Para espanto dos jornalistas, a maioria dos americanos pensa como Trump

President-Elect Trump Holds Press Conference At Mar-A-Lago

Imensa maioria dos americanos apoia as teses de Trump

Mario Sabino
Metrópoles

Donald Trump precisa dar um basta na imigração ilegal nos Estados Unidos, devolver o poder de compra à classe média americana, demolir a ideologia woke e engajar menos o país em problemas internacionais.

Essas são as expectativas que a maioria dos americanos têm em relação ao homem que toma posse hoje como presidente dos Estados Unidos, em segundo mandato que é a maior reviravolta política da história da nação mais poderosa do mundo (uso o clichê com prazer indescritível).

FOI UMA SURPRESA – Os jornalistas ficam muito espantados quando constatam que as pessoas não pensam como eles. O pessoal do New York Times não foge à regra e ficou pasmo em descobrir que mesmo os americanos que não votaram em Donald Trump esperam que ele realmente faça boa parte do que se propôs a fazer.

Uma pesquisa do jornal feita em parceria com o Ipsos, publicada no fim de semana, mostra que mais da metade da população aprova a deportação em massa de imigrantes ilegais, principalmente dos que entraram nos Estados Unidos nos últimos 4 anos. Quase a totalidade, 87%, apoia a deportação dos ilegais com ficha criminal suja, os primeiros alvos do novo presidente.

TRANSGÊNEROS – Impressionantes (para os jornalistas) 71% são contra que menores de 18 anos possam tomar medicação para mudar de gênero. Outros assombrosos (para os jornalistas) 80% são contra que atletas transgêneros, nascidos com sexo masculino, possam competir em esportes femininos.

A maioria acha também que os Estados Unidos devem dar mais atenção a questões domésticas do que a confusões na Europa (dentro da tradição isolacionista do país).

Assim como Donald Trump, uma enorme massa de cidadãos é de opinião que a democracia americana está longe de ser o melhor dos mundos possíveis. Para eles, Washington é um antro de corrupção — e o descontentamento vai além.

FAVORECIMENTOS – Dois terços dos eleitores democratas e 80% dos republicanos dizem que o governo serve mais a ele próprio e aos poderosos do que às pessoas comuns. No geral, dois terços dos americanos acreditam que o sistema econômico favorece injustamente os ricos. Muitos, no entanto, esperam que Donald Trump adote políticas que mais ajudarão do que atrapalharão a economia.

O dado surpreendente (para os jornalistas) é que, embora a maioria compartilhe de pontos de vista de Donald Trump em relação a assuntos prioritários, metade não é otimista sobre ele ser o homem certo para o cargo.

O lado bom (para os jornalistas) é que deu para o New York Times dar o seguinte título para a reportagem sobre a pesquisa: “O apoio às políticas de Trump supera o apoio a Trump”. Serão quatro anos divertidos.

Guerras e extremismo afastam a esperança de dias melhores neste ano

Moradores de Gaza rezam para que novo ano traga paz após “destruição” de  2023 | CNN Brasil

Pode haver paz sem a formação de um Estado palestino?

Janio de Freitas
Poder360

E diziam que verde é a cor da esperança, e simbólica neste momento mundial é a sensação de esperança vinda com a notícia de acordo de paz em Gaza. Mero fruto de desejo, não de promessa confiável.

O extermínio humano e material da Palestina pelo poder israelense não é defesa. É guerra de conquista. Avanço do plano de Grande Israel que embala o fundamentalismo religioso e o extremismo direitista dominantes no país.

SEM ESTADO – A fúria exterminadora sobre Gaza e Cisjordânia tem as mesmas origens e finalidades que a recusa israelense ao Estado palestino previsto, também, na criação de Israel pela ONU.

Os palestinos, por seu lado, não podem fugir a profundo ódio e expectativa de vingança, pelo terror que arruína seus filhos, mães e pais, irmãos, casa e bens, cidade e futuro. Sua dor e seus ímpetos são inapagáveis.

A corrida por um acordo, que os israelenses limitaram a uma trégua, foi a primeira vitória do Trump redivivo. Veio da pressão de Biden para ter o papel pacificador, sem o deixar a Trump e sua promessa de dar fim à guerra.

BIDEN CULPADO – Mais do que o papel desejado, Biden deixa o governo como co-autor, indissociável, dos crimes de governantes e militares de Israel contra Gaza. A finalidade das bombas e munições que mandou, em levas enormes e incessantes, foi sempre do conhecimento, e, portanto, da aprovação de Biden.

Com o poder norte-americano em mãos, Biden também não buscou meio algum de evitar a guerra na Ucrânia. Prometeu armá-la, e de fato municiou-a, mas para usá-la contra a Rússia.

Desde o início da guerra, Biden negou apoio a todas as tentativas de intermediação para a paz.

SEM ESPERANÇAS – Hoje, norte-americanos concluem que a Ucrânia não pode ter esperanças no conflito. Daí, decorre uma situação quase humorística.

Se alguém tem esperanças em Trump, não é governante de país europeu filiado à Otan. Meteram-se na guerra de Biden contra a Rússia, nisso têm empenhado fortunas – e agora?

Trump diz que encerrará a guerra: os estadunidenses caem fora e os europeus da Otan ficam com os problemas. Entre eles, as relações muito agravadas com o temerário Putin. E o próprio Trump a repetir Putin e querer pedaços da Europa para os Estados Unidos.

MADURO Ainda bem que temos Nicolás Maduro para nos associar ao mundo. E nos dissociar no óbvio. O governo brasileiro prestigiou a posse de Maduro com uma representante. Sem admitir a legalidade da eleição de Maduro, impôs a ideia de ser aquele um ato de Estado.

Para encurtar, ou recomeçaríamos dos gregos e romanos: posse ilegal e ilegítima não é, jamais será, ato de Estado. Pode ser fraude ou ato de força (não necessariamente militar). Maduro juntou as duas formas.

Na impossibilidade de que a combinação suscite alguma esperança, entre militares brasileiros circula uma expectativa: esclarecimentos sobre o relato de grupos militares venezuelanos nas proximidades da sua fronteira com a Guiana. Em direção a Essequibo, a região do vizinho que Maduro ameaçou invadir, a pretexto de um dia ter sido venezuelana. A esperança só é a última que morre porque é a primeira que corre…

Na retórica de Trump, o Brasil de Lula é parte do grande México

AMÉRICA LATINA - Após sua posse nesta segunda-feira (20), o presidente dos  #EstadosUnidos, #DonaldTrump, afirmou que países da América Latina,  incluindo o Brasil, “precisam mais dos EUA” do que os americanos deles. “Josias de Souza
do UOL

Para Trump, o México é a América Latina levada longe demais. O resto do continente latino-americano é visto como o estereótipo mexicano com variações. Nessa visão, o Brasil é parte do quintal pseudo-dependente dos Estados Unidos. Mas não é um vizinho de cerca. Trump avalia que, passando a tranca na porteira do México, livra-se dos mexicanos e de todos os seus assemelhados.

Vem daí o desdém retórico de Trump, que disse não precisar dessa terra de palmeiras e sabiás. “Eles precisam muito mais de nós do que nós precisamos deles”, disse o czar da Casa Branca sobre o Brasil e a América Latina. “Na verdade, não precisamos deles, e o mundo todo precisa de nós”, ele completou.

SEM BRIGA – Horas antes, Lula dissera que não quer “briga” com o inquilino seminovo da Casa Branca. O diabo é que o apreço pela harmonia diplomática chega depois da torcida pela vitória de Kamala Harris durante a campanha. Trump não ignora que os Estados Unidos são o segundo maior parceiro comercial do Brasil, atrás da China. Mas talvez não resista à tentação de dar o troco.

