desviada, cada olhar desviado diante de um crime alimenta essa fronteira cinzenta onde o Comando Vermelho prospera.

A reportagem do Globo não apenas revela um crime — revela um sistema. E enquanto o país continuar tratando a corrupção como uma anomalia, e não como parte essencial da engrenagem que sustenta o poder paralelo, continuará condenado a enxugar gelo. O verdadeiro combate ao crime organizado não se faz apenas com fuzis ou helicópteros, mas com integridade, investigação e vontade política. Porque o poder do Comando Vermelho não está apenas nas armas — está, sobretudo, no bolso de quem se vende para mantê-lo.

Especialistas apontam diferentes destinos para pena de Bolsonaro após decisão final do STF

Maioria absoluta dos favelados (88%) aplaude com entusiasmo a operação

Traficante do Comando Vermelho na PB é preso em megaoperação no Rio de Janeiro

As facções e milícias oprimem e exploram os favelados

Fabiano Lana
Estadão

Se há um calcanhar de Aquiles eleitoral na esquerda é a questão de como combater a criminalidade. Se fizermos uma generalização de como pensam esses militantes, a ideia é que o pequeno criminoso só age de maneira violenta porque não tem opções nem perspectivas de vida. Seria vítima de um sistema injusto que alimenta a desigualdade.

Um dos grandes problemas desse tipo de avaliação é o elitismo alienante. Até porque, nem mesmo as pessoas mais pobres, que vivenciam as dificuldades sociais, concordam com a tese. Ao contrário.

BRASIL REAL – A pesquisa da AtlasIntel divulgada nesta sexta-feira, 31, coloca mais luz sobre o problema. De acordo com a sondagem: 88% dos entrevistados que moram em favelas no Rio de Janeiro aprovaram a megaoperação ocorrida esta semana no Rio de Janeiro. O dado é avassalador.

Nem mesmo as 120 mortes foram suficientes para fazer os moradores das comunidades rejeitarem o trabalho policial. Não consideram seus “vizinhos” mortos como vítimas da sociedade.

Um detalhe: 70% dos moradores das favelas consideraram “inapropriado” o minuto de silêncio solicitado pelo ministro Guilherme Boulos pelas vítimas da operação carioca.

ALIENAÇÃO – Ou seja, muita gente, muitas vezes do conforto de seus lares de classe média, de bairros ricos, de cafés afrancesados, quer ensinar como os que sofrem com o problema devem lidar com ele.

Talvez só quem não experimenta diretamente a questão pode vir com teses generalizantes como “o traficante é vítima”, “ele roubou o celular para tomar uma cervejinha”, “nós, ricos, precisamos pagar o pedágio da desigualdade brasileira”, dizem, na arrogância de não sentir a questão na pele e dar lições sobre o assunto.

BOBAGENS – Quem é de esquerda acredita, em geral, que as sociedades humanas são desiguais e injustas, e os oprimidos pelos mais poderosos – os antigos escravos, os atuais assalariados, os informais – devem ser liberados, seja por meios pacíficos, seja pela violência revolucionária.

O traficante, no final das contas, estaria em linha direta com sua ascendência escrava e teria direito à redenção. Sua periculosidade, portanto, se justificaria. Confiram como há uma série de obras de arte, seja no cinema, na música, na literatura, que corroboram essas hipóteses do bandido-herói.

O quase silêncio constrangido do governo petista em relação à megaoperação tem razão de ser. É um tema que os deixa acuados. A direita – mesmo com toda a hipocrisia que sempre acompanha os temas morais – tem a linguagem que a maioria da população aprova quando se trata de crimes: que venha o castigo.

LIÇÃO DE VIDA – Nada de compreensão, nada de análise sociológica, nada de tentativa de realizar os fatos. É a vida como ela é. A pesquisa Atlas também mostrou que a maioria dos brasileiros quer ver operações como essas repetidas.