Os acenos para Milei e as pauladas em Maduro são parte da estratégia. No mais, ainda que os chilenos continuem se comportando como os ingleses que os argentinos acreditam ser, mesmo que os brasileiros continuem achando que não têm nada a ver com os outros, o México sempre será, na retórica de Trump, uma cota suficiente de América Latina.

Decisão de Moraes de barrar viagem de Bolsonaro teve duplo efeito 

O ex-presidente Jair Bolsonaro em encontro com Donald Trump em 2019

Bolsonaro queria mostrar que continua amigo de Trump

Francisco Leali
Estadão

Na segunda-feira, dia 20, Donald Trump volta ao comando da maior potência mundial. O ex-presidente Jair Bolsonaro gostaria de estar lá de corpo e alma. Mas seu desejo foi barrado pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.

O retorno de Trump à presidência dos Estados Unidos tem, após amargar a derrota na tentativa de reeleição, o condão de reacender as esperanças de boa parte da direita mundo afora, com o Brasil incluído. Entre o círculo próximo de Bolsonaro é difundida a crença de que Trump pode ser fonte de pressão para, quem sabe, o ex-presidente brasileiro ser liberado para retomar o direito de ter seu nome nas urnas na eleição de 2026.

O TIO RICO… – O novo presidente dos EUA já deu inúmeros exemplos de simpatia a Bolsonaro. Posa como o tio rico do parente em ideias sul-americano. As manifestações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendendo a candidatura de Kamala Harris, derrotada por Trump, completam o cenário e deixam claro para o republicano quem na política brasileira está do seu lado.

A festa da posse seria, portanto, uma oportunidade para Bolsonaro mostrar para todo mundo sua proximidade com o chefe do Poder Executivo norte-americano. Num cenário ideal, e certamente nos seus planos, Bolsonaro ia lá tirar uma selfie ao lado de Trump e fazer a imagem circular nas redes sociais.

Uma fração de segundos de alguma fala do próprio presidente empossado dos EUA seria, então, ainda melhor.

SIGNIFICADO POLÍTICO – A cena possível não teria o poder de anular decisões judiciais no Brasil, mas teria um significado político grande. O líder da maior nação ocidental acalentando um ex-presidente mirado pela justiça é algo que pode pesar na cabeça de magistrados na hora de um veredicto.

Por essas e outras, a decisão de Moraes tem um duplo significado. Primeiro, ao negar ao ex-presidente a devolução de seu passaporte e barrar a viagem aos Estados Unidos, o ministro deixa claro que Bolsonaro é investigado, indiciado e tem contas a prestar ao STF.

O segundo efeito do despacho de Moraes é político. Frustra o plano da selfie Bolsonaro-Trump. E rouba do ex-presidente a oportunidade de tentar cacifar-se interna e externamente como um político perseguido e que desfruta de certa proximidade do novo presidente dos EUA.

‘Nós não precisamos deles’, diz Trump sobre Brasil e América Latina

As polêmicas de Trump em entrevista

Trump demonstra ter desprezo pelo resto do mundo

Deu na Folha

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse nesta segunda-feira (20) que seu país “não precisa” do Brasil e a América Latina. “Eles precisam muito mais de nós do que nós precisamos deles. Na verdade, não precisamos deles, e o mundo todo precisa de nós”, disse Trump durante cerimônia assinando decretos em seu primeiro dia do novo mandato.

O republicano disse a frase ao responder pergunta da jornalista da Globonews Raquel Krähenbühl, que acompanha a cerimônia de dentro do Salão Oval da Casa Branca.

DISSE TRUMP – A jornalista perguntou se Trump pretendia responder à proposta de paz para a Guerra da Ucrânia elaborada pela China e pelo Brasil, ao que Trump afirmou desconhecer a iniciativa.

“Acho ótimo, estou pronto para discutir [propostas de paz]. O Brasil está envolvido nisso? Não sabia. Você é brasileira?”, perguntou Trump à repórter.

Em seguida, a jornalista questiona o presidente sobre a relação com o Brasil e a América Latina. “É ótima. Eles precisam muito mais de nós do que nós precisamos deles”, disse ele, que recentemente prometeu erguer barreiras tarifárias contra uma série de países ao redor do mundo, incluindo o Brasil.

DECRETOS EM SÉRIE – Nesta segunda-feira, o novo presidente americano assinou uma série de decretos controversos que endurecem a fiscalização de migrantes, estimulam a exploração de combustíveis fósseis e determinam o fim de ações relacionadas à diversidade. Muitos deles revertem medidas implementadas pelo antecessor, Joe Biden.

As primeiras ordens foram assinadas diante de milhares de apoiadores no ginásio Capital One Arena, em Washington.

No local, o presidente determinou a retirada da nação do Acordo de Paris e a revogação de 78 ações executivas implementadas por Biden. Depois, o republicano partiu para a Casa Branca, onde assinou a maior parte dos documentos.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Trump está iniciando uma política isolacionista em matéria de meio ambiente, caminhando ao contrário da tendência dos demais países desenvolvidos. Vai dar uma confusão danada, é claro. (C.N.)

Lei obriga Biden a doar os presentes recebidos em seu mandato

Esposa de Biden reage com 'corações' sobre decisão do marido de desistir da  candidatura nos EUA

Biden e a mulher tem de devolver os presentes caros

Julia Chaib
Folha

Ao se despedir da Casa Branca nesta segunda-feira (20), o presidente Joe Biden não deixa para trás só o cargo, como também dezenas de presentes que ganhou desde que assumiu, em 2021. Diferentemente do Brasil, nos Estados Unidos, a lei é clara: funcionários federais são proibidos de permanecer com presentes dados por autoridades estrangeiras que ultrapassem US$ 480, o equivalente a cerca de R$ 2.910.

Segundo o protocolo do governo, o recebimento desses itens precisa ser informado à área responsável. Cabe, então, a esse órgão definir o destino deles.

DESTINAÇÃO – A maioria vai para o Arquivo Nacional dos EUA. Alguns, como alimentos perecíveis, são transferidos para a agência que regula a saúde pública, e outros acabam destruídos.

Segundo a lei, se o presidente ou outro funcionário quiser manter a prenda, é necessário pagar o valor de mercado do item ao governo.

Relatório do Departamento de Estado americano divulgado neste mês afirmou que, até o ano retrasado, Biden havia ganhado 44 presentes de autoridades estrangeiras. O mais caro foi um álbum de fotos comemorativo dado pelo presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk Yeol, e avaliado em US$ 7.000 (cerca de R$ 42 mil). Lula deu ao presidente americano um banco de madeira orçado em US$ 1.170 (por volta de R$ 7.200).

ITEM MAIS CARO – No mesmo período, a primeira-dama, Jill Biden, ganhou 21 presentes. Apesar de a quantidade de itens ser menor do que aquela recebida pelo marido, foi ela quem ganhou o item mais caro da lista divulgada pelo governo.

Em 2023, ela ganhou do primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, um diamante de laboratório de 7,5 quilates avaliado em US$ 20 mil (R$ 120 mil). O governo informou que este item por ora está em uso oficial na Ala Leste da Casa Branca, sem dar mais detalhes.

Assessores da primeira-dama informaram a jornais americanos que a joia deve ser transferida ao Arquivo Nacional.

KAMALA, TAMBÉM – Além deles, a vice-presidente, Kamala Harris, está entre os membros do governo mais presenteados, segundo o relatório. Ela ganhou nove presentes de autoridades estrangeiras até 2023.

O mais caro foi um conjunto de objetos dados pelo presidente da Zâmbia, Hakainde Hichilema, estimado em US$ 4.025 (R$ 24,4 mil).

Este consistia em um álbum de fotos da visita de Kamala ao país; um broche de ouro no formato da África com tanzanita e esmeralda zambiana; uma escultura de madeira que representava uma pessoa tocando um instrumento; dois panos; e uma pintura que mostrava um elefante.

BENS DO POVO – O governo considera que os objetos superiores a US$ 480 pertencem ao povo dos EUA. No relatório divulgado pelo Departamento de Estado, também consta a justificativa pela qual a autoridade que recebeu o presente não o recusou. Na grande maioria dos casos, a razão elencada foi a de que “a não aceitação causaria constrangimento ao doador e ao governo dos EUA”.

A forma como os EUA lidam com os itens dados por autoridades estrangeiras difere daquela do Brasil, cujas leis sobre o tema são bem mais genéricas. Nos últimos anos, presidentes se aproveitaram da ambiguidade da lei para tentar manter presentes de Estado.

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), por exemplo, foi indiciado em julho do ano passado pela Polícia Federal junto com mais 11 pessoas em uma investigação sobre a venda de joias recebidas da Arábia Saudita.

LEVOU VANTAGEM – Para a PF, o ex-presidente utilizou a estrutura do governo federal para desviar presentes de alto valor oferecidos a ele por autoridades estrangeiras.

A investigação teve origem quando o jornal O Estado de S. Paulo revelou que assessores de Bolsonaro tentaram entrar no Brasil com artigos de luxo recebidos do regime saudita sem comunicar a Receita Federal.

O ex-presidente e aliados tentaram vender nos EUA estes e outros artigos recebidos ao longo de sua gestão. Como mostrou a Folha, parte das joias, da grife Chopard, chegou a ir a leilão mas não foi comprada, o que forçou assessores do ex-presidente a mudarem seus planos e vendê-las diretamente.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG –
Os Estados Unidos, nossa matriz, têm leis que são cumpridas. A filial Brazil tem leis que são reinterpretadas. Há uma diferença enorme entre os dois procedimentos. (C.N.)

Aliados e estrategistas se dividem sobre atitude do governo na crise do Pix

Governo precisa acertar a sua Comunicação, reforçando as suas ações

Pedro do Coutto

Na última semana, Gleisi Hoffmann,  presidente do PT,  defendeu a decisão do governo Lula ao revogar a portaria da Receita Federal que aumentaria a fiscalização nas transações via Pix. Por outro lado, o ministro dos Transportes, Renan Filho, e o ex-líder do PT na Câmara, Zeca Dirceu,  tiveram o posicionamento oposto, indicando que o Planalto errou ao recuar na medida após o vídeo viral de milhões de visualizações do deputado federal Nikolas Ferreira.

O tema abre uma divisão na base aliada do presidente Lula, além de promover controvérsias entre estrategistas de campanha, especialistas em comunicação digital e líderes de institutos de pesquisa diante de uma das crises mais intensas enfrentadas pelo governo do PT até agora. Enquanto as diferentes alas de profissionais divergem quanto à estratégia adotada pelo governo, há o consenso de que o deputado Níkolas teve as suas declarações sustentadas por argumentos legítimos, apesar do exagero típico das narrativas políticas.

ACERTO – Uma corrente avalia que o governo acertou ao revogar a medida, mas não conseguiu evitar os danos, uma vez que a revogação confirma que não era fake news. Ninguém disse que o governo taxaria diretamente o Pix das pessoas.

A proposta envolvia usar o Pix para monitorar as transações financeiras dos contribuintes e, com base nesses dados, cobrar mais impostos. Portanto, de forma indireta, o Pix seria utilizado para taxar os brasileiros. De forma paralela, em momentos como esse, não há o bom e o ruim. Há o ruim e o pior. Recuar estancou a crise na visão dos que defendem a ação governamental.

ERRO – Para os que vão por outro caminho e acham que o Planalto errou, o governo deixou na mão os defensores das medidas e ofereceu munição para que a oposição saísse como vitoriosa.Além disso, da forma como o recuo foi anunciado, o governo inflamou ainda mais a situação, sendo que a  melhor maneira de enfrentar esse movimento seria entender a nova dinâmica da opinião pública e levar a informação onde está a audiência, independentemente do canal, veículo ou plataforma.

Como se vê, as opiniões se dividem não somente entre os aliados do governo, mas também entre os profissionais que gerenciam crises como a enfrentada recentemente pelo Planalto. O governo, volto a dizer, precisa melhorar as suas estratégias e a sua Comunicação, reforçando os seus pontos fortes, a divulgação de suas ações e confrontando de forma concreta os ataques da oposição.

Ninguém exaltava a Lua como o seresteiro carioca Cândido das Neves

CANDIDO DAS NEVES – Brasil – Poesia dos Brasis – RIO DE JANEIRO -  www.antoniomiranda.com.br

Cândido, romântico ao extremo

Paulo Peres
Poemas & Canções

O instrumentista, cantor e compositor carioca Cândido das Neves (1899-1934), apelidado de Índio, descobre na “Última Estrofe” que a melancolia dos versos do trovador era semelhante a sua, porque ambas tinham como causa o término de um amor e, consequentemente, a saudade que isto acarretou. A música foi gravada por Orlando Silva, em 1935, pela RCA Victor.

ÚLTIMA ESTROFE
Cândido das Neves

A noite estava assim enluarada
Quando a voz já bem cansada
Eu ouvi de um trovador
Nos versos que vibravam de harmonia
Ele em lágrimas dizia
Da saudade de um amor
Falava de um beijo apaixonado
De um amor desesperado
Que tão cedo teve fim
E desses gritos de tormento
Eu guardei no pensamento
Uma estrofe que era assim:

Lua…
Vinha perto a madrugada
Quando em ânsias minha amada
Nos meus braços desmaiou
E o beijo do pecado
O teu véu estrelejado
A luzir glorificou

Lua…
Hoje eu vivo sem carinho
Ao relento, tão sozinho
Na esperança mais atroz
De que cantando em noite linda
Essa ingrata volte ainda
Escutando a minha voz

A estrofe derradeira, merencória
Revelava toda a história
De um amor que se perdeu
E a lua que rondava a natureza
Solidária com a tristeza
Entre as nuvens se escondeu
Cantor, que assim falas à lua
Minha história é igual à tua
Meu amor também fugiu
Disse eu em ais convulsos
E ele então, entre soluços
Toda a estrofe repetiu

Com Trump, Europa enfrentará desafios militares e ataque das big techs

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Charge do João Montanaro (Folha)

João Gabriel de Lima
Folha

“As nossas férias da história acabaram”. A frase é de Alexander Stubb, presidente da Finlândia, durante um encontro de chefes de Estado da região do mar Báltico na semana passada, em Helsinki. Ele fazia referência ao retorno de Donald Trump ao governo dos Estados Unidos, nesta segunda-feira (20).

De fato, especialistas preveem que tempos complicados se anunciam para a União Europeia. Segundo eles, o bloco terá que líder com duas questões-chave, para além das possíveis sanções comerciais: 1) a defesa militar; e 2) a ofensiva das big techs contra o seu território.

Nos dois casos, vale recordar o primeiro mandato de Trump – e, na comparação, o segundo parece ainda mais desafiador.

GASTOS COM DEFESA – “Em sua primeira presidência, Trump pressionou a UE para aumentar seus gastos com defesa”, diz Folha o cientista político espanhol Francisco Rodríguez-Jiménez, coautor de um livro sobre Trump, “Breve História de uma Presidência Singular”. “Agora, com a guerra [na Ucrânia], a pressão será muito maior”.

Rodríguez-Jiménez lembra que os orçamentos militares dos países da UE variam em termos de porcentagem de PIB segundo a distância que os separa da Rússia.