A questão, entretanto, é que há chance de todas essas operações estarem combatendo as consequências do problema, não a sua causa. Afinal, o dinheiro do tráfico não brota do chão. Há milhões de pessoas dispostas a gastar muito para comprar um produto ilegal. E há outras milhares dispostas a matar e morrer para entrar nesse negócio.

Até hoje, as guerras às drogas, que ocorrem de maneira até mundial, fracassaram. Os EUA e parte da Europa Ocidental partiram para tentativas de legalização, mas os resultados seguem inconclusos.

‘Nenhum bandido importante mora em favela’, diz ex-secretário de Segurança Pública

Ministros barram revisões e reforçam recado contra anistia aos golpistas

STF já negou três dos 11 pedidos de revisão criminal

Márcio Falcão
G1

Ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) negaram os primeiros pedidos de revisão criminal de condenados pelos atos golpistas do dia 8 de janeiro de 2023. Até agora, o Supremo já negou três dos 11 pedidos de revisão criminal de condenados pelos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023 que recebeu.

Os outros oito pedidos aguardam parecer da Procuradoria-Geral da República ou decisão do ministro relator. A revisão criminal é um instrumento que permite a um condenado que já teve uma sentença considerada definitiva, portanto não tem mais chance de recursos, pedir a reavaliação do seu caso.

ERROS JUDICIÁRIOS – A medida não representa um novo julgamento e é considerada excepcional. O objetivo do instrumento é corrigir erros judiciários e precisa apresentar novos elementos de provas que possam comprovar a inocência como: comprovar que a sentença foi contrária à lei penal ou às provas do processo;
comprovar que a sentença que se baseou em depoimentos, exames ou documentos falsos.

A decisão mais recente entre os três casos negados pelo STF sobre as revisões foi do ministro Dias Toffoli. Ele rejeitou pedido de Antônio Teodoro de Moraes, condenado a 14 anos de prisão e que conseguiu reduzir a pena para 12 anos nos embargos de declaração – recurso que pede esclarecimentos sobre a sentença.

A defesa alegou que a condenação pela Primeira Turma violou a legislação, a jurisprudência do Supremo e as provas do processo. Toffoli considerou que os advogados tentaram apenas reexaminar as decisões de recebimento da denúncia e de condenação. Os advogados ainda podem recorrer.

VIA RECURSAL – “Nesse contexto, sobressai o propósito de utilizar a ação de revisão criminal como via recursal, buscando-se, em última análise, a reabertura do debate acerca de fatos e provas já submetidas ao crivo judicial, na qual viabilizado às partes o pleno exercício do contraditório e da ampla defesa, observando-se o devido processo legal”, escreveu o ministro.

Antes de Toffoli, a ministra Cármen Lúcia rejeitou o pedido de Miguel Fernando Ritter, condenado a 12 anos e 6 meses de prisão pelo plenário do Supremo. A defesa argumentou que o fato dele ter sido julgado pelo Supremo sem ter foro na Corte representou a violação da lei, alegando “erro judiciário de direito”.

Na decisão, Cármen Lúcia afirmou que o Supremo fixou competência para os casos do 8 de janeiro não só no processo de Ritter, como em todas as ações penais que tratam dos ataques.

COMPETÊNCIA – “A ideia defendida de que o réu possa escolher em qual foro deverá ser julgado não tem acolhida, expressa ou implícita, na Constituição da República. A competência, no processo penal, é fixada por razões de ordem pública. Logo, não pode ter tratamento idêntico ao de um foro de eleição estabelecido em contrato privado”, escreveu a ministra.

O terceiro pedido foi rejeitado por Flávio Dino. O ministro negou pedido de Lucinei Tuzi Casagrande Hillebrand, condenado a 14 anos de prisão também pelo plenário do Supremo.

FORMA CONTRÁRIA – Os advogados alegaram que a sentença “se deu de forma contrária à lei e ainda, contrária a provas dos autos” e que a conduta pela qual foi condenada “está devidamente comprovada não ter sido praticada por ela”.

Dino entendeu que o pedido não preenchia os requisitos legais para ser admitido e não apresentou elementos relevantes para revisão da sentença. “Inclusive, as teses defensivas apresentadas nesta ação revisional foram objeto de discussão no julgamento de mérito e dos dois embargos declaratórios opostos Inclusive, as teses defensivas apresentadas nesta ação revisional foram objeto de discussão no julgamento de mérito e dos dois embargos declaratórios opostos”, disse.

O entorno do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) passou a considerar pedir a revisão criminal diante do cenário desfavorável no Supremo para o julgamento do recurso contra a condenação do ex-presidente por golpe de Estado a 27 anos e três meses de prisão. O recurso foi apresentado nesta semana e será julgado a partir do dia 7 de novembro pela Primeira Turma do STF.

Motta diz que país pode ter um Congresso financiado por facções se não houver reforma

Novo julgamento no TSE pode tornar inelegível o governador Cláudio Castro

Governador é acusado de abuso de poder nas eleições de 2022

Deu na Folha

O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) marcou para a próxima terça-feira (4) o julgamento que pode levar à cassação e à inelegibilidade do governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), e do presidente da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio), Rodrigo Bacellar (União Brasil).

Os dois são acusados de abuso de poder político e econômico nas eleições de 2022. As ações que serão analisadas pelo TSE tratam de um esquema para contratação de funcionários do Ceperj (Centro Estadual de Estatísticas, Pesquisas e Formação de Servidores Públicos do Rio de Janeiro) como cabos eleitorais.

SEM TRANSPARÊNCIA – Uma série de reportagens do Uol revelou que dezenas de milhares de pessoas foram contratadas sem transparência. Foram identificados indícios de uso político dos projetos tocados pela Fundação Ceperj e pela Uerj.

Uma investigação do Ministério Público do Rio descobriu saques de dinheiro vivo na “boca do caixa”. Ao todo, R$ 248 milhões foram retirados em agências bancárias por dezenas de milhares de pessoas que integrariam o suposto esquema. Castro e Bacellar foram absolvidos pelo Tribunal Regional Eleitoral do Rio em maio de 2024. O Ministério Público Eleitoral, no entanto, recorreu ao TSE.

O processo está sob relatoria da ministra Isabel Gallotti. Também vão participar do julgamento a presidente do TSE, Cármen Lúcia, e os ministros André Mendonça, Kassio Nunes Marques, Antonio Carlos Ferreira, Floriano de Azevedo Marques e Estela Aranha.

Bolsonaro e o rastro das joias sauditas: Receita alerta que processo pode prescrever

Gastança! Rombo de R$ 100 bilhões pressiona governo e desmoraliza meta fiscal

O tempo passa e o “Admirável Gado Novo”, de Zé Ramalho, continua atual

Zé Ramalho apresenta 'Show dos Sucessos' em São Paulo - 11/02/2022 - Música  em Letras - Folha

Zé Ramalho soube denunciou a opressão do povo

Paulo Peres
Poemas & Canções

O cantor e compositor paraibano José Ramalho Neto, mais conhecido como Zé Ramalho, em 1979 lançou o LP A Peleja do Diabo Com o Dono do Céu, pela EPIC/CBS, onde a música “Admirável Gado Novo” destacou-se como sucesso, mormente, pela crítica que sua letra fazia à ditadura militar e ao conformismo da maior parte do povo, comparado ao gado, “povo marcado, povo feliz”. Povo (massa) que paga impostos (dá muito mais do que recebe).

O povo espera sempre o melhor, porém não tem consciência da sua força, do seu poder, especialmente, através do voto, visto que a mudança depende dele mesmo. A ditadura militar acabou, mas a letra da música continua bastante atual, diante do quadro econômico, político e social vigente no país.

ADMIRÁVEL GADO NOVO
Zé Ramalho

Vocês que fazem parte dessa massa
Que passa nos projetos do futuro
É duro tanto ter que caminhar
E dar muito mais do que receber
E ter que demonstrar sua coragem
À margem do que possa parecer
E ver que toda essa engrenagem
Já sente a ferrugem lhe comer

Êh, oô, vida de gado
Povo marcado
Êh, povo feliz!