“Os maiores gastos são da Polônia e da Estônia, da ordem de 4%”, diz sobre dois países cujos primeiros-ministros, Donald Tusk e Kristen Michal, respectivamente, estiveram no encontro em Helsinki.

MAIS DISTANTES – Já a Espanha e a Irlanda, “que ficam longe, investem cerca de 1% do PIB ou até menos”, afirma o cientista político, codiretor de um centro de estudos de política internacional ligado à Universidade de Salamanca.

Foi-se o tempo em que a Europa era um paraíso protegido pelo poder militar dos EUA, como escreveu em 2003 o historiador americano Robert Kagan em seu livro “Do Paraíso e Poder”.

Estar de volta à história, nas palavras do chefe de Estado finlandês, significa responsabilizar-se pela própria defesa. Será um desafio dada a disparidade de gastos e as idiossincrasias da política interna de cada país.

ORÇAMENTO MILITAR – “As nações europeias abriram mão de parte de sua soberania em questões fiscais ou monetária. O ideal agora seria que fizessem o mesmo em defesa, com um orçamento unificado”, afirma Rodríguez-Jiménez.

No caso das big techs, o cenário em relação ao governo anterior de Trump também se tornou mais desafiador. “O grande diferencial é a presença de Elon Musk”, diz o advogado brasileiro Ricardo Campos, professor-assistente na Universidade Goethe, em Frankfurt, e especialista em legislação sobre plataformas digitais.

“Em sua primeira administração, Trump passou grande parte do tempo em guerra com as plataformas. Agora, elas o querem como aliado.” O republicano alojará Musk em sua gestão, num recém-criado Departamento de Eficiência Governamental.

GANHOU REFORÇO – O presidente eleito americano recebeu outro endosso importante do mundo digital quando Mark Zuckerberg, fundador da Meta, decidiu demitir checadores do Instagram e do Facebook.

“As plataformas viram aí uma janela de oportunidade”, diz Ricardo Campos. “Elas querem transformar uma questão normal —o fato de que empresas multinacionais se submetem ao ordenamento jurídico dos países em que atuam— numa questão diplomática, de suposta defesa de empresas americanas no estrangeiro.”

Para a revista britânica The Economist, os EUA sempre exerceram seu poder em nome de valores como liberdade e democracia. Trump representaria uma inflexão: o seu “America First”, EUA antes de tudo, é apenas uma defesa de um país contra os outros, não de uma ideia.

CASO ILUSTRATIVO – O caso das big techs é ilustrativo. De um lado, a UE promulgou em agosto passado sua Lei dos Serviços Digitais, considerada por especialistas como Ricardo Campos um avanço na defesa do debate democrático baseado em evidências. De outro, o governo Trump sinaliza que irá endossar empresas americanas que consideram esse tipo de lei uma forma de censura.

A Lei dos Serviços Digitais, no entanto, segue inspirando a discussão sobre plataformas digitais mundo afora, como se vê por exemplo nos casos do Brasil e da Austrália. No contraponto com o “America First” de Trump, a Europa poderia se fortalecer como soft power?

“Isso só ocorrerá se a UE se mantiver unida”, diz Rodríguez-Jiménez. “O objetivo do novo presidente americano é dividir o continente em países pró-Trump e anti-Trump. Pesquisas mostram que o mundo admira o Estado de Bem-Estar Social, a democracia e os direitos individuais. Está ao alcance da UE fazer disso uma de suas forças”.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG –
Muita conversa fiada. A legislação da União Europeia, adotada em 17 de fevereiro de 2024, não fede nem cheira, pois em nada atrapalha o funcionamento das big techs. Um ano depois, o único caso mencionável foi com a Apple, fabricante do iPhone, sob a alegação de que sua loja de aplicativos do, a App Store, não permitia que desenvolvedores direcionassem clientes para canais alternativos de ofertas e conteúdo. Nada a ver com as críticas a Moraes e ao Brasil, pela desfaçatez do Supremo no controle à liberdade de expressão, através de censura ou algo no gênero, sem direito de defesa em processos sigilosos. (C.N.)

‘Posso fugir agora, qualquer um pode’, diz Bolsonaro ao criticar Moraes

Um homem está falando em uma coletiva de imprensa, cercado por repórteres e câmeras. Ele usa uma camisa escura e parece estar em um ambiente interno, com pessoas ao fundo. Microfones de diferentes emissoras estão posicionados em sua direção.

Bolsonaro ficou revoltado com a postura de Moraes

Lucas Leite
Folha

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou a criticar o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), por ter barrado a sua participação na posse do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que ocorreu nesta segunda-feira (20). A declaração foi dada ao canal AuriVerde Brasil no YouTube.

“Um juiz que é o dono de tudo aqui no Brasil. É o dono da sua liberdade. Ele abre inquérito, ele te ouve, ouve o delator. Ele é o promotor, ele é o julgador, ele encaminha o seu juiz para fazer parte de audiência de custódia, tudo ele! Tira teu passaporte. Ele pode fugir. Eu posso fugir agora. Qualquer um pode fugir”, afirmou Bolsonaro.

RISCO DE FUGA – Na última quinta-feira (16), Moraes negou o pedido do ex-presidente para viajar aos Estados Unidos. Na decisão, o ministro do STF mencionou a existência de risco de fuga do ex-mandatário, indiciado em casos como o da trama golpista de 2022.

Bolsonaro reafirmou nesta segunda que havia sido formalmente convidado para o evento em Washington. Moraes disse na semana passada que não foram apresentados documentos que comprovassem a veracidade do convite feito por Trump para participar da cerimônia de posse na capital americana.

“Eu fui convidado. Toda a imprensa do mundo todo divulgou isso aí. Como a imprensa do mundo todo está divulgando que eu fui proibido de ir para lá por causa de uma decisão de um juiz”, afirmou Bolsonaro.

FUGA DE CONDENADOS – O magistrado, na semana passada, também justificou sua decisão com base no histórico de declarações públicas de Bolsonaro em favor da fuga de condenados.

O vereador Carlos Bolsonaro (PL), filho do ex-presidente, publicou na tarde desta segunda vídeo em que o ex-mandatário aparece chorando por causa do evento nos Estados Unidos. “Jair Bolsonaro se emociona com a posse de Donald Trump”, diz a legenda.

Pela manhã, o ex-mandatário postou uma foto da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) em Washington com a mensagem “grande dia” —um bordão que costuma usar.

Discurso de Trump exibe uma  postura hostil para o resto do mundo

Comércio, imigração, energia: um resumo das ações executivas que Trump deve assinar

Trump fez um discurso rancoroso, que não leva a nada

Joel Pinheiro da Fonseca
Folha

“Deste momento em diante, o declínio da América acabou.” Para mim, esta frase encapsula o sentimento do novo governo Trump. Um líder como Trump é o sintoma de uma potência em declínio; de um país que não tem mais o domínio mundial que já teve e que reage a isso se fechando e adotando uma postura hostil para o resto do mundo.

Os EUA não são mais os campeões autoconfiantes da ordem mundial que ajudaram a criar no pós-guerra; são os primeiros a querer desmontá-la porque ela custa caro demais.

DISPUTA FRATRICIDA – Como de praxe, não se ouviu, nas palavras de Trump, qualquer menção a nações aliadas. O mundo é um imenso cada-um-por-si. Nas relações comerciais, um lado perde e o outro ganha. No comando do Estado mais poderoso do mundo, ele sabe que pode ameaçar nações menores com tarifas, sanções ou mesmo ações militares, e haverá muito pouco que qualquer país ameaçado poderá fazer.

Mesmo que não consiga tudo o que pediu inicialmente (lembrando que exigir muito é o primeiro passo para conseguir algo), ele sai com a vitória: direitos de exploração mineral da Groenlândia; tarifa zero para navios americanos no Panamá; alguma concessão do Canadá. Não sabemos bem como nem quando, mas, em algum momento, a chantagem chegará no Brasil.

MEDIDAS DANOSAS – Algumas de suas promessas são danosas para o crescimento, como tarifas para importações, que encarecerão a vida do consumidor, e redução da imigração, que encarecerá a mão de obra. Mas têm o efeito desejado de beneficiar relativamente trabalhadores industriais e jovens pouco escolarizados.

Diga-se com todas as letras: é legítimo um país votar para colocar fim à imigração ilegal e mesmo para reduzir a imigração legal. Mas ilude-se quem acha que os imigrantes são um problema econômico do país.

Ao mesmo tempo, um conjunto de medidas internas pode compensar o fechamento econômico: a desregulamentação da produção —especialmente ambiental— e o corte de impostos, que deve seguir a todo vapor.

TRUMP VENCERÁ – Não duvido nada que o saldo final deste governo seja crescimento econômico, melhora da posição relativa da classe trabalhadora industrial, mais produtos sendo produzidos internamente e inúmeras vantagens ganhas na relação com outros países. Em cada caso, Trump sairá vencedor.

Antes de colocar o bonezinho Maga, contudo, cabe notar que tudo isso cobra uma conta, que será paga por aquele sócio que a gente não consegue ver e, por isso, esquece que existe: o futuro.

Os EUA poluirão como nunca, acelerando as mudanças climáticas e os eventos climáticos extremos para todos nós. Com os cortes de impostos, piora também um problema —esse sim real— da economia americana: a dívida pública, que continuará subindo e acelerando.

LADRÃO DE MERENDA – O mundo mais fechado com os EUA na figura de valentão do parquinho que rouba a merenda dos colegas, por sua vez, terá corroído gradativamente a cooperação entre os países e a boa-fé de todo o mundo democrático com os EUA.

Não quero que me acusem de pessimista. Vá lá: se os bilionários que agora cercam o governo inventarem uma nova tecnologia de baixo custo que resolva a questão climática, ou se o Doge de Elon Musk encontrar gastos trilionários que possam ser cortados sem serem sentidos pela população, os EUA estarão salvos.

Na falta desses milagres, contudo, não creio que arroubos de orgulho nacional impedirão o declínio.

Sucesso de Nikolas Ferreira leva ao desespero as lideranças do PT

Zeca Dirceu pede para PF investigar vídeo de Nikolas Ferreira | CNN ARENA | Facebook

Zeca Dirceu deve achar que a PF não tem o que fazer

Carlos Newton

O vídeo gravado pelo deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), com críticas em geral ao governo de Lula da Silva, especialmente quanto ao aumento da fiscalização sobre transações financeiras pela Receita Federal, incluindo o Pix, está levando ao desespero o PT.

Sem saber como explicar a superviralização, o deputado Zeca Dirceu (PT-PR), ex-líder do partido na Câmara, chegou ao ponto de propor que a Polícia Federal  e o Ministério Público investiguem o jovem deputado mineiro.

DISSE ZECA – “Existem cerca de 130 milhões de contas do Instagram no Brasil, muitas delas inativas e outras várias de uma única pessoa que administra muitas contas. Assim, como explicar um vídeo ter 300 milhões de visualizações? Tem algo muito errado aí. A PF e o MPF precisam investigar a fundo a Meta e toda esta propagação de fake news sobre o dólar, Pix e falas manipuladas do Haddad. Trata-se de uma ação criminosa que afeta a economia do Brasil”, disse Zeca Dirceu.

O que é novo sempre surpreende quem não está preparado para receber a novidade, é claro que o total de visualizações significa a soma de todas as redes sociais e de aplicativos, por onde viaja a mensagem.

Aqui na Tribuna da Internet, já acessei cerca de 30 vezes, para conferir o conteúdo e para escolher imagens para ilustrar matérias sobre o assunto.

DESESPERO DA GLOBO – O mais interessante foi o desespero da Organização Globo, a preferida na distribuição de verbas do governo, que parou a programação da rede à tarde, para apresentar a versão do governo, e colocou a GloboNews a serviço do Planalto.

O motivo é sempre o mesmo – tudo por dinheiro, como diria Silvio Santos. Um importante estudo do Fórum de Autorregulamentação do Mercado Publicitário, divulgado em setembro de 2024, mostrou que, pela primeira vez na história, a internet, com investimento de R$ 2,391 bilhões (39,6%), superou a TV aberta, cuja participação foi de R$ 2,256 bilhões (37,4%) da verba publicitária disponível no segundo trimestre do ano.

Este é o ponto fundamental da questão. Com mais de 317 milhões de visualizações, Nikolas Ferreira conseguiu uma visibilidade que nem o Jornal Nacional seria mais capaz de oferecer, mostrando que as redes sociais já superam amplamente a audiência da TV aberta no país.

RECADO ENTENDIDO – Ficou comprovado também que o deputado mineiro, usando uma linguagem simples, conseguiu que a imensa maioria da população entendesse o que ele informava.

Pesquisa publicada pela Quaest na última sexta-feira (17) revelou que 88% dos brasileiros já estavam cientes das mudanças nas normas de fiscalização do Pix e que 87% ouviram falar sobre a possibilidade de o governo federal implementar uma taxa nas transações realizadas por meio deste sistema.

Não adianta o PT querer investigar e prender o deputado. A melhor saída é fazer um governo melhor e mais humano, que estude e adote medidas para reduzir privilégios, como os supersalários no serviço público e nas estatais, ao invés de taxar a pequena renda das classes menos favorecidas.

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P.S.
O PT já foi o Partido dos Trabalhadores, porém não merece mais esse título. No Brasil, o trabalhador infelizmente não está representado nos três poderes. Aliás, jamais esteve. (C.N.)

Trump quer fechar a fronteira, atacar o tráfico e tomar o Canal do Panamá…

Imagem desta segunda-feira, 20, mostra Donald Trump no seu discurso inicial como 47.º presidente dos Estados Unidos

Ao que parece, Trump está precisando de um psiquiatra

Luiz Henrique Gomes
Estadão

Donald Trump prometeu uma “revolução do senso comum” no primeiro discurso como 47.º presidente dos Estados Unidos. Em pouco mais de meia hora, o republicano anunciou medidas de militarização e fechamento da fronteira com o México, disse que passaria a tratar os cartéis de drogas como organizações terroristas e voltou a repetir que tomaria o Canal do Panamá. “Vamos retomar a nossa soberania”, disse no início.

O novo presidente deve assinar até 100 decretos executivos nas próximas horas, em suas primeiras ações após a cerimônia de posse ocorrida no Capitólio, em Washington D.C. Os decretos serão direcionados às políticas de imigração, transição energética e programas de diversidade do governo federal.

MIGRANTES ILEGAIS – Entre as medidas, está previsto o decreto de situação de emergência nacional na fronteira Sul, que vai permitir o envio de militares para a fronteira com o México, e o início da deportação de milhares de migrantes ilegais, que ele prometeu durante a campanha.

“Todas as entradas ilegais serão imediatamente interrompidas e começaremos o processo de retorno de milhões e milhões de estrangeiros criminosos aos lugares de onde vieram”, disse Trump.

“Vamos restabelecer minha política de permanecer no México. Acabarei com a prática de captura e soltura. E enviarei tropas para a fronteira sul para repelir a desastrosa invasão do nosso país.”

CANAL DO PANAMÁ – Como nas últimas semanas, Trump afirmou que vai retomar o controle do Canal do Panamá, que pertence ao Panamá, com a falsa acusação de que a China opera no local.