Lá fora faz um tempo confortável
A vigilância cuida do normal
Os automóveis ouvem a notícia
Os homens a publicam no jornal
E correm através da madrugada
A única velhice que chegou
Demoram-se na beira da estrada
E passam a contar o que sobrou!

Êh, oô, vida de gado
Povo marcado
Êh, povo feliz!

O povo foge da ignorância
Apesar de viver tão perto dela
E sonham com melhores tempos idos
Contemplam esta vida numa cela
Esperam nova possibilidade
De verem esse mundo se acabar
A arca de Noé, o dirigível,
Não voam, nem se pode flutuar

Êh, oô, vida de gado
Povo marcado
Êh, povo feliz!

Sem debate sério e entendimento político, o crime organizado reinará

Tragédia do Rio: cidade volta ao estágio 1, de normalidade, entenda a  escala de risco e como proceder

Na tragédia do Rio , os moradores recolheram os corpos

William Waack
Estadão

O sistema político brasileiro parece viver para si mesmo sem se dar conta de que o crime organizado se transformou no fator de risco número 1 para a própria política e a governabilidade. Entende-se aqui por sistema político não só os grupos e partidos mas também as estruturas formais do Estado, como o Supremo.

A erosão do monopólio do Estado na aplicação da violência já tem mais de quarenta anos e a acomodação das autoridades a essa situação idem. Em muitas das áreas sob domínio territorial do crime organizado duas gerações de brasileiros cresceram sem conhecer outro estado de coisas.

CULTURA PRÓPRIA – No caso do Rio de Janeiro, por exemplo, desenvolveu-se até o que se poderia chamar de “cultura própria” – que (goste-se disso ou não) são canais de integração e solidariedade dentro de comunidades, capazes de conviver com a ferocidade dos traficantes e a dos agentes do Estado, visto em boa parte simultaneamente como ausente e inimigo.

Existe o que se poderia chamar nessas áreas até de “visão de mundo”, com nítida expressão na produção musical de grande propagação no mundo digital, por exemplo. Na qual figuras de projeção acusados de “apologia do crime” por uns simbolizam para grande parcela o sucesso a ser alcançado.

O que é crime ou ilegal é coisa muito diferente, dependendo de onde se anda hoje em algumas grandes cidades.

INTERESSE ELEITORAL – Sem compreensão da gravidade desse contexto, o mundo político trata o fenômeno abrangente do crime organizado exclusivamente pelo cálculo eleitoral. No qual o governo federal está claramente em desvantagem.

Sua imagem continua associada a escândalos de corrupção e os cacoetes ideológicos o impediram durante décadas de entender que pobreza e desigualdade social não explicam necessariamente o crime (muito menos a penetração das instituições de Estado).

Não só o governo federal parece perdido, e incapaz de propor “coisas práticas” que permitam diminuir na população (não só nas áreas sob controle do tráfico) o sentimento de que “está tudo dominado”.

PROBLEMA POLÍTICO – A questão de segurança pública hoje no Brasil é de natureza política no seu sentido mais amplo, e não há sinais convincentes de que esteja sendo enfrentada com um mínimo de estratégia e esforço comum entre os entes da federação.

Ao contrário. O debate sério está interditado pela polarização política. Ações como a megaoperação do Rio – independentemente da sua letalidade ou eficácia na eliminação de combatentes adversários, e de seu maior ou menor planejamento – são antes uma expressão do não se saber o que fazer.

O crime organizado sabe.

Como resolver? No Rio, há muitos bairros sob controle total do crime

Bope, após operação no Rio: "Ninguém vai parar a gente"

Quando a polícia sai, o crime toma conta desses bairros

Roberto Nascimento

O combate ao crime não basta, o Estado tem que estar presente nos territórios ocupados pelos criminosos e impedir o tráfico e o controle dos comércios do gás, da água em garrafão, da energia, da TV a cabo, dos aluguéis de casas e apartamentos, esse conjunto de ilegalidades imposto pelas milicias e que hoje rendem mais do que vender cocaína e maconha.