“A China está operando o Canal do Panamá e não o demos à China, demos ao Panamá e estamos tomando de volta”, declarou.

PAPAI E MAMÃE… – Trump também prometeu encerrar os programas de diversidade, equidade e inclusão do governo de Joe Biden. Uma de suas medidas, disse, será instituir a política oficial que só considera dois gêneros: masculino e feminino. Isso excluirá aqueles que se consideram não-binários e trans.

“Acabarei com a política governamental de tentar fazer engenharia social de raça e gênero em todos os aspectos da vida pública e privada. Forjaremos uma sociedade que é daltônica e baseada no mérito. A partir de hoje, será doravante a política oficial do governo dos Estados Unidos que existam apenas dois gêneros, masculino e feminino”, disse.

O republicano também falou em seu discurso sobre designar os cartéis de drogas como organizações terroristas, o que os coloca no mesmo patamar de organizações como a Al-Qaeda.

NARCOTERRORISTAS – “Sob as ordens que assinei hoje, também designaremos os cartéis como organizações terroristas estrangeiras. E ao invocar o Alien Enemies Act de 1798, direcionarei nosso governo a usar todo o poder imenso da aplicação da lei federal e estadual para eliminar a presença de todas as gangues estrangeiras e redes criminosas que trazem crimes devastadores para o solo dos EUA, incluindo nossas cidades e centros urbanos”, declarou.

Como prometido na campanha eleitoral, o republicano também irá revogar medidas de transição energética instituídas por Joe Biden. Ele afirmou que vai decretar estado de emergência energética em todo o país para perfurar mais poços de petróleo. “Nós perfuraremos, baby, perfuraremos”, disse.

Trump lamentou os incêndios em Los Angeles, mas não fez atribuições às mudanças climáticas. “Os EUA serão uma nação manufatureira mais uma vez, e temos algo que nenhuma outra nação manufatureira jamais terá: a maior quantidade de petróleo e gás de qualquer país na Terra. E vamos usá-la”, afirmou.

HOMEM EM MARTE – Ele também disse que irá revogar o Green New Deal, criado com o objetivo de reduzir as emissões de combustíveis fósseis na atmosfera.

Em determinado trecho do discurso, o republicano também citou a ambição de levar o homem à Marte – o que arrancou sorrisos de um de seus principais apoiadores, o bilionário Elon Musk, proprietário da SpaceX. “Seguiremos nosso destino manifesto rumo às estrelas, lançando astronautas americanos para plantar as estrelas e listras (referência à bandeira americana) no planeta Marte“, afirmou.

“Ambição é a força vital de uma grande nação e, agora mesmo, nossa nação é mais ambiciosa do que qualquer outra“, acrescentou.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Trump é um grande ator, que faz papel de presidente. Seria preferível se fosse um grande presidente querendo fazer papel de ator. Logo no primeiro dia, reabriu oficialmente a nova Guerra Fria, desta vez entre Estados Unido e China. Serão quatro anos de surpresas, que vão balançar e bagunçar o mundo. (C.N.)

Trump fala exatamente o que o povo norte-americano tanto queria ouvir

Retorno de Trump é novo pesadelo para a Europa, diz analista político

Trump adora despertar polêmicas e irritar os adversários

Vicente Limongi Netto

Meninas e meninos do canal Globonews não conseguiram esconder o aperreio, xavecos tolos, soberba e críticas amargas com a posse de Donald Trump, pela segunda vez, como Presidente dos Estados Unidos, tornando-se o 47º governante da nação mais poderosa do mundo. 

Aconselho que os amados colegas passem gelol no cotovelo ou ateiem fogo às vestes.  Trump é pragmático. Fala o que a maioria do povo americano quer ouvir. É forte nas redes sociais e sabe falar na televisão.

ERA DE OURO – Galhofeiros aqui e alhures não intimidarão Trump, com análises torpes, desapontadas e superficiais. “A era de ouro dos Estados Unidos começa hoje”, garantiu Trump no discurso de posse, com aplausos dos presentes.

Curiosidade: nem com lupa da Nasa localizei dona Michelle nem Eduardo Bolsonaro nas solenidades do Capitólio, muito menos membros da folclórica comitiva de parlamentares brasileiros.

FÉ EM GANSO – Minha ardorosa torcida e orações pela recuperação do cerebral Paulo Henrique Ganso. Exames preliminares na volta das férias constataram sintomas de miocacrite (inflamação no músculo do coração) do atleta.

 A arte e a maestria do futebol inteligente e objetivo não podem abrir mão da presença e do futebol do meia do Fluminense.  

Atenção! Braga Netto será visitado na prisão pelo comandante do Exército

Entrevista Comandante do Exército - Gen Ex Tomás Paiva - DefesaNet

Não será uma visita de solidariedade, mas é importante

Bela Megale
O Globo

O comandante do Exército, Tomás Paiva, fará uma visita ao general da reserva e ex-ministro de Jair Bolsonaro, Walter Braga Netto, na prisão. Na sua próxima viagem ao Rio de Janeiro, Tomás Paiva pretende ir à 1ª Divisão de Exército, na Vila Militar, onde o Braga Netto está preso há um mês. A data ainda não foi marcada.

Interlocutores do chefe do Exército deixam claro que não será um encontro de solidariedade, mas uma agenda que o general costuma realizar com militares presos.

OBJETIVO – Nessas visitas, o comandante averigua fatores como as instalações onde detentos estão alocados, suas condições de saúde e acesso a advogados.

Tomás Paiva já tinha a praxe de visitar militares presos que estão à disposição da Justiça, o que inclui os detidos preventivamente, ou seja, sem data para sair da cadeia, como é o caso Braga Netto.

Quando estava à frente do Comando Militar do Sudeste, o general já adotava a prática e seguiu com ela ao assumir o mais alto posto do Exército. O comandante também costuma fazer esse tipo de inspeção nos hospitais das Forças Armadas.

SEM PROXIMIDADE – Como informou a coluna, no ano passado, Tomás Paiva também visitou o coronel e ex-assessor de Bolsonaro, Marcelo Câmara, quando ele esteve preso. Câmara é outro dos 37 indiciados no inquérito da tentativa de golpe.

Tomás Paiva e Braga Netto não são próximos. O ex-ministro e ex-candidato a vice na chapa de Jair Bolsonaro chegou a orientar ataques ao hoje comandante do Exército nas redes sociais, como revelou a investigação da Polícia Federal em que o general da reserva também foi indiciado por tentativa de golpe de Estado.

Segundo a PF, cinco dias após a diplomação do presidente Lula, em 17 de dezembro de 2022, Braga Netto orientou o ex-capitão Ailton Barros, expulso do Exército em 2006, a “viralizar” ataques contra Tomás Paiva. O período imediatamente posterior à ordem foi marcado pela intensificação da ofensiva contra o oficial em perfis de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOGÉ claro que o comandante Tomás Paiva não vai “inspecionar” as condições da prisão. Ele tem quem faça isso. Em tradução simultânea, o objetivo de sua visita será dizer pessoalmente ao ex-colega de Alto-Comando que o Exército não o abandonou e até já pediu ao presidente Lula da Silva que apoie a anistia a ser votada pelo Congresso, para pacificar o país.  General de verdade jamais abandona o colega que ficou para trás, não importa se é criminoso ou não. (C.N.)