Passei hoje pelo Rio das Pedras, Muzema, Tijuquinha e Itanhangá em direção à Barra. Qual a razão das avenidas tão estreitas, mão e contramão. O prefeito Paes duplicou só em Rio das Pedras, e mais nada.

CIDADE SEM LEI – Por dentro dessas comunidades controladas por milícias e facções emerge o caos urbano, uma cidade sem lei, sem Estado e sem Município.

Nessa região, há duas Clínicas da Família, nenhum Hospital e dois CIEPs – um em petição de miséria, quase abandonado, e o outro em bom estado.

Nenhum governador e nenhum prefeito construiu um só CIEP para contar a história, invejosos de que Leonel Brizola foi o governador que fez tudo sair do papel, com o apoio de Darcy Ribeiro e Oscar Niemeyer.

ÓDIO ÀS ESCOLAS – Vou citar os gestores do Rio, que odeiam escolas e professores. Garotinho, Marcello Alencar, Rosinha, Cabral, Pezão, Witzel e Castro. No âmbito municipal todos eles e o atual, Eduardo Paes, que odeia escolas públicas e servidores públicos, portanto, é o pior de todos, mas, pasmem, vai piorar quando ele conseguir o mandato de governador em 2026, ao que tudo indica, pois tem o apoio de Lula, de Bolsonaro e do Malafaia.

Será preciso muita oração para salvar o Rio de Janeiro, porque os políticos e gestores não se unem contra o crime e até disputam ferrenhamente os votos dos criminosos.

A urgência que chegou tarde: o desafio de enfrentar o crime organizado no Brasil

Sem recurso e fora do mandato: STF confirma condenação de Carla Zambelli

Fim da linha para Zambelli no caso da perseguição armada

Bruno Luiz
Folha

O STF (Supremo Tribunal Federal) declarou o trânsito em julgado da condenação da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) por perseguir um homem negro com uma arma de fogo em 2022. Com isso, considera-se que a pena já pode começar a ser executada, já que a parlamentar não tem mais possibilidade de recorrer da decisão. Em agosto deste ano, ela foi condenada pelo STF a 5 anos e 3 meses de prisão por porte ilegal de arma e constrangimento ilegal com emprego de arma de fogo.

Essa é a segunda condenação de Zambelli pelo STF. A parlamentar também foi considerada culpada pela Primeira Turma da corte a 10 anos de prisão por invadir os sistemas do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) e inserir mandado falso de prisão contra o ministro Alexandre de Moraes.

FUGA – Zambelli está presa na Itália. Após ser condenada no processo relacionado ao CNJ, ela fugiu para o país e aguarda decisão da Justiça e do governo italianos sobre um pedido de extradição feito pelo Brasil.

O STF já determinou a cassação do mandato da parlamentar. A medida ainda aguarda análise da Câmara dos Deputados, que deve decidir se acatará ou não a sentença.

O caso da perseguição armada ocorreu na véspera do segundo turno das eleições presidenciais de 2022. Na ocasião, Zambelli discutiu com um jornalista, que era apoiador de Lula, em uma rua dos Jardins, em São Paulo. A deputada perseguiu o homem com arma em punho.

VOTO DO RELATOR – O placar no STF foi de 9 a 2 pela condenação de Zambelli no caso. Na época, a maioria dos ministros seguiu o voto do relator do caso, Gilmar Mendes, que apontou “elevado grau de reprovabilidade” na conduta da parlamentar.

Denúncia da PGR (Procuradoria-Geral da República) afirmou que deputada afastada abusou do direito de uso de arma. Embora ela tivesse o porte regularizado, a PGR considerou que Zambelli sacou a pistola “fora dos limites da autorização de defesa pessoal” ao perseguir o jornalista.