Em São Paulo, desembargadores ganharam R$ 75 mil por mês em 2024

Supersalários do poder Judiciário custam 12 bilhões ao País. | ASMETRO-SI

Charge reproduzida do Arquivo Google

Bruno Ribeiro
Folha

O TJ-SP (Tribunal de Justiça de São Paulo) aumentou em mais de 50%, em 2024, os gastos com o pagamento de benefícios adicionais, os chamados penduricalhos, a seus cerca de 380 desembargadores da ativa. Ao longo do ano passado, a remuneração média desses magistrados foi de R$ 75 mil por mês.

O salário-base da cúpula do TJ-SP é de R$ 37,6 mil e não sofreu reajustes em 2023. O valor está dentro do teto vigente em São Paulo, de 90,25% do salário dos ministros do STF (Supremo Tribunal Federal). Mas, com os pagamentos extras, o total recebido pelos desembargadores paulistas chegou a quase o dobro desse montante.

PENDURICALHOS –  Em 2024, esses chamados penduricalhos aumentaram em 30% a remuneração dos desembargadores paulistas —em 2023, eles haviam recebido, em média, R$ 58 mil por mês.

Os dados analisados abrangem o período de janeiro a novembro, já que os números de dezembro ainda não foram divulgados.

Os pagamentos adicionais resultaram em uma despesa total de R$ 251 milhões no TJ-SP em 2024, um aumento de 54% em relação aos R$ 163 milhões gastos no ano anterior. No mesmo período, a inflação oficial do país, medida pelo IPCA, foi de 5,99%.

STF CONCORDA – Os penduricalhos não são contabilizados para o cálculo do teto salarial do funcionalismo público. Eles incluem gratificações, indenizações e vantagens pessoais ou eventuais, todas permitidas pelo STF.

Entre os desembargadores paulistas, os dois principais itens que superam o teto são o abono de permanência, pago a quem já pode se aposentar, mas continua na ativa, e a parcela de irredutibilidade.

Essa parcela de irredutibilidade é um benefício que já dura quase duas décadas. Ela é paga a magistrados que, em 2007, recebiam mais do que 90,25% do salário dos ministros do STF. Naquele ano, foi aprovada uma lei complementar que fixou esse percentual como teto no estado de São Paulo.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG –
Praticamente todos os dias são publicadas matérias desse tipo. Isso mostra que a imprensa está atenta a irregularidades, mas a farra do boi é inteiramente dentro da lei, aplaudida com louvor pelos ministros do Supremo e pelos integrantes do Conselho Nacional de Justiça, ambos presididos por Luís Roberto Barroso, aquele do “Perdeu, mané!”. (C.N.)

Acusação de Moraes ao general Theophilo é uma tremenda fake news

General Estevam Theophilo é o novo comandante Militar da Amazônia

General Theophilo foi acusado levianamente por Moraes

Daniel Gullino
O Globo

O general da reserva Estevam Theophilo, um dos 40 indiciados pela suposta tentativa de golpe de Estado, negou as acusações em manifestações protocolada nesta segunda-feira no Supremo Tribunal Federal (STF). Theophilo alega que continuou tendo “irrestrita confiança” do ex-comandante do Exército Marco Antônio Freire Gomes, que teria rejeitado o plano golpista, e que também recebeu um “elogio honroso” do atual comandante, Tomás Paiva.

Theophilo comandou o Comando de Operações Terrestres (Coter). De acordo com a Polícia Federal (PF), ele “anuiu com o golpe de Estado, colocando as tropas à disposição” do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), em uma reunião realizada no Palácio da Alvorada em dezembro de 2022.

APENAS LAMÚRIAS – Na petição enviada ao STF, Theophilo afirma que “jamais poderia ter anuído com suposto ato golpista” porque Bolsonaro “nada lhe propôs ou expôs de plano com intuito ou conteúdo golpista”. De acordo com ele, o então presidente “limitou-se a declinar lamúrias”.

Além disso, o militar alega que, se realmente tivesse concordado com o plano, “certamente teria rompido suas relações com o então Comandante do Exército Brasileiro”, Freire Gomes, que relatou à PF ter discordado de uma proposta de Bolsonaro para reverter o resultado da eleição presidencial.

Ele alega, no entanto, que o comandante o manteve no posto até o final do governo, “estando ao seu lado até o momento da simbólica passagem de comando”, o que evidenciaria a “legalidade das suas condutas, e confirmando a irrestrita confiança exigida para a indicação e exercício do cargo”.

ELOGIO HONROSO – Além disso, Theophilo afirma que continuou no cargo durante boa parte do primeiro ano do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, até ir para reserva, em novembro de 2023, e que na ocasião recebeu um “elogio honroso declarado pelo atual Comandante da sua Força Armada”, referindo-se a Tomás Paiva.

Em depoimento à PF, Freire Gomes afirmou que não partiu dele a ordem para que Theophilo se reunisse com Bolsonaro no Alvorada, e que “ficou desconfortável com o episódio, por desconhecer o teor da convocação e considerando o conteúdo apresentado nas reuniões anteriores”.

Depois, contudo, o ex-comandante apresentou uma declaração escrita, anexada dela defesa de Theophilo à investigação, afirmando ter “total confiança na lealdade e disciplina” do general.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Conforme afirmamos aqui na Tribuna da Internet, reiteradas vezes, o ministro Alexandre de Moraes e a Polícia Federal erraram grotescamente no Relatório que indiciou o general Estevam Theophilo. Não havia nenhuma prova contra ele. Dizer que ele “anuiu com o golpe de Estado, colocando as tropas à disposição”, é uma tremenda fake news da força-tarefa de Moraes, comandada pelo delegado federal Fábio Shor, que espalha acusações de uma forma altamente irresponsável. Manchou o nome de um general de quatro estrelas, sem a menor necessidade. Pedirá desculpas a ele? Claro que não. Moraes e sua equipe acreditam (?) que são à prova de erros… (C.N.)

Cessar-fogo não significa que seja alcançada a paz no Oriente Médio

homem de terno diante de mapa de gaza

Netanyahu não quer aceitar a existência de dois Estados

Demétrio Magnoli
Folha

O acordo oficial de cessar-fogo em Gaza, que está nas manchetes, inclui outros dois acordos ocultos sobre os quais se sustenta. Os três têm a marca de Trump. O primeiro, formal, assinala derrotas para Israel e para o Hamas. Israel aceita retirar parcialmente suas forças sem destruir o Hamas, objetivo declarado pelo governo de Netanyahu, e paga um preço elevado com a libertação de centenas de valiosos presos palestinos.

O Hamas, degradado à condição de insurgência guerrilheira, fica isolado regionalmente após a queda da ditadura síria, a derrota militar do Hezbollah e a humilhação do Irã.

DOIS VITORIOSOS – Desse acordo, emergem dois vitoriosos. Os palestinos de Gaza ganham um respiro em meio à colossal tragédia humanitária que se estende por 15 meses.

Trump surge como patrocinador da paz, antes ainda de sua posse. Mas a guerra está nas cartas dos acordos subterrâneos.

O segundo acordo é entre Netanyahu e os ministros supremacistas que mantêm seu governo à tona. Smotrich e Ben Gvir obtiveram do primeiro-ministro as promessas de expandir os assentamentos israelenses na Cisjordânia e, além disso, de retomar a ofensiva em Gaza após a fase 1 do cessar-fogo.

LIMPEZA ÉTNICA – Os dois supremacistas votaram contra o acordo, mas não derrubarão o governo. No lugar disso, farão gestos vazios dirigidos à sua base política —e, sobretudo, oferecerão as promessas informais extraídas de Netanyahu. A meta final deles é a limpeza étnica em Gaza e a recolonização israelense do território palestino.

O terceiro acordo é entre Netanyahu e Trump. Basicamente, trata-se de um compromisso pela derrota total do Hamas — ou seja, de deposição das armas e exílio de seus combatentes ou de extermínio físico deles.

Os sinais estão em declarações públicas dos dois lados.

ACORDO TRADUZIDO – Lado israelense. Um “oficial sênior”, senha utilizada por Netanyahu para dizer aquilo que não pode dizer, emitiu um comunicado com a seguinte passagem: se, nas negociações da fase 2, “o Hamas não concordar com as exigências de Israel para o fim das hostilidades (os objetivos da guerra), Israel permanecerá no Corredor de Philadelphi até nova notícia”. Tradução: Israel retomará a ofensiva caso não obtenha a rendição completa do Hamas.

No lado dos EUA, Pete Hegseth, o indicado por Trump para o Pentágono, afirmou o seguinte na sua audiência de confirmação no Senado: “Eu apoio Israel destruir e matar até o último integrante do Hamas”. Quase simultaneamente, Mike Waltz, novo conselheiro de Segurança Nacional, esclareceu: o Hamas “deve ser destruído até o ponto em que não possa mais se reconstruir”.

Foi ainda mais explícito numa entrevista à Fox News. Na hora em que o cessar-fogo era anunciado por Biden, pediu a atenção do “povo de Israel”: “se precisarem voltar para dentro, estaremos com eles”.

DIA SEGUINTE – Trump jamais criticou Israel pela ausência de um plano político para o “day after”. Essa é a crítica impotente mantida por Biden e Blinken. Do ponto de vista de Trump, o erro de Israel foi conduzir uma guerra lenta que se converteu num desastre de relações públicas.

O novo ocupante da Casa Branca aposta na rendição completa do Hamas —e, na falta disso, numa etapa decisiva de ações militares.

Assinando o cessar-fogo, Netanyahu assume o risco da queda de seu governo. Mas enxerga uma porta de saída na qual está pintado o nome de Trump.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
É triste constatar que a paz duradoura é apenas uma ilusão no Oriente Médio, enquanto Netanyahu estiver no poder. Sem ele, pode ser que a situação melhore e possa haver dois Estados. Devemos  manter a esperança, porque sem ela nada existe. (C.N.)

Um grito de revolta de Caetano Veloso contra a ditadura militar

Caetano Veloso - Alegria, Alegria (3º Festival da MPB - 1967) | Vídeo da  final na descrição

Caetano no III Festival da MPB, em 1967

Paulo Peres
Poemas & Canções

O cantor, músico, produtor, escritor, poeta e compositor baiano Caetano Emanuel Viana Teles Veloso, o genial Caetano Veloso, na letra da canção “Alegria, Alegria” apresentada no III Festival de MPB da TV Record, em 1967, exibia uma das mais belas canções de protesto contra o início do regime militar.

O tempo passou, não há mais ditadura militar, mas a canção continua atualíssima.

ALEGRIA, ALEGRIA
Caetano Veloso

Caminhando contra o vento
Sem lenço, sem documento
No sol de quase dezembro
Eu vou

O sol se reparte em crimes,
Espaçonaves, guerrilhas
Em Cardinales bonitas
Eu vou

Em caras de presidentes
Em grandes beijos de amor
Em dentes, pernas, bandeiras
Bomba e Brigitte Bardot

O sol nas bancas de revista
Me enche de alegria e preguiça
Quem lê tanta notícia
Eu vou

Por entre fotos e nomes
Os olhos cheios de cores
O peito cheio de amores vãos
Eu vou
Por que não, por que não

Ela pensa em casamento
E eu nunca mais fui à escola
Sem lenço, sem documento,
Eu vou

Eu tomo uma coca-cola
Ela pensa em casamento
E uma canção me consola
Eu vou

Por entre fotos e nomes
Sem livros e sem fuzil
Sem fome sem telefone
No coração do Brasil

Ela nem sabe até pensei
Em cantar na televisão
O sol é tão bonito
Eu vou

Sem lenço, sem documento
Nada no bolso ou nas mãos
Eu quero seguir vivendo, amor
Eu vou
Por que não, por que não…

Show de Trump pode incendiar o circo da nova ordem mundial

A imagem mostra um homem curvado, olhando para uma escultura de uma figura masculina em uma parede. A escultura é de cor clara e retrata um homem com uma expressão séria, vestindo um manto. O ambiente é bem iluminado, com um fundo neutro.

Na China. colocaram Trump numa estátua de Buda

Vinicius Torres Freire
Folha

O show de Donald Trump recomeça. Mais importante do que ver os truques é saber se o show e suas consequências terão o apoio ou a tolerância de partes relevantes do establishment americano; se não vão diminuir o prestígio popular de Trump.

Caso tenham apoio suficiente, se pergunta 1) Trump fará uma “Presidência transformadora”? 2) ou será versão circense e anárquica das correntes mais profundas, de mudanças paulatinas, que persistem tanto sob democratas quanto republicanos?

ERA ROOSEVELT – A presidência de Franklin Roosevelt, de 1933 a 1945, foi transformadora, no juízo dos americanos. Inventou a intervenção ampla do governo na economia, direitos sociais e a administração imperial (americana) da economia e da política mundiais. A de Ronald Reagan (1981-1988) também. No que Trump poderia ser transformador?

Há pistas nos discursos lunáticos, embora seja temeridade até especular o que vai ser de Trump 2, dada a sua relação incerta ou hostil com parte extensa do establishment (política, finança, grande empresa, alta burocracia, universidade e centros de pesquisa, mídia etc.).

Além do mais, Trump é adepto da barganha negocista, dado a alianças e comportamentos facinorosos, uma personagem entre o herói trapaceiro (o “trickster” da etnologia) e um “duce” (sim, Mussolini).

ORDEM MUNDIAL – Trump pode ignorar o que se chama de “ordem internacional baseada em regras”, mesmo que algumas delas para inglês ver (mas certa hipocrisia é importante). Ao aumentar impostos de importação ou criar mais restrições ao livre comércio e ao fluxo de capitais, acabaria com os planos americanos de liberalização econômica mundial, que duraram de 1943 à primeira década deste século.

Além do mais, relações econômicas estariam explicitamente ameaçadas pelo uso da força, inclusive contra aliados.

Trump aceita ou admira ações imperiais ou agressões. Vide sua atitude em relação à guerra de Vladimir Putin contra a Ucrânia. Quem sabe tolere ações da China no quintal dela.

ISOLACIONISTA – Não quer que os EUA financiem a defesa da Europa, que, aliás, viveria crise ainda pior se tivesse de aumentar o gasto militar.

Trump seria, então, adepto de uma espécie de isolacionismo. Assim eram os americanos antes de 1941 e ainda mais antes de 1914. Sim, mandavam no quintal das Américas, no porrete, sem a política de “boa vizinhança” posterior.

Conter o poder econômico, tecnológico e militar da China é uma política americana, ponto. Vide Joe Biden, que levou adiante ou ampliou medidas na linha de Trump 1. A dúvida é saber se políticas industriais e intervenção estatal “estratégica” na economia vão continuar, sob Trump (talvez em forma mais profunda de capitalismo de compadres, vide a alegria de Elon Musk).

DESORDEM FISCAL – Os EUA estão no caminho de alguma desordem fiscal (déficits e dívida enormes). Não há sinais de que Trump tenha planos de conter o problema (ao contrário, quer cortar impostos). Se nada fizer, terá inflação e juros mais altos. Diz que vai conter gasto desmontando o Estado. Seria uma paulada, de efeito social enorme.

Fora na epidemia, os déficits não são tão ruins desde os anos seguintes ao do colapso de 2008, situação minorada em parte porque o Banco Central aliviou a conta de juros —financiou o governo, na prática. Mas a dívida agora é bem maior (52% do PIB em 2009, 98% em 2024).

Se Trump ficar só no circo, será um alívio para o mundo